Misfits troublemakers escrita por GirlWolfBlood


Capítulo 4
Capítulo 4 — Os Sioux




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Diante a expressão embasbacada do grandalhão, Joshua soltou um riso soprado, sem humor. Talvez fosse algo difícil de compreender e aceitar, principalmente por ela ser uma das mais novas, mais ingênuas. Aguardou por qualquer interjeição, seja de surpresa ou reclamação mas nenhuma veio, o obrigando a prosseguir.

— Seu pai, sua mãe, seu irmão mais novo. Todos em um único dia.

— Ela tem dezesseis anos e é uma assassina, Josh. — Afirmou Daren, semicerrando os olhos.

— Não foi culpa dela.

— Como não? — Brandiu, batendo o punho cerrado contra o chão, esmagando – literalmente – uma pedra contra o chão, reduzindo-a ao pó.

— Essa sim é a parte mais complicada. Ela não os matou por querer... Difícil, eu sei. — Coçou a nuca, sem jeito para explicar. — Andy é completamente desastrada, talvez a mais perigosa entre nós. Foi um acidente, ela matou toda a família em um acidente, Daren! Foi como tropeçar e... Puff! — Espalmou as mãos, soprando o ar. — Quando os policiais fizeram a investigação afundo, constataram a inocência dela. Mas não deixa de ser um crime. Como ela não tem família e está teoricamente detida....

— Mora em um internato.

— E nós demos a ela uma segunda chance.

Daren voltou a encarar novamente a loira, que naquele exato instante se encontrava rindo de alguma graça entre as garotas. Não conseguia digerir a informação, mas chegava a ser sádico imaginar alguém matado sua própria família por puro desastre. Chegou a se perguntar se por trás daquele rosto angelical havia algum resquício de culpa, remorso ou simplesmente uma sociopata. Não que fosse uma das melhores pessoas do mundo para julgar alguém, havia acabado de deixar a cadeia e, pelos Deuses, não pretendia voltar. A menos que fosse necessário. No entanto, aquele caso o deixava curioso e receoso, agora começara a se atentar ao motivo de tanta proteção com Andy, ela é um perigo a si mesma e aos outros, qualquer deslize poderia se tornar uma chacina. Seus pensamentos só foram interrompidos quando Johsua retomou a fala.

— Sofie. — O indígena indicou a garota, projetando o queixo. — Ela tem problemas temperamentais. Transtorno Explosivo Intermitente. — Comentou, como quem fala sobre o clima. — Não recomendo deixar ela irritada. Não vai querer vê-la explodir.

— Na verdade... — Daren pigarreou. — Isso sim é algo que eu pagaria para ver.

Joshua sorriu, balançando a cabeça.

— Nenhum de nós nunca viu, mas definitivamente você não vai querer ver. Nem toda água transparente é rasa, Daren. A mesma água que segue seu curso tranquilamente é aquela que arrasta para o fundo e afoga.

— Eu sei nadar.

— Só espero que saiba respirar embaixo d’água. — O rapaz riu, divertido.

E passaram um bom tempo em silêncio, o que dificultava a tarefa de Joshua em compreender o maior, apesar de ser excelente em ouvir, aceitar e respeitar. Naquele intervalo Kyara, Sofie e Andy já pisavam em terra firme, pareciam estar discutindo algo apesar das expressões divertidas e gestos exagerados, que fizeram ambos os rapazes sorrirem involuntariamente. As três agora indicavam que estavam prestes a apostar uma corrida e dada a largada, passaram mais tempo rindo que de fato correndo, mas quando se empenharam na tarefa, Kyara e Andy se mostraram bastante competitivas. Tinham uma convivência curiosa, eram tão diferentes que chegavam a desafiar a lei dos opostos se atraírem, mas nunca haviam brigado desde o dia em que decidiram se unir. O que era assustador, não brigar ou significava que algo estava muito certo, ou significava que tudo poderia desmoronar na primeira desavença.

— E quanto a você? — Daren questionou, lançando um olhar de canto à Joshua. Parecia desconfiado.

— Eu...?

— O que te trouxe até aqui?

— Kyara. — Deu de ombros. — Nós... Crescemos juntos. Somos de uma tribo indígena um pouco distante daqui, na Dakota do Norte. — Esboçou um sorriso singelo. — Os Sioux existem desde antes do descobrimento da América, são um povo muito ligado ao espiritual e suas crenças. Quando a colonização começou e as imigrações se tornaram constantes, os Deuses foram inseridos na cultura... E então o lado espiritual se elevou.

