Inquebrável escrita por Larissa Carvalho, MorangoeChocolate


Capítulo 5
Storm Eyes


Notas iniciais do capítulo

Meninas, perdoem-nos... Semana de trabalho é pior que semana de prova. E antes de vocês lerem mas um capítulo DEMORADOOO e fresquinho... Vou dar uma dica fantástica: Não se esqueçam do importante. Quem liga se você tem cabelo verde ou amarelo? Se é certinha ou gosta de usar preto todos os dias? - preto é legal. E um dia, vai ter alguém que olhará no fundo dos seus olhos, sendo eles lente ou não e te amará. Pode ser seu vizinho(a), a pessoa que esbarrou contigo na rua ou o melhor amigo(a). Sei lá, só veja no inesperado. Pode te surpreender.
É isso.... Boa leitura!!

Beijão



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Dimitri se ofereceu para fazer um chá – para o caso de outro ataque de perereca que eu viesse a dar. Sua casa era simples e masculina. Não tinha plantas ou qualquer coisa viva, o que dava a entender que ele não lembraria de cuidar.

Funguei e voltei a analisar os papéis à minha frente, em cima da mesinha de centro. Eu estava no sofá de Dimitri à meia hora, tentando entender os motivos que levaram a minha mãe a esconder um irmão de mim.

Eu poderia ter esbarrado com ele na rua ou estudado com ele – mas eu não saberia – porque eu achava ser filha única. Droga, mãe! A dor de perder você seria menos torturante se dividido no meio.

Respirei fundo novamente e coloquei os cotovelos nos joelhos, e minha cabeça entre as minhas mãos. Eu não ia chorar – até porque tinha que pensar para fazer isso – e no momento, meu cérebro era incapaz de opinar.

Senti o cheiro de pós-barba ao meu lado e sorri enquanto Dimitri sentava-se ao sofá, colocando a xícara verde de chá em cima da mesinha de centro de vidro. Dimitri não era tão ruim afinal, mesmo com uma louca gritando na sua porta e quase acordando a sua sobrinha no quarto, ele se ofereceu para me acalmar. 

Eu engoli a seco. 

— Ainda está triste? – perguntou ele. Eu forcei um sorriso. 

— Não estou triste. – falei, entrelaçando minhas mãos, uma na outra, enquanto eu mordia a boca. – Estou com raiva. 

Dimitri assentiu e colocou seus cotovelos nos joelhos, respirando fundo. Eu peguei a xícara de chá e quase suspirei com a quentura boa na caneca. 

— Sabe, Rose... – começou Dimitri, com uma voz que apenas eu escutaria mesmo se aquela sala estivesse cheia. – Eu não achei nada sobre seu pai, ou qualquer coisa que ligue você ao seu irmão além do dia de nascimento.

Eu arfei, ainda olhando para o líquido dentro da caneca. Nunca fui uma pessoa calma e estar ao lado de Dimitri, que lidava com situações difíceis todos os dias, me deixou serena. Eu ainda não sabia como lidar com a descoberta de uma família maior.

Sempre fui eu e minha mãe, e agora que eu finalmente tinha deixado à ilusão de que meu pai aparecia e dançaria uma valsa em meu casamento comigo, eu soube que tenho uma outra metade. Alguém que deveria dividir tudo comigo e ajudar a minha mãe na lição de que, tudo deve ser partilhado. 

E o que eu era agora? – perguntei a mim mesma. — Uma garotinha mimada?

— Eu só queria ter descoberto isso bem antes da minha mãe morrer. – falei, apertando a caneca quente em minhas mãos e olhando para Dimitri. – Queria dividir o luto e a dor de perder ela com mais alguém que se importasse.

Dimitri semicerrou os olhos.

— Mas pessoas como Lissa, se importam, não? – perguntou ele. Analisando-me.

Eu respirei pesadamente.

— Sim. – falei. – Mas falta algo. – eu pigarreei. – Eu a amava de um jeito que achava ser único, e mesmo que a pessoa chegasse m mim e dissesse meus pêsames, ou eu te entendo... Não entendem. Ninguém entende.

— Verdade. – murmurou, ainda fitando-me. – Mas a decisão é sua Rose. – disse, apontando com o olhar para os papéis à nossa frente. – Eu posso continuar se quiser, ou fingirmos que nada mais aconteceu.

— Mas aconteceu. – falei, tentando me manter centrada. Dimitri respirou fundo, com medo que eu surtasse de novo, mas eu apenas abaixei meu olhar para o chá e mordi a boca, para parar qualquer resquício de lágrima. – Eu quero saber, quem eu sou.

— Rose... – começou ele, fitando-me. Os olhos de Dimitri me aqueceram por poucos segundos e algo manteve minha mente firme. Talvez modo como ele me olhou, ou como abriu sua boca para dizer suas próximas palavras. – O importante, é saber o que deve ser. 

— E se eu não souber? – perguntei, ainda absorvendo a segurança que ele me causava. Essa situação me desestabilizou...

Dimitri deixou que seu olhar penetrasse em minha alma e sorriu, afastando uma mexa de meu cabelo – insignificante – da frente dos meus olhos.

— Você sabe, Roza. – murmurou. 

Eu sorri.

— Obrigada, camarada. 

— Sempre vou estar aqui. – murmurou ele. – E prometo não pesquisar mais sobre sua vida. 

Eu gargalhei, bebericando uma xícara de seu chá de camomila.

— Essa é uma boa notícia. – falei, fazendo-o rir. – É mais interessante que pergunte. 

Dimitri assentiu, mexendo-se no sofá. 

— Pode deixar. – falou. Nós nos olhamos por um tempo e depois de alguns segundos Dimitri pigarreou. – Eu tenho que dar uma olhada na Zoya. 

— Claro, vai lá. – murmurei, sorrindo.

— Fique a vontade, Rose. – disse ele fitando-me. – Eu já volto.

Eu assenti, enquanto ele se levantava e andava em passos largos até um corredor, que provavelmente dava para os quartos no apartamento. Eu respirei fundo, tomando mais um gole do chá e colocando-o em cima da mesinha de centro.

Estava tão aquecida com aquele chá, que quando dei por mim, já estava deitando no sofá de Dimitri e observando o que era para ser apenas uma investigação sobre uma vizinha qualquer. E se eu não tivesse visto isso? E se eu não soubesse desse irmão?

Será que o destino um dia me ligaria à ele, ou eu continuaria sendo sozinha e triste por sentir falta da minha mãe todos os dias da minha vida? Eu não sabia a resposta para essas perguntas, e nem para as próximas que viriam a minha cabeça.

Eu só queria fechar meus olhos e deixar que a morte da minha mãe em flashes na minha mente – que me impediam de ter um colo de mãe – parassem.

                                                     ***

Acordei com o cheiro do ovo mexido...

Não que eu fosse um robô sem coração movido à comida – eu era apenas um robô, movido a comida. O coração ainda estava lá, batendo e sendo decepcionado constantemente. Abri meus olhos e puxei algo que pareceu ser uma manta.

Uma manta branca, fofinha e macia que surgiu magicamente em cima de mim. Eu sorri, quando percebi que estava de dia e Dimitri não tinha me expulsado da casa dele. Sentei-me ao sofá e tirei a manta de cima de mim.

Os arquivos tinham sumido magicamente e a xícara de chá também. Olhei para a pequena cozinha, perto da sala e sorri ainda mais para Dimitri cozinhando. Eu pigarrei, enquanto ele passava por mim e colocava os ovos mexidos no prato em cima de uma mesa redonda e de madeira – já na sala.

— Que bom que acordou, Roza. – disse ele, voltando até a cozinha para colocar a frigideira na pia. Eu caminhei, lembrando-me de estar de pijamas ainda, e sentei em uma das cadeiras. 

Eu corei, quando ele também percebeu meu pijama.

— Roza? – perguntei, sorrindo. Dimitri caminhou até mim e se sentou à minha frente. 

— Seu nome em Russo. – explicou-me. Eu sorri e espetei uma porção dos ovos no meu prato.

— Então... – comecei, esperando que ele mastigasse suas torradas. – Você é russo, né?

— Sim. – falou, com os olhos brilhando. 

— O paraíso gelado. – murmurei, vendo-o sorrir. – Tem ursos polares e tudo mais? Você já viu um?

Dimitri gargalhou, fazendo-me rir também. Ele parecia ser sério e concentrado, mas quando ele ria algo em mim disparava. O problema era saber se era um alerta para manter minhas mãos nele ou fora dele.

— Rose, não é como se a Sibéria tivesse Tundra e esquimó.

Eu abri a boca – fingindo decepção – enquanto pegava a torrada. Rolei os olhos e depois de algum tempo, eu simplesmente ri. Era a primeira vez em dois anos, apesar de Lissa estar comigo, que eu não tinha vontade de chorar pela morte da minha mãe pela manhã.

Ouvi um barulho de água e conectei ao barulho de chuveiro. Olhei para Dimitri enquanto ele comia sua torrada e verificava algumas coisas em seu celular – totalmente concentrado. Ontem à noite, ele estava arrumado e cheiroso. Com os cabelos molhados e se ofereceu para me fazer um chá.

Eu entortei a cabeça e mordi a boca. Ele não era o único bom no trabalho de FBI aqui, afinal.

— Desculpe por estragar seu encontro.

Dimitri levantou o seu olhar para mim, confuso.

— Como?

Eu sorri, mastigando a torrada.

— Você tinha um encontro ontem.

Ele arqueou uma das sobrancelhas e eu sorri. 

Bingo, Hathaway! – comemorei, comigo e comigo mesma.

— Talvez. – murmurou, bloqueando a tela de seu celular e colocando-o em cima da mesa. – Você me livrou na verdade, eu não fazia isso há muito tempo.

Eu bufei.

— E ainda bem que eu durmo como uma pedra, porque eu não ouvi barulhos diferenciados – disse claramente em tom sugestivo. Sim, eu quis dizer aqueles barulhos— ontem.

Barulhos diferenciados? – perguntou Dimitri, sério..– O quê?! Não! – disse em alarde. É, ele entendeu.- Eu desmarquei quando fui verificar a Zoya. Não fui ontem, Rose.

Eu abri a boca, em espanto e Dimitri sorriu. Tentei arquear uma das sobrancelhas como ele, mas não tive sucesso o que deve ter resultado em uma careta bem estranha. Dimitri gargalhou.

— Eu não sabia dessa. – falei. – Então, o chuveiro...

Dimitri aparentou entendimento.

— Minha sobrinha. – falou. – Ela gosta de se arrumar completamente sozinha.

Eu gargalhei.

— Faz sentido. – falei. – Obrigada, de qualquer forma, pela noite e por me escutar.

Dimitri sorriu, condescendente. 

— Não tem problema. Somos vizinhos. Agora, amigos... – ele deu de ombros. – Eu espero.

Eu gargalhei, levantando-me. Oras, não sou uma pessoa complicada como pensam.

Mesmo estando de pijamas, eu me sentia a vontade com ele. Era como um futuro melhor amigo gay – levando em consideração que ele era gostoso, e não era gay. O que nos leva ao próximo item. 

Dimitri era o sonho molhado de qualquer garota, mas no momento, não o meu. Ele era inteligente, independente, parecia extremamente protetor, atraente e totalmente descompromissado – mas ontem eu vi algo nele que queria há muito tempo.

Não teve sexo, nem beijo ou juras de amor. Apenas duas pessoas formando uma amizade. Eu amava Lissa, mas ela ia se casar e eu estava com uma sensação de vazio, antes mesmo de chegarmos a essa cidade e ontem, quando Dimitri e eu conversamos e eu babei no sofá de couro marrom dele – eu não me senti sozinha.

— Eu tenho um plantão em duas horas. – falei. – Preciso renovar meu estoque de cafeína e chegar no trabalho sem olheiras.

Dimitri sorriu, desarrumando-se na cadeira. 

— Eu sei. – disse ele. – Eu também pesquisei seus horários.

Eu rolei os olhos.

— Até, amanhã, querido camarada stalker. – murmurei, enquanto andava até a porta. Senti o olhar de Dimitri queimar em minhas costas, e pude ouvir o som baixo de sua risada.

— Amanhã? – perguntou, ainda fitando-me. 

Apertei a maçaneta em minha mão e sorri, alegre.

— Claro. – falei, empolgada. – Por que você vai em mostrar a foto da garota que eu te fiz dispensar, por mensagem e vai sair com ela hoje a noite.

— Eu vou? – perguntou, dechochado.

— Ah, vai. – falei, abrindo a porta. – Até mais.

Comecei a abrir a porta, mas alguém maior que eu – não tão maior assim – arregalou belos olhos azuis e quase fez Toc Toc na minha testa. Olhei para a moça de cabelos pretos e lisos – com franjinha e olhos azuis – e vi a surpresa em seu olhar.

— Eu... – começou ela, ainda fitando-me. – Aqui é o 308 mesmo?

Eu sorri, analisando rapidamente sua roupa. Salto agulha, bolsa da Victor Hugo, cabelos sem graça – mas bem tratados, alta, porte de modelo, sobretudo cor de gelo e um belo vestido tubinho preto embaixo. 

E você com seu pijaminha. – debochou meu cérebro.

Modelo da Dolce e Gabbana 1 X Rose 0

— Não. – falei, sorrindo. – Você acertou.

— Quem é? – perguntou Dimitri, ainda sentado. Eu sorri forçado e sem graça. A mulher ainda me analisava, com um olhar confuso e eu torci para que não fosse a do encontro da noite passada.

 

Senhor, eu nunca te pedi nada. – mentira Rose. Já pediu coisas demais. – Mas por favorzinho, que não seja a garota que levou o bolo.

— Eu já vou indo. – falei para a mulher. Olhei para Dimitri sem que ele percebesse e depois sorri para ela, como quem dizia: Hey, foca nele, não no meu pijama. – Vai fundo, ele cozinha bem. – incentivei-a, passando por ela.

Não olhei para trás e confirmei se ela entrou, mas quando eu cliquei no botão do elevador, um barulho de porta se fechando me fez pular. Parecia cedo, então, deve ser por isso que não escutei barulho nenhum no prédio.

Minha coluna não estava feliz comigo pela noite maravilhosa, mas meu cérebro estava pedindo uma xícara – Talvez um balde - de café e o máximo de informações sobre minha possível família parte 2. 

Então, fechei meus olhos, recostando-me em uma das paredes do elevador. Eu sabia o que tinha que fazer e o que ia fazer, quando chegasse naquele hospital daqui a duas horas. Só tinha uma pessoa no mundo que podia responder minhas perguntas – alguém que respirasse e que falasse sem me matar de susto.

E essa pessoa era a Alberta.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham que está por vir?
Quero muitos palpites e comentários meus amores!
Beijão.



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