Crônicas - não dos reis - da vida. escrita por M Moraes


Capítulo 20
08.06.2023




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Um dia ensolarado. Feriado de Corpus Christi. O almoço será no shopping, mas para a surpresa de muitos, as lojas só abrem às 12h. Enquanto isso, a frente do shopping fica completa de pessoas procurando um lugar debaixo da sombra. Apesar do frio gélido do vento, o sol ainda consegue superar com o seu calor. 

Enfim, ficamos aguardando para poder entrar e desfrutar de um bom almoço e do ar condicionado.  Mas, enquanto espero, observo alguns comportamentos que me chamaram atenção. 

Algumas famílias. Alguns pais. Alguns filhos. Algumas crianças. 

Na busca por sombra, uma família compara de quatro pessoas observa no chão um tabuleiro de xadrez, com peças consideravelmente grandes. Uma das filhas chama o pai para jogar, mas o meo permanece no celular. A mãe se aproxima com a outra filha, ambas as filhas com idade de 13 a 14 anos, e explica o jogo, mas elas não jogam. Em busca de um lugar com sombra, deixam a brincadeira e se unem aos pais delas. 

Outra família que passa por mim, é de um pai e sua filha, aparentemente, ele está aborrecido porque ela não deu ouvidos à fala de alguém. Até solta um palavrão que deixa a menina acuada e, assim, ela se fecha na tela do celular, apenas acompanhando os passos do pai, que continua aborrecido, talvez pela notícia de que esperaria algumas horas para adentrar ao shopping ou devido a algum acontecimento com a filha. Por fim, eles se foram em busca de sombra também. 

Por fim, uma grande família, com mais ou menos 7 ou 8 integrantes, era tão grande que não deu para acompanhar a todos. A maioria crianças e jovens. Dessa grande família, um diálogo surgiu enquanto andavam: 

— Pai, a gente vai ficar aqui!? - gritou um pequeno, correndo para o tabuleiro de xadrez no não com as peças consideravelmente grandes. 

O pai não deu muita atenção e o pequeno gritou de novo, obtendo a resposta que queria. Um dos jovens virou para a outra jovem e disse: 

— Joga com ele, você vai perder mesmo. 

Ela balbuciou alguma coisa, reprovando a fala do jovem. O pequeno ficou aguardando alguém que fosse se juntar a ele para jogar. Sua espera não foi em vão, aproximou-se dele uma menina, de oito a nove anos, também dessa grande família. Ambos iniciaram o jogo. Mas não o de xadrez. 

Eles inventaram uma nova forma de jogar. Não conheciam as peças do xadrez, suas regras, dinâmicas, modo de movimentar as peças. Nada disso fazia parte do intelecto daquelas crianças. Mas isso nas as impediu de jogar. A menina, mais velha que o pequeno, iniciou o jogo, mas fez suas próprias regras, impedindo, às vezes, o pequeno de jogar as peças que queria. 

Era uma dama misturado com uma criatividade única de criança para movimentar as peças e "comer" a peça que estava próxima. Os movimentos não seguiam uma linha vertical ou apenas o uso das casa pretas ou das brancas. Tudo era permitido. Como a menina estava guiando o jogo, operou de forma com que a beneficiasse nas jogadas e ganhasse mais peças do irmão. Que abanou o jogo aborrecido, porque estava perdendo. 

A menina colocou as peças de volta para o tabuleiro pintado no chão. Da forma dela. Sem saber que o xadrez tem a sua arrumação peculiar de pião, rei e rainha, bispos, torres e cavalos. Nada disso importava. Ela só colocou de volta nas casa e saiu sorrindo com a vitória que proporcionara para si. 

Outra família de aproximou. Essa, enfim, deu ao xadrez a sua real forma e não deixou de lado suas regras. Os rapazes ajustaram as peças de acordo com o jogo original e começaram a jogar, em pé, andando para lá e para cá. Sabendo corretamente a maneira de se movimentar as peças.

A mãe apreciava o jogo, mas também se escondia do sol de quase meio dia. Nenhum deles se preocupou com as mensagens do WhatsApp, apenas aproveitaram o momento. Faltava uma peça, a rainha, e eles logo tiveram a criatividade de substituir por um cone que estava em algum lugar do estacionamento. Por ora, aquele cone era uma "rainha" do Xadrez. 

Eles aproveitaram para registrar esse momento em suas memórias afetivas. 

Algumas outras pessoas e famílias observavam os jovens jogarem. Por fim, a hora de entrarmos para o shopping estava chegando. Enquanto esperavam, alguns conversavam, outros mexiam no celular, esquecendo-se que seu familiar estava ao lado esperando uma conversa. 

Às vezes, quando não temos ciências das regras impostas, nos dá liberdade de criar. Nossa sociedade entrou na "regra" de que um celular tem mais importância que a pessoa ao lado, de que tem mais entretenimento e diversão, de que precisamos estar conectados. Às vezes, é melhor deixar de lado e aproveitar o momento, você pode descobrir uma diversão única e adquirir uma memória inesquecível. 


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