Finn

Após Bonnie ter dito isso, ela saiu correndo desesperada. O que me deixou com uma sensação de confusão e perplexidade, como se eu fosse um personagem de desenho animado com um grande ponto de interrogação pairando sobre a minha cabeça. Não consegui compreender o motivo pelo qual ela sugeriu que eu trocasse de namorada. A Bonnie está tão estranha esses dias, evitando conversar comigo e sendo rude quando tento falar com ela. Sinto falta da minha amiga de antes.

— O que deu nela? — perguntei a Jake, que parecia estupefato.

— Não faço ideia. E que papo estranho foi aquele.

— Por que ela disse que eu deveria mudar de namorada?

— Hmm, não entendi também — disse Jake enquanto colocava a mão no queixo. — Será que ela ficou irritada porque você não pediu ajuda a ela?

— Ainda não tinha pensado nisso — admiti, concordando em partes. — Mas isso não explica o fato dela estar agindo de forma estranha comigo ultimamente.

Jake se virou para mim com uma expressão séria, e eu fiquei confuso com isso.

— Olha, maninho, vou te falar a real — começou ele. — Talvez a Jujuba esteja te tratando diferente porque você merece.

— O que?! — Fiquei ainda mais confuso com a afirmação de Jake. O que eu fiz?

— Você e a Jujuba eram carne e unha, sempre fazendo tudo juntos. Ela ia pra nossa casa, fazíamos nossa sessão cinema, que era muito legal. — Verdade, me lembrei disso e era muito bacana. — Mas depois que você começou a namorar a Phoebe, parece que a maioria dessas coisas foram esquecidas. Não tenho nada contra seu relacionamento, irmão, mas se eu fosse a Jujuba, estaria me sentindo um pouco abandonada agora.

Parando para pensar, Jake tem razão. Fiquei tão feliz quando a Phoebe aceitou namorar comigo que acabei esquecendo do resto do mundo. Estava em minha própria bolha de felicidade e acabei sendo egoísta sem perceber, deixando meus amigos de lado. Me sinto mal pela Bonnie e fico com raiva de mim mesmo por não ter percebido isso antes. Agi como um péssimo amigo e uma péssima pessoa. Troquei os passeios que costumava fazer com a Bonnie, para passar as tardes com a Phoebe, e até mesmo a substituí como minha parceira de trabalhos.

Ela deve estar ressentida comigo e com razão!

Em vez de ficar remoendo essa situação, preciso encontrar uma solução.

— Isso! — Bati meu punho na palma da mão.

— O que? — perguntou Jake.

— Tenho que consertar as coisas com a Bonnie. Não posso ser um idiota para sempre — expliquei.

— Hmm... e o que você pretende fazer?

— Como prometeu, vai me ajudar a preparar uma surpresa para a Phoebe hoje à tarde, mas também preciso de ajuda para me retratar com a Bonnie. Acho que vou precisar da sua ajuda em... duas surpresas!

— Nunca vi alguém que gosta tanto de abusar da minha boa vontade quanto você — Ele observou e demos risadas.

Depois do intervalo, retornamos para a classe e tivemos mais algumas aulas, infelizmente todas eram chatas e monótonas. Mal conseguia prestar atenção ao conteúdo, pois a maior parte do tempo eu estava pensando em como iria me desculpar com a Bonnie.

No finzinho da tarde, as aulas terminaram e estávamos todos exaustos depois de praticamente fazer uma lista de cálculos de física. Estava com fome e ansioso para ir embora para comer alguma coisa.

Antes de sair, me despedi da Phoebe e tentei não deixar muito óbvio que estava preparando algo especial para ela.

Jake e eu voltamos o caminho todo para casa comentando sobre o último episódio de American Horror Story, entramos num consenso de que não gostamos tanto assim do episódio, mas estávamos ansiosos pela oitava temporada.

— Nossa, estou morrendo de fome! — disse Jake. Assim que abriu a porta, deixou sua mochila em qualquer lugar e foi direto para a cozinha. — Está a fim de comer uns sanduíches? — perguntou, abrindo a geladeira.

— Pode ser — respondi, pegando uma garrafa de Coca-Cola e um pote de sorvete. — Então, o que eu faço para a Phoebe?

— Já pensou em levá-la em algum lugar? — sugeriu.

— Que tipo de lugar?

— Hmm... um lugar místico ou radical. Já pensou em levá-la ao jogo de boliche ou algo assim? — Olhei para ele como se ele fosse um ET.

— Jake... ela é a Phoebe, não uma jogadora das Olimpíadas — eu ri.

— Ah, então leva ela em algum lugar mais reservado.

Pensei um pouco.

— A Phoebe gosta de cozinhar, lutar, dançar... Ah! Fogos de artifício! Ela adora fogos de artifício e tem um local perto da prefeitura que faz uma exibição todo primeiro domingo do mês. Acho que ela vai gostar. É uma boa surpresa. O que você acha? — exaltei animado.

— Bom, não posso afirmar 100%, mas se ela gosta de fogos de artifício, então é uma ótima pedida. Tem tudo para dar certo.

— Valeu, maninho, você é demais! — afirmei, relaxando no sofá. Seria impossível ela não gostar, até mesmo a Bonnie adoraria. — Legal! Já decidi, agora falta preparar a surpresa para a Bonnie.

