Flor de cristal escrita por Buch


Capítulo 2
A alma dos objetos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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Mais uma semana se passou desde o encontro de Kurama com seus amigos. O garoto estava contente por ter sido lembrado e escolhido por Yusuke e Keiko para se tornar seu padrinho de casamento. De todos os humanos que havia conhecido desde que encarnara como Shuichi Minamino, os dois eram certamente as pessoas de quem mais gostava, tirando é claro sua mãe.

— Bom sra. Kosuga, então os lírios brancos ficarão sobre os centros das mesas e os crisântemos enfeitarão o salão, correto? – perguntou Kurama a cliente.

— Sim, está certo meu jovem. Entretanto, gostaria de fazer um pedido especial. Não sei se poderá me auxiliar, porém imagino que se não puder proporcionar tal objeto, pelo menos poderia me indicar alguém que o fizesse – comentou a sra.

— E o que seria, sra.? – questionou o rapaz

— Gostaria de uma rosa de cristal para ficar em destaque na mesa central.

— De cristal? Bem, eu não trabalho com esse tipo de material na verdade, apenas com flores verdadeiras – respondeu o ruivo

— Sim, imaginei. Porém não conhece nenhuma loja de confiança onde eu possa encomendar? – perguntou ela esperançosa.

— Realmente não conheço nenhuma. Talvez encontre alguma no centro, lá é possível ter acesso a lojas de luxo. Certamente conseguiria encomendar qualquer coisa – sugeriu ele.

— Já estive lá meu rapaz, entretanto não gostei do trabalho dos artesões. Os trabalhos me pareceram vazios, não havia alma naquelas peças. – relatou ela descontente.

— Bom, posso tentar me informar com outros comerciantes da região, porém provavelmente só conseguirei acesso a lojas e artesões menos renomados – respondeu.

— As vezes as melhores jóias se encontram em locais onde menos se espera – disse ela sorrindo.

— Bom, vou ver isso amanhã e te retorno então, pode ser? – respondeu ele educadamente

— Agradeço muito a gentileza. Imagino que possa ser bom pra você também sabe, fazer parcerias, incrementar seu negócio com mais opções.

— Tem razão, obrigado pela sugestão.

— Ficarei esperando sua ligação. Até breve meu rapaz – disse a sra se despedindo.

Kurama suspirou assim que a sra. pomposa se retirou. Estava acostumado a receber pedidos estranhos, porém uma flor de cristal era novidade.  Certa vez um rapaz lhe pediu que decorasse seu bolo de casamento com uma rosa 3D, e que de dentro dela saíssem os noivos vestidos de astronauta. Em outra ocasião, uma senhora encomendou um caminhão de “Copos de Leite” para colocar no túmulo de seu falecido cãozinho. Enfim, mesmo sendo um trabalho razoavelmente tranqüilo, esquisitices sempre insistiriam em aparecer.

— Eu ouvi a conversa irmão – falou Shuichi saindo do quarto da contabilidade.

— E está me dizendo isso por que tem alguma sugestão?

— Na verdade sim. Tem a oficina do seu Omar, aquele velho artesão. Ele trabalha com todos os tipos de material, madeira, prata, ouro e imagino que até mesmo com cristal – explicou ele

— Será? – questionou Kurama pensativo.

— Acredito que sim. Já ouvi falar muito bem dos seus trabalhos. Lembra aquela escultura de gelo que vimos no casamento do primo do nosso pai?

— Sim, era uma escultura de fato muito bonita. Lembro que fiquei admirando por um longo tempo. Os detalhes e a delicadeza do trabalho chamavam bastante a atenção – falou ele se recordando

 - Então, foi encomendado la dessa oficina. – explicou Shuichi

— Será que amanhã poderia bem cedo verificar isso pra mim Shuichi? – perguntou Kurama

— Claro, farei isso antes de ir pra aula. Te mando uma mensagem, pode ser?

— Sim, ficarei aguardando. Porém não esqueça e me avisar, prometi a sra. que retornaria amanhã com uma resposta – advertiu ele

— Claro mãe, pode deixar- respondeu o garoto tirando da cara do irmão.

Kurama  não respondeu a provocação do irmão caçula. Sabia que quanto mais corda ele dava, mais o garoto provocava.

