Inquebrável escrita por Larissa Carvalho, MorangoeChocolate


Capítulo 6
Crying Lightning


Notas iniciais do capítulo

Amores nossoooos... Voltamos
Primeiramente, desculpem-nos pela demora. Nós não tínhamos a intenção, mas ficamos sem tempo com trabalhos e provas da faculdade. Graças aos céus acabou mais um período com sucesso e nós somos todinhas de vocês.
Recebemos comentários de desistencia - Angélica amor meu, não desista de nós. Nós voltaaaaamooos! ♥
Amamos vocês e pedimoooos muita desculpa pela demora.
Daqui há duas horas vou postar o bonus em forma de outro capítulo - com uma reviravolta e muita surpresa. Então, espero que vocês gostem!
Boa leitura
Beijoooos



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Quando eu tinha oito anos, minha mãe começou a escrever seu primeiro livro. Ela descia todos os dias para a lanchonete, ao lado do nosso prédio, pagava o maior pedaço de torta de limão da vitrine para mim e sorria, enquanto começava a escrever em um caderninho de capa velha e folhas amarelas algumas ideias que poderia usar.

       Eu comia e a observava tirar seus cachos ruivos da frente de seus olhos esverdeados, para ter melhor visualização de sua própria ortografia. Às vezes o sol batia em seu rosto e ela sorria para mim. Como eu me lembro daquele sorriso!

      Foi aquele sorriso que me manteve de pé por anos e que sempre estava lá quando eu precisava. Janine sempre colocava a mão em meu ombro – depois que eu acabava a torta – e fechava seu caderninho.

      Eu costumava me sentir irritada por enjoar da mesma torta – depois de meses. Mas quando ela começava a escrever, um brilho diferente tomava conta de dela. Ela pegava o maior pedaço, porque não queria que sua paixão fosse um peso para mim.

      Ela detestava achar que, mesmo por ela não ter dinheiro para pagar alguém para tomar conta de mim, eu achasse chato vê-la escrevendo. Então, ela pegava o maior pedaço de torta, porque quando eu acabava ela fechava o caderninho e me dava atenção.

      Eu não estragava isso – porque aquele era o único momento dela e quando eu acabava – ela voltava a me ver como o centro de seu universo.

      O que me leva onde estou agora...

    E se fossemos dois? E se fosse um pedação de torta de limão, para que ela escrevesse um livro que sempre sonhou? Será que aquela torta acabaria de forma mais rápida?

      Eu não sabia os motivos que tinham levado a minha mãe a esconder meu irmão por anos e nem ao menos cogitar a existência do meu pai, mas agora... eu queria respostas. Eu vim no carro, sedenta por elas e não pretendia sair da sala de Alberta sem tê-las.

      Bati à porta duas vezes e ela disse que eu poderia entrar, sem me fazer esperar muito tempo. Antes de vir, eu tinha passado em casa, comido uma torrada à mesa com Lissa, conversado um pouco e prometido que contaria tudo a ela assim que tivéssemos um tempo juntas. Logo depois, tinha tomado um banho e feito um rabo de cavalo frouxo, já que fazia um solzinho gostoso junto a um vento gelado, afinal, estamos no inverno. Tinha posto uma calça flare jeans clara, botas pretas com algumas correntinhas pratas de enfeite e de salto grosso, uma blusa branca de mangas compridas, meu amado sobretudo vermelho de botões pretos, e uma pashmina preta enrolada de forma charmosa em volta do pescoço – levando meus queridos crocs brancos e meu conjunto de scrubs (composto pela blusa branca de mangas curtas com estampas do Tigrão, Pooh e Eeyore e calça do mesmo tom de azul de algumas estampas da blusa) e meu jaleco dentro da minha bolsa de plantão. Seria melhor me trocar no hospital, depois de resolver as coisas com Alberta.