Jake me olhou com um sorriso ladinho. Conversamos até dar o horário dele começar a se arrumar para o treino.

Enquanto ele estava no banho, aproveitei para ligar para Phoebe. Ela não demorou muito para atender.

— Boa noite, minha princesa, como você está? — perguntei animado.

— Oi amor, estou bem e você? — Ela respondeu carinhosamente.

— Estou ótimo, obrigado por perguntar! Na verdade, eu liguei porque tenho uma surpresa para você! Vamos sair no sábado à noite, mas quero que você adivinhe para onde eu vou te levar.

— Sério? Adoro surpresas! Me dê algumas dicas. — Ela respondeu, empolgada.

— Bem, o lugar é super romântico e tem uma vista incrível. — disse, mantendo a emoção no ar.

— Hmm, me deixa pensar... Será que é aquele restaurante chique que inaugurou no topo do prédio?

— É um bom palpite, mas não é esse. Tente chutar um lugar mais em conta. — brinquei, apreciando a dedicação dela.

— Então, pode ser aquela montanha onde se pode ver a cidade inteira? — Ela chutou outra vez.

— Ainda não é a montanha, mas você está no caminho certo. O lugar fica em um ponto alto da cidade. — Estava animado com a empolgação dela. — Não poderia te dar mais dicas, senão fica fácil demais. Mas vou abrir uma brecha pra você...

— Anda, fala.

— É um lugar especial que fomos no último 4 de julho e você amou.

— Ah, agora eu entendi. Você vai me levar para ver a queima de fogos na prefeitura, não é?

— Isso mesmo, meu amor! Eu queria que fosse uma surpresa, mas você é muito esperta. — ri.

— Eu adoro queima de fogos, mas pensei que seria algo diferente, sabe? Algo mais... inesperado. — Phoebe disse, tentando não parecer decepcionada.

— Entendo, mas prometo que será incrível! Vamos jantar em um restaurante delicioso e depois vamos pra prefeitura ver a queima de fogos. Vai ser mágico! — Tentei animá-la.

— O tal jantar delicioso vai ser no restaurante dos seus pais?

— Isso mesmo, algum problema pra você? — Franzi os cenhos, preocupado.

— Nenhum é só que... você sempre me leva para comer no restaurante da sua família e já comi tantas vezes aquele macarrão ao molho branco que... — explicou, parecendo um pouco entediada.

— Se enjoou?

— Caiu na rotina. — confessou.

— Entendo. Mas, ainda assim, vamos ter um encontro especial e divertido. Você confia em mim, não é?

— Confio, só que...

Esperei que ela continuasse.

— Deixa quieto. — Ela continuou. — Vai ser ótimo!

Mesmo sem ver o rosto dela, a imaginei forçando um sorriso. A ouvi respirar antes de dizer:

— Durma bem — E desligou.

Fiquei um pouco preocupado com a reação da Phoebe, porém tentei não me abalar. Invés disso, me concentrei em planejar tudo com muito carinho, afinal queria que fosse especial para nós dois.

No dia seguinte, fui até o restaurante dos meus pais para escolher o cardápio do jantar. Como queria que tudo fosse perfeito, experimentei cada prato e escolhi as melhores bebidas para acompanhar.

Dois dias depois, no sábado, enquanto me arrumava para o grande momento, fracassei miseravelmente em dar o nó na gravata e com isso me lembrei de uma apresentação de teatro na oitava série, em que Bonnie veio ao meu camarim para me acalmar, com suas doces palavras, e ajeitar minha gravata. A memória dela parecia tão viva que quase pude sentir seu perfume de chiclete novamente. Corei.

Encarei o espelho por algum tempo antes de ver que estava atrasado.

Quando finalmente cheguei para buscar Phoebe, ela estava deslumbrante em um vestido vermelho que realçava seus olhos ônix. Eu a elogiei e a beijei, sentindo meu coração acelerar.

Chegando ao restaurante, fomos recebidos com um sorriso caloroso pelos meus pais, que haviam preparado tudo com muito apreço. Ainda que Phoebe tenha feito uma careta ao ver a lasanha ao molho branco, não quis iniciar uma discussão. Durante o jantar, conversamos sobre vários assuntos, mas Phoebe parecia inquieta e agitada, como se estivesse prestes a dizer que não podia mais continuar com tudo aquilo.

Depois do jantar, caminhamos lado a lado pela rua escura e silenciosa. A noite estava fresca e o céu estava limpo, sem nuvens à vista. Nos dirigimos ao parque, que ficava do lado da prefeitura, onde a exposição de fogos de artifício estava programada para começar em breve. Phoebe não parecia estar tão animada, mais quieta do que o normal.

À medida que nos aproximávamos do local, os sons de música festiva e risadas enchiam nossos ouvidos. As pessoas se aglomeravam em torno do lago central do parque, onde as luzes coloridas dos fogos de artifício podiam ser vistas ao longe.

Sentamos juntos em uma colina próxima ao lago, abraçados com ternura.

As explosões foram acompanhadas por música, criando um espetáculo completo de luz e som, explodindo em desenhos coloridos no céu, ouvindo os sussurros da multidão encantada.

Phoebe se aconchegou nos meus braços e segurou minha mão. Mas ao invés de sentir uma onda de felicidade e amor invadir meu coração, que nem era no início do namoro, eu... não senti nada.