Girls Bite Back escrita por Rock Queen


Capítulo 2
This worn out shell has cost you, dear


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Primeiro, me desculpem pela demora. Mal comecei a história e já estou demorando, mas é que com a volta às aulas ficou complicado. Mas já estou me acostumando! E como presente, tá aí um capítulo um pouco grandinho. Esse capítulo foi particularmente difícil de escrever porque eu queria que ele ficasse muito bacana, mais uma razão pela qual ele demorou, então espero que vocês gostem e boa leitura!
A música de hoje é: Flecks, do These Brittle Bones. Fica aqui o link pra vocês ouvirem: https://www.youtube.com/watch?v=w-GCTfgMbZU



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“Is there no way out of the mind?”
― Sylvia Plath

James, Molly e Fred vieram primeiro. James Sirius era o mais velho. O próprio garoto de capa da Gryffindor, capaz de enciumar até o próprio Godric tamanho era seu coração vermelho e dourado. Fred veio logo depois e era um leão disfarçado de ovelha, mas que o chapéu jamais deixaria escapar da sua alcatéia. Molly abriu precedentes com sua perspicácia e sagacidade, sendo a primeira Weasley daquela geração a ir para além da Gryffindor e abrindo seu caminho na Ravenclaw, e triunfando a cada passo que dava.

Depois dos três mais velhos, Albus, Rose e Dominique chegaram. Albus não surpreendeu ninguém quando seguiu caminho para Slytherin, onde foi muito bem recebido — e muito melhor compreendido. Rose retornou a tradição, como esperado, e revelou-se uma Gryffindor de andar e coração pesados, mas ainda sim, leal a Godric. E Dominique, com seu jeito irreverente, exalando confiança e extroversão, merecia seu lugar junto aos leões também.

Lily, Louis e Roxanne vieram por último. Lily nunca enganou ninguém: Era um Gryffindor desde o topo da cabeça até a ponta do pé, desde seu orgulho até seu impulso aventureiro. Louis, por sua vez, um forte candidato a Slytherin, mas contrariando todas as expectativas (era seu esporte favorito), aterrissou na Gryffindor.

E Roxanne.

Estava sentada no salão comunal da Gryffindor, sua casa, casa de seus pais, casa de seu irmão mais velho e casa de quase todos os seus primos, mas que parecia mais um salão qualquer de uma casa qualquer principalmente vazio como estava naquela manhã.

Havia escolhido não ir a aula, não parecia certo. Não parecia certo fingir que estava tudo bem quando não estava. Era seu próprio jeito de mostrar respeito à Lily: enxergando o que havia acontecido e deixando que fluísse por seu corpo a dor pungente em seu coração. Queria que Lily soubesse, da cama de hospital em que estava, que Roxanne estava sentindo.

O último elo entre os jovens Weasley fora aquele entre Roxanne e Lily. As duas eram muito mais do que primas, eram irmãs de alma. Algo que não vinha de família, algo que vinha de uma energia cósmica, universal, algo que transcendia demais para ser entendido por meros mortais. Apenas elas entendiam. E apenas elas eram capazes de sentir, juntas, a dor do desmoronamento da família que tanto amavam.

Abraçando seus joelhos com força, Roxanne lembrava claramente da voz de Lily ao seu lado, bradando indignada sobre a frieza dos outros. "Como eles conseguem fingir que não tem nada acontecendo? Como eles estão deixando todos irem embora? Eles não sentem nada?", ela dizia com a voz estrangulada, um nó na garganta e outro na cabeça.

Mas o tempo não pararia apenas para que as duas pudessem continuar suas conversas de madrugada no salão, seus bilhetes na aula de História da Magia ou para a troca anual de presentes de Natal que apesar da família ter desistido, elas não abandonaram. As divergências começaram, a frieza tomou conta dos corações das duas, Lily encontrou um refúgio em Dylan e à Roxanne, ficaram apenas lembranças.

Assim, a pequena Roxy se tornou uma pedra. Subiu todas as muralhas e defesas possíveis, e deixou que desaparecesse a menina ingênua, deixou que se soltasse o laço que a prendia tão fortemente à Lily e aos Weasley. Roxanne foi a última a desistir. Mas naquele momento, desejou que tivesse tentado um pouco mais, só um pouco mais.

— Eu sinto, Lily — Roxanne balbuciou, escondendo o rosto nos joelhos enquanto as lágrimas escorriam, deixando uma trilha em seu rosto — Eu sinto muito.

— Falar sozinha não é um bom sinal de sanidade, só pra constar.

