— Uau… - Arfou Afuro - Eu não sabia que você cozinhava…

"Se quiser conquistar alguém, pegue-a pelo estômago." — Urabe, Rika.

 Ah... Agora entendi o porquê do Nagumo estar me olhando assim... 

— Isso é incrível! - O loiro correu graciosamente até Suzy e infelizmente - para Fuusuke - pegou nas mãos do albino e aproximou-o de si - Você pode me ensinar algumas coisas também! Por que você não me disse antes que era bom na cozinha? - Perguntou um tanto ofendido e Suzuno não sabia se olhava para o loiro e tentava afastá-lo, ou se prestava atenção ao fato de Nagumo estar encostado na porta com uma cara horrível e com um facão enorme bem ao lado da mesa onde ele estava próximo. Onde estariam Midori e Hiroto naquela hora? Podia jurar que os dois haviam os acompanhado até lá também.

— Suzuno? - A voz meiga de Terumi o tirou de seus pensamentos, e finalmente Fuusuke pôde soltar-se daquele loiro endiabrado - Quer ajuda pra arrumar as coisas?

— Eu ajudo.

  A voz grossa de Haruya fazia uma diferença enorme naquela sala, já que Aphrodi e Terumi não possuíam vozes muito… Másculas. O de olhos âmbar se achegou a Suzuno com um olhar impiedoso, mas ao virar para Afuro deu seu sorriso mais lindo e pediu para o loiro ir a procura de Hiroto e Ryuuji, e prevenir que os dois “se comessem” na escola, como ele mesmo havia dito.

  Aphrodi já tinha caído fora, mas Nagumo continuava a olhar para trás.

— Belo jeito de despachar o…

— Qual é o seu problema, Suzuno?!

— Uhh… Não vai mais me chamar de Suzy?

 Debochou Fuusuke ao ver Nagumo virar-se bruscamente para si e soltar aquela pergunta enfurecida.

— Por que você disse pra ele que era da aula de culinária?

  A cada dois passos que Suzuno dava para trás com um meio sorriso, Nagumo adiantava cinco para cima do albino ao ponto de prendê-lo na parede e pôr sua mão acima da cabeça do outro, que não desmanchou a curva risonha em seus lábios.

— Eu não disse nada, ele entrou aqui e viu, ué. - Se defendeu e Haruya replicou.

— Você sabe muito bem que ele gosta de gastronomia, eu espero que você não esteja tentando roubar ele de mim… - Murmurou perigosamente perto do albino, que sem se abalar empurrou-o para longe e passou os dedos por seus fios platinados.

— Nagumo, pensa com a cabeça de cima e não com a de baixo, por pelo menos um minuto! - Nagumo pareceu indignado e boquiaberto ao ouvir aquilo, seu rubor não o deixava mentir - Agora que ele sabe sobre isso, você pode dizer que foi você que me ensinou a cozinhar!

  Haruya franziu o cenho de um jeito que fez Suzuno querer bater nele por ser tão fofo; pensou sobre a proposta e deu um enorme sorriso de gengiva, estalando os dedos.

— Suzy, você é um gênio!

— Eu sei disso.

— Só tem um problema… - Amenizou seu tom enquanto tocava seus indicadores um no outro - E-eu não sei cozinhar…

— Eu te ensino, jumento! Agora vai logo falar isso pra ele.

  Na verdade, Suzuno não queria que Nagumo fosse dizer aquilo ao louro. Fingiu lindamente o seu “desinteresse” e cruzou os braços, desviando o olhar para o jeans rasgado do ruivo.

— Suzuno, você é o melhor amigo do universo!!!

— Tá… - Respondeu sem nem olhá-lo, e quando o fez… - Ah não, nem vem com esse negócio de abraço!

— Ah, só um, vai! Por favor! - Continuou a se aproximar com os braços abertos, pronto para agarrar Suzuno.

— Você sabe que eu odeio abraço! - Nagumo já havia o agarrado - Ahhh Nagumo!

  Soltou uma risadinha, e por um meio segundo quis retribuir, mas voltou a sua seriedade ao ver um ser de cabelos azuis parado na porta, os olhando assustado.

— Kazemaru? - Assim que Nagumo ouviu aquele nome vindo de Suzy, soltou-o rapidamente e buscou encarar a cara assustada de Ichirouta na direção que o albino falava.

— F-foi mal, não queria atrapalhar nada.

— Mas você não atrapalhou nada, a gente só…!

 Tentou o ruivo explicar, mas Kaze já estava bem longe.

— Eu heim…

— Vai lá falar com o Aphrodi logo, Nagumo!

— Ai, é verdade! - Já estava pronto para correr, mas Fuusuke ainda o alertou:

— Não se esquece, amanhã me encontra aqui a tarde pra eu poder te ensinar algumas coisas, ok?

— Tá bom, fui!

Saiu em disparado deixando um certo albino meio abobado para trás, pondo sobre seu peito a mão suando frio.

— Que coração trouxa que eu tenho…

~*~ 

— O QUE?!! Eu não acredito que você vai fazer isso, Suzuno Fuusuke! - Reclamou Shuuji, indignado com a decisão do melhor amigo.

— Qual é, eu só tô ajudando ele.

— E o nosso grupo de leitura?! Você é o líder, não podemos fazer nada sem você!

— Porra, vocês não não conseguem ler um livro sem mim?! - Suzuno já estava revoltado com aquele grude todo do amigo, era sempre a mesma coisa quando se tratava de algo relacionado ao Nagumo.

— A questão é que, você faz tudo o que o Nagumo quer!

— É isso que os amigos fazem, meu caro amiguinho.

— Mas precisa você sacrificar o único momento que temos juntos, pra ficar com aquele grande imbecil?!

…

 Shuuji repetiu mentalmente seu ataque de ciúmes ao olhar a cara de “Como é que é?” de Suzuno o fitando cruelmente, engoliu em seco, havia acabado de passar dos limites.

— Calma cara, eu vou ficar ensinando ele só por uma semana - Encenou um sorriso falso.

— Hum…

 E a conversa morreu ali, pelo menos até ambos acabarem de guardar seus materiais embaixo da mesa e Suzuno vir com a pergunta mais constrangedora que Shuuji ouviu sair de sua boca:

—  Ahn… Shuu-kun…

 Sua voz saiu gentil e estranhamente meiga, capaz de fazer todos os pelos do rapaz de óculos se eriçarem.

— Quê?

— Você… - Iniciou ainda fechando sua bolsa - Você me acha bonito?

—... - Uma onda de desespero tomou conta do garoto -... Quê? - Repetiu.

— Você me acha bonito, atraente, sei lá, qualquer coisa? - Retornou à pergunta de volta com seu jeito rabugento de sempre, Shuuji piscou os olhos duas vezes arqueando a sobrancelha. Será que Suzuno havia batido a cabeça em algum lugar?

— C-claro que é! E-eu nem p-preciso dizer i-isso, porque você mesmo sabe!

— Ah… - Murmurou e logo deu o que parecia ser um sorriso para o amigo.

— Por quê essa pergunta? - Levantou uma sobrancelha.

— Nada não, eu só… - Fuusuke coçou a cabeça meio encabulado - Esquece. Bom, tô indo me encontrar com o Nagumo, ele já deve estar lá, tchau.

~*~

  Olhou em seu celular a hora antes de entrar, estava cinco minutos adiantado; sorriu confiante e abriu a porta de correr da sala, já esperando ser o primeiro a chegar:

— Nagumo, acho bom você já estar aqui, senão… - Anunciou ao entrar, mesmo não esperando que Haruya estivesse lá, porém…

— Oi! - Saindo de baixo da mesa e dando um pulo na frente do albino, o ruivo apareceu com seu melhor sorriso e sua melhor roupa também. Fuusuke franziu o cenho sem ter se assustado com a surpresa.

— Chegou cedo, é assim que eu gosto, mas… - Mirou-o de cima a baixo e revirou os olhos - Você veio com o casaco do time? Como você vai cozinhar com isso?!

— Ah, mas eu pensei que o Teru podia aparecer aqui e me ver desse jeito - respondeu sorrindo - eu fico muito sexy com essa roupa, acha que ele vai gostar? - Pôs as mãos na cintura em uma pose simples, mas o casaco ficava meio apertado em seus braços e abdômen, Suzuno mordeu a boca por dentro e só conseguiu desviar o olhar ao sentir seu telefone vibrar, era hora de começar.

— Tanto faz, mas é melhor você tirar essa blusa, ela pode sujar e tal.

— Eu… Acho que…

— Tira logo, Nagumo, temos que começar! - Ordenou de costas para o amigo no mesmo momento em que arqueava as mangas de sua blusa e vestia seu avental - Coloque o avental também quando ti…

 Interrompeu sua fala ao ver Haruya já sem a blusa, porém, um pequeno detalhe chamou totalmente a atenção de Fuusuke, que já sentia uma veia saltar de sua testa e o sangue ferver em suas bochechas.

— Nagumo, posso saber por que caralhos você está sem camisa?!!

— Ér… Então, era sobre isso que eu ia falar com você, Suzy… - Coçou a nuca rindo desconcertado.

— NÃO ME CHAMA DE SUZY, INFERNO!

— Eu me atrasei hoje e só deu tempo de pôr o casaco!

— Coloca o casaco de novo.

— Mas você disse que…

— Coloca. A porra. Do casaco. De novo. - Ordenou pausadamente ignorando a cor púrpura em seu rosto - Certo, vamos começar. Primeiro: eu mando aqui, ok? - Confirmou o ruivo com um aceno breve - Ótimo, vamos fazer um bolo de chocolate.

— O favorito do Terumi! - Comemorou Haruya.

— É… - Revirou os olhos.

  Os ingredientes foram pêgos por Suzuno nos armários, após colocá-lo enfileirados sobre a mesa, chamou Haruya apenas com o balançar de seu dedo indicador.

— Despeje a farinha dentro da bacia.

—... Tudo?

— Não, três xícaras completas.

 Assim o ruivo fez, meio nervoso acabou derrubando um pouco na mesa, mas o albino não ligou.

— Hmm esqueci o leite - Reparou na ausência do ingrediente e foi buscá-lo - Quebre os ovos na bacia e ponha uma colher de manteiga.

— Quebrar? ‘Xá comigo. - Pegou os três ovos de uma vez e já se preparava para joga-los com força dentro do pote, por sorte Suzuno voltou a tempo de ver a besteira que o outro faria.

— Não! - Largou o sachê de leite sobre a mesa e tomou os ovos das mãos de Haruya, que ficou sem entender nada.

— Ué, o que foi?

— É pra quebrar os ovos e tirar a casca!

— Mas aí o bolo não vai ficar crocante.

— Não é desse jeito que ele vai ficar crocante! Argh, eu não me lembrava de você ser tão burro. - O outro fez um biquinho enquanto Suzy despejava o líquido na massa e terminava de bater os ovos - Agora mexa calmamente com a colher até a massa ficar consistente.

— Beleza!

  E assim Nagumo fez, batendo a massa com violência fazendo Suzuno gargalhar com sua falta de suavidade em fazer qualquer coisa, o ruivo o olhou contraditoriamente, encantado com o riso de Fuusuke.

— Cara, não é assim! - Riu chegando mais perto do cabelo de tulipa - Relaxa mais o braço, desse jeito. - tomou a liberdade de pegar o seu punho e ditar os movimentos que ele deveria fazer, sem nem perceber o quanto àquele ato deixou os seus rostos mais próximos - Menos velocidade e mais suavidade, entendeu? - Olhou para o rosto do ruivo e ele já estava o encarando e parecia fazer isso há um bom tempo. Suzuno corou - Olha pra massa, não olha pra mim.

— A-ah… Ok, foi mal.

  Suzuno logo se afastou sentindo seu coração batendo um pouco mais rápido, não tardou e a massa já estava prontinha para ser levada ao forno após as explicações de Fuusuke para Haruya, apenas precisava do fermento.

  E quando tudo acabou…

— Uh, fazer bolo é mais difícil do que eu pensava… - Reclamou Nagumo secando as mãos com um pano de prato, Suzuno quase se esqueceu que precisava ajudá-lo e o matou ali mesmo com aquilo; suspirou xingando alguns palavrões e retirou o pano de suas mãos - Será que o meu bebê vai gostar?

— Acho que sim… Eu provei e ficou gostoso… - Disse fitando o chão - Vai chamar ele aqui pra provar, eu fico de olho no forno.

— Tá bom, valeu Suzy!

— Não me chama assim!

…

— Anda logo, Haru, eu quero provar!

— Calma, deixa eu assoprar pra você, apressadinho. - Replicou apertando o narizinho do loiro, que cobriu o rosto com as mãos, sorrindo. Suzuno simulou o próprio vômito com o dedo, aquela melação toda o enfurecia - Pronto, abre a boquinha - Afuro riu e o fez - aaah…

— Andem logo com isso, vocês estão me dando nojo. - Hiroto, que também havia aparecido por alguma razão, comentou ao lado do albino, que concordou prontamente.

— Hmmm… - Afuro murmurou - Que… Delícia!

— Gostou?

— Uhum, ficou incrível! A massa ficou perfei…

 Ainda de boca cheia e sem terminar de elogiar o bolo do (Suzuno) Nagumo, Afuro Terumi foi completamente interrompido por um beijo surpresa de Haruya, que avançou sobre seus lábios segurando o rosto delicado do loiro com ambas as mãos.

Hiroto e Suzuno mal acreditavam no que viam, e quando estava para comentar algo, Kiyama viu Fuusuke desviar o olhar entristecido para o chão.

—... Desculpe, não resisti. - Sussurrou Haruya ainda com a boca próxima aos lábios rosados de Terumi. Em resposta… Aliás, não houve resposta alguma da parte de Afuro; o loiro só deixou o bolo de lado e puxou o ruivo para outro beijo, dessa vez bem mais caprichado.

— Mas o que? Que baixaria é essa?!

— Midori! - Hiroto comemorou ao ver seu amigo adentrar a sala, abismado com o beijo que rolava ali.   

 Um beijo de novela depois…

— Nós vamos dar uma volta, valeu Suzuno! - Agradeceu e anunciou o ruivo já na porta, sendo puxado pelo braço por Aphrodi, que o tirou dali sem nem mesmo Fuusuke responder.

— Oh glória! Não vou mais precisar ajudar o Nagumo em nada!

 Kiyama e Ryuuji se entre olharam.

— Tem certeza que tá tudo bem, Suzuno?

 O mencionado se virou para mexer no celular, permaneceu de costas para os dois amigos desde então.

— Claro… Não vou mais me preocupar com esse retardado.

  Mumurou baixinho. Hiroto estalou a língua no céu da boca e ouviu o suspiro de Ryuuji ao seu lado.

— Tá… Então me diz, por que você tá chorando?