Misfits troublemakers escrita por GirlWolfBlood


Capítulo 3
Capítulo 3 — Nem tudo é o que parece


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, perdão pelo atraso nos capítulos! Álex, beijos.



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Daren estava atônito, como se acabasse de presenciar algo surreal. O grandalhão não compreendia como aquela garota magrela, baixinha e desaforada havia conseguido levar a monstruosidade ao chão, possivelmente era a primeira vez que alguém tomava a frente por ele. Joshua sorria com certo orgulho, vez ou outra lançando olhares furtivamente divertidos à Daren diante sua expressão. Sofie, por incrível que pareça, foi a mais sensata. Se aproximou e ajoelhou para ajudar Kyara a empurrar a carcaça para o lado, e a menina se pôs de pé assim que conseguiu livrar as pernas, batendo o pó das vestes.

A mais nova ergueu os olhos semicerrados, séria.

— O que é que estão olhando? Vamos, vamos, de volta ao trabalho.

Como que para confirmar o que havia dito, ao fundo as sirenes da polícia soaram. Joshua guiou Daren para dentro da fenda com rapidez já que o mesmo parecia ter congelado na pose. " Tudo bem, amigo, foi um dia difícil, a gente releva..." era o que Joshua murmurava para consolar o maior, embora fosse perceptível o esforço que fazia para não rir. Kyara ia os seguindo mas foi refreada por Sofie quando esta pousou a mão em seu ombro, fazendo um discreto sinal positivo com a destra.

— Bom trabalho. — Sussurrou para ela. Ambas as meninas sorriram por alguns segundos.

— Faço o que posso. — Kyara retrucou, estalando a língua no céu da boca. — Mas... Acha mesmo que o monstro era por minha causa? Talvez fosse Daren a quem queriam...

— Não tenho certeza. — A mais velha semicerrou os olhos, seu tom era ligeiramente confuso. No entanto sua expressão logo se iluminou, risonha. — Mas de uma coisa eu sei: temos que ficar de olho nele. — Sofie emendou um sorrisinho divertido. — Em todos os sentidos.

As semideusas gargalharam, adentrando a fenda quase instantes antes da polícia aparecer de fato. Quando se depararam com a caverna, os sorrisos sumiram. O local havia virado uma bagunça, na confusão o chão estava repleto de pulque, Joshua estava em um canto e tentava junto a Daren, erguer os barris e conter os vazamentos. Aquela bebida era perigosa, poderiam ingerir litros e litros sem perder suas funções cognitivas, porém era só tentar se mover para perceber que nenhuma função motora respondia. Kyara já havia pensado no quanto aquilo servia para uma armadilha, mas no momento só conseguiu se aproximar para ajudar os rapazes enquanto Sofie dedilhava no ar, guiando a água da fonte para lavar o piso de pedra onde o pulque havia se espalhado. Era um trabalho árduo ser semideus, tudo que se constrói pode ser destruído em um ataque e nunca se está totalmente preparado.

Não sabiam dizer quanto tempo se passou, mas quando decidiram sair para procurar por Andy, o sol já brilhava forte no céu. Obviamente cada um teve de pegar um atalho diferente, quando se trata de andar em grupo, principalmente com Daren por perto, acaba não soando nada discreto, sem contar as vestes úmidas que haviam lavado para limpar o sangue. Quando finalmente se encontraram na parte de trás do edifício, Joshua gritou.

— ANDY! Hora de descer, Galilahi.

A cabeleira loira apareceu segundos depois na janela, fazia um sinal de silêncio, levando o indicador aos lábios.

— Querem que eu seja pega?! Espere...— Franziu o cenho ao encarar Daren, fazendo uma pausa confusa. —... Quem é esse aí?!

— Um idiota. — Ironizou Kyara entre falsas tosses. Daren rosnou. — Digo, coleguinha novo.

— Estamos decidindo se Daren vai ficar com a gente... — Joshua lançou um olhar divertido à Kyara, sorrindo. —... É semideus.