O coração de Roxanne falhou em uma batida ao ouvir a voz de sua prima Dominique. Não esperava que ninguém estivesse ali, mas é claro que ela estaria. Quer dizer, a surpresa era quando Dominique comparecia à alguma aula.

— Dominique — Roxanne murmurou, fungando logo em seguida e tentando limpar as lágrimas do rosto. Sua prima se aproximou devagar, sentando-se na outra extremidade do sofá.

Dominique era quase sua prima mais distante. Ninguém ganhava em distância de Molly, é claro, mas a segunda filha de Bill Weasley certamente era um páreo duro. Não era exatamente culpa dela, Roxanne também não facilitava: as duas eram completamente diferentes. Roxanne era delicada, ingênua, frágil. Dominique era bruta, esperta, forte. Mas ninguém era tão forte assim.

— Quer café? — Dominique perguntou, numa tentativa de preencher o silêncio mórbido, e esticou a cabeça na direção de Roxanne.

— Como você...

— ...Arranjou isso? — Dominique completou, e Roxanne assentiu com a cabeça, antes de dar outra fungada — Eu posso ou não ter contrabandeado uma máquina de café pro meu dormitório. Mas e aí, vai querer?

Roxanne ergueu uma sobrancelha. Não podia dizer que estava surpresa, Dominique era, assim como James, uma pessoa cheia de recursos. Bom, pelo menos até onde ela sabia, e isso não era muito. Aceitou a caneca de café, a manhã estava gelada e nada melhor que esquentar a barriga.

— Está ótimo — Roxanne murmurou, depois de tomar um longo gole — Não foi pra aula hoje?

— É. Parecia meio estranho assistir uma aula de história da magia hoje, sabe? Não parecia...

— …Certo — Dessa vez, foi Roxanne quem completou a frase da prima, que assentiu — Não parecia certo. Acertei?

— É. Algo por aí.

.

Quando Molly era criança, seus primos gostavam de brincar — ela não sabia muito bem que tipo de brincadeira era aquela que magoava tanto uma pessoa, mas amor era assim, não era? Eram piadas de mal gosto e a imposição para se enquadrar num padrão que nunca seria o dela… Certo? — dizendo que ela não tinha um coração.

Ela nunca soube muito bem o que havia instigado aquela teoria. Bom, ela realmente respondia de forma diferente à alguns estímulos. Molly não chorava, não se sensibilizava com as ridículas chantagens emocionais de sua família (coisas como “só vai comer chocolate se disser que ama o seu primo” ou “se você não for tomar banho quer dizer que você não ama a vovó”), e as demonstrações de afeto calorosas eram recebidas, mas raramente retribuídas do mesmo modo. E essa fama se propagou durante os anos seguintes, e no auge de seus dezessete anos, era como se Molly Weasley nunca tivesse tido um coração.

Mas dias como aquele — não que existissem outros dias como aquele — faziam Molly pensar… Como alguém poderia achar que ela não tinha um coração? Quer dizer, lá estava ela, deixando um pedaço seu famigerado coração por cada corredor que passava naquela manhã, perdendo o ritmo das batidas daquele que supostamente nem estava ali a cada vez que o nome de Lily passava em sua cabeça. Como alguém que não tinha um coração poderia ao mesmo tempo sentir tanto?

— Molly.

Assustada com o chamado repentino, Molly deu um pulo. Havia saído da sala dos monitores por alguns minutos e caminhado até o jardim, apenas para respirar um ar que não parecesse afogá-la. Arfando, virou-se rapidamente, imaginando encontrar McGonagall ou professor Longbottom. Mas deparou-se com a última pessoa que imaginava ver.

— Calma. Sou só eu — Disse Fred Weasley II, levantando as mãos no ar, em um sinal de paz.

— O que você quer? — Molly perguntou, afastando-se alguns passos, se colocando numa distância saudável de seu primo. A palavra a acertou em cheio. Primo. Aquela palavrinha já havia lhe causado tantos problemas… 

— Eu só queria saber se você está bem — Ele respondeu, no tom de quem estava no meio de uma guerra, mas queria que os dois lados ganhassem — Eu te vi passando no café da manhã, você parecia, sei lá, perturbada — Fred amistosamente estendeu a mão em direção do ombro dela.

— E não é para estar, Frederick? Alguém acabou de tentar se matar, caso você não tenha notado. Nossa prima- Tira essa mão de mim!— Ela rosnou, empurrando a mão de Fred de seu ombro — Eu estou bem — Completou sem parar um segundo para pensar.

