Lucca escrita por littlefatpanda


Capítulo 25
XXIV. Conexão


Notas iniciais do capítulo

Meus bens, meus amores, meus queridos! Hahahah.

Estava eu, bem bela, numa viagem astral no Youtube, em que se abre 198381 abas e não mais se consegue fechar, e encontrei uma música que eu já conhecia mas que nunca tinha prestado atenção na letra. Light, do Sleeping At Last (todas as músicas deles são maravilhosas - TODAS), que me lembrou muuuuuuuito de "Lucca". Então, se quiserem dar uma olhada, tá aí! ♥

Boa leitura! *-*



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Abril

Quando deu a primeira mordida, só faltou Nathan subir em cima da mesa para alarmá-lo com tanta expectativa nos olhos cor de mel. 

— Gostou

— Eu sabia que você ia gostar! — exclamou Nathan, com um sorriso de orelha a orelha, sem sequer importar-se em corrigir a discordância verbal do mais novo. — Escolhi todos os sabores pensando em você. 

Lucca sempre havia sido uma pessoa difícil para conversar, para se vestir, para estudar, para fazer a higiene, para sair de casa e até mesmo para se deixar encostar. No entanto, Lucca nunca havia sido uma pessoa difícil para comer. Só lhe faltava comer os talheres e o próprio prato quando lhe alimentavam, e era difícil acreditar ao vê-lo tão delgado. Já era de se imaginar que a genética também estava agindo neste quesito, visto que Lucca felizmente já não era um garoto desnutrido. 

Nathan optou por levá-lo até o Subway mais próximo de onde havia deixado o carro, e escolheu por Lucca o lanche enorme que ele segurava nas mãos. Depois da primeira mordida investigativa, não demorou para o jovem começar a atacar o grande sanduíche com vontade, recebendo um grande sorriso satisfeito e aprovativo do médico. 

Quando adentraram no local, Lucca chamou muita atenção para si quando focavam a atenção nele. Enquanto Nathan fazia os pedidos, podiam ver os olhares dos funcionários começarem na cabeleira desparelha, descerem para as roupas largas e fora da moda, e pararem nas pantufas de dinossauro. Ao invés de Nathan sentir-se incomodado com as encaradas nem um pouco sutis de dois ou três, achou tudo muito divertido, devido à falta de interesse que Lucca tinha por ter a atenção em si ou não. Estava ocupado demais olhando para todos os lados, todas as pessoas e todos os aparelhos do local. Foi uma ação investigativa e básica, antes que focasse os olhos na comida e os mantesse ali até o momento de sentarem com seus devidos lanches. 

De frente um para o outro, ocuparam suas bocas com os pedidos, só assim para Nathan parar de monologar. Observou o garoto em frente, concentrado no sanduíche, com carinho. 

Lucca recusou-se a cobrir o pescoço com manta, então este estava desnudo. Usava uma camiseta grossa e um blusão de lã por cima dela, de cor acizentada, e uma calça de moletom da mesma cor, mas de um tom mais claro. Os cabelos, apesar de haver alguns fios curtos, outros lhe chegavam até o pescoço à amostra. Neste aspecto, ele parecia ter saído de um filme dos anos oitenta.

O rosto moreno portava uma feição concentrada, com as sobrancelhas, de um tom mais escuro que os cabelos, unidas; os olhos desviando do lanche para a janela ao lado e logo para o local onde estavam com frequência; e a boca toda suja de molho, assim como o queixo. Nas mãos, sobrepostos às cicatrizes pequenas e antigas, haviam alguns arranhões recentes de quando sempre dava um jeito de se machucar ao brincar com Sassenach. 

— O que mais você quer fazer hoje? — perguntou o médico, assim que terminou de comer, sempre com os olhos amendoados por sobre Lucca. 

Lucca, silencioso como sempre, apenas ergueu os ombros em um movimento desajeitado. Lambeu as pontas dos dedos, sujas de molho, e então empurrou a embalagem para frente. Havia terminado. 

— Eu acho que você iria gostar de conhecer Kellan — comentou Nathan, com um sorriso de canto ao ponderar as opções. — Kellan, meu amigo, meu companheiro de trabalho no hospital — acrescentou, quando Lucca pareceu confuso com o nome não tão falado. Viu quando as sobrancelhas se ergueram, indicando que se recordara. — Lembra? 

— Lembro — respondeu ele, com um aceno, antes de desviar novamente a atenção para a janela e todo o movimento por trás dela. 

