Prólogo

20 de junho, 1995

— Vocês são imundos! - disse Hades.  Os três irmãos estavam reunidos na sala dos tronos do Olimpo, como periodicamente fazem. Hades estava indignado.

— Hades, você sabe como é difícil, irmão. - disse Poseidon.

— Mas tínhamos um acordo! E como sempre vocês não o cumpriram. Poseidon tem sua criança com Sally Jackson. Zeus tem filhos com, Beryl Grace, e mesmo fazendo uma oferta de paz para Hera há pouco tempo, fez novamente. Imagine o que ela sentirá quando souber...

— Patty Wilson foi inevitável. - disse Zeus.

— Você é inacreditável, irmão. - Você sabe que filhos de deuses grandes na mesma época sempre dão problema. Três semideuses filhos de Zeus e um filho de Poseidon. O mundo desabará, vocês sabem que nossos filhos são problemáticos, ainda mais juntos...

— Você não entende, irmão...

— Ah, eu entendo Poseidon, foi difícil não se apaixonar por uma mortal cheia de vida como Sally, ou louca e inconsequentemente apaixonada como Beryl, ou pela bela cigana Patty. Eu entendo, e me segurei, irmãos. Quem não entenderá nada disso será Hera.

Hades riu.

— Ela não precisa saber, não agora.

— Zeus, Hera não é burra! Logo ela descobrirá. E trará o submundo para a terra quando isso acontecer.

— Concordo com Hades, Hera vai ficar bolada.

— Bolada? - Hades fez careta.

— Sei disso irmãos, por isso peço que omitam esse acontecimento.

— Zeus, eu não interfiro nos assuntos olimpianos. Não quero estar perto quando ela descobrir.

— Não contarei, mas acho errado omitir. Contei para Anfitrite sobre Sally. É ela só destruiu metade do meu palácio.

Hades gargalhou.

— Tomem cuidado, nossos filhos são perigosos. - Hades sorriu. - Seria muito divertido ter meus filhos de volta e ver o caos se instaurando.

— Não faça isso, Hades! - a voz de Zeus ecoou como um trovão.

— Vocês quebraram o acordo, tiveram filhos! Os meus filhos também são importantes! Mas ainda não é a hora deles.

Hades sorriu. Uma nevoa negra o envolveu deixando um clima fúnebre no ambiente e o levando para o seu reino no Submundo.

— A profecia ainda se cumprirá, um de nossos filhos será responsável por ela.

— Eu sei disso.

— Força aí, bro. - Poseidon fez um sinal com as mãos.

— Poseidon.

— Sim?

— Pare de andar com surfistas.

Poseidon sorriu, antes que fosse levado por uma onda. A sala dos tronos tinha ficado com um cheiro r de maresia e algumas algas entre o trono de Poseidon.

Hera

Ontem foi dia 20 de junho de 1995, também conhecido como o dia em que Zeus me traiu novamente.Eu ouvi a conversa dele com Poseidon e Hades e ele está certo, eu vou fazer o inferno  na terra.

Eu estava caminhando pelos corredores do Olimpo desenfreada, cheia de ódio. Quando eu encontrasse Zeus ele ouviria poucas e boas.

— Hera, qual desses vestidos é mais bonito? O rosa ou o vermelho? - Afrodite surgiu na minha frente, eu apenas a fuzilei com os olhos.

— Não é uma boa hora.

Continuei andando, pude ouvir a ninfa ao seu lado dizer " parece que Zeus fez de novo" , isso me deixou com mais raiva ainda. Ao me aproximar da sala dos tronos. Respirei fundo e abri as portas duplas douradas de uma vez.

Zeus estava sentado em seu trono visivelmente entediado com a discussão entre Apolo e Ártemis.

— Pare de flertar com minhas caçadoras!

— Então devolva minha flauta! Não tenho culpa se suas caçadoras são tão lindas. - Apolo sorriu.

— Você já desfalcou o meu grupo três vezes esse ano! E além disso pare de usar meus arcos! E não seduza minhas caçadoras!

—Vocês dois! - eu disse alto. - Vão discutir em outro lugar. Tenho que falar a sós com Zeus.

Apolo e Ártemis se entreolharam e saíram apressadamente, parece que a raiva estava estampada em meu rosto para que os dois fossem embora daquele jeito.

— O que foi Hera? - Zeus disse indiferente.

Eu dei uma risadinha irônica.

— Não acredito! - eu levantei a voz. - Você tem coragem de perguntar " o que foi Hera?" - imitei a voz dele. - Sabe "o que foi Hera?" Patty Wilson, esse nome te lembra alguém?

Zeus se ajeitou no trono.