       Abri a porta da sala de Alberta e ela tinha cortado ainda mais o cabelo estilo joãozinho. Tinha seu jaleco branco por cima de um conjunto de scrubs verde e seu estetoscópio em volta de seu pescoço. Ela sorriu para mim, largando a caneta.

       Eu forcei um sorriso e tranquei a porta, caminhando até a cadeira à sua frente. Sentei-me e Alberta mordeu a boca.

— Algo errado, Rose? – perguntou, confusa.

— Talvez. – murmurei, colocando minha bolsa de plantão bege, vermelha e azul em cima do meu colo.

   Alberta sorriu.

— Soube que chegou atrasada hoje. – murmurou e logo após, olhou em meus olhos – Você costumava ser pontual com o outro emprego. Sua mãe se orgulhava em dizer isso.

— Desculpe. – eu disse. O relógio marcava oito da manhã, e eu entrava pontualmente às sete da manhã. Alberta sorriu e voltou a anotar algumas coisas em uma folha oficio. – É mal de nascença, afinal eu não nasci primeiro.

     Alberta parou o que estava escrevendo, mas não me olhou. O silêncio que se formou naquela sala, me fez querer sair correndo, mas eu me mantive firme. Alberta pigarreou e finalmente encarou-me. Ela largou a caneta azul e acomodou-se em sua cadeira.

      Sua expressão era de sobrou para mim, enquanto a minha era de é melhor dizer a verdade, eu sei desmaiar alguém. Alberta bateu a ponta da caneta na mesa e depois massageou as têmporas, o que era um claro sinal de que o assunto era sério.

— Por que ela mentiu? – perguntei, supondo que ela já sabia do que era o assunto. Alberta respirou pesadamente e sentiu o meu desespero. – Por que não me contou a verdade? Por que não ficou com meu irmão?

— São muitas perguntas, Rose. – disse Alberta, de modo ríspido. Ela mordeu a boca e encarou a porta atrás de mim. – Há coisas que mudam a nossa vida e quando for mãe, talvez entenda.

— Eu vou achar ele. – murmurei, cortando qualquer outra forma de Alberta amenizar a situação.

— Não pode, Rose. Sua mãe deixou seu irmão longe de você por uma razão e o fato de você procurar ele, vai contra as razões dela.

— E as minhas razões Alberta? – perguntei, sentindo meu rosto queimar. – Não contam? – Mordi a boca, ajeitando-me na cadeira. Respirei fundo e fitei-a, tentando manter-me serena. – Alberta, eu sei que me conhece bem, você é minha madrinha. Sabe bem que eu sou muito bem decidida e eu preciso saber da onde eu vim.

— Não saberá por mim. – disse ela, ainda séria. Alberta umedeceu os lábios e ajeitou-se novamente em sua cadeira, colocando suas mãos em cima da mesa e cruzando-as. – Rose eu sou sua madrinha, e sim, te conheço muito bem, principalmente sua teimosia. Sei o quanto é decidida e terrivelmente persistente, e o quanto tem uma personalidade tão forte e difícil de lidar às vezes... – ela respirou pesadamente. – Como sua mãe tinha. Mas, sem ela aqui, eu tenho o dever de te manter longe de confusão. Fique longe dessa história.

Eu arfei.

— Sério, Alberta? – perguntei, elevando meu tom de voz. – Você vai me dar conselho de vovó a essa altura do campeonato?

— Rose! – repreendeu-me. – Não é só saber sobre seu irmão. É saber sobre seu pai e sua origem.

— Exatamente. – falei, nervosa. – É o que eu quero.

— Mas não é o que vai ter. – disse Alberta. – Agora vai embora e fingimos não ter falado sobre isso.

— Não me trate como uma criança mimada, não é como se eu estivesse fazendo pirraça por um brinquedo. É um assunto muito sério. Você, mais do que eu, sabe bem disso. – eu disse, carrancuda.