Era automático. Precisava estar bem, sempre, o tempo inteiro. Pessoas dependiam dela, e ela definitivamente não estava falando de família. Molly tinha ocupações, era uma monitora chefe exemplar, uma aluna assídua e uma tutora de História da Magia. Não podia se dar ao luxo de não estar bem, mesmo naquele dia. Mesmo quando ela sentia seu coração mais presente do que nunca. De qualquer forma, ela era ótima em disfarçar, afinal, usar máscaras era a especialidade de sua “família”, e mesmo que ela não quisesse, ela havia herdado algumas coisas. Ninguém seria capaz de dizer que Molly estava cansada, chateada, ou devastada.

Exceto por uma pessoa.

— Molly, eu te conheço. Nada mudou entre a gente. Por favor, conversa comigo. Me deixa te ajudar.

— Eu não quero sua ajuda, Fred. Eu quero que você me deixe em paz. A última pessoa que eu quero ver agora é você — Molly passou as mãos pelos cabelos, e fechou os olhos, desejando com todas as suas forças que quando os abrissem, Fred não estivesse mais ali. Mas suas preces não foram ouvidas, pois ali ele continuava, como se estivesse fincado no chão.

— Eu estou sofrendo tanto quanto você, mas você não pode…

— Não posso o que? Você perdeu seu direito de opinar na minha vida há muito tempo.

— Eu sei que eu vacilei. Você pode me odiar e pode ter me cortado da sua vida, mas isso não quer dizer que eu deixei de me importar. Eu só quero te ajudar.

— Mas quem não se importa sou eu, Fred! — O pouco controle que Molly ainda tinha se esvaiu. Com Fred era sempre assim, ela não tinha controle nenhum da situação, fosse para o bem ou para o mal. Mesmo com as palavras duras de Molly, Fred não parecia ter se abalado. Parecia até satisfeito com a reação, mais satisfeito do que com a apatia que ela demonstrava anteriormente — Eu não me importo se você se importa, não me importo se quer ajudar. Você não pode ajudar, tá legal?! Ninguém pode! — A voz de Molly era trêmula e insegura, e era muito mais emoção do que razão, muito mais coração do que cabeça. Se alguém precisava de uma prova de que Molly Weasley não era um homem de lata, ali estava — Isso é tudo nossa culpa…

Mas além das paredes, o único que lhe ouvia — como sempre — era seu primo.

— Ela precisava de ajuda, Fred — Molly disse, balançando a cabeça em negação — Todo mundo viu. O jeito que ela andava pelos corredores sem rumo, sempre sozinha, sempre se esquivando dos boatos. Como ela sempre queria conversar com alguma de nós e nós simplesmente a ignoramos. Francamente, ontem mesmo, até o Albus veio implorar para que falássemos com ela. E eu disse não, na cara dele.

— Molly, não, você não vai entrar nessa — Fred a segurou pelos ombros, abaixando-se levemente para ficar na altura de sua prima — Você não tinha como saber, ninguém tinha.

— Não, não — Ela negou com a cabeça desesperadamente, um lampejo de lágrimas se formando em seus olhos, mas nunca o suficiente para uma lágrima, jamais — Eu tinha que saber. Eu não podia ter deixado Lily sozinha daquele jeito. Como me deixaram. Ela não merecia, Fred, ela não merecia!

Fred extinguiu a distância entre os dois, envolvendo-a num abraço. Era algo que os dois não faziam há muito tempo: Fred não abraçava Molly, e Molly não abraçava ninguém. Por um pequeno momento, com os braços quentes de Fred ao seu redor, e seu ombro escondido na curva do pescoço dele, Molly se sentiu em paz. Mas isso era impossível, e ela sabia. Afinal, ela podia tentar negar, mas no final do dia, por baixo da tinta de cabelo e da maquiagem que cobria as sardas, por baixo do contato que ela evitava e da família que ela renegava, Molly sempre seria uma Weasley. E para Weasleys, paz nunca foi uma opção.

.

Os boatos que corriam no hospital St. Mungus eram de que no quarto 307, estava uma garota que havia sobrevivido a uma tentativa de suicídio. Na opinião dela, ela havia falhado na única tentativa que tinha de se salvar. Mas boatos sempre caminham junto com ambiguidade, não é mesmo?

Ela não havia dito uma única palavra desde que despertara. Encarava o teto branco e monótono do hospital, aproveitando o momento sozinha. Ela sabia que corria esse risco, sabia que se falhasse, ela nunca mais teria um momento sozinha novamente. Seus pais, seus irmãos, os especialistas, e terapeutas e psiquiatras... Eles nunca mais a deixariam em paz. E mesmo assim, correr esse risco pareceu valer a pena. Mas a soberba fruto de seu sobrenome Potter a fez acreditar que seu plano ia sem dúvidas funcionar, e que ela não estaria nessa terra para ter que se preocupar com isso. Infelizmente ou felizmente, dependendo do ponto de vista, Lily Luna estava errada.

