O Garoto da Calça Rasgada escrita por Biax


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas!

Enquete: O que estão achando da personalidade desses dois? Eu quis inverter o jeito deles. Quem diria, hein? Nathaniel sendo o rebelde e o Castiel o "certinho" shausuahs

Espero que estejam gostando! Boa leitura!



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Daquela vez, Dragon não estranhou a presença de Nathaniel e até chegou perto para cheirá-lo ao mesmo tempo em que o garoto travava no lugar sem nem respirar. Meu cão fez sua inspeção, e então começou a abanar o rabo. Nathaniel passou pela revista e sentiu-se confortável para brincar com ele enquanto eu fazia um lanche para nós, cada vez mais impaciente por sua enrolação, entretanto, sem demonstrar nada.

Levamos as coisas para a sala, liguei a televisão em um canal qualquer, para ter um som de fundo, e usamos a mesa de centro como apoio. Colocamos nossos materiais sobre ela, com Nathaniel cantarolando baixinho ainda com o mesmo ânimo de quem sabia um segredo incrível, e peguei minha lapiseira.

— Dá pra falar logo? — resmunguei, e ele riu.

— Tá... Vê se não tem um treco, tá? — Ele se ajeitou ao meu lado, no chão, e suspirou dramaticamente. — Eu vi... suas amigas se pegando.

Ele só podia estar de brincadeira que era aquilo...

— Gabrielly e Priya? — perguntei, desinteressado, apesar de ter ficado levemente surpreso, já que Gabrielly estava nervosa. Talvez fosse pelos motivos que eu não imaginei.

— É... — Nathaniel pareceu decepcionado com a minha reação. — Você não tá chocado?

— Deveria estar? — perguntei, levemente irônico, começando a fazer as contas.

— Você disse que gostava dela.

— Eu nunca disse isso —retruquei.

— Você tinha ficado vermelho quando eu perguntei, então tomei como um sim.

— Por isso nunca devemos considerar o silêncio de alguém.

— Fala sério. — Ele deu um leve empurrão em meu ombro. — Não gostava mesmo?

Suspirei, sabendo que ele não deixaria quieto.

— Eu tinha uma paixonite por ela.

— Então não ficou chateado por ela pegar sua outra amiga?

— Não, esqueci isso faz um tempo.

— E de quem você tá gostando agora? — indagou, curioso.

Dei uma olhada para ele, ponderando sobre aquilo, e voltei a encarar meu caderno antes que minhas bochechas me entregassem.

— Ninguém — falei, dando de ombros, tentando ser o mais despreocupado possível.

— Ninguém? Que chato.

— E você? — perguntei, querendo saber a resposta para tentar brincar com algo.

— Não, ninguém.

— Achei que você estivesse saindo com alguém, já que até um tempo atrás vivia com o celular na cara.

Assim que soltei aquilo, percebi que eu podia ter me entregado. Em contrapartida, não tinha nada demais. Não era muita gente que estava sempre digitando no celular, então algo assim chamava atenção, certo? Sorte que eu não falei nada sobre as vezes em que ele saía da aula praticamente correndo.

— E o que aconteceu?

— Ah, eu cansei... Era sempre a mesma coisa. Eu não gosto de coisas previsíveis.

Só naquele momento é que Nathaniel começou sua própria atividade, e eu parei a minha para prestar na rapidez na qual ele escrevia. Eram contas enormes, mas ele as fazia rapidamente, enquanto eu ainda estava na segunda.

— Que foi? — perguntou ele, parando para me encarar.

— Nada. Acho que você não estava mentindo quando disse que era bom em contas.

— Eu falei que era... Você tá com dúvida em alguma?

— Não, tô bem... Eu estava me perguntando uma coisa.

— O quê?

— Se você é bom em matemática, significa que estuda, então por que você tem que fazer reforço?

Nathaniel me observou por alguns segundos e voltou a escrever.

— Por que eu tenho preguiça.

— Sério?

— Sim.

Aquela hesitação só podia significar que não era apenas preguiça. Fiquei pensando nas possibilidades, mas resolvi não perguntar mais. Ele devia ter seus motivos para não falar, e eu não queria forçá-lo a nada.

Continuei a fazer minhas contas, e na terceira parei de novo, dessa vez para reparar em como os fios de Nathaniel caíram sobre seu rosto. Ele estava todo debruçado na mesinha, escrevendo em seu caderno, concentrado, acompanhando o movimento da própria mão enquanto escrevia. Notei também pequenos arranhões em seu braço direito e alguns hematomas levemente amarelados. Sua camiseta, como sempre, estava um pouco amassada, e havia aquele rasgo na calça jeans que deixava sua pele à mostra. Parecia ser tão macia que pensei em tocá-la, mas percebi a tempo e recuei a mão de volta para o meu colo.

— Você tá bem? — indagou Nathaniel, me fazendo ficar tenso.

— Minha atenção não tá das melhores hoje — inventei, mantendo o olhar no caderno, morrendo de vergonha por ele ter percebido o movimento.

— Hmm... O que podemos fazer pra você se concentrar? — ponderou, olhando ao redor. — Talvez o barulho ta televisão esteja atrapalhando... — Ele pegou o controle em cima do sofá e desligou o aparelho. — Pronto, tenta de novo.

Quilo não ajudou em nada, agora eu acabava prestando atenção em sua respiração, nos barulhos que sua lapiseira fazia ao riscar o papel ou qualquer som que surgisse. Pelo menos consegui me segurar para não olhá-lo, ou em algum momento ele perceberia, e aí eu não saberia onde enfiar a cara.

Eu precisava tentar focar no meu dever. Talvez uma lavada no rosto ajudasse.

— Eu já venho — anunciei, me levantando.

Nathaniel concordou silenciosamente, e eu fui até o banheiro. Usei o vaso sanitário, dei descarga e lavei as mãos enquanto encarava meu reflexo no espelho, notando meu rosto levemente corado. Era estranho perceber que todo aquele nervosismo era por causa do garoto loiro, até porque minhas paixonites nunca voltavam. Notar que aquela estava ali, de volta, fez meu coração acelerar.

Ouvi alguns toques na porta.

— Tá tudo bem? — perguntou Nathaniel, no corredor.

— Eu não posso nem mijar em paz? — brinquei, e ele riu.

— Ah, foi mal. Eu achei que você tava passando mal de tanta conta que ainda tem pra fazer.

— Nem me lembre disso — suspirei, apagando a luz e saindo do banheiro.

Nathaniel e eu voltamos para a sala ao mesmo tempo. Ao me sentar e pegar meu caderno, notei números muito mais bonitos do que eu costumava fazer. Dei uma espiada para Nathaniel, que fingia estar concentrado em uma conta. Suas sobrancelhas estavam levemente erguidas, o que o entregava completamente.

— Eu não preciso da sua ajuda — imitei o tom que ele usara naquele dia do parque.

Ele soltou uma gargalhada.

— Que imitação mais bosta.

— Desculpa aí, eu sempre falto nas aulas de teatro.

— Faz logo essas contas, você tá me dando nos nervos.

Concordei com ele, pois eu também estava me dando nos nervos. Respirei fundo e tentei me concentrar ali.

***

No dia seguinte, Gabrielly me contou, com empolgação, como foi o acontecimento com Priya. Em partes, ela não queria admitir para si mesma que sentia interesse pela última integrante do grupo, mas quando Priya confessou seus sentimentos, ela percebeu e confirmou que sentia o mesmo. Fiquei feliz por elas.

Nathaniel resolveu voltar à minha casa após a aula de sexta-feira com a desculpa de que eu precisava de ajuda com as lições. Eu até admitiria que realmente precisava, mas não queria que ele ficasse se achando, e muito menos falaria que eu gostava de sua companhia.

Apesar das distrações, eu estava animado com a folga dos meus pais. Depois de algumas semanas, eles poderiam voltar e passar o fim de semana em casa.

Naquele dia, Nathaniel ficou para o jantar e foi embora tarde da noite. Era como se ele quisesse passar o máximo de tempo longe de casa, mas eu não perguntei. Como ele nunca falou nada sobre sua família, achei invasivo demais perguntar.

No sábado, acordei animado. Meus pais chegariam de madrugada, então eu não pretendia dormir. Me ocupei em limpar a casa, ajeitar as bagunças e deixar um lanche pronto, para caso eles quisessem comer antes de dormir. Certamente estariam cansados.

Mais ou menos às dez horas da noite, o telefone tocou, e eu corri para atender. Só pela voz de minha mãe eu percebi que algo tinha dado errado, e eu estava certo. Houve algum imprevisto e os dois não poderiam voltar naquele fim de semana, somente no próximo. Ela pediu desculpas, e eu me esforcei em dizer que estava tudo bem, que eles não tinham culpa.

Desliguei a chamada com desânimo, e me arrastei para o banheiro para tomar uma ducha rápida. Fui diretamente para a cama, onde Dragon já estava dormindo, e fechei os olhos, sentindo um peso no peito. Demorei a pegar no sono e, quando peguei, a campainha tocou, me fazendo sentar no susto com o coração acelerado. Dragon levantou e correu para fora.

Automaticamente pensei que meus pais conseguiram folgar, porém, eles não tocariam a campainha, já que os dois tinham as cópias das chaves. Enquanto eu devaneava, mais uma vez tocaram a campainha.

Me arrastei para fora da cama e desci, acendendo as luzes pelo caminho. Destranquei a porta e tentei enxergar quem estava atrás dos portões de grade, conseguindo ver apenas uma figura parada ali. Lembrei de acender a luz de fora, e assim o fiz. Graças a ela, apesar de fraca, consegui ver que era Nathaniel, segurando as alças de sua mochila em frente aos ombros.

— O que você tá fazendo aqui essa hora? — indaguei, sonolento, abrindo o portão.

Nathaniel passou por mim sem falar nada e entrou. Estranhando aquilo, me apressei em trancar o portão de volta e corri para dentro, encontrando o garoto sentado no sofá, curvado para frente e escondendo o rosto com as mãos. Me sentei ao seu lado, começando a me preocupar.

— O que aconteceu? — Ele não respondeu. — Nathaniel?

Como não houve resposta, toquei sem ombro, o empurrando de leve, e ele se endireitou, me olhando diretamente. Observei, chocado, seu olho esquerdo com um hematoma, algumas manchinhas roxas em seu rosto, e novamente, aquele lábio inferior cortado com sangue seco.

Ele não estava como na última vez, no evento do parque. Nathaniel parecia desolado, completamente perdido.

— O que aconteceu com você...? — perguntei baixinho, sentindo minha voz falhar.


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Notas finais do capítulo

Já conseguem imaginar o que aconteceu com o Nath? ~suspense~

Obrigada por estarem acompanhando! Até o próximo :*



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