— Não vai falar nada? Você não esperou nem um ano desde que seu último filho nasceu, a sua oferta de paz, para me trair novamente! Você...

— É minha natureza, Hera. Deuses têm que ter semideuses. Depois de todos esses anos você deveria ter se acostumado.

— Como você tem coragem de dizer isso? Deixe que outros deuses tenham seus semideuses, como Hermes ou Afrodite. Você traiu me traiu, traiu nossos irmãos, quebrou um juramento e sua oferta de paz.

Eu comecei a chorar, as lágrimas pareciam ser de fogo grego, pois queimavam o meu rosto. Era como se todo o ódio que estava sentindo estivesse fluindo por meus olhos.

— Ainda me diz que eu deveria ter me acostumado! Eu deveria ter me vingando direito desde a primeira traição.

— Você quase matou Hércules!

— Não foi o suficiente, visto que tenho que aturá-lo aqui. - meus olhos estavam marejados. - Eu te odeio.

Eu saí correndo da sala dos tronos, Zeus se levantou e correu até onde eu estava e me agarrou pelo braço de forma gentil.

— Não diga que me odeia, pois sei que não é verdade, passamos por muita situações dessas. Tudo vai se resolver. - Zeus deu um sorriso sedutor.

— Não encoste em mim. - eu puxei meu braço. - Você vai pagar caro dessa vez. Eu realmente cansei disso tudo.

Saí andando lentamente pela porta e a bati com muita força (Ainda bem que a porta é bem resistente). Algumas ninfas e deuses menores estavam parados no corredor, obviamente ouvindo a nossa discussão.

— O que foi? Vocês não têm nada para fazer não?

Rapidamente o corredor se esvaziou, só havia uma deusa, justamente aquela que eu estava precisando encontrar.

— Parece que sou a solução para você, Rainha Hera.

Eu sequei meus últimos vestígios de lágrimas.

— Nêmesis.

— Vamos para meu templo, poderemos conversar, sem sermos ouvidas.

Nêmesis e eu nos vaporizamos até seu templo, a névoa que envolvia a deusa da vingança era sinistra, uma fumaça avermelhada que parecia suplicar misericórdia. Seu templo era escuro, em tons de vermelho. Havia alguns instrumentos de tortura, a decoração me recordava o templo bagunçado de Ares.

— Então, o que eu preciso fazer?

— Primeiro, você deve ter certeza de que está pronta para as consequências de uma vingança, pois elas podem ser enormes.

— Eu estou pronta. - disse com convicção.

— O ingrediente principal de uma boa vingança é o ódio, e você está tomada por ele.

— Pode acreditar nisso.

— A única meta que precisa cumprir e atingir Zeus. De uma forma em que ninguém o atingiu. Faça doer como dói em você, Rainha.

— Como vou fazer isso? Você poderia ser mais óbvia.

— Eu não posso te dizer mais nada. É a vingança que encontra você e quando ela te encontrar você saberá o que fazer.

— Onde a vingança habita?

Nêmesis sorriu sinistramente.

— O que acha de dar uma volta em Nova York?

— Acho que estou começando a entender onde você quer chegar. - eu sorri. - Você é bastante engenhosa.

— Você também será. Essa vingança dará a Zeus uma sensação inesquecível.

— Obrigada, Nêmesis! Você será recompensada.

— A vingança é apenas minha fiel escudeira, Rainha Hera.

Zeus

Eu sabia que Hera descobriria, mas não pensei que fosse tão rápido. Com certeza ela não perdoará facilmente. Hera disse que não deixaria por isso mesmo, meu filho e Patty Wilson podem estar em perigo.

Ah, Patty Wilson é encantadora, uma cigana. Seus cabelos negros ondulados e reluzentes, olhos verdes como folhas começando a secar e um sorriso arrebatador. Além de uma personalidade indomável. O que mais admirei nela? Seu senso de liberdade, Patty não se apega a nada mundano, vive viajando, morando em todos os lugares. E logo estaria bem longe de Nova York. Andando pelo jardim do olimpo, tive uma ideia.

— Ei, você. - eu disse para o espírito da natureza que passava por mim. - Eu tenho uma missão para você e mais um amigo, escolha o mais forte e valente.

— Sim, senhor Zeus. O que deseja?

— Quero que protejam Patty Wilson  e a criança. Ela é uma cigana bem bonita com um bebê em Nova York, não vai ser difícil encontrá-la.

— Patty Wilson. - repetiu o espírito.

— Protejam Patty e o bebê com suas vidas. Temo retaliações de Hera.

— Farei de tudo para protegê-los, senhor Zeus.

— É o que eu espero, James. - sorri.