— Lily!

A ruiva virou a cabeça devagar na direção da porta, de forma robótica, dando de cara com Ginny correndo em sua direção e a envolvendo num abraço apertado. Harry veio em seguida, mais à vontade do que Lily imaginou que ele estaria. Mas lembrou-se que seu pai tinha um flerte estranho com a morte desde os 12 anos, então um nascimento o perturbaria mais do que uma tentativa de suicídio. Lily fechou os olhos no mesmo instante. Não queria ver aquilo. Ora, ela havia tentado se matar, obviamente ela não queria mais ver nada daquilo.

Os braços gelados de Ginny a seguravam com muita força e embora ela não estivesse olhando, sabia que lágrimas escorriam dos olhos de sua mãe. Mas não conseguia sentir nada. Era como se os braços de sua mãe fossem só braços, e as lágrimas só lágrimas e a vida só... Uma vida. Nada mais era único, especial, individual. Era tudo uma grande massa da mesma coisa insuportável. 

— Os médicos disseram que você vai ficar bem, querida — Harry disse, como se ela estivesse se curando de uma dor de garganta ou de uma gripe.

— Claro que vai — Ginny completou, fungando, mas sem soltar o corpo imóvel de Lily. Ela ajeitou Lily em seus braços e começou a balançá-la da mesma forma que fazia para embalar seu sono na infância — Claro que vai.

— James e Albus estão lá fora, vou chamá-los pra ver você. Rose queria vir também, mas já foi estardalhaço demais tirar seus irmãos de lá — Harry avisou, enquanto caminhava em direção da porta. Era impressionante. Nem numa situação daquela, os Potter conseguiam sentar e ter uma conversa honesta, sem arrastar outras pessoas no meio, sem desviar do assunto. Classic Harry move.

Mas Lily franziu a testa e soltou-se do abraço de sua mãe, ao ouvir um nome.

— Rose? Minha prima? — Ela indagou, completamente confusa. Ginny balançou a cabeça positivamente. Lily esticou a cabeça e viu de fato, a cabeleira ruiva de sua prima no fim do corredor — O que ela queria aqui?

— Lily, querida... Foi Rose quem salvou você.

Lily mal teve tempo de digerir a resposta, pois seus irmãos já estavam na porta do quarto. Albus voou na direção dela, assim como sua mãe havia feito antes. Todos diziam como ele era parecido com Harry, mas Lily só conseguia ver Ginny em Albus. Os braços de seu irmão eram tão gelados quanto os de sua mãe, e lhe passavam tanta emoção quando dois galhos de árvore a envolvendo.

— Como você está se sentindo? — James perguntou, cortando o silêncio do quarto. Lily virou-se para seu irmão, apenas para encontrar um estranho no quarto. James era enérgico, dinâmico, os pés flutuando e a cabeça na lua, e é claro, sempre um sorriso no rosto. "Sorria, Lil! Alguém pode estar se apaixonando pelo seu sorriso", ele dizia sempre que ela estava com uma carranca, ou seja, sempre. Mas quem estava ali não era o garoto que era seu irmão. Ele estava com uma cara de... Homem. Como se tivesse crescido dez anos em uma noite. A barba dele estava mal feita, e ele estava pálido e com olheiras, como se tivesse passado uma noite trabalhando até tarde em algum escritório. E nenhum sorriso. Algo dizia a Lily que nenhum voltaria para aquele rosto tão cedo.

— Com sede — Ela disse, tossindo.

— Você não pode beber nada por enquanto, Lily — Ele respondeu, encarando os próprios sapatos — Os médicos fizeram uma lavagem estomacal, você tem que esperar mais algumas horas pra poder comer.

Lily balançou a cabeça, assentindo. As palavras "lavagem estomacal" pareceram incomodar todos no quarto, que desviaram seus olhares dela.

— Amanhã eu vou falar com o Dylan — Albus disse — E ele vai pagar pelo que ele causou à você, Lil, eu juro.

— Do que está falando, Albus? — Ela perguntou, massageando as têmporas e sentindo uma dor de cabeça chegar. A presença de Albus costumava invocar isso quando eles eram mais novos.

— Não posso deixar barato, Lily! Olha o que ele fez com você! Te transformou praticamente numa morta e quase conseguiu. Fez você querer se matar! — Albus disse a segunda parte com desgosto, como se a tentativa de suicídio de Lily fosse uma vergonha, um estigma. E isso teria chamado a atenção dela, se outra coisa não tivesse feito isso primeiro.

