POV Riley

Farkle foi o primeiro a ir embora. Ele tinha concluido o trabalho sozinho rapidamente e foi sem se despedir direito. Lucas e Zay estavam no sofá em silêncio, a cara do Lucas estava fechada e Zay revirava os olhos. Me levantei na intensão de falar com eles.

Maya e Malia conversavam sobre a matéria que Malia comentou que estava fazendo na faculdade. Scott estava com Liam e Stiles na cozinha.

— Riles. - Scott me chamou.

Maya se virou rapidamente e o fuzilou com os olhos, Lucas também parou e encarou a cena.

— Riles? - Ela perguntou.

— Algum problema? - Scott perguntou.

— Por que chamou ela assim? - Ela se levantou ainda o encarando.

— Stiles. Riles. Pareceu apropriado.

— Só EU chamo ela de Riles. - Maya disse autoritária sentando-se irritada.

Scott riu.

— Desculpa. - Ele foi sincero. - Eu não vou chamá-la assim.

Ri da situação, ignorei a cara fechada do meu namorado e fui até eles que estavam sentados na mesa da cozinha.

— Seus amigos vão ficar aqui por muito tempo? - Scott perguntou.

— Seus pais deixam você sair de noite? - Liam perguntou antes que eu pudesse responder a outra pergunta.

— Eu não sei se vão ficar. Nem se meus pais vão implicar se eu quiser sair. - Respondi. - O que vocês têm em mente?

— A gente precisava te ensinar um pouco sobre o transtorno do Liam. - Scott falou levantando o olhar.

Ele estava olhando para o Lucas que estava atrás de mim. Entendi que ele estava fazendo referência a outra coisa.

— Vocês acham que ele pode ter algum ataque? - Questionei tensa. Eu não estava preparada para encarar a outra face do Liam, uma face similar àquela que atacara o Mason, uma face que eu tinha baleado, uma face não humana.

— Relaxa. - Liam respondeu. - Eles só querem ter certeza que você saiba lidar com qualquer situação.

— Não seria melhor que participe dessa aula, todos nós que vamos conviver com ele? - Lucas questionou retoricamente em tom irônico.

— Eu acho que seria melhor não deixar ele numa situação que cause uma crise desnecessária. - Scott respondeu firme de modo protetor.

— Eu acho melhor não deixar a Riley perto de alguém com tendências agressivas. - Lucas zombou.

— Pois eu acho que seria melhor você se referir a mim quando quiser falar de mim. Especialmente se eu estou presente. - Liam se levantou e virou pra ele. - Quer falar alguma coisa? Fala pra mim!

Liam estava tenso, instintivamente toquei suas mãos trémulas. Entendi porque eu precisava aprender sobre "o transtorno" e assenti com a cabeça encarando meu irmão.

Liam suspirou irritado e saiu pisando firme. Virei para Scott que se levantou rapidamente e foi atrás do beta.

Maya apenas encarava a cena em silêncio. Malai se levantou e foi atrás do namorado.

— Janela. - Falei encarando Lucas levemente irritada, mas tentando não transparecer.

Maya encarou o celular por um minuto.

— O Shawn chegou pra me buscar. - Ela declarou, cumprimentou Zay que estava perto dela jogado no sofá apenas observando. Ela me lançou um beijo e saiu jogando a mochila no ombro.

Zay me encarou e se levantou.

— Eu também vou embora. - Ele pegou a mochila acenou para o Stiles e para o Lucas. - Falou!

Lucas também pegou a mochila e se encaminhou para o meu quarto, suspirei tensa tentando decifrar o olhar do meu irmão.

Segui meu namorado até o quarto.

— O que está acontecendo? - Perguntei fechado a porta atrás de mim.

— Do que você está falando? - Ele perguntou encarando os pés se sentando no banco da janela.

— O que é que está errado com você? - Aumentei o tom. - Você está agindo diferente e você sabe disso!

— Você também... - Ele se levantou. - Parece que a gente está crescendo.

O encarei em silêncio. Lembrei de conversar com Scott e Stiles sobre como eu tinha dúvidas quanto ao meu relacionamento com o Lucas e respirei profundamente pra segurar as lágrimas que queriam cair.

— Você não me apoiou, Lucas. Muito pelo contrário, você tratou mal o meu irmão. Você está tratando mal os meus amigos.

— Seus amigos? - Ele quase gritou. - Desde quando esses são os seus amigos?

Eu me calei. Sabia que se eu me atrevesse a responder, falaria algo que talvez não tivesse volta.

— A minha namorada era a nossa amiga. Era aluna assídua. - Ele abaixou o tom começando a se acalmar. - Riley, a um tempo atrás você não pararia até consertar o problema do Farkle e da Smackle. Você não faltaria por uma viagem. Você não estaria brigando comigo por um mal-entendido, ao invés de estar com a sua melhor amiga para saber porque ela faltou. Riley, você... - O interrompi.

— Lucas, eu conversei com o Farkle e a Smackle e ao contrário do que você está achando, eu sei o que está acontecendo e sei que não dá pra resolver isso de uma hora pra outra. Eu estou tentando ajudar. Eu conversei com a Maya e sei porque ela faltou. E eu faltei pra conhecer o MEU PAI, Lucas, essas pessoas são a MINHA FAMÍLIA. E você não dá a mínima! Todos os nossos amigos estão me apoiando, querendo conhecer essa parte de mim, só você não se importa. Você só vê o seu lado! - Minha voz aumentava enquanto eu desabafava tudo o que estava na minha cabeça, gritei:

— Você não confia em mim! - Já estava em lágrimas.

