—Nossa isso aqui é muito mais cheio de dia que a noite.

A gente tava de volta ao píer pra um tour matutino dois dias após o jantar do meu aniversário. Sara me trouxe pra gente conhecer o lugar a luz do dia. E o tanto de gente ali era impressionante. Na grande maioria eram famílias com crianças.

—Esse aqui se tornou um dos pontos turísticos mais visitado de São Francisco depois de outros mais conhecidos.

—Pela quantidade de gente que vejo, não tem como duvidar que ele é um dos mais visitados.

—Todo dia é movimentado assim aqui. Vem vamos começar nosso tour.

Enquanto a gente ia andando pelas 'ruas' de madeira dali Sara me contou um pouco sobre o lugar.

O Píer 39 é um centro comercial e atração turística popular construído em um cais de frente pra Baía de São Francisco. Ali há lojas, restaurantes, um aquário enorme, um carrossel de dois andares, pontos de vistas para os leões marinhos, entre outras diversas atrações, que segundo Sara a gente ia ver algumas naquele dia.

Seguimos até a primeira que foi o 7D Experience, que trata-se de um cinema/teatro que disponibiliza "brinquedos" estilo parque de diversões só que em versão simulador para termos uma experiência completa (visual e sensorial) do brinquedo. Sara e eu fomos em dois brinquedos apenas, que foram: DarkRide, um simulador de montanha-russa muito louco. E o Laser Maze Challenger, onde a gente participa de uma missão com raios laser. Foi muito divertido brincar ali.

Dessa nossa primeira atração seguimos pra próxima. Fomos ao Aquarium of The Bay, um aquário gigante que conta com mais de 20 mil espécies de peixes e criaturas marinhas como, por exemplo: água-vivas, arraias, tartarugas, tubarões e muitos outros seres. O lugar é incrível e maravilhoso. Sensacional!

—Eu te contei que quero ser biólogo?

—Contou. Nossa olha aquela arraia que gigante.

Sara apontou para o bicho passando sobre nossas cabeças pelo aquário.

—É linda!

—Mas você não pretende se especializar nessa área das espécies marinhas né? Você me disse qual era, mas esqueci. Qual é mesmo?

—Entomologia, Sara

—Ah, é mesmo os insetos. - Sara fez uma careta engraçada.

—Exato! Gosto dos insetos.

—Acho que você e somente a rara minoria que gosta desses seres.

—Eles são importantes pra gente e o ecossistema, sabia?

—Ah, não! Você não vai querer me dá uma aula em pleno passeio, vai?

—Não, sua chata.

—Ah, bom! E chato é você! - Ele socou meu braço de leve.

Saímos do aquário momentos depois e passamos em frente ao Bungee Trampolim, um trampolim com cordas de segurança presas a nossa cintura que permitem que a pessoas salte com toda segurança até 6 metros de altura no ar e consiga fazer algumas acrobacias aéreas.

—Uma vez fui nisso, mas me arrependi da graça.

—Por quê?

—Porque acabei colocando pra fora o meu lanche inteiro assim que saí daí. - Sara explicou fazendo careta enquanto nos afastávamos do trampolim.

Fomos dali conhecer o Magowan's Infinite Mirrors Maze, um fascinante labirinto de espelho com vários corredores que parecem infinitos becos sem saída. Entramos e demoramos um pouco pra achar a saída dali.

—Pensei que a a gente não ia sair de lá. - Comentei aos risos assim que deixávamos o lugar.

Conheci o Musical Stairs, exposição de arte interativa apresentada pelo criador das escadas musicais no filme do Tom Hanks "Quero ser grande". Andar pelas escadas que imitam as teclas de um piano me fez sentir como se eu fosse o próprio Tom Hanks no filme. Divertido!

Demos uma pausa e fomos comer num restaurante bem maneiro o Bubba Gump Shrimp Co. Esse restaurante é temático e traz inúmeras menções a outro filme do Hanks o Forrest Gump.

Depois do almoço Sara me levou pra ver o grande Carrossel que possuí dois andares, 1.800 luzes LED cintilantes e 32 animais para montar, incluindo: dragões-marinhos, leões marinhos, golfinhos, urso pandas e cavalos.

—Sabe que carrossel nunca foi um brinquedo que me agrada. Ficar rodando e rodando me dá enjôo e nervoso só de ver.

Eu ri.

—Ah, eu gostava quando era pequeno. Adorava andar nisso. Será que adulto não pode dar uma volta nele também.

—Não inventa, Grissom. Vem, vamos ver os leões marinhos é super legal.

