O Mundo que Você não Vê escrita por Carolambola


Capítulo 8
8




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As pessoas ao meu redor sussurram coisas incompreensíveis. Tento entrar na conversa, mas meu corpo não me obedece. Fico vagando na escuridão, sem rumo e sem saber onde estou.

As pessoas conversam por muito tempo. Às vezes, sinto mãos delicadas em meus pulsos; outras, em meu rosto. Paro o meu caminho ao sentir determinados toques, mas o retomo assim que as mãos se vão.

Caminho naquele lugar estranho por vários dias. Seria o inferno? Era fácil demais para ser o inferno, mas também não era nenhum paraíso.

Cada vez mais perdida, já não tinha mais esperanças de sair do que eu agora considerava o pior dos infernos. Ficaria sozinha ali para sempre. Até que alguém dá um tapa na minha bochecha. É uma pancada tão forte que meu rosto automaticamente se vira para o lado. Abro os olhos e tento identificar o agressor, sibilando de raiva.

— Viu?! Viu?! Eu disse que funcionaria. É como a bala de novo. Eu estou sempre certa. Bem-vinda de volta, Amanda! - Lilith está parada do meu lado, vangloriando-se.

Olho ao redor e vejo olhos preocupados me olhando de volta. Lilith, Joseph, Amélie, Áurea e Verena estão no meu quarto, sentados em diferentes lugares do cômodo. Joseph se aproxima de mim e todos saem com um aceno de cabeça. Ele senta do meu lado, sua mão em meu pulso.

— Você tá bem, Joseph?- pergunto, pois a cara dele está horrível.- Você parece péssimo.

— Eu? Eu estou ótimo. É com você que estamos todos preocupados.

— Por quê?

— Bom, você ficou inconsciente por três semanas. Isso é preocupante. - Joseph responde com um sorriso. - Quase me matou de susto.

— Sinto muito. Tá, mas e porquê eu fiquei inconsciente?

— Porque aquela espada estava mergulhada na pílula de Harriet mais veneno de lobisomem e mais mata-lobos. Ou seja, por mais que você não seja um lobo, o veneno e o mata-lobos estavam em conflito em seu corpo.

— Bom plano, Harriet. O que vocês fizeram pra tirar os venenos?

— Primeiramente, enchemos você de antídoto de lobisomem. Depois, drenamos o seu sangue até que tudo estivesse fora do seu organismo. Já tiramos as agulhas, só estávamos aqui esperando que você acordasse.

Eles tinham drenado o meu sangue? Isso queria dizer que eles tinham praticamente me dissecado. Olhei para o espelho do armário. Nada de diferente.

— Nós também te mantivemos alimentada.- Disse Joseph quando percebeu o que eu procurava no espelho. - Nunca mais faça isso, por favor.

— O quê?

— Quase morrer. Quase me matar junto. Acho que nunca saberá o quanto fiquei ansioso. É uma sensação muito ruim.

Olho para ele, para dentro de seus olhos profundos e tristes. O puxo para perto pela gola da camisa e o beijo nos lábios. Um beijo casto seguido de um abraço.

— Prometo- sussurro em seu ouvido, fazendo ele me abraçar mais forte. - E Harriet?

— Morta – ele se afasta e senta ao meu lado, me fazendo virar o rosto. - Verena e Hadrian a mataram.

— Ótimo. E agora, o que fazemos?

— Bom, você pode tomar banho e se vestir. Depois, faremos o que você quiser.

— Ok.

Ele me deixa sozinha no quarto. Me encaminho até o banheiro e tomo uma ducha demorada. Visto um vestido leve e florido e vou ao encontro de Joseph. Todos que eu vejo acenam com a cabaça para mim, que retribuo com um sorriso. Áurea e Amélie me roubam de Joseph por alguns instantes. Agradeço a elas pela ajuda. Elas me abraçam com carinho e me devolvem. Caminhamos juntos até os jardins.

— O que você acha de visitar sua família?

— Bom, já faz mais de um ano que não os vejo. Acho que seria bom, com uma condição.

— E qual seria esta?

— Você vem comigo.

— O que você diria para seus pais para explicar de onde eu apareci?

— Diria o que somos.

— E o que somos nós?

Não sei o que responder; o que nós éramos, afinal? Não tinha recebido nenhum pedido de namoro oficial, mas também não faria o que eu faço com ele com um amigo. Resolvo não correr o risco.

— Amigos…?- sai mais ou menos como uma pergunta, porque quero que ele responda.

— Só amigos? - ele está brincando comigo, posso perceber pelo tom de sua voz. Se pudesse, já estaria corada. Tento ao máximo bloquear meus pensamentos, pois quase sinto ele os tentando ler.

— Talvez mais que só amigos…

— Talvez… muito mais que só amigos…- Ah, droga. Ele tinha que parar com aquilo. A cada frase, sua voz ficava mais baixa, sua cabeça mais próxima da minha.

— O que somos, então?

— Muito mais que amigos…

— Funciona para mim. - agora estava nervosa. Ele definitivamente tentava ler meus pensamentos. “Nada para ler aqui” era a frase que eu tentava repetir mentalmente, por mais que soubesse que ele provavelmente vasculharia mais fundo que isso.

— Ouso dizer… namorados. - Não é uma pergunta, mas sim uma afirmação. Quase uma regra, me desafiando a descordar. Mas sei que não vou.

— Melhor ainda – sussurro para baixo e ele me beija. Um beijo de verdade.

— E só para constar – murmura ele no meu ouvido, enquanto beija minha orelha – Não adianta tentar me bloquear assim. Vai ter que achar um método mais efetivo.

Sorrio com a boca colada em sua pele.

— Leia isso, se é assim. - fecho os olhos para imaginar cenas um tanto… íntimas, enquanto beijo seu pescoço.

— Mandy, por que você faz isso comigo?

— Porque eu gosto de te ver assim.

— Sofrendo?

— Isso mesmo.

Ele olha nos meus olhos e beja minha boca. Assim, partimos para a floresta escura e vazia.

No outro dia, ridiculamente cedo, envio uma mensagem para os meus pais dizendo que estava indo passar uns dias com eles e que levaria convidados. Uma hora depois, minha mãe me responde. Começo a arrumar as malas com Joseph; Amélie e Áurea vão até a cidade vizinha e compram latas e latas de bronzeador, afinal, eu morava na Austrália! Elas passaram tanto em mim quanto em Joseph, e depois eu passei nelas. Ficamos todos “naturalmente” bronzeados. Joseph tentou imitar o sotaque australiano e eu também, mas não estranhariam caso eu falasse normalmente. Depois de algumas horas tentando, resolvemos dizer que ele era europeu mesmo.

Fiz uma pesquisa sobre a Austrália para ter o que falar. Tirei fotos com vários vampiros para mostrar para meus pais. Pegamos um dos carros da Liga para fingir que alugamos; só tinha aeroporto nas cidades vizinhas. Combinamos histórias e como tínhamos nos conhecido.

Finalmente, no outro dia, chegou a hora de irmos. A mansão ficava a pouco mais de uma hora de Woodville, por isso, logo estávamos na porta da minha casa. Toquei a campainha e Pan veio me receber, seguida da minha mãe e do meu pai.

Os abracei com força, esquecendo completamente que Joseph estava paradinho atrás de mim. Sentia muita saudade dos meus pais e de Pan. Quando a comoção maior passou, apresentei Joseph como meu namorado. Foi meio engraçado ouvir ele falando com o sotaque melodioso de sempre misturado com o sotaque fingido da Austrália. Pelo menos meus pais não perceberam o bronzeado falso.

Passamos o dia reunidos. Meus pais e Joseph se deram bem. Meu pai era professor de História na faculdade da cidade, então falar com Joseph estava sendo fascinante. Minha mãe e eu assamos biscoitos, mesmo que estivesse quente lá fora, e Pan ficou toda contente com a atenção de pessoas.

A noite foi estranha. Meus pais foram dormir e me mandaram para o meu quarto e Joseph para o quarto de hóspedes. E trancaram a porta dele. Não pude fazer nada senão rir da situação. De certo eles acharam que nós não tínhamos percebido, pois pensavam que eu estava dormindo havia horas. Mas isso era impossível para mim. Fechei os olhos e me concentrei.

“Pula a janela, me encontra lá na garagem.” Pelo menos a habilidade diversas vezes irritante de Joseph servia para alguma coisa. “Sim.” - ouvi ecoar na minha cabeça. Aquilo me deixava apavorada. Ele me explicou que a minha voz aparecia com clareza na mente dele, mas caso ele quisesse me responder, ele meio que manipulava meu cérebro, assim a voz dele parecia meio distorcida quando na minha cabeça. Abro a janela o mais silenciosamente possível, mesmo ouvindo meus pais dormindo no outro quarto, e pulo. Aterrisso no chão e corro para a porta, para encontrar Joseph, mas ele não está lá. Dou a volta na casa, procurando-o. Não o acho, e resolvo invadir seu quarto. Pulo o com força e seguro o batente da janela. Puxo o corpo para cima e caio de bruços no chão do quarto, ao pé da cama. Graças a Deus, é o quarto certo.

— Joseph? Joseph? - chamo, baixinho

— Ei, Mandy – dou um pulo e quase grito quando ouço a voz por trás de mim. Me viro para ver Joseph apoiado no batente, como eu fizera havia poucos segundos.