— Está sendo ríspida comigo porque não pode ser ríspida com a sua mãe, Rose. – disse ela, com um tom de voz sereno. – Sinto muito que ela não tenha tido tempo para contar e se ela não contou, mesmo depois de saber que seu tempo acabaria mais rápido, respeite isso. Honre-a.

— Exatamente. – murmurei. – Ela morreu e eu fiquei aqui sozinha. Eu vou encontrar meu irmão Alberta. Com ou sem sua ajuda, eu vou encontrar o meu irmão.

Levantei-me ainda agarrada à minha força de vontade e virei-me para ir até a porta. O silêncio permaneceu por alguns segundos até que ela pigarreou e me parou. A maçaneta parecia fria e decisiva.

— Rose, esse é um segredo da sua mãe. – falou Alberta, atrás de mim. Sua voz era pesada. – Não posso simplesmente te contar. – Alberta percebeu minha falta de vontade de virar e olhá-la, e continuou. – Rose, ela era a minha melhor amiga e me pediu para guardar um segredo.

— E aí você simplesmente o guarda. – retruquei. – Você só está sendo a boa amiga que sempre foi. – murmurei, alto o suficiente para que só ela ouvisse. Senti o pesar no olhar de Alberta nas minhas costas.

     Empurrei a maçaneta e abri a porta em seguida. Alberta não me chamou de volta, apesar de me conhecer bem e saber que essa história estava apenas começando para mim. Nem tentou novamente me convencer a não procurar por algo perdido e aparentemente sem importância para a minha mãe, sendo todos sabiam que eu ia ficar feliz em saber que tem mais alguém vivo além de mim com o meu sangue.

      Eu nem sabia aonde começar a procurar. Não tinha nenhuma informação sobre o meu irmão de sangue e muito menos sabia o primeiro nome do meu pai. Eu tinha que conseguir todas as informações possíveis, mas sozinha era impossível e com Alberta dificultando as coisas, era pior ainda.

      Fui para a sala dos funcionários e guardei a minha bolsa no armário. Tirei minha roupa e coloquei meu scrubs e meias brancas soquetes com os crocs. Coloquei o jaleco por cima, peguei o estetoscópio, coloquei meu celular no bolso e caminhei em direção à ala pediátrica.

                                                       ***

— Você parece cansada. – disse uma das meninas na hora do almoço. Eu sorri, brincando com o macarrão com queijo do hospital. A comida para os funcionários não era tão ruim assim, mas para os pacientes, até eu ficava com vontade de chorar.

       Melanie sorriu e sentou-se à minha frente com sua bandeja. Ela era alguns centímetros mais alta que eu e tinha uma pele pálida, com cabelos pretos com leves ondas que batiam em seus ombros em corte long bob, com a parte de trás um pouco mais curta, e olhos grandes e azuis que a deixavam fofa. Trabalhava aqui há um ano e meio, como pediatra também e parecia simpática, apesar de não falar com quase ninguém.

— Estou. – falei, observando-a começar a comer. – Foram muitas emergências em apenas quatro horas.

— Espere até fazer seis meses nesse hospital. – murmurou. – Você não vai saber mais identificar se sua casa ainda é a sua casa, ou se é aqui.

Eu gargalhei.

— Vocês fizeram um quartinho, certo? – perguntei, sorrindo.

Melanie sorriu também.

— Claro! – disse ela. – Nós revezamos quando estamos muito cansados, cada um tem direito há sete minutos e meio.

Eu mordi a boca.

— Você dorme também?

— Eu? – perguntou, engolindo uma porção do macarrão. – Eu sou a rainha daquele quartinho.

Eu gargalhei, finalmente engolindo o meu macarrão.

— Será que vou usar ele um dia? – perguntei. – Já estou tão acostumada com noites acordada em plantões exaustivos.

Melanie sorriu.

— Acredite, eu também falava isso. – disse ela. Eu sorri, engolindo mais um pouco do macarrão. – Escuta.

— Hm... – disse, desviando minha atenção do prato para ela.

— Talvez devesse ir à festa da minha irmã nesse fim de semana. – disse ela. – Vou te passar o endereço no sábado e você vai se divertir com médicos e advogados chatos.

Eu gargalhei.

— Advogados? – perguntei, sorrindo.

— É. – falou ela, rolando os olhos. – Minha irmã é uma das melhores advogadas do país e geralmente chamamos nossos primos, amigos e tudo mais. Tenho um primo que é policial.

Eu sorri.

— Sério? – perguntei.

— Sim. – falou Melanie. – Ele geralmente leva os amigos e agora, vai levar a noiva.

— Me parece uma boa ideia.

— Você vai gostar. – disse Melanie, engolindo o resto de comida em seu prato. Seu celular vibrou em cima da mesa e ela fez biquinho. Eu sorri. – Foi bom conversar com você, mas o dever me chama.

Eu sorri enquanto ela levantava com a sua bandeja.

— Até mais. – murmurou ela.

— Até.

       Depois que Melanie se afastou, eu terminei de devorar aquele macarrão com queijo fantástico e fechei os olhos quando meu prato ficou vazio. A imagem da minha mãe invadiu-me e eu sorri. Seus cabelos ruivos e cacheados – com seu típico batom vermelho, contrastando com suas lindas sardas – sentia falta de como ela reclamava delas.

        Abri meus olhos e respirei fundo. Não seria tão difícil achar a outra metade da minha vida que foi tirada de mim depois do parto da minha mãe. Mas o problema de querer muito uma coisa é não pensar no que fazer quando estiver com ela.

        Meu celular vibrou em cima da mesa e eu peguei-o. Número desconhecido.

        Toquei no visor e sorri surpresa ao escutar a voz rouca de Dimitri.

Olha só...— comentou no outro lado da linha. – Ela atende rápido.

— Eu acabei de comer, Belikov. – murmurei. – Estou feliz! Não estrague isso. – a gargalhada dele me fez gargalhar também. Será que seria sim sempre? Ele aparecia e me deixaria nas nuvens? Oh, por favor, Rose! Não sabote seu novo amigo. — Eu até poderia perguntar como conseguiu meu telefone, mas eu me esqueci de que você é um ótimo stalker.

Alguma notícia do seu irmão?— perguntou ele, depois de outra gargalhada.

— Eu gostaria de dizer que sim, mas Alberta não vai me contar nada.

Você falou com ela?— perguntou. Ele parecia espantado.

— Uma coisa que deve saber sobre mim, camarada, é que não começo algo se não for para ir até o fim.

E se conseguir?— perguntou ele. – O que fará? Baterá na porta do seu pai e dirá algo como “Olá, pois bem, lembra da sua filha? Então, sou eu, muito prazer! Meu irmão trinta segundos mais velho está aí? ”.

— Talvez eu faça isso. – retruquei, observando o movimento do refeitório.

Dimitri ficou em silêncio por algum tempo e depois respirou fundo.

Ah, Rose...— começou ele. – Hoje de manhã...

— Oh, verdade. – falei, ajeitando minha postura na cadeira. – Me desculpe, eu imagino que sua garota ficou bem irritada.

Pude quase ouvir o sorriso de Dimitri.

Não era minha garota, Roza.— disse ele, lembrando o meu novo apelido. – Era uma velha amiga.

Eu sorri, sentindo uma estranha pontada de alivio no meu estômago.

— Ah, ela não era tão velha. – murmurei, com um sorriso bobo no rosto.

Mas é ranzinza.— disse ele. Eu sorri.

— Garotas ranzinzas te atraem, camarada?

— Não. – disse ele. Mas, pude sentir que ele teria ficado um pouco ruborizado caso estivesse na minha frente. – Mulheres ranzinzas demais são chatas. – completou, brincando.

Gargalhei.

— Ok, camarada! – eu disse, dando risada.

Rose, lembre-se. Amigos. Apenas.

   Pude quase ouvir o sorriso de Dimitri novamente.

 – Tem algum compromisso amanhã à noite, doutora Hathaway?

      Sorri, e olhei para minha mão desocupada.

— Não, senhor Belikov. Amanhã é minha folga. Tenho alguns compromissos durante o dia, mas estou livre à noite. – respondi com um leve sorriso, lembrando-me que tinha marcado horário em um salão de beleza no centro da cidade.

— Então, jante comigo amanhã. – disse ele. – Eu tinha um encontro, mas ela remarcou para hoje. Podemos pedir comida chinesa.

Eu entortei a boca.

— Passo lá às oito. – falei, ainda sorrindo.

— Eu te espero, Hathaway. – disse ele. – Tenho que desligar, e boa sorte com seu plantão.

— Oh, não tenho plantão hoje! Eu sei que falei pela manhã. Mas, acabei esquecendo que o quadro de escala de plantões mudou. Estava pensando no antigo, que não é tão antigo assim. Precisa se atualizar, camarada Stalker.- Ele riu. - Mas, não se preocupe, eu levo um pirulito para você. – retruquei. Pude imaginá-lo sorrir. – E Dimitri?

— Sim? – Disse ele, antes de desligar.

— Tenha uma ótima noite romântica. – murmurei, sorrindo.

    Ele pigarreou, respirando fundo, logo após.

— Tenha ótima noite de descanso, Roza. – e então, ele desligou.

    Coloquei novamente o celular em cima da mesa e me peguei sorrindo. Eu sabia que não seria nada fácil ter alguém próximo e a quem eu poderia confiar novamente na minha vida, mas com certo receio, eu enxergava que essa barreira parecia estar se desmoronando aos poucos. Dimitri era diferente. Ao menos, parecia.

                                                     ***

      Saí do hospital às oito da noite, nessa nova escala, dou plantão duas vezes na semana, e hoje era um dos dias que eu poderia dormir.

      Entrei no carro após buscar minhas coisas no armário. Coloquei-as no banco traseiro, e sentei no banco do motorista, respirando fundo. Encostei minha cabeça no volante, decidindo por hora, afastar certos pensamentos que insistiam em permanecer na minha mente.

      Cheguei ao apartamento alguns minutos depois, nenhum sinal de Lissa. Deixei os crocs no chão da lavanderia, e os scrubs dentro da máquina de lavar. Segui em direção ao meu quarto, retirando o sobretudo, deixei-o no cesto para lavanderia dentro do closet, junto com algumas cobertas. Na máquina de casa, lavávamos apenas roupas mais leves, casacos pesados, sobretudos e cobertores iam para a lavanderia. Apoiei-me na porta do closet, retirando as botas e colocando-as também ali dentro, na sapateira. Tirei a calça, ficando apenas com a calcinha pequena, porém não fio-dental, de renda preta e ainda com a blusa branca e o sutiã. Observo-me por algum tempo no espelho. Está tudo no lugar, mas sinto que preciso fazer alguma atividade física se não, logo, logo não estará mais. Dou risada sozinha com meu pensamento.

      Sigo de calcinha mesmo em direção ao balcão da cozinha, e me deparo com um post-it rosa. Lissa.

      “Fui jantar com Christian. Não me espere acordada.

      Não marque nada para quinta, tenho planos para nós.

        Te amo.

       P.S.: Tem torta de frango no forno.

        XX

 Eu sorri.

Sintia falta da Liss, mas a entendia.

Ela merecia um tempo com o topete maravilha. O que será que teremos quinta? Bom, como hoje ainda é segunda-feira, terei tempo para perguntar. Precisamos mesmo colocar os papos em dia, prometi a ela.

