O Garoto da Calça Rasgada escrita por Biax


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Eu não ia postar hoje, mas postei porque sim.

Prevejo tretas *cara de má* BUT serão tretas que virão para o bem :B

Boa leitura!

P.S: Cometi um erro, do capítulo nove, pulei para o capítulo 11 - cabeçona - Então só arrumei. O cap. 11 virou 10, e esse, virou 11. Obrigada pela atenção u.u



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Depois de sofrer, me acalmar e sofrer mais um pouco, e ser encarado por um Nathaniel que tinha terminado a prova antes de todo mundo, consegui terminar. Não fui o último, mas também não fui o segundo.

Nathaniel foi para fora me esperar, e eu corri para entregar minha folha e guardar meu material. Saí, fechando a porta atrás de mim com uma força desnecessária, e corremos para fora da escola como se lêssemos a mente um do outro. Agora era a minha vez de deixar Nathaniel cheio de curiosidade.

— Fala logo qual sua ideia do século — soltou ele, ansiosamente.

Começamos a andar e eu sabia que não ia conseguir segurar a língua até em casa.

— Eu nunca expliquei direito, mas eu sou emancipado dos meus pais. Eu sou responsável por tudo, reuniões escolares, assinatura de faltas, essas coisas. E, como tecnicamente moro sozinho, cuido de tudo em casa. De tudo não, mas grande parte. Então, por lei, meus pais me sustentam. Eu tenho uma conta bancária, onde eles depositam dinheiro para eu pagar contas, comprar comida e tal... — O rosto dele começou a se iluminar, e eu sorri. — Entendeu onde quero chegar?

— Eu posso me emancipar dos meus pais e eles vão continuar me sustentando — concluiu, maravilhado. — Eu posso morar em outro lugar!

— Sim. Eu só não pensei em como você vai convencer seu pai a aceitar isso, mas...

— Convencer? — perguntou, incrédulo. — Eu vou ameaçar ele.

— Quê?!

— Calma, não no sentido de morte. — Ele olhou para a rua, parecendo surpreso consigo mesmo. — Eu digo que, se ele não aceitar, eu vou denunciar ele pra polícia. Ele estaria perdido se fosse preso... Ia perder o emprego e sua pose de “chefe de família” e não teria outra alternativa a não ser aceitar...

Comecei a sorrir, feliz por finalmente ter tido uma boa ideia, e ainda mais por Nathaniel ter aceitado com tão bom gosto.

Nathaniel se virou para mim, abrindo o sorriso mais feliz do mundo, e pulou em mim, me dando um abraço de urso no meio da calçada. Me recusei a pensar nas pessoas que estavam vendo a cena e apenas o abracei de volta, sentindo seu cheiro bom, por mais que fossem os aromas que eu já estava acostumado. Era completamente diferente vindo dele.

Assim que me soltou, Nathaniel segurou meu rosto com as duas mãos, muito próximo. Meu coração acelerou de uma forma absurda.

— Você é incrível, sabia? Vou te dar um crédito.

— E eu faço o que com isso? — brinquei, com um pouquinho de sarcasmo, tentando quebrar o gelo que minhas bochechas causavam.

Ele deu risada, ainda com resquícios de seu relaxamento do fim de semana longe dos problemas, e bagunçou meu cabelo. Desviei dele, também rindo, e tentei ajeitar os fios enquanto voltávamos a andar.

— Vai falar com seu pai quando?

— Hoje mesmo. Quanto antes resolver isso, melhor.

Paramos no meio do caminho onde nossos trajetos mudavam de direção.

— Me mantenha informado, tá? — pedi.

— Pode deixar. — Nathaniel virou, prestes a andar, mas me olhou de novo. — Obrigado de novo, por tudo.

Sorri, batendo uma continência rápida, e fui para casa.

Eu estava prestes a ter um ataque. Não tive notícias de Nathaniel, e nem a presença do próprio. Nem mensagem, nem ligação, nem sinal de fumaça. Já era quarta-feira, e nem Armin ou Kentin tinham notícias, apesar de também estarem preocupados. Sempre que tentávamos ligar no número de celular de Nathaniel, caía sempre na maldita caixa postal.

Eu não sabia onde ele morava. Possíveis razões por seu sumiço passavam por minha cabeça, principalmente envolvendo seu pai. E se ele foi preso em casa? E se o pai bateu tanto em Nathaniel que... Não. Não tem como. Uma coisa dessas já teria saído no jornal...

Passei mais um dia aflito, me sentindo solitário na aula de recuperação. A única coisa que me animou foi saber que eu tirei uma nota oito na prova. Nathaniel tirou dez, algo que já era esperado.

Antes de ir embora, guardei nossas provas, esperando conseguir entregar a dele o mais rápido possível, e voltei para casa, cabisbaixo. Já estava escuro quando cheguei em casa e enquanto trancava o portão após entrar, já conseguia ouvir Dragon saltitando perto da porta.

— BU!

Algo segurou minha perna e, pelo susto, me afastei e acabei caindo de costas no chão. Nem tive tempo de soltar nada. Por sorte, a mochila recebeu o impacto.

— Nossa, nem foi tão assustador assim...

Reconheci a figura escura parada ali, apesar de estar completamente escuro, e levantei rapidamente.

— Seu...!

— Eu sei, eu sumi e blá, blá, blá. Me desculpe. Eu não consegui ir pra aula.

