A Dama de Ferro e a Garota de Aço escrita por Anne Espario


Capítulo 7
Capítulo 7 - Óraculos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, boa leitura, pessoal.



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                                                 — Lena —

Passaram-se anos, décadas, desde a última que tive que aturar a presença das amazonas ou a ameaça de um Deus, mas ambos me voltam a lembrança, quase todos os dias, por alguns instantes, não mais do que isso. Um sussurro da memória, tão leve quanto o hálito de Kara em meu pescoço enquanto dormia ao meu lado na noite passada. Tão suave como seus lábios em meu rosto quando me beijou pela primeira vez naquela manhã. Não sabia exatamente porque estava ali, esse dever de proteção novamente recaiu sobre mim e eu não conseguia lutar contra. A cada vez que tentava dizer que não era meu trabalho estar novamente ali, as pessoas se debruçavam em minha direção e sussurravam “você é a única que consegue feri-lo”.  Bem, não adiantava fugir, essa era minha sina, lutar uma guerra que não é minha.

— Você cresceu em um belo lugar. — Fui tirada de meus pensamentos por Alex, eu nunca havia trocado mais que duas palavras com a irmã de Kara, mas tinha verdadeira admiração por ela. Uma grande mulher, com um senso de moralidade ímpar.

— É um paraíso realmente. — Respondi, mas não pude evitar lembrar de mim, tapando minhas orelhas miúdas com as mãos para afastar o som frio e estridente das espadas se chocando em minha primeira vez em um campo de treinamento. O modo de luta era duro, desde o primeiro dia, quando uma amazona sofria, todas sofriam. Até chegar a firmeza e elegância que as mais velhas chegavam, eram necessárias muitas cicatrizes.

— Você não acha isso. — Alex direcionou as palavras a mim como se pudesse me ler com mais facilidade que os demais.

— Não. — Respondi com pesar, ela permaneceu em silencio, me dando uma deixa para continuar. — Eu posso dizer que tive um osso quebrado em cada canto desta ilha, isso não a torna feliz ou atraente para mim. — Alex comprimiu sua testa, ela procurava o que dizer.

— Eu sinto muito. — Ela quase aproximou-se, mas limitou-se a um olhar amigo.

— Não sinta, elas me ensinaram a ser leal, verdadeira e muitas outras coisas. — Alex assentiu, mas não pareceu entender como violência desde cedo podia fazer alguém correto.

O fato, é que ao contrário das outras garotas que apreciavam a violência desde o berço, eu tinha medo dela. Eu tinha medo das pancadas repetidas e da precisão quase cirúrgica em seus golpes. Eu tinha medo, porque sim eu tinha nascido para violência, mas não sabia se poderia parar, caso me entregasse para ela uma única vez.

 — Eu sinto que estou colocando Kara em perigo. — A irmã mais velha me olhou como se pensasse o mesmo.

— Sim, você está. No entanto, não conseguiria impedi-la de vir. — Alex deu passos lentos em direção a mim. Suas botas faziam som na relva do verão, era algo cego elas o esmagava quase que gentilmente. — Você não conseguiria impedir nenhum de nós de vir, na verdade. Nós estamos aqui como agentes de uma instalação secreta do governo, mas no fundo sabemos que a verdade é que... estamos aqui porque queremos estar próximos para fazer de tudo para salvar a vida uns dos outros. — Alex fez uma breve pausa e me olhou nos olhos. — Eu estou aqui e estou disposta a matar para manter Maggie a salvo, espero que você esteja pronta para fazer o mesmo por Kara. — Danvers era realmente primorosa, ambas as irmãs. Kara era a garota de aço, mas Alexandra, ela era algo mais, ela era um metal ainda não identificado. Uma que se adaptava as várias situações e temperaturas.

— Ao fim dessa missão Kara estará a salvo, custe o que custar. — Alex sorriu. Não entendi o motivo, mas logo vi que Winn e Kate vinham em nossa direção, ela o empurrava fazendo com que ele andasse em ziguezague, quase caindo em buracos. O acesso até a colina em que estávamos podia ser difícil.

— Nós precisamos de vocês. — Winn colocou as mãos nos joelhos, ele não aguentaria subir até o topo. Kate riu debochadamente.

Eu sabia o que iriamos fazer em seguida, consultar as malditas oráculos e suas respostas dadas por meio de enigmas. Em determinados momentos, minha vida lembrava uma de suas profecias. Há longos períodos em que minha existência é um mistério, até para mim mesma. Décadas no escuro, luta e traição, perda e decepção, tudo se mistura e é quase impossível separar as coisas. Mas alguns momentos daqueles primeiros anos, permanecem e ressoam na minha memória. Eles se arrastam como sombras nos corredores escuros da minha mente, que nos últimos dias e sentia cada vez menos lúcida.

Andar descalça pelas areias daquela praia ao lado de amigos era uma novidade, eu deveria admitir. Entre o silêncio confortável de Alex e a implicância patológica de Winn e Kate, eu me sentia bem. As paredes imponentes da construção a frente me alertaram, estávamos prontos para da nossa primeira investida contra Ares, por mais modesta que fosse.

                                                           — Kara —

Alex e Lena entraram lado a lado no grande salão, era difícil descrever aquela arquitetura, tinha um pouco de cada uma que já vi em minha vida. Apenas três das amazonas estavam ali, aquilo era algo restrito e aparentemente perigoso. Três moças estavam de pé alguns degraus acima de nós, ninguém se atrevia ultrapassa-los. Elas tinham belos cabelos loiros, eram quase dourados e brilhavam como o sol, era impossível não ficar encantada.

— Apenas três de vocês vão poder ficar, quanto mais pessoas mais confusas as visões irão ficar. — Hipólita olhou para Jonn esperando que ele desse a ordem.

— Supergirl, Senhorita Luthor e Kane irão ficar. — A escolha de Jonn era questionável, porque nós três? Deveria haver um motivo, mas eu não conseguia vê-lo.

— Os restante pode se retirar. — Lena retirou posicionou-se entre mim e Katherine, ela iria conduzir, fosse o que fosse aquele ritual. Ouvi a grande porta atrás de mim se fechar.   

As três oráculos tomaram as mesmas posições que nós. Lena deu um passo à frente, a loira que liderava as três fez o mesmo. Eu não sabia o que esperar.

— Você quer que nós digamos o que vemos? — Os olhos das três mulheres começaram a brilhar.    

— Por favor, faça melhor, mostre-nos. — Lena proferiu as palavras calmamente. As oráculos assentiram.

Vi aquelas grandes e brilhantes olhos virem em minha direção, certo pavor tomou conta de mim, quase dei passos para trás, mas olhei para Lena e Kate e me mantive firme. Antes que a loira me alcançasse por inteiro algo a puxou e a jogou em direção a parede. Meu primeiro instinto foi atacar a mulher que se colocou à minha frente.

— Quem diabos é você? — Vi que não estava em visão alguma e a oráculo responsável por me levar até ela estava abatida.

— Afrodite. — A mulher proferiu o nome com certo orgulho. Ela estava a bordo de uma bela capa, que parecia ter sido tecida com diversas pétalas de flores. Seus cabelos eram brancos, não loiros, como nas representações de Afrodite que vi em livros história e pinturas.

— E eu sou Isis. — Resmunguei a resposta em ceticismo.

— Isis é um pouco mais bronzeada que você. E alta. — A mulher fez um gesto com a mão demonstrando a estatura. — Enfim... — Ela empurrou-me em direção a parede. — Eu tenho algo para dividir com você, um segredo que quando Ares revelar vai fazer a neta preferida de Zeus perder as estribeiras. — Ela apontou para Lena. Que arvore genealógica confusa ela tinha, com sangue real de toda parte correndo em suas veias.   

— O que é? — Indaguei. A mulher pressionou meu corpo contra a parede.

— Ares assassinou o filho de Lena, ele casou o acidente. Jacob morreu graças a ele. Quando ele disser isso, ela vai perder o controle, cabe a você impedi-la de fazer algo contra a humanidade. — Afrodite soltou-me. — Caso você não tenha coragem, procure alguém que já perdeu tudo mais de uma vez. — Ela olhou para Kate que estava mergulhada em sua visão. Eu ainda estava tentando assimilar o fato de que Lena teve um filho.

— Porque você não faz isso? — Empurrei a deusa.

— Nós deuses não devemos lutar entre si, por isso os bastardos existem. Alguns até mais poderosos que deuses. — Ela olhou para Lena. Aquele jogo de deuses estava começando a me irritar, eu não precisa ser Sherlock Holmes para saber que Lena teve um filho com Katherine. — Não deixei seus sentimentos atrapalharem seu julgamento, garota. — Afrodite tocou minha face. Depois disso eu apenas cai de joelhos, estiquei meu braço tentando toca-la, mas a imagem a minha frente ficou turva e começou a sumir.

Eu estava semiconsciente podia ouvir uma voz ecoar em minha cabeça, quanto mais tentava expulsa-la mais ela se aproximava.

— Uma dia você será o sol de um rei, Kara. Mas antes disso você será rodeada com cães do inferno, eles virão atrás de você. Antes disso o fogo consumirá você. Antes disso sua estrela sagrada parara de brilhar, você terá sangue em suas mãos, sangue de alguém amado. — Senti minhas mãos molhadas movi meus pescoço para olhar, elas estavam cobertas por sangue. Quis gritar, mas minha garganta não respondia ao meu comando. — Você não pode saber mais que isso, eu sinto muito, farei isto vale a pena. — Quando a voz sumiu, eu apenas desmaiei nocauteada por visões perturbadoras em que eu matava inocentes como se fosse nada e minha última vítima, eu reconhecia aquele batimento cardíaco, mas não pude ver seu rosto.

                                                  — Lena —

Procurei Kara ao acordar da minha visão, mas tudo que encontrei foi vazio. Olhei mais à frente, ela estava caída próxima a uma parede. Kate ainda estava estática, não sabia se ela havia visto o mesmo que eu, mas ela não parecia si mesma.

— Kate? — A chamei, ela demorou alguns segundos para assimilar. Quando viu onde estava Kara correu até nós.

— Ela está bem? — Ela tocou seu pulso para conferir e respirou aliviada.

— Vamos leva-la para o quarto. — A segurei em meus braços.

— Nós temos um problema. — Kate sussurrou.

Eu não sabia se as visões que tivemos eram a mesma ou uma peça de quebra-cabeças como sempre, era normal que as visões compartilhadas de oráculos fossem apenas uma pequena parcela da história. Eu ainda podia ouvir a voz de minha visão ecoando: Há uma tempestade se formando, além do horizonte. E o único responsável deve pronunciar-se no fogo. Ele usa uma coroa de chifres e uma capa de sangue flutuante em seus ombros, com uma mulher nua aos seus pés. Sua família será quebrada, derrotada e traída por sangue. Bem, seu soberano abandonou o destino para alguém que pode conviver com o fogo queimando sua pele até chegar aos ossos. Quero dizer, que o que os deuses querem é sujo e irremediável. O ódio irá corroer suas entranhas de dentro para fora, você está amaldiçoada e tudo que você tocar irá murchar e morrer. Quando o fogo estiver consumindo você, tudo fará sentido e isso não irá acabar bem para você.

Coloquei Kara na cama e sentei-me a beirada. Kate permaneceu em silêncio, aquilo não era comum para ela. Eu queria perguntar o que ela havia visto, mas não era assim que funcionava.

— Nós temos que ir ao Arizona. — Kate finalmente pronunciou-se.

— Porque? — Indaguei confusa.

— Zeus engravidou mais uma mortal, Apolo tentará matar a criança. Bom, não diretamente. — A visão de Kate parecia ter sido extremamente direta.

— Quando?

— Em breve, fique com Kara por enquanto. — Ela retirou-se do quarto, ela viu algo que a deixou um tanto perturbada eu conhecia Kate.

Fiquei com Kara, mas ela não acordava. Algo parecia errado, eu estava começando a me preocupar. Quando ela finalmente começou a ser mexer. Kara acordou assustada seu olhos estavam alerta, como se estivesse lutando o tempo todo em um sonho terrível.

— Está tudo bem. — A segurei em meus braços.

— Não, não está. — Ela olhava para as mãos e as limpava, olhei não havia nada ali.

— Kara, está tudo bem. A maioria das coisas que você viu ali são apenas ilusões. — Segurei seu rosto. Ela balançou a cabeça negando.

— Tinha a um garoto, Lena. Eu o segurei pela cabeça e esmaguei seu crânio como uma fruta podre, eu podia sentir. Eu queria fazer aquilo. — Ela enfiou-se em meu peito.

— Você nunca faria isso, você sabe. — A abracei.

Após Kara se acalmar fomos de encontro a Kate, ela iria nos explicar melhor a respeito do filho ainda não nascido de Zeus. Todos estavam reunidos, Alex conferiu como a irmã mais nova estava.

— Sua visão te mostrou o filho de Zeus? — Maggie questionou Kate.

— Não, eu fiz um acordo com Hermes. — Kate enfiou uma uva na boca. Maggie atirou algo em sua direção, não consegui identificar o objeto.

— Sua desgraçada, você não pode fazer acordos pelas nossas costas. — Kate tinha uma expressão amena.

— Ninguém me disse isso. — Ela foi cínica, como só ela sabia ser. A vi retirar uma chave do seu bolso. — Quem está afim de ir ao Arizona e salvar uma gravida em apuros? — Maggie não estava feliz com a atitude de Kate, elas tinham uma relação de amizade difícil era verdade, mas ao menos Maggie ainda falava com Kate, ao contrário de mim que ela nem ao menos olhava.

— Lena, Kara e Katherine... vocês devem ir, nós temos coisas para resolver com as amazonas. — Maggie falou pelo time e todos concordaram.

Logo nós estávamos tocando a chave e sendo transportadas para o Arizona, não sabia o exato lugar, mas estávamos lá. Frente a uma velho rancho.

— Merda! — Kate resmungou e apontou para cima.

— Eles estão aqui. — Completei. — Kara por cima e Kate comigo! — Kara levantou voo e nós entramos.

Não sabia que tipo de criatura nos esperavam lá dentro, mas não demorei para descobrir, eram centauros. Nós teríamos trabalho, antes que eu me preparasse uma mulher baixa e de cabelos curtos correu em minha direção.

— Fique perto. — Kate ficou à frente dela. Kara adentrou destruindo a teto.

Flechas começaram a ser disparadas em nossa frente, empurrei a mulher para fora da casa. Eram três e tinham três de nós, não seria fácil, mas ao menos seria justo. Partimos para luta e em poucos minutos o local inteiro havia voado pelos ares. Depois de alguns minutos de luta finalmente conseguimos nos livras dos malditos centauros. Kara aterrissou ao nosso lado logo em seguida, pude ouvir uma flecha ser dispara em sua direção, mas não tive tempo de reação. Kate a empurrou.

— Você não apenas nocauteia eles, você os mata. — Ela enfiou uma estaca de madeira no olho do nosso adversário. — Se umas dessas coisas te acertar, você vai definhar até morrer. — Kara abriu e fechou a boca, mas conteve-se, pois sabia que Kate tinha razão.

— Obrigado. — Ela limitou-se.

— Fique mais atenta, nem lembre sua estrela da sorte vai estar aqui. — Kate falou em um tom de provocação.

— O que diabos está acontecendo aqui? — A mulher a nossa frente gritou nervosa.

— Vocês não deviam estar aqui. — Vi Hermes saindo da casa ensanguentado. — Peguem a garota e fujam para os confins da terra. Protejam-na ou Apolo irá faze-la sangra.  — Ele retirou uma flecha de sua barriga.

— Eu não vou a lugar nenhum. — A garota gritou.

— Querida, você está grávida de Zeus, ou seja, essa é só a primeira tentativa de assassinato direcionada a você. Então, você vem conosco. — Kate a segurou pelo braço.

— Eu estou? — A mulher engasgou. Hermes caiu ao chão.

— Hermes! — Corri até ele. — O que eles fizeram com você? — Tentei estancar a ferida.

— O impossível. — Ele respondeu. Sua pele bronzeada estava começando a ficar pálida. — Que triste fim para uma vida que deveria ser perpetua. — Ele estava prestes a fechar os olhos para sempre.

— Você não vai morrer, Hermes. — Apertei mais ainda a ferida. Eu o conhecia pouco, mas o respeitava o suficiente para sentir por ele. — Ele vem conosco para Ilha Paraíso. — Estiquei a chave para que todos tocassem.

— Hipólita vai ficar extremamente feliz. — Kate sussurrou.

Eu não me importava de quebrar mais uma regra para salvar um amigo, eu não me importava com aquelas regras ridículas, eu não o deixaria ali para morrer. Troquei um olhar com Kara, ela segurou os braço da mulher que carregava o filho de Zeus e partimos.


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Notas finais do capítulo

Terminamos por aqui, próximo sábado teremos mais um capítulo. Não esqueçam de comentar. Muitos beijos e até lá.



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