A gente seguiu pelo deck de madeira até uma área reservada somente para observação dos leões marinhos. Haviam muitos ali e eles faziam a festa dos turistas que os observavam. Ficamos observando e falando sobre os bichinhos por uns minutos até que Sara me propôs:

—A fim de andar de barco?

—E pra onde a gente vai de barco?

Ela apontou a ponte Golden Gate mais ao longe e explicou que o passeio de barco passa por baixo da ponte e dá o contorno pela Ilha de Alcatraz.

—Topa?

—Agora! Vamos.

E lá fomos nós apanhar um barco mais adiante. A fila estava razoável e depois de uma espera de quinze minutos na fila, nós apanhamos o barco.

Foi um excelente passeio que rendeu vários cliques meus com Sara e também da paisagem dali. Passar por baixo da ponte foi demais e ainda vi a Ilha de Alcatraz.

—Numa outra oportunidade a gente vai conhecer Alcatraz por dentro. Tem um museu bacana lá dentro do presídio.

—Já ouvi falar. Dizem que as celas ainda são mantidas originalmente como eram.

—Sim. E até pertences de presos tem lá. É super maneiro visitar o antigo presídio.

...

—E aí, conheceu muita coisa, Grissom?

—Puxa um monte, Laura. A gente até andou de barco.

—Ah, o passeio de barco é sensacional mesmo.

—Muito!

—E o pai, mãe?

—Foi comprar os presentes pra gente levar a noite para o luau.

—Ele conseguiu convencer o Carl a ficar essa noite na recepção?

—E o que é que seu pai não consegue com o pobre do Carl? É só ele falar grosso que o Carl já topou o que quer que seu pai diga.

A gente riu das palavras de Laura.

—Carl se pela de medo do meu pai. Que nem alguém que eu conheço, não é Gil?

O olhar provocativo de Sara me fez fitá-la com meus olhos semicerrados.

—Não é medo já disse. É respeito. - Corrigi minha namorada.

—Ah, claro! - Ela exibia um sorriso debochado.

...

—Ei, que bom que todos vocês vieram.

Maurice veio nos recepcionar na entrada da barraca.

Os pais de Sara cumprimentaram Maurice, depois foi a vez da minha namorada e eu fazermos o mesmo.

Entregamos os nossos presentes e Maurice os depositou numa enorme caixa que já estava abarrotada de presentes. Em seguida, Maurice nos acompanhou barraca adentro e avisou que a festa toda ocorria na praia e tirando nossos sapatos nós seguimos Maurice até lá.

Havia muitas pessoas por ali dentre elas encontramos Alícia, a namorada dele, acompanhada de duas pessoas mais velhas, que ela nos apresentou como sendo os pais dela.

Ficamos naquele grupinho de conversa ali por um bom tempo até que uma banda contratada pra fazer um pequeno show começou a tocar e a gente prestou atenção neles.

Em determinado momento do show vimos Maurice sair levando sua namorada pra ir dançar mais adiante de onde estávamos. Depois foi a vez dos meus sogros irem dançar, e até mesmo os pais da Alícia foram.

—Me diz que você não vai me fazer dançar na frente deles? - Cochichei no ouvido de Sara e minha namorada riu.

—Só porque você falou, eu acho que vou querer sim. - Ela virou-se em meus braço e ficou de frente pra mim.

—Sara, por favor, não. Você sabe que eu não gosto disso.

—Ai, tá bom, não vou! Chato! - Ela me resmungou revirando os olhos e ficando de costas outra vez pra mim.

—Seus pais parecem um casal bastante apaixonado. - Comentei abraçando Sara e vendo meus sogros trocarem um beijo.

—E eles são mesmo. Sabe que eu nunca os vi brigar? Só vi aquelas discussões bobas que casais têm, mas briga mesmo, não. E também nunca vi meus pais trocarem um xingamento sequer.

—Eu também nunca vi meus pais brigarem. Sequer discutirem na minha frente.

—Sara!!

Nos viramos​ e encontramos Kylie atrás da gente.

—Ei! Não sabia que estava por aqui.

Vi com desgosto o sujeito e minha namorada trocarem um abraço. Eu sei que prometi não sentir ciúmes dela com aquele cara, mas é tão difícil. Ainda mais, sabendo que ele teve um envolvimento amoroso com ela e sentindo que havia algum resquício de sentimento da parte dele para com Sara.

—Eu é que não sabia que você estava por aqui.

—Minha prima é amiga do Tom que organizou esse evento junto com o Maurice. Olá... Grissom, não é?

—É. Como vai... Kylie, não é?

Se ele queria me provocar fingindo não ter certeza do meu nome, eu também devolvi a provocação na mesma moeda.

—Sim, é Kylie. - Eu deu um sorrisinho que não gostei. _E eu vou bem. E você?

—Vou muito bem, obrigado. - Respondi sério e abraçando Sara.

—Que bom!... Gostou da prancha, pernuda?

—Demais! Ela é linda e não imaginava que fosse tão grande assim.

—Assim que bati os olhos nela lembrei de você.

Olha eu tava fazendo um esforço e tanto pra não deixar o ciúme me fazer cometer uma cena ali. Só Deus sabe o quanto eu tava me segurando e o quanto isso tava me custando.

—Quando vai me ensinar o stand up paddle?

—Quando você quiser. É só marcar. Agora deixa eu ir. Só vim te cumprimentar mesmo.

Para o meu desgosto, eles trocaram outro abraço.

—Tchau, Kylie.

—Tchau, pernuda... E tchau, Grissom.

Apenas me limitei a menear com a cabeça em resposta. Agradeci profundamente quando ele sumiu dali.

—Pensei que tinha dito que ia tentar controlar seu ciúme. Mas o comportamento hostil com o Kylie não mostrou isso.

—Ele me provocou primeiro ao fingir que não tinha certeza do meu nome.

—Grissom, ele tava brincando com você.

—Ele não me conhece pra ficar brincando com a minha cara, Sara.

—Olha meus pais estão vindo aí então acho melhor a gente parar por aqui essa briguinha boba.

Me calei e não disse nada em resposta.

—Era o Kylie que tava aqui com vocês?

—Era, pai.

—Puxa, eu queria falar com ele.

—Se me dão licença, vou apanhar um refrigerante pra mim.

Saí e deixei os três sozinhos lá. Eu precisava me afastar um pouco pra não deixar meus sogros notarem que eu não estava bem. Porque eu não fiquei nada bem depois da passagem de Kylie ali.

—Posso falar com você?

Me virei e encontrei o tal Kylie atrás de mim.

O que esse cara quer falar comigo já?

—Sou todo ouvidos. - Resmunguei apanhando uma latinha de um recipiente grande e cheio de gelo.

—Olha vim me desculpar com você pela minha brincadeira de fingir não ter certeza do seu nome ainda pouco. Percebi que não gostou da brincadeira. E vim pedir desculpas por ela.

—Você não me conhece pra fazer brincadeiras comigo.

—Eu sei, foi mal. E sei que você só tá assim na defensiva comigo por ciúmes da Sara, mas ó... não precisa se preocupar comigo, cara. Ela é só uma amiga pra mim. Além do mais, já tive minha chance com ela só que não deu certo. Quer dizer, até deu no tempo em que ficamos juntos. Mas depois que terminamos, Sara passou a ser uma amiga e nada mais. Não tenho qualquer interesse amoroso na sua namorada, não cara. Relaxa!

Eu fiquei até sem graça depois de todo esse discurso dele. Senti que ele foi verdadeiro e honesto comigo e me senti um tolo, idiota por meus ciúmes.

Tratei de fazer a única coisa que me cabia e que sabia ser a certa. Pedi desculpas a Kylie por meu comportamento com ele nas duas ocasiões que nos vimos.

—Tranquilo. Eu te entendo. Sara é uma garota incrível. Também sentia ciúmes dela quando estávamos juntos. Mas de verdade, não precisa me ver como uma ameaça, cara. Beleza?

Ele me estendeu a mão que prontamente eu segurei e apertei.

—Beleza!

—Agora, eu tenho que ir. Tchau, tchau... Grissom, não é?

Ele repetiu a brincadeira de ainda pouco e dessa vez eu sorri, pra logo em seguida revidar na mesma moeda.

—Tchau... Kylie, não é?

Ele apenas sorriu e foi embora.

Depois dessa nossa conversa, eu não vejo mais razão alguma pra ter ciúmes da Sara com o Kylie.

—Ei! Posso saber o que tava rolando aqui entre você e o Kylie?

—Nada de mais.

—O que vocês estavam falando, Grissom?

—Coisa de homem! - Me limitei a dizer enquanto abraçava Sara.

—E você não vai me contar que "coisa de homem" foi essa?

—Não!... O que você precisa saber é que da minha parte não haverá mais ciúmes e hostilidades em relação ao Kylie.

—Sério? - Sara franziu a testa em desconfiança.

—Seríssimo! - Confirmei antes de dar um beijo em Sara.