— Onde você estava?

— Eu dei a volta por trás na casa. E você?

— Pela frente.

Ele ri da minha cara frustrada e se deixa cair para baixo. Pulo mais uma vez, direto em seus braços. Ele me coloca no chão e andamos pelas ruas da cidade de mãos dadas. Falamos sobre banalidades, eu apontava para as coisas da minha vida por ali. Chegamos perto de uma balada. Eu sabia que meus antigos amigos estariam ali. Já tinha marcado de sair com Julie, Ana e Josie no dia seguinte, mas que mal faria?

— Quer ir a uma balada?

— Eu nunca fui em uma balada.

— Exatamente. Quer ir?

— Vamos.

Caminhamos até a festa. Era sábado e meio das férias, estaria mais que cheia. Mas um pouco de flerte e dinheiro combinados nos deram lugar rapidamente. Encontrei minha antiga turma. Apresentei Joseph, todo mundo deu oi, ele deu oi para todo mundo, essas cordialidades. Então as músicas boas começaram, e todos fomos para a pista de dança; meu parceiro reclamou que não sabia dançar. Pus meus braços ao redor de seu pescoço e simplesmente nos balancei no ritmo da música, nossas testas coladas.

Foi aí que Josh apareceu, rebocando Alicia. Nossos olhares se cruzaram, mas ele fingiu que não nos viu. Joseph notou a tensão no ar.

— O que você fez com esse cara?- pergunta ele.- Os pensamentos dele não são os mais… puros.

— Ele me traiu. Eu bati na cara dele e sumi em uma floresta. Nunca mais dei notícias.

— Tá explicado.

Notando que eu e Joseph o observávamos, Josh puxou Alicia para o nosso lado, ainda fingindo que não me vira. Eles começaram a fazer toda uma cena, mãos para todos os lados. O rosto de Joseph se contorcia a cada segundo.

— Pare de ler isso, Joseph. Não é nada que preste – falei no ouvido dele.

— Se eu conseguisse, eu pararia. Mas não dá para ignorar – sussurrou ele no meu.- Pense em algo bom para eu ver.

Sorri, revirando os olhos.

— Vamos deixar isso divertido. - dizendo isso, o puxei para um grande beijo. Obviamente, ele retribuiu com a mesma intensidade. Pelo jeito como ele meio que riu durante o ato, soube que Josh estava olhando.

Continuamos a fazer isso até resolvermos sair do lugar. Não percebemos, porém, que estávamos sendo seguidos por Josh e mais três outros caras que eu não reconheci. Alicia vinha correndo em seus saltos atrás de todo mundo.

Josh deu uma corridinha ridícula e agarrou meu braço, me puxando para trás. Ah não que ele vai querer comprar briga. Joseph me puxa, o mais delicadamente possível, de volta para si. Então o idiota do Josh o cutuca, o fazendo virar (nós dois) de frente para ele.

— O que foi? - Joseph pergunta, a voz simpática com sotaque fingido um pouco irritada.

— Quem é ele, Amanda?

— Meu namorado.

— Ah é mesmo?

— É. Agora nos deixa em paz.

Retomamos nosso caminho, abraçados. Até ouvirmos a voz irritante dele de novo.

— Sabe, Mandy, nós nunca terminamos de fato.

— É claro que terminamos, idiota. Você me traiu na cara dura. Terminou neste momento.

— Então- Josh ignora minha fala. Me separo de Joseph e chego mais perto de Josh – isso quer dizer que ainda é minha.

Me distraio por tempo suficiente para ele agarrar meus cotovelos e colar seus lábios nos meus. Fecho a boca o máximo que consigo e espero que ele se toque e me largue de uma vez. Percebo um movimento às minhas costas, provavelmente os outros caras segurando meu namorado. Quando vejo que Josh não vai parar de insistir no beijo, o empurro e desço a mão na cara dele. “Não machuque ninguém.” penso para Joseph. Ouço ele suspirar. Achando que o amigo tinha acabado, os outros deixam o vampiro livre. Corro até ele e me enfio na segurança de seu abraço. Entrelaçamos os braços e continuamos a caminhada, quando Josh corre atrás de mim e me toca. Como assédio, diga-se de passagem. Um toque rápido e intencionalmente maldoso. Obviamente, Joseph vê a cena e, não podendo ser diferente, fecha o punho e acerta em cheio o maxilar de Josh, que cai. Os outros três capangas avançam, prontos para machucar, mas a luta não é justa para eles. Eles cercam Joseph e atacam simultaneamente. Corro para ajudar. Um soco em cada um e está feito.

Finalmente, chegamos em casa.

 


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Notas finais do capítulo

Ficou meio estranho. Desculpem o abandono!



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