—---------

A terça-feira havia amanhecido gelada. Apesar de no Makai ter morado em uma região quente, Kurama não se importava com o frio, na verdade, até gostava. Sempre havia menos pessoas nas ruas e isso o agradava. Não ter que esbarrar com estranhos enquanto caminhava lhe trazia sossego. Já para as plantas o frio não era um bom aliado. Claro, havia aquelas espécies que gostavam do clima, porém a maioria protestava ferozmente, clamando por calor.

               FIIIUUUU FIIUUUUU

Realmente vou matar Shuichi com esses toques qucelular e ele coloca no meu celular - pensou Kurama irritado enquanto pegava o celular para verificar a mensagem

“ Bom dia irmão, espero que tenha gostado do novo toque. Bom, eu passei lá na oficina e eles disseram que podem fazer o que a sra. ricaça deseja, porém vai custar caro” – escreveu Shuichi

“Obrigada, avisarei a sra. Kosuga”

Retirou a agenda da gaveta do balcão e discou os números indicados no nome da velha sra.

— Alô?

 - Alô, sra. Kosuga. Aqui quem fala é Minamino, da floricultura – falou Kurama

— Ah, olá meu rapaz. Tem boas notícias pra mim?

— Descobri um local que me foi muito bem recomendado. Inclusive já pude conferir um de seus trabalhos de perto e imagino que seja exatamente o que esteja procurando – falou ele

— Excelente. Será que poderiam me mostrar alguma peça de mostruário? – perguntou ela

— Bom, imagino que eles devam ter alguma coisa sim – respondeu ele já imaginando o próximo pedido da sra.

— Hoje irei passar ai pra acertar o valor da encomenda de flores. Será que poderia pedir a um dos empregados do local vir e me mostrar alguma coisa? Assim consigo tomar minha decisão. – perguntou ela – E diga que  não me importo em pagar o deslocamento do funcionário – acrescentou ela

— Eu realmente não sei sra Kosuga

— Por favor meu rapaz, estou realmente interessada em adquirir uma peça de qualidade

Kurama pensou por um segundo. Aquele tipo de intermédio de nada ajudaria em seus negócios, além de lhe ocupar tempo. Entretanto não poderia também desagradar sua cliente.

— Pedirei para meu ajudante entrar em contato e explicar a situação. – respondeu ele

— Muito obrigada querido, certamente lhe recomendarei a todas as minhas colegas – agradeceu ela encerrando a ligação

Hoje o dia será longo— pensou ele enquanto colocava o telefone novamente no gancho

—---------

 

Apesar da conversa pouco agradável com a sra. Kosuga logo pela manhã, o dia todo transcorrera de maneira tranquila. Kurama entrara em conto com Shuichi pedindo que o mesmo tentasse resolver o problema, sendo prontamente atendido pelo irmão. As vezes Kurama sentia-se mal por “usar” seu irmão daquela maneira, mas não podia evitar, seu tempo era bem apertado. Atender os clientes, ligar para fornecedores, preparar os arranjos....eram muitas funções para uma pessoa só.

Talvez devesse contratar mais alguém pra me ajudar – pensou cansada enquanto terminava de contar o dinheiro do caixa.

— Com licença – disse uma garota enquanto adentrava a loja

A menina entrou na floricultura carregando uma caixa médica entre os braços. Ela não era muito alta, porém era evidente que já era adulta, tendo provavelmente a idade próxima a de Kurama. O cabelo era escuro e os olhos de um tom violeta bem claro que chamavam a atenção.

— Estou procurando o Sr. Minamino. Ele se encontra? – perguntou a garota

— Esse por acaso sou eu – repsondeu Kurama sorrindo

 - Olá, me chamo Lyra. Seu Omar me pediu que viesse aqui mostrar alguma de nossas peças – explicou ela

— A sim! Que bom que veio. Estava preocupado que não aparecesse – respondeu ele saindo detrás do balcão para ajudá-la com a caixa

— Não é necessário, apenas me diga onde posso colocá-la – falou ela se recusando a receber ajuda

— Bem, pode colocar aqui em cima dessa mesa então – respondeu ele sem graça apontando para uma mesa no centro da sala.