— Você acha que eu tentei me matar pelo Dylan? — Lily perguntou devagar, como se assimilasse suas próprias palavras — É isso que vocês acham? — Ela indagou o restante de sua família na sala, e tudo que obteve em resposta foi um silêncio mórbido. Não podia acreditar naquilo. Na verdade, era na sua própria ingenuidade que não conseguia acreditar. É claro que eles achavam que era por causa de Dylan. Eles nunca a enxergaram além disso, como um ser humano completo.

E então, Lily fez a coisa que parecia menos razoável naquele momento: riu. Soltou uma gargalhada bizarra, sinistra, sombria. Que misturava dor, e raiva, e exaustão. O som de sua risada esganiçada preencheu o quarto, o corredor, e chamou a atenção de alguns passantes. Não que ela se importasse, afinal, ela sabia muito bem que dali pra frente todos a veriam da mesma forma que sua família a via ali: uma maluca que tentou se matar pelo ex namorado.

— Qual é o problema de vocês?! São tão egoístas assim, que não conseguem enxergar?! — Lily gritou, enquanto as lágrimas vinham aos seus olhos — Acha que alguém decide se matar assim, de uma hora pra outra? Olhem um pouco pra vocês! Como acham que é viver dezesseis anos nessa família? Nesse inferno, nessa prisão maldita de gente hipócrita, que mente, que se odeia e finge que vive uma vida perfeita? Quem diz que gostaria de ser um Weasley, um Potter, é porque nunca passou um dia na nossa pele. Sorrindo, aguentando as críticas, os comentários, as exigências de ser perfeito! Sendo desgastado todo dia, tendo toda a graça esgotada ao mínimo. Aguentando um pai que prefere ficar admirando a própria foto no jornal do que passar dez minutos conosco, uma mãe psicótica que só sabe gritar e dizer como tudo que fazemos está errado e que nunca vamos alcançar à ela se continuarmos assim. Aguentando o sentimento de ser uma fracassada a cada vez que eu recebi uma medalha de segundo lugar. Porque segundo lugar é o primeiro dos últimos, não foi isso o que você me disse, Albus?! O próprio filho de vocês virou um monstro megalomaníaco! — Ela gritou, apontando para seu irmão que parecia a beira de um colapso, com os dedos entrelaçados atrás da cabeça e as lágrimas escorrendo copiosamente ao ouvir verdades que nenhum deles queria ouvir. Mas isso não amoleceu o coração de Lily. Afinal, ela havia o endurecido por muitos anos para chegar até ali.

Ginny já não a olhava mais, e pelo som do soluços de sua mãe, as palavras haviam surtido efeito. Mas mesmo assim, Lily ainda não estava satisfeita. Nenhuma lágrima que seus pais estavam derrubando se igualaria as que ela derrubou a vida inteira por eles, nunca se igualaria ao desespero que ela sentia quando se sentia encurralada e sozinha no fundo de seu quarto, depois de implorar por uma migalha de atenção e ser ignorada, como se nem estivesse ali.

— Eu amei vocês! A vida inteira, tudo que eu fiz foi amar e amar vocês, e tudo que eu recebi foi pressão, foi dor, foi competição, foi medo! Eu precisava de ajuda! Só vocês podiam reparar a dor que vocês mesmos me causaram! Mas nunca conseguiram ver nada além do próprio umbigo, não é mesmo? A única coisa que me fez feliz no último ano foi o Dylan, e esse foi o meu erro. Achar que isso iria fazer alguma diferença. Porque é claro que ele iria embora. Quem ficaria com alguém como um de nós? — Lily indagou, com desgosto na voz. Sentia nojo de si mesma, nojo da pessoa que havia se tornado, nojo de todos que estavam ao redor dela — Quando eu acordei ontem, eu percebi que eu não tinha mais nada. Não tinha família. Não tinha amigos. Então pra que continuar mentindo? O que Rose fez não foi me salvar, foi me condenar de vez. Dylan foi a última gota, mas foi vocês quem me afogaram a vida inteira.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham curtido o capítulo, pessoal! Apesar do foco da história ser nas meninas, os garotos vão aparecer de vez em quando, como o Fred apareceu dessa vez. Pra quem se interessou, logo saberemos mais da relação dele com a Molly, o que houve, e etc! No capítulo que vem, teremos mais de todas as meninas juntas, e uma ceninha com os irmãos Potter também. Aceito e tô ansiosa por comentários e críticas. Estamos sempre em busca de melhorar ♥



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