Crônicas - não dos reis - da vida. escrita por M Moraes


Capítulo 5
14/11/2019




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Geralmente, quinta-feira eu saio apressada do trabalho, às 18:00h em ponto, para não permitir que nada me atrapalhe de chegar o mais cedo possível na estação de trem, mas essa quinta-feira foi diferente. 

Andei a passos vagos, sem pressa de chegar, não me importando muito se perderia o trem ou não. Talvez fosse o cansaço. Talvez. 

Assim que cheguei na estação, a estação estava "cheia", com mais movimentação, sinal de que o trem estava por vir naquele momento. Dito e feito. 

Ao caminhar pela estação até um ponto onde eu pegaria um dos vagões da frente, o farol do trem já anunciava sua chegada ao longe. 

Continuei com meus passos lentos, em silêncio, apenas refletindo no louvor que ouvia. Nisso, havia um moço a minha frente, em quem quase esbarrei, o mesmo carregava uma mochilinha. 

Assim que o trem parou, vi um dedo entre a porta e a primeira coisa que me veio a cabeça foi "que essa porta abra logo para soltar esse dedo preso!", mas logo reparei que realmente havia uma brecha entre as portas. 

Foi uma imagem cômica. Coisas de Japeri-Central. 

Esperei pacientemente que todos descessem para eu entrar no vagão. Aproveitei o espaço na porta e ali me encostei. 

Minha visão focou em um rapazinho que gesticulava e ajustada o óculos em seu rosto, sentado ao lado estava, acredito eu, ser seu pai, o mesmo moço que estava com a mochilinha a minha frente. 

O moço (vou chama-lo de pai) pouco falava, pois se atentava ao filho, que ora apontava, ora ajustada o óculos, e sempre falando. O pai olhava para ele, ficou com o rosto de lado na intenção de fixar seus olhos em seu filho o tempo todo. Parecia ter torcicolo.

Em silêncio, prestando atenção na cena, ouvi uma voz dizendo "Eu também fico assim. Presto atenção em tudo que fala e evito falar para te ouvir."

Eu sabia que voz era aquela. Era a voz do meu Pai, Deus. Foi inevitável, uma lágrima caiu. 

Que imagem linda: aquele pai atencioso com seu filho. Não sei a relação deles, mas aquele momento foi especial. Digo isso, pois não tive momentos em que a atenção do meu pai da terra o fizesse me olhar com tanta expectativa em cada palavra que  eu poderia dizer sobre uma história que eu poderia contar.

A conversa entre os dois parecia interessante, às vezes o pai dava uma opinião, eu não sei, mas falava algo que o filho ouvia e logo depois dava continuidade no assunto. 

Algumas estações a frente, os dois se abraçaram e brincavam de "pedra, papel e tesoura", foi legal. Muito legal. E outro assunto surgiu. 

Fiquei emocionada em como um pai cuida do seu filho e deveria ser assim mesmo! Além das cobranças e instruções, ter esses momentos de olho no olho, atenção, conversa, contato, abraço, jo-ken-po deixa o ambiente tão… paterno. Carinhoso. Bom.

Estamos longe demais das pessoas. Não digo de desconhecidos, mas daqueles que fazem parte de quem somos. 

É claro que, se Deus indaga a compaixão de uma mãe, que mesmo gerando um filho, pode ser que o abandone, porque isso pode vir a acontecer, todavia há pais que estão ao lado de seus filhos em tudo: conquistas e fracassos. E Deus é assim também e jamais abandonaria um filho Seu!

E  ver aquela cena… Minha alma se encheu de gratidão por eu ter um Pai que fica em silêncio para me ouvir e que ama esse contato, essa conversa íntima de troca de olhares, prestando atenção em cada palavra, mesmo quando é um desabafo ou um fato que aconteceu, tanto que diz "se você se chegar a mim, eu me chego a você de volta" (ref. Tiago 4:8a). O pai gosta de estar presente na rotina do seu filho, mesmo que ele só saiba quando lhe é contado. 

Ninguém ensina um homem a ser pai, mas por sermos criação de Deus, isso se torna um instinto, se gera um amor por alguém que o homem não conhecia mas já sabia que era seu filho. Deus nos amou antes da fundação do mundo. 

Há uma beleza gigantesca na relação da família, um amor que nasce sem ser explicado na teoria. E eu espero, profundamente, ver mais pais serem tão atenciosos aos seus filhos, a ponto de passarem uma viagem de trem inteira com o rosto virado mostrando ao seu pequeno ou ao seu grande filho que seu ouvido e seus olhos estão atentos a ele. 


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