— Por que não?! Tem noção de como eu fiquei preocupado? Achei que seu pai tinha te batido tanto que teve que esconder seu corpo!

— Que exagero. — Nathaniel começou a rir. — Vai, entra. Vou te contar tudo.

Abri a porta, cumprimentando Dragon, e Nathaniel foi na frente. Acendi algumas luzes ao longo do caminho até meu quarto e encontrei o convidado enxerido já deitado na minha cama, com os braços atrás da cabeça, como se estivesse de férias.

Minha raiva momentânea pelo susto passou completamente, e eu só consegui sentir alívio por ver ele ali, aparentemente se sentindo muito bem.

Me sentei na cabeceira da cama, cruzando as pernas, e Dragon deitou na minha frente, deixando a cabeça em meu colo para receber um pouco de carinho, e assim o fiz.

— Vou começar dizendo que sou um ótimo ator — comentou Nathaniel, com um sorriso orgulhoso. — Você tinha que ter visto a cena que eu fiz na mesa de jantar, na frente de todo mundo.

— Cena?

— Sim. Quando cheguei em casa, na segunda, minha família estava jantando. Eu me sentei na mesa, sendo fuzilado pelo meu pai, que ignorei, enchi meu prato e comecei a comer. É claro que ele não aguentou e me xingou ao modo dele. Continuei ignorando, e quando estava terminando, falei que queria me emancipar deles.

— E o que falaram?

— Minha mãe me olhou horrorizada, mas meu pai riu. Ele disse “e quem vai me obrigar a assinar alguma coisa?”. Então, com toda a calma do mundo, fiquei de pé do lado da cadeira e tirei a camiseta. Eu falei “talvez a polícia, tenho provas muito boas contra você”. Minha irmã ficou em choque e começou a perguntar por que eu tinha tantos machucados, e eu simplesmente joguei na cara dela que, enquanto ela ganhava tudo o que queria, eu apanhava por não usar um guardanapo direito. Bom, ela começou a chorar.

— E sua mãe?

— Ela colocou a mão no rosto, acho que não acreditando, provavelmente tentando se fingir sendo que ela sabia de tudo... Enfim. A cara enrugada do meu pai ficou vermelha e ele gritou “você está me ameaçando?!”. E eu falei “você ainda pergunta? Não é óbvio?”. Foi a gota d’água. Ele levantou e foi pra cima de mim. Me pegou pelo pescoço, e enquanto minha irmã tentava puxar ele, ele levantou a mão em punho, prestes a me dar um soco no rosto.

Arregalei os olhos, tentando imaginar tudo aquilo.

— E o que você fez?

— Eu falei “isso, bate mesmo. Essa só vai ser mais uma prova pra sua nova vida de presidiário”. Confesso que fiquei orgulhoso dessa frase. — Ele começou a rir.

Revirei os olhos, ainda sem entender como ele conseguia fazer piadas em momentos ruins como aquele.

— E depois?

— Ele continuou com a mão no ar, mas depois me soltou, me encarando enfurecido. E aí eu falei que queria me emancipar e que queria ir atrás da papelada no dia seguinte. E se ele não aceitasse, eu ia pra delegacia mais próxima no mesmo instante. Aí ele saiu da sala, mas não antes de tacar meu celular na parede. Minha mãe seguiu ele, e minha irmã se acabou de chorar no chão. E eu fui pro meu quarto.

— Ele aceitou?

— Ele não tinha escolha. No outro dia, eu acordei cedo e já fiquei arrumado, com todos os meus documentos na mochila. Então fomos a família feliz até o cartório, de carro. Os papeis ficaram prontos na hora. Voltamos pra casa e deixei meu pai cuidar do resto. Tudo o que eu precisava saber, ele falava com a minha mãe e ela me falava. Esses dias eu estava ocupado indo e voltando com as minhas coisas pro meu novo apartamento.

— Então você já tá morando lá? — perguntei, surpreso.

— Sim. Ainda não tá terminado, ainda falta alguns eletrodomésticos e coisas de casa. Panelas, pratos, essas coisas, mas preferi me mudar mesmo assim... Agora você me desculpa por ter sumido? Meu celular virou pó, por isso não consegui avisar.

Suspirei, processando tudo aquilo.

— Tudo bem. Você passou por muita coisa, merece um crédito também.

— Isso não teria acontecido se não tivesse te conhecido. Olha quanta dor de cabeça você me causou — brincou, abrindo um sorriso contente.

— Ah, sinto muito... Na verdade, não sinto não. Fiz tudo de propósito. Você tinha que receber uma lição por ser tão rebelde.

Nathaniel soltou uma gargalhada. Foi a risada mais leve que eu já ouvi vindo dele, e eu me senti mais leve, por ele.

— Ei, você não vai fazer o jantar não?

— Eu tenho cara de cozinheiro, por acaso?

— Hm... Pior que tem.

Bufei, fingindo irritação, e fui para a cozinha, e tanto ele quanto Dragon me seguiram. Deixei a ração do meu cão em seu pote e comecei a cozinhar.

A cozinha virou uma bagunça, e eu acho que foi a primeira vez que vi Nathaniel tão relaxado e brincalhão. Nós jantamos entre conversas e risadas, e ele me ajudou com louça. Como ele ainda tinha muito o que arrumar no novo apartamento, não quis ficar, mas prometeu que iria para a escola no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Nathaniel é ator também, olha só! É um lindo meixmo :3



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