— Riley. - Ele diminuiu o tom, me chamou num sussurro, agora eu podia notar dó em sua voz, ele se aproximou e seu rosto estampava culpa. E isso só me irritou mais.

Ele tentou tocar meu rosto para enxugar as lágrimas teimosas que insistiam em cair.

— Não. - Sussurrei me afastando de seu toque. - Você não se importa, Lucas.

O silêncio pairou.

— E você nunca gostou de mim do mesmo jeito que eu gostava de você. - Completei.

— Gostava? - Ele repetiu em tom de dúvida tentando me encarar, mas fixei meu olhar nos pés da cama. - Você está terminando comigo por causa dessa besteira? - Ele perguntou.

— Não é besteira, Lucas! - Gritei acidentalmente, em seguida abaixei a voz. - Os meus sentimentos não são uma besteira. Querer o apoio do meu namorado, não é besteira. Saber que você tem sentimentos pela minha melhor amiga, Lucas, não é besteira!

Ele se calou.

— Você não vai falar nada? - Perguntei lembrando da minha mãe falando: "Quem cala, consente!". Ele manteve-se calado. - Você não se importa nem em dizer que eu estou certa.

— Mas você não está! - Ele rebateu.

— Então me diz, Lucas. Me fala alguma coisa. Qualquer coisa. - Me aproximei dele. - Fala que eu estou errada. Que a gente tem que ficar junto. Que você gosta de mim.

Ele pegou a mochila encarando o chão, a colocou nas costas e saiu pela janela. Sentei na minha cama e chorei escutando seus passos na escada de incêndio.

POV Lucas

Desci as escadas num misto de raiva e choque. Por que eu não disse nada?

Minha namorada estava em lágrimas dizendo que sentia que eu não me importava, que eu não confiava nela e pior, que eu tinha sentimentos pela melhor amiga dela, e eu não disse nada. Por que eu não disse nada?

Sequei uma lágrima solitária que caiu enquanto descia as escadas correndo.

Nós tínhamos terminado? Apenas estávamos brigados? Ainda conversaríamos sobre isso? E se conversássemos, eu conseguiria responder?

Bati as mãos na cabeça algumas vezes me amaldiçoando por não conseguir dizer nada.

Vi Scott e Liam entrando no prédio antes de eu chegar ao fim da escada. Senti o impulso de voltar.

Mas por que eu faria isso? Como explicaria pra ela que eu estava com ciúme depois de não dizer nada? Eu estaria só mostrando que eu estou cobrando algo que eu não posso dar a ela, que eu não estou confiando nela.

Fui contra meu impulso e continuei descendo as escadas.

Fui pra casa correndo. Não fui ao metrô, nem de taxi. Correr me fazia pensar. E eu precisava pensar. A cada passo aquela cena se repetia na minha cabeça.

"Saber que você tem sentimentos pela minha melhor amiga, Lucas, não é besteira!" - Por algum tempo achei que esse problema não existisse mais. Que a renúncia de Maya acabaria com essa possibilidade.

Imaginei que Riley simplesmente assumiu que eu, assim como Maya, só havia confundido nossa amizade por um tempinho. Mas eu nunca falei sobre isso. Talvez por medo de admitir o que eu sinto.

POV Stiles

Escutei a porta bater, depois suas vozes abafadas pela porta fechada, identifiquei algumas palavras gritadas, mas não prestei atenção. Eu não queria ouvir. Não queria invadir a privacidade da minha irmã.

— Não é besteira, Lucas! - Ouvi seu grito. Mais algumas coisas foram ditas, mas me afastei do cômodo para não ouvir.

Depois escutei a janela se fechando e concluí que Lucas tinha ido embora.

Logo em seguida, Scott e Liam voltaram ao apartamento. O beta agora mais calmo.

— Eles brigaram. - Comentei baixinho.

— Foi feio? - Scott perguntou.

Enruguei a testa sem saber como responder.

— Você não foi lá? - Liam se surpreendeu.

Neguei com a cabeça sem entender porque essa alternativa parecia tão óbvia.

— Cara, sua irmã brigou com o primeiro namorado. A primeira briga de verdade. - Scott disse. A expressão de Liam praticamente me chamava de lerdo enquanto ambos esperavam pela minha reação.

— Eu não deveria dar espaço pra ela? - Perguntei ainda receoso.

— Você deveria mostrar apoio. - Scott respondeu.

— Por essas e outras que o Scott é o melhor pai... - Liam balbuciou enquanto eu me afastava.

Levantei o dedo do meio e o mostrei entrando no corredor que levava ao quarto da Riley.

Ela estava sentada na cama, chorando. Andei até ela, me ajoelhei no chão para ficar com o rosto um pouco mais baixo que o dela e a encarei.

— Ele não negou. - Ela disse entre lágrimas e soluços. - Ele não disse que eu estava errada.

A abracei, ela me apertou no abraço enquanto chorava. Senti meu ombro molhado por suas lágrimas e escutei ela perder o folego no meio do choro. Não havia nada que eu pudesse fazer para fazer ela se sentir melhor.

— Ele não negou que tem sentimentos pela Maya. - Ela disse quase inaudível. - Bastava uma palavra...

Eu levantei as sobrancelhas em espanto. Quando minha irmã me contