Pesadelo escrita por Verderi


Capítulo 4
Manifestações




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— O QUE ERA AQUILO, LOUISE? Gritava Bianca, ao adentrar a sua casa, buscando uma resposta de Louise.

— Bianca, acho que não consigo mais esconder de você.

— Você ainda queria continuar escondendo?

Louise sacou o celular da velhinha do bolso da calça e mostrou a foto para Bianca.

— Esse símbolo estava tatuado na mão direita do meu amigo que foi assassinado num casebre. Era de lá que eu estava voltando.

— Credo, parece história de serial killer.

— É exatamente o que eu estou suspeitando. Mas porque ele iria querer me atingir dessa forma?

— Você acha que a menininha da foto tem alguma coisa a ver com o que aconteceu? Indagou Bianca.

— Não sei. Mas é estranho uma menina dessa idade desenhar algo assim, não acha?

— Com certeza é.

Louise ficou olhando para a foto por alguns instantes tentando encontrar uma solução para tudo aquilo. De onde era o símbolo? Porque ele foi tatuado na mão de Bruno? E a menina? Será que havia alguém manipulando-a?

Será que na internet não tem nenhuma resposta? Questionou Bianca.

— É mesmo, Bianca, a internet.

Louise correu para seu quarto pegar seu notebook. Pesquisou “Leão com olhos flamejantes”, mas só encontrou letras de música e imagens impactantes de leões com olhos de fogo. Nada que servia de resposta para o que buscava.

— Parece que é um mistério. Disse Louise olhando para Bianca.

— Mistério que precisa ser resolvido. Não se esqueça que ele envolve você.

Bianca saiu do quarto.

Louise ficou ali olhando aquelas fotos de leões vorazes e isso a levou a um questionamento: O leão é o rei da floresta, mas se ele tem olhos de fogo, ele não pode ser real. Tem que ser uma entidade ou alguma coisa que se manifesta em outro alguém.

Ela precisava voltar ao local da batida do ônibus.

1 hora depois.

Ao chegar onde o ônibus batera no muro, Louise se deparou com algumas partes dos destroços do ônibus que ainda estavam ali. Era meio estranho, porque o restante do ônibus foi recolhido, porque aquelas partes não? Louise sentou na calçada do outro lado da rua e ao olhar para a parede onde estava o leão estampado, ela percebeu que não havia mais nada. Foi tentar conversar com o dono do muro azul para esclarecer algumas coisas. Tocou a campainha e um homem de meia idade, pele branca e com a feição um pouco cansada a atendeu.

— Pois não? Disse o homem para Louise.

Olá, senhor — Se direcionou a ele com um pouco de nervosismo – Eu gostaria de saber sobre o desenho que estava no seu muro no dia da batida do ônibus aqui na frente.

— Nem me fale desse ônibus, que trágico acidente. Fiquei sabendo que só uma pessoa sobreviveu.

A face de Louise era uma mistura de nervosismo com aflição e tristeza no momento.

— Só uma pessoa sobreviveu? Perguntou ela, gaguejando.

— Foi o que eu fiquei sabendo. Mas você perguntou de um certo desenho?

— Sim, sim, o desenho, o senhor sabe onde ele foi parar?

Não havia desenho nenhum nesse muro, moça.

Na mistura que estava a face de Louise, agora adicionaram-se dúvidas e mais questionamentos.

— O senhor tem certeza?

— Sim, moça. Esse muro sempre foi assim, azul.

— Não pode ser. NÃO PODE.

Louise já não tinha controles sobre suas ações, começou a socar o portão da casa do muro azul, e se jogou no chão, chorando, enquanto o senhor tentava acalmá-la.

— Você acha que eu estou ficando louca? Perguntou ao homem, aos prantos.

— Moça, eu não sei o que está acontecendo, mas no que você quiser, eu posso ajudar.

Louise o olhou com a maior cara de piedade do mundo, e ele a convidou para entrar. Ela aceitou.

A casa do senhor era um tanto quanto misteriosa. A luz era fraca e havia muitos quadros na parede. Um quadro enorme tomava conta de uma das paredes da sala. Nele, havia o senhor, uma mulher e duas crianças, provavelmente sua família.

Desculpe a indelicadeza, mas quem são no quadro?  Perguntou Louise enquanto se sentava numa das cadeiras antigas da casa.

— São minha esposa e minhas duas filhas. Que Deus as tenha

O senhor fez o sinal da cruz enquanto olhava pro quadro.

— Desculpe mais uma vez, mas qual a causa da morte delas?

— Não é uma coisa que eu gosto muito de falar, mas eu acho que você se identificará com a história.

O senhor levantou-se da cadeira onde estava sentado e se aproximou do quarto com a mão no peito.

— Minha esposa e minhas filhas saíram um dia por volta das catorze horas para ir ao mercado e não voltaram mais. Já eram dez horas da noite, quando eu, preocupado com a demora delas, ouvi no noticiário local da televisão que uma mulher e duas crianças tinham sido torturadas e assassinadas num matagal por um estuprador. Encontraram marcas de violência e estupro nas três. Até hoje eu acho que elas ainda vão passar por aquele portão e minhas filhas correrão para me dar aquele abraço caloroso que só elas conseguiam, e minha esposa logo atrás me cumprimentará com um beijo. Mas eu sei que isso não vai acontecer.

Ao finalizar sua fala, o senhor sentou-se na cadeira que estava logo atrás dele.

Louise não sabia o que dizer. A história do senhor era tão triste quando a sua.

— Eu acho que sei como o senhor se sente. Minha mãe morreu num acidente numa rodovia. E meu pai nem quer saber da minha existência. Mas, como o senhor sabia que eu me identificaria com a história?

O senhor a olhou com um semblante sereno.

— Você tem uma marca que todos os que perdem um membro querido e próximo da família tem. E é uma marca super perceptível para quem também perdeu um ente querido. O senhor apontou para o coração de Louise. É a marca da empatia.

Louise deu um sorriso meio sem graça. Olhou no relógio do celular da velhinha. Era noite já. Tinha que ir pra casa.

— Eu preciso ir embora, senhor. Muito obrigado pela ajuda. A propósito, qual seu nome?

— Meu nome é Leandro. Disse o senhor com um sorriso no rosto.

Louise saiu e ao chegar no portão se deparou com uma caixinha do lado de fora da casa. Ao abrir, notou que era um cd e na capa havia a imagem do leão dos olhos flamejantes numa áurea mais aterrorizante do que nunca.

Louise pegou o cd e tomou seu caminho para casa.


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