— Legal, legal, legal! — Deu pulinhos animados na janela. — Podemos ficar com ele? Por favor, por favor. — Andy fez um biquinho infantil, se inclinando para frente. Sofie arregalou os olhos, do jeito que a semideusa tinha sorte, capaz de cair dali.

— Três contra uma. — Joshua assentiu. — O grandalhão fica.    
     

Andy soltou um gritinho em comemoração, Sofie riu da cena, Kyara revirou os olhos mas Daren lançou um olhar presunçoso a ela, o que fez com que o rosto da menina enrubescesse, cerrando os punhos e afundando as garras nas palmas até sentir a dor. Por sorte, mudaram de assunto quase no mesmo instante, Joshua se aproximou para ajudar o desastre ambulante a descer, Daren se afastou para vigiar e apenas Sofie levou as mãos por sobre as de Kyara, obrigando-a a descravar as unhas antes que sangrasse. A menor não disse nada, apenas esperou que todos estivessem juntos para ir almoçarem, tomando rumo à lanchonete T-Romans, duas quadras dali. O caminho não era longo.

 — E então, qual o motivo da reunião? — Daren perguntou, assim que entraram no recinto.

— Além da fome? Andy teve pesadelos. — Joshua admitiu, surpreendendo a própria loira.

— Como sabe...?

— Está na sua cara. — Kyara complementou. Franziu o cenho, farejando o ar. — Ew, e no seu cheiro. Apavorada.

— D-Desculpem, eu...

— Tudo bem, Andy. Estamos com você nessa. — Sofie sorriu ao se sentar junto ao grupo, havia terminar de fazer o pedido. — Quer falar sobre isso?

— Hm, acho que... Devemos nos preparar melhor.... Sabe? — Mesmo com todo o apoio, era possível notar o quanto ela estava ansiosa, assustada. — Esses ataques recentes são apenas o começo. Há dias venho sonhando com algo grande, e-eu não sei o que fazer, pessoal. Não sei lidar com isso. Não. Sei.

— Tipo...? — Interveio Joshua. — Fomos atacados essa madrugada mesmo, a cada dia parece pior.

— Por mais que eu tente, não consigo ver! —  Exclamou, chateada. — Não sou tão poderosa... Pode ser um ataque maior, talvez? Uma guerra?

— Ou um alguém... — Kyara sussurrou, mais para si que para os outros. Apostava em Daren, obviamente, mas não diria aquilo até ter a certeza. A asteca então recebeu olhares confusos, no entanto apenas ela sabia o que seus próprios sonhos significavam, principalmente com aquela nova informação.

O silêncio pairou por algum tempo, cada um fingiu estar interessado em algo diferente até que os hambúrgueres chegaram. Sofie e Joshua pareciam os mais bem-educados se comparados à Daren, que dilacerava o sanduíche como se há tempos não visse comida ou Kyara, que não se importava com as manchas de ketchup em suas bochechas. Andy enfrentava problemas com seu canudinho entupido, por pouco não atingindo o olho de alguém no processo, ruborizando. Um dia comum.

— E então, quem é quem? — Daren comentou, de boca cheia.

— Uh, eu passo a apresentação. — Kyara sussurrou, um misto entre leve irritação com um quê de constrangimento no sotaque sulista. Afundou no hambúrguer, inflando as bochechas.

— Certo, certo, faço as honras! — Joshua indicou a loirinha, que fez um sinal de paz e amor, sorrindo. — Andy Galilahi, maia. Filha de Huracán, Deus das Tempestades, ventos e furacões. — Uma breve pausa, voltando-se para Sofie. Ela desviou o olhar e assentiu, odiava ser encarada. — Sofie Carter, asteca. Filha de Chalchiuhtlicue, Deusa dos lagos e correntes d'água. E eu sou o Joshua! Joshua Hantaywee, filho de Pachacamac, um Deus inca dos terremotos.

Daren parecia impressionado, assentia a cada explicação com interesse, era a primeira vez que tinha contato com outros semideuses além dele, apesar de ainda se achar o melhor. Por fim, fixou Kyara, como se esperasse por sua apresentação com desdém. Ergueu as sobrancelhas.

— Kyara Harbeck. — Joshua murmurou, como se fosse a única coisa que pudesse dizer sobre ela no momento. — Asteca.

— Filha de...?

— Não é da sua conta. — A menina rosnou entre os dentes. — Quem é você, afinal?

— Daren Calfuray. — Deu de ombros. — Filho de Huitzilopochtli, Deus asteca da Guerra.

— Isso explica muita coisa... — Sofie ergueu uma sobrancelha, sorrindo de canto. A aura do maior era quase palpável.

— Por qu...?

— Vamos. — Kyara se levantou, interrompendo e puxando a jaqueta contra o corpo. — Temos treino. Nada de moleza. — E a menor já foi indo em direção à saída.

[...]

O treino era algo simples. Simples se levar em consideração que acontecia no Grand Canyon. As pedras desgastadas formavam um circuito perfeito, principalmente pelo risco eminente de queda no precipício, então adrenalina era o que não faltava. Kyara estava vestindo apenas uma regata agora que havia se livrado da jaqueta, deixando à mostra algumas cicatrizes e hematomas em sua pele. Andy e Sofie pareciam igualmente preparadas, frente à frente com uma alta coluna de pedra da qual deveriam escalar até o topo e pular para a coluna seguinte, obviamente sem cair no processo. A asteca mais nova assobiou, Andy saiu em disparada e com uma agilidade impressionante, passou a utilizar os sulcos nas rochas para erguer o corpo. Sofie, por sua vez, não parecia ter pressa alguma para escalar, bocejando. Emitia uma paz e tranquilidade absurda que mexia com os nervos de Kyara, que era completamente oposta à mais velha. Ela seguia atrás de Andy, que já pulava os metros de uma pilastra para outra de base 40 centímetros como quem brinca de amarelinha, cantarolando. Enquanto as meninas brincavam em seu plaground mortal, Joshua e Daren estavam escorados em uma grande rocha, extremamente ofegantes. Os rapazes haviam acabado de correr uma área extensa com os obstáculos.

— Me diz, qual é a de vocês? — Daren questionou, indicando as garotas.

— Como assim qual é a nossa? — O inca riu.

— Vocês saem juntos, moram em uma caverna, sei lá. São só amiguinhos felizes na terapia ocupacional ou o que? Nada mais? — Rolou os olhos. — Bem útil.

— Não seja tão ruim... Você não tem noção do que cada um de nós passou para estar aqui. — Josh suspirou. — E se eu fosse você, tomaria cuidado com o que diz. — Ele parecia mais sério que de costume, talvez pela postura do homem com aqueles que ama.

— Ou o quê? Eu fui preso, fiquei anos lá naquele inferno, você quem não tem noção do que passei. — Daren sorriu irônico. — Se fosse você, vocês quem tomariam cuidado.

As garotas se encontravam à cerca de três metros do chão, ambas no topo de colunas esculpidas nas próprias pedras. A essa altura, os ventos se agitavam, possivelmente pela presença da Maia, dificultando o trabalho de se equilibrarem e bagunçando-lhe os fios loiros distraidamente. Sofie parecia igualmente confortável, dobrava a água de sua garrafinha em uma esfera simples, dividindo-a e floreando em pequenos redemoinhos. Era algo belo de se observar, a intimidade entre as semideusas e seus elementos. Apenas Kyara se destacava, estava agachada, sentada sob os calcanhares, porém perfeitamente equilibrada, observando o horizonte com uma expressão pensativa. Joshua passou um tempo as observando em silêncio, antes de se pronunciar novamente. Indicou Andy com a cabeça.

— Você sabe por que buscamos ela em um internato, Daren? — Quando não obteve resposta, prosseguiu. — Foi onde a encontramos, meses atrás no mesmo dia em que foi levada. Ela é órfã, sua família toda morreu...

— Oh, eu deveria sentir pena? — O mais velho ironizou se interpondo, abraçando as próprias pernas com um sorrisinho cínico.

— Não, deveria sentir medo.

— Por que? — Daren riu.

Joshua olhou em seus olhos, com uma expressão difícil de se decifrar.

— Porque foi ela quem os matou.


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Notas finais do capítulo

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