A garota se dirigiu ao local indicado, deixando o objeto.

— Uau, esse lugar é mesmo lindo. Sempre passo aqui na frente quando vou embora pra casa, mas nunca tive coragem de entrar – comentou ela

— É mesmo? E por que não teve coragem? – questionou ele curioso

— Não sei, sempre vejo pessoas com aparência muito elegante entrando aqui, achei que iriam me expulsar se atravessasse essa porta – comentou rindo

Kurama ficou encarando a menina um pouco confuso.

— É essa a impressão que esse lugar passa pra você? – questionou ele

— Sim, sem dúvida.

Nesse momento os sons dos sinos em cima da porta de entrada anunciaram a chegada de um visitante.

— Sra. Kosuga, bem vinda – cumprimentou Kurama

— Obrigada meu rapaz.

— Por um acaso acabam de chegar as peças que pediu para ver – comentou ele apontando para caixa – a senhorita Lyra acabou de chegar as trazendo.

— Muito obrigada querida, você me fez um enorme favor – comentou a sra indo em direção a caixa para olhar o material

Assim que aberta era possível enxergar uma dezena de pequenos trabalhos artesanais, a maioria feito de cristal. A sra. manipulava as peças com muito interesse e cuidado pois, apesar de tudo, sabia identificar uma trabalho de valor.

— Fabuloso – comentou a sra. enquanto segurava uma peça do busto de Nefertite

Ao que parecia a sra. Kosuga estava realmente satisfeita com a qualidade do trabalho. Kurama sentia-se aliviado por dentro, seria um problema a menos para resolver. Não pode deixar de notar que as peças eram realmente surpreendentes. Parecia que estavam...

— Vivas! – exclamou a mulher. – Era exatamente isso que procurava, uma trabalho feito com alma.

A menina examinava as feições da sra. com curiosidade. Ela sustentava um sorriso enigmático no rosto, que não passou despercebido por Kurama.

— Certamente irei contratar os serviços de seu artesão – falou a sra para Lyra.

— Fico contente em saber. Porém gostaria que me dissesse exatamente o que tem em mente. Me conte sobre os detalhes. Sempre gosto de saber a história por traz dos pedidos antes de começar a fazer as peças – falou a garota.

— Espere um instante. Está dizendo que esses trabalhos são seus? – perguntou a sra. surpresa.

Kurama olhava para a menina com curiosidade, realmente não esperava que aquela garota fosse a responsável por aqueles trabalhos.

Nunca se deve julgar um livro pela capa— pensou ele

— Sim sra., trabalho na oficina do seu Omar tem algum tempo – esclareceu ela sorrindo

— Divíno! – falou a sra com entusiasmo – Bom Sr. Minamino, fico muito contente pelos serviços prestados pelo Sr. Irei acertar o valor da minha encomenda com você imediatamente.

Kurama estava um pouco atordoado com a situação, mas decidiu terminar com toda a história de vez. Quanto mais cedo terminassem, mais cedo poderia encerrar aquele longo dia. Direcionou a sra. ao caixa enquanto a menina ia empacotando cuidadosamente as peças novamente na caixa. Após concluída a transação a sra. dirigiu-se novamente a garota que a esperava. Ambas trocaram algumas palavras até que a garota retirou um cartão do bolso e entregou a senhora. Kurama resolveu acompanhá-las até a saída, como um bom cavalheiro. Assim que a sra. Kosuga entrou no veículo, Kurama se virou para a garota.

— Tem certeza que não precisa de ajuda para levar essa caixa embora? – perguntou educadamente

— Tenho sim, está bem leve – respondeu ela sorrindo.

Kurama suspirou, porem preferiu não insistir com medo de estar sendo inconveniente.

— A propósito – falou ele – Você pode entrar aqui sempre que quiser. Mais cedo você mencionou que tinha vontade de entrar, por isso estou falando. – explicou ele

— Ahhh sim – respondeu ela se recordando da conversa – Bem, obrigada, eu certamente entrarei da próxima vez.

Após agradecer a garota se virou e partiu sem dizer mais nada.

E lá se foi mais um dia estranho de trabalho — pensou ele enquanto voltava para loja.


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor :D



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