— Podemos marcar um almoço ou uma janta com ele amanhã — comentou, mais consigo mesmo do que com Lucca. O garoto focou os olhos no médico, se perguntando por que era tão importante conhecer o tal de Kellan. Mas a resposta veio em seguida: — Ele sempre quis te conhecer, sabe? Eu falo de você o tempo todo e ele ouve tudo em silêncio. — Riu, lembrando da mudança na expressão de Kellan de interessado para estupefato ao longo dos meses, ao passo que o que contava ao amigo passavam de questionamentos e indagações sobre Lucca para histórias eufóricas de, por exemplo, como ele escovou os dentes direito pela primeira vez. — É um bom amigo. 

Perdido nos próprios pensamentos, sequer percebeu a mudança na expressão de Lucca. Sentindo-se estranhamente alegre ao saber que Nathan não deixa de pensar nele quando sai de Cherubfield, logo tomou uma feição desconfiada ao ver o médico tão alegre apenas com a lembrança do amigo. 

Estando tão desacostumado com este sentimento novo e incômodo, foi impossível para Lucca não perceber que ele próprio agia estranho. Em pensamento, estalou a língua, pensando que, quanto mais tempo passava com estes seres humanos estranhos, mais se tornava semelhante a eles. 

— Apartamento — disse Lucca, desviando do assunto sobre Kellan, já impaciente para conhecer o lar do médico. 

Nathan revirou os olhos pelo que ouviu, já que sabia que havia demorado para Lucca pedir, mas deixou-se rir em seguida. Ergueu as mãos em desistência. 

— Tá bom, tá bom — rendeu-se, balançando a cabeça. — Vamos lá! 

Assim que puseram os pés na rua outra vez, apesar de já preparado para a sensação de alerta vermelho, Lucca portou a mesma posição alarmada de antes. Sendo assim, quando Nathan pegou sua mão com a própria, Lucca não hesitou em entrelaçar os dedos do médico com força, colocando todo o desespero ali. 

Voltaram pelo mesmo caminho que haviam percorrido anteriormente, e logo estavam no carro outra vez. Aquele automóvel que tanto trazia agonia para Lucca pelo que representava, naquele momento lhe trouxe um alívio e um relaxamento nos músculos. Respirou fundo, encostando a cabeça no banco, enquanto Nathan fazia a volta e entrava no lado do motorista, fechando a porta em seguida ao mergulhá-los em um silêncio e uma leve quentura confortável. 

Lucca sorriu. 

Entende agora — disse, simplesmente, com os olhos ainda fechados. 

— O quê? — perguntou o médico, dando partida no carro. 

Lucca abriu os olhos, girando o rosto até pousá-los no rosto de Nathan. 

— O carro. 

Nos filmes, já havia visto mais de uma vez quando alguém entrava no carro e ficava ali em silêncio por um período de tempo até usar o automóvel como deveria ser usado. Um mulher havia entrado no carro para chorar e outra havia entrado e respirado fundo depois de um dia difícil. Era aquele silêncio, aquele conforto, aquela sensação de estar seguro como se estivesse dentro de uma casa. 

Lucca era incapaz de entender quando observava tais comportamentos, mas finalmente se dera conta do que se tratava. 

Nathan, no entanto, sequer entendeu do que o menor falava. Franziu o cenho, optando por não perguntar, já que provavelmente receberia silêncio em resposta. Partiu em direção ao prédio que chamava de casa, mas que sequer passava muito tempo ali. Depois que Lucca aparecera, só ia pra casa pra dormir quando tinha poucas horas de sono, caso contrário, partia em direção à cidade natal nas folgas. 

O médico apontou para a praça de caminhada, com um pequeno parquinho de crianças para Lucca, dizendo que podiam passar ali pela manhã, já que ficava muito perto de sua casa. Lucca assentiu, olhando tudo com os olhos atentos, até alcançarem o estacionamento do prédio de doze andares, amarelado pelo tempo. 

Nathan ainda era apenas um residente, seu salário não era grande coisa, mas pensava que, mesmo depois de virar atendente no hospital, ele não teria tempo nem paciência para procurar por um novo apartamento. 

Guiou Lucca para dentro do prédio, e optou pelas escadas para não deixar o garoto mais alarmado do que estava. Havia relaxado um pouco, porque Nathan vivia numa rua à parte do centro da cidade, então não era muito movimentada, mesmo à noite. 

Assim que abriu a porta do apartamento e acendeu a luz, Lucca permaneceu estático absorvendo tudo ao redor. 

O pequeno apartamento continha quatro cômodos: a sala, o quarto com o banheiro interligado à ele, e a cozinha minúscula. Na sala de estar, havia um sofá de cor escura, uma estante abarrotada de livros, uma mesa de vidro redonda, onde se encontravam diversos papéis e livros de forma nada organizada, uma televisão média em um rack, estrategicamente colocada entre o sofá e a mesa. 

Com exceção dos papéis e livros, todo o resto estava organizado, inclusive a cozinha sem muita coisa. Nathan já havia comprado cereais e guloseimas para o caso de conseguir trazer Lucca até ali, juntamente com várias bebidas e comidas prontas. Se havia algo que o médico não sabia fazer de jeito nenhum, era cozinhar sem pôr fogo na casa. 

O quarto era a parte bagunçada: casa por fazer, roupas e jalecos atirados, algumas peças de roupa que Jill ainda não viera recolher, livros e anotações por toda parte. 

— Bom — disse ele, rindo sem jeito enquanto se abaixava pra juntar um sutiã de Jill e jogá-lo dentro do roupeiro com rapidez —, você pode ver que eu não tive tempo de organizar nada. Mas não se preocupe — acrescentou, jogando todas as roupas de cima da cama pro chão —, a gente dá um jeito rapidinho. 

Nathan, em seguida, virou o corpo para Lucca com um dar de ombros meio sem jeito e deu um riso um tanto nervoso ao indicar o quarto. 

— Aqui é o meu lar. 

Lucca assentiu, os olhos negros percorrendo tudo pelo quarto, e logo inclinou-se para espiar o banheiro, com a porta ao lado da do quarto. Então, caminhou até a janela do mesmo, passando por Nathan e espiando o lado de fora. Sentiu um calafrio subir sua coluna quando viu as pessoas pequenas lá embaixo, do quinto andar. 

Gostou — murmurou assim mesmo, porque apesar da distância da terra firme, o apartamento tinha a cara de Nathan. A cara, o jeito, o cheiro e a presença de Nathaniel. 

Não demoraram para arrumar o quarto, Lucca de assistente nas funções, mesmo que meio perdido naquele espaço ainda desconhecido. A cama era de casal, então Nathan não teria que dormir em um colchão extra. Até porque, nem possuía um naquele apartamento minúsculo. 

Em seguida, partiram para a cozinha, enquanto Nathan só jogava o pacote pronto de bolo em um pote e misturava o que dizia nas instruções. Quase esqueceu de um ingrediente, mas Lucca o lembrou depois que o médico leu em voz alta todas as instruções. Incentivou o menor a tentar ler algumas palavras, e com muito esforço e pouca agilidade, Lucca leu algumas das mais fáceis. 

Nathan permaneceu no cubículo da cozinha, de olho no forno para que não colocasse fogo na casa, enquanto Lucca sumia de sua vista ao percorrer pelo apartamento mais uma vez. Alguns bons modos foram ensinados a ele com sucesso, enquanto outros sequer faziam sentido na cabeça do garoto. Por isso, sequer se importou em futricar em tudo que via. Encontrou retratados da família Walker, bem como outros em que Nathan era criança e estava cercado de outras crianças. Encontrou um retrato dele com uma mulher que não conhecia, abraçados com sorrisos. Não gostou da imagem, e logo partiu para outra em que Nathan se encontrava com a mesma mulher, mas com um homem loiro e uma mulher negra ao lado. 

Não gostando de não compreender ou conhecer algumas coisas, ou pessoas, Lucca largou as fotografias de mão e partiu para a papelada em cima da mesa. Abriu os livros e sentiu-se extremamente satisfeito ao ver que possuíam várias imagens. Gostava de livros com imagens, já que pouco sabia da leitura. Quase grudou o rosto ao observar um corpo humano e todo o sistema nervoso do mesmo. 

Foi assim que Nathan o encontrou após retirar o bolo do forno: com a cabeça enfiada nos livros, ora franzindo o cenho, ora olhando para o próprio corpo como se comparasse às imagens.

O médico riu-se, chamando a atenção do menor. 

— O que você encontrou aí? — perguntou, aproximando-se do garoto com o livro de anatomia humana. 

— Livros médicos — respondeu ele, de pronto, com um ar sábio.

Nathan sorriu, inclinando-se para enxergar todos os duzentos e seis ossos humanos indicados em algumas imagens. Sentiu-se aliviado pelo garoto ter encontrado este livro ao invés dos livros verdadeiramente médicos, com imagens muito mais perturbadoras do que as da anatomia humana.

— Você quer que eu ensine alguma coisa? 

Os dois permaneciam em pé, lado a lado, em frente à mesinha. Nathan tinha quase um e noventa de altura, motivo pelo o qual a mãe se lamentava ao comprar roupas para ele na infância, e Lucca era mais de vinte centímetros mais baixo. Isso que ainda havia crescido nos últimos meses. 

— O que está escrito aqui? — perguntou a primeira dúvida que lhe veio à mente, apontando o dedo para a escrita ao lado das setas, e fazendo com que o médico risse. 

— Aí diz os nomes dos ossos, está vendo? — Apontou cada um. — Todos os nossos ossos do corpo humano têm nome. 

Lucca fez uma careta tão profunda que Nathan frisou os lábios para não rir. Mordeu-os, controlando o riso, quando Lucca ergueu o cenho franzido para si com uma expressão desagradada. 

— Por quê? — perguntou, sentindo que era inadmissível ossos terem nomes. 

E assim, se passaram mais minutos do que Nathan jamais imaginaria, com perguntas semelhantes e caretas incrédulas da parte de Lucca e risos não tão controlados assim do médico. 

Nathan pôs Lucca para tomar banho, com muito desgosto pelo menor, já que odiava entrar no chuveiro e depois não queria sair, igual criança. Aproveitou o período de tempo para ligar para os pais e garantir que tudo estava perfeitamente bem, visto que havia recebido diversas chamadas dos mesmos. 

Fechou os olhos e balançou a cabeça para reforçar o quanto estava insatisfeito quando Lucca saiu do banho com as roupas novamente grudadas no corpo. Assim que percebeu do que se tratava a reação de Nathan, fechou a cara, emburrado, antes de passar pelo mesmo processo de ser secado pelo médico. 

— Você adora me fazer passar trabalho, não é? — perguntou, estalando a língua, embora ainda sorrisse com as atitudes teimosas do garoto. 

Vestiu a camisa nele e levantou da cama, fazendo a volta para puxar os edredons e arrumar os travesseiros. Lucca, no entanto, fixou a atenção em um objeto brilhante no chão, antes que pudesse se enfiar debaixo das cobertas. Abaixou-se para juntar, chamando a atenção do médico, e girou-o nos dedos com curiosidade. 

— O que você encontrou aí? — perguntou o maior, sorrindo, antes de se aproximar. Perdeu o sorriso quando enxergou um anel prateado entre os dedos esguios do garoto. — Oh, isto. — Pegou o objeto em mãos, sob o olhar curioso de Lucca. — Eu devia ter jogado fora. — Riu-se, sem graça, antes de dar as costas e guardar na gaveta. 

— É um anel de compromisso? — perguntou Lucca, sobressaltando o maior. 

— Ora! — Riu-se, colocando as mãos na cintura de forma semelhante à sua mãe, enquanto Lucca subia na cama e sentava por sobre as pernas.  Quem foi que ensinou isto para você? 

— O tio Nigel. 

Nathan sorriu, acomodando-se na cama ao escorar-se na cabeceira e cobrir as pernas. Lucca havia seguido a sugestão de chamar Abigail e Nigel de "tia" e "tio" para não usar apenas os nomes e também não se sentir forçado a chamá-los de "pais", como alguns infelizes na delegacia lhe propuserem uma vez. 

— Ele usa aqui — disse Lucca, indicando o próprio dedo anelar da mão esquerda —, mas ele é casado. Você não é casado, Nathaniel — acusou, um tanto incomodado, fazendo com que o maior arqueasse as sobrancelhas em surpresa. 

Ele queria muito parar de sorrir a cada palavra e frase, a cada gesto e expressão de Lucca, mas lhe parecia impossível. Riu baixo, tentando controlar quando a ruga entre as sobrancelhas escuras de Lucca aumentou de tamanho, tapando a boca rapidamente. 

Achava tão engraçado que Lucca só lhe chamava pelo nome inteiro, nunca usando o apelido usado por todos, talvez porque foi a primeira identificação que soube do médico. Só que usado neste tom de voz, como uma reprimenda que Nathan sequer entendia o motivo, parecia sua mãe quando lhe passava sermão. 

— Não, eu não sou casado — confirmou, assentindo. — Só que eu tinha uma namorada, se lembra? — Lucca permaneceu na mesma expressão congelada. — Quando as pessoas namoram, elas também usam anel de compromisso, para que todo mundo saiba que elas estão ligadas uma à outra. Entende? — perguntou, mas Lucca apenas piscou com confusão. É claro que não entendia. — É realmente bobagem — falou Nathan, rindo, ao imaginar que era isso que se passava pela cabeça do menor —, mas é apenas uma forma de reafirmar que eles estão juntos. 

Os olhos de Lucca desfocaram pouco a pouco, e logo, um tanto chateado, ele se deitou na cama, puxou o edredom e deu as costas para Nathan. 

— Lucca? — chamou, um tanto incrédulo, um tanto confuso. 

Suspirou, sabendo que, ao passo que Lucca não compreendia os outros, os outros também não compreendiam Lucca. E Nathan, infelizmente, fazia parte dos outros na maioria das vezes. 

Desligou o abajur, já havendo desligado todas as outras luzes da casa por Lucca, e deitou-se também, mas na direção do adolescente. Não demorou nem cinco minutos para que Lucca virasse em sua direção, ainda agarrado no edredom, os olhos negros refletindo a luz escassa que vinha da janela. 

Nathan esperou pelo que viria, não tendo ideia do que seria. 

— Vocês estão ligados? — perguntou em um murmúrio, irrompendo o silêncio do quarto. — Pra sempre? — sussurrou, lembrando das palavras de Nigel com relação à Abigail. 

Nathan demorou alguns segundos para perceber que fora isso que o incomodara. A ideia de que ele estaria ligado à Jill para sempre, e mesmo que Lucca soubesse que eles haviam terminado o namoro, talvez não entendesse que assim também se rompia o pacto da união. E que, mesmo em casamentos, isto também era possível. 

O que o fez demorar a responder, no entanto, foi o paradoxo que se passava em sua mente. Por um lado, sentiu-se genuinamente aquecido pelo incômodo de Lucca e por outro, sentiu-se genuinamente preocupado pelo mesmo. 

Apesar de saber que, às vezes, lidar com Lucca era o mesmo que lidar com uma criança de metade da idade que o adolescente possui, e que crianças tendem a sentir mais livremente do que adultos, ainda assim Nathan soube que havia uma grande probabilidade de isto não ser produto da personalidade única de Lucca. 

Engoliu em seco, remexendo-se na cama. 

— Não, Lucca — respondeu, por fim. — Eu e Jill não estamos mais ligados um ao outro, porque nós terminamos o namoro. Lembra? — perguntou, tentando voltar ao espírito anterior, mas o sorriso sequer saía. 

Silêncio. 

— Você ficou chateado por isto? — volveu a perguntar, intrigado pelas reações do menor.

Ao mesmo tempo, tentava controlar o reboliço em seu estômago, como se fosse passar mal, e queria mesmo acreditar que era pela repulsa da ideia de Lucca estar com ciúmes de sua vida amorosa. 

— Então você nunca mais vai usar o anel — meio afirmou meio questionou no tom de voz, ignorando a pergunta do médico. 

Nathaniel permaneceu em seriedade, aliviado pelo fato de que estava escuro e Lucca não poderia ver que não mais estava lhe sorrindo. Observou a silhueta do garoto, apenas parte do rosto iluminada pela minguada luz da janela e os olhos negros em formas de pontos brilhantes acima do travesseiro. 

— Eu não sei, Lucca — sussurrou, por fim, sem saber o que mais diria. 

Esperou por mais alguma palavra ou alguma pergunta, mas nada veio. Não soube dizer por que se sentiu tão aliviado quando, minutos depois, a respiração do garoto pesou e ele adormeceu feito um anjo. 

Nathan sentiu como se o espaço avantajado entre os dois corpos, deitados de frente um para o outro, estivesse minado de palavras não ditas, sentimentos embaralhados e promessas confusas. Era como se houvesse um abismo entre os dois, e não sabia se queria cair nele. 

Pela primeira vez sentindo-se completo naquele minúsculo apartamento, devido à estranha e única figura de Lucca, Nathan demorou a fechar os olhos e dormir. Mesmo estando podre de cansaço, e mesmo sendo sempre o primeiro a dormir quando dividia um quarto com Lucca, não pode pegar no sono. 

Haviam dois motivos.

O primeiro era o anjo perdido que adormecia à sua frente e o fato não conseguir quitar os olhos, já acostumados com o escuro, de sua imagem. O segundo era que ali, naquele pequeno espaço de tempo, surgiu na mente tumultada do médico a primeira das diversas indagações que viriam a seguir, a respeito da ligação que havia entre eles dois. 

Indagações estas que, em um futuro próximo, não partiriam apenas de sua mente perturbada, mas das demais. 


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Notas finais do capítulo

Postei aqui e em LGD'A, mas e MOS/MOF? Gente, tô trabalhando nisso, emocionalmente no caso de MOF pra dar uma continuação, e literalmente em MOS, já que o próximo já está sendo escrito! Beijo na bunda de vocês ♥

E pra quem não sabe, postei uma fic nova, por favor, dêem uma olhada - se tiverem interesse, claro:
https://fanfiction.com.br/historia/759788/Le_Guerre_DAmore/

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*



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