       Abro a geladeira, em busca de um pouco de sorvete de creme com pedaços de chocolate, porém, sem sinal de sorvete. Dou de ombros, e sigo para o quarto novamente. Pego um conjunto de calcinha e sutiã limpos no gaveteiro do closet, meias brancas, uma calça skinny jeans clara, um moletom preto do Arctic Monkeys, e sigo para o banheiro, ao som de she’s thunderstorm no celular.

      Após estar devidamente cheirosa, relaxada e vestida, coloco um par de vans pretos, coloco certa quantia de dinheiro, cartão de crédito e o celular no bolso na calça, e sigo para a porta, enrolando os cabelos em um messy bun.

      Vou a um mercadinho simples, próximo de casa, buscar um pote de sorvete, e ao sair do mercadinho, aproveito para passar em um café que me chamou a atenção durante o caminho.

      As paredes eram de um tom escuro de vermelho, uma delas era em tijolinhos, com alguns quadros com recortes de jornal, placas, fotos antigas e um quadro-negro com algumas opções de bolo escritas em giz.

      Sorri e retirei meus fones, indo ao balcão. Logo, uma atendente loira e sorridente, aparentando ter uns dezessete anos, pergunta qual o meu pedido. Peço alguns muffins de blueberry com banana para viagem, um cookie e um frapuccino de morango para consumo ali mesmo. Efetuo o pagamento, ela sorri e me pede para escolher uma mesa, que logo um dos funcionários levará meu pedido. Agradeço com um sorriso e um menear de cabeça.

    Sento-me à última mesa do café, no canto, o estofado parece um pequeno sofá de mesmo tom das paredes. Logo ao sentar, sinto meu celular vibrar.

    Era uma mensagem de texto de Dimitri.

“Então gosta de ir à cafés em segundas à noite”.

 “Achei que tínhamos combinado nada de Dimitri stalker, hahaha Como sabe que estou em um café? Não deveria estar em um encontro?”.

Será que...

“Como sempre, afiada e questionadora, doutora Hathaway”.

   Olhei em volta, vendo Dimitri sorrir olhando-me de uma mesa pouco afastada. Balancei a cabeça, rindo sem fazer som. Um garçom deixou meu pedido na minha mesa, e me direcionou-me um olhar demorado. Sorrio e agradeço educadamente, enquanto ele segue de volta ao balcão.

“Isso é algum tipo de perseguição?”

 Rio novamente, olhando-o.

“Só se for da sua parte, afinal, eu cheguei aqui primeiro.”

“Wow, camarada, não fui eu quem pesquisou até o histórico colegial de alguém.”

“Touché. Como eu disse, afiada, Roza.”

  Dou risada, olhando-o novamente, enquanto levo o canudo do frapuccino à boca. Engraçadinho.

Vejo uma mulher alta, e de cabelos escuros e lisos sentar-se com Dimitri.

“Melhor dar atenção ao seu encontro, camarada. Nos vemos amanhã.”

Termino de comer meu cookie, e pego meu frapuccino, a sacola do sorvete – que já deveria estar meio mole, e após o frapuccino, tinha perdido a vontade de sorvete – e a embalagem bonitinha com meus dois muffins dentro.

“Até. A propósito, belo gosto musical. AM é uma ótima banda.”

     Observo Dimitri novamente antes de levantar. Não é muito educado trocar mensagens de texto, enquanto se está em um encontro. A moça na verdade nem parecia notar, pois parecia tagarelar sem parar. Ri, balançando a cabeça. Pois, pelo o que pude notar, a expressão de Dimitri era de estou ouvindo porque sou cavalheiro e educado. Talvez o assunto não seja tão interessante. Pobre camarada.

“É, é sim. (emoticon sorridente). Boa noite, camarada.”

Levantei-me, e fui para casa. Sentia um certo embrulho no estômago. Oh, não. Ciúmes? Não. Cedo demais. Perigoso demais.

     É, deve ter sido o cookie.


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Notas finais do capítulo

Já já postamos o bônus ♥
Beijooooooos