“ Eles descobriram o Nahualli, que é a essência mágica das coisas, o animal da sua alma. Foi assim que se apegaram aos lobos. Eles acreditavam tanto nisso, mas tanto, que à medida que os anos foram se passando, os Sioux retrocederam, foram retomando hábitos animalescos. Suas presas foram se moldando pontudas, suas garras cresceram, os pelos dominavam o corpo, sobreviviam da caça predatória. E então estava feito, eles se tornavam lobos uma vez por mês, a cada lua cheia. Além de uma tribo, agora eram uma alcateia. Incrível, eu sei... Mas quando se quer tanto algo, isso pode acontecer, então cuidado com o que deseja. Isso chamou a atenção dos Deuses, principalmente os Astecas e Maias, que agora abençoavam nossas terras e passaram a visitar os mortais.” Joshua respirou fundo. “Eles não possuem forma mortal, compreende? Não possuem força suficiente. Por isso escolhem muito bem seus sacerdotes, dando a poucos o dom da clarividência e a outros, se hospedam. Das relações sexuais diante o período de hóspede, pode ser concebido um semideus... Este teria dois pais mortais e uma ligação divina. É assim que nascemos.” 

— Eu sou o único Inca na tribo. — Concluiu Joshua. — Meu pai morreu dias após encerrar a estadia, seu corpo cedeu. Minha mãe conseguiu chegar aos Sioux durante a gravidez e foi muito bem recebida. Dois anos depois Kyara nasceu... Mas isso é outra história.

— Impressionante. — Daren murmurou. — Mas eu realmente só queria saber se matou alguém.

Naquele instante, Joshua quis mata-lo. Teria poupado o constrangimento da história tão íntima e pessoal caso tivesse sido interrompido antes, mas acabou puxando o ar com força. Um leve tremor atingiu a terra, quase imperceptível, mas Kyara ao longe se virou, semicerrando os olhos e lançando um olhar de aviso ao moreno. Este, por sua vez, negou com a cabeça, como se estivesse tudo bem.

— Muitas pessoas, na verdade. Mais do que consigo me recordar. — Abaixou o tom, constrangido. — Levei um prédio inteiro ao chão em poucos segundos. Soterrei muita gente... — Negou com a cabeça, com um ar distante.

O filho da guerra se virou para ele abruptamente.

— Sério? Qual prédio?!

— Sabe o terremoto de magnitude 9.1 na costa da província indonésia de Banda Aceh que desencadeou um enorme tsunami no Oceano Índico?

— VOCÊ FEZ AQUILO....?!

— Claro que não, idiota. — Joshua sorriu. — Mas a sua cara foi ótima. Vem, vamos. Hora de ir pra casa. — E se levantou.

Aquele era um dos maiores defeitos do rapaz, utilizava as brincadeiras para esconder a verdade e muitas vezes, amenizar seus sentimentos. O humor era sua arma contra a negatividade que possivelmente terminaria em um desastre natural. Daren não pareceu ver muita graça, o olhando de cima a baixo com desdém antes de se pôr de pé, caminhando rumo às meninas ofegantes, com um semblante fechado e nada amigável. Bastou se aproximar para que Kyara perdesse o sorriso, rosnando baixo. Andy parecia dispersa, alheia ao mau humor do maior e Sofie o olhava com curiosidade, mais precisamente para os músculos saltados, umedecendo os lábios.

— Hora de ir. — Disse-lhes o mais carrancudo, cruzando os braços. Daren parecia se exibir propositalmente, adorava ser o centro das atenções.

Infelizmente acabou se precipitando. Kyara farejou o ar, suas pupilas dilataram e chiou, deixando as presas à mostra. Percebendo a mudança rápida de postura, o grupo se virou na direção, onde alguns metros à frente três caras gigantes com perfil para seguranças de gorilas apareceram. Estavam se aproximando em uma velocidade considerável, juntos formavam uma parede de tão robustos. A asteca mais nova tomou a dianteira.

— Para trás! Para trás! — Rosnava ofensiva, em postura de ataque.

— Mas... Mas... — Andy protestou com um biquinho infantil, sendo colocada como a última, cercada e protegida por todos os maiores. —... Quem são eles...?

— Lobisomens. — Joshua sussurrou. — Posso sentir.

— O que eles querem? — Daren franziu o cenho, jogando os ombros para trás ao observar Sofie estalando os dedos ao seu lado. Todos estavam tensos.

Kyara não se virou, apenas agachou, colocando ambas as mãos no chão e apoiando somente um joelho, como se esperasse a largada de uma corrida. Em poucos minutos entrariam em combate e apesar da vantagem, não seria nada fácil.

— A mim. — Foi a única coisa que disse antes de simplesmente sair correndo, em direção aos homens.


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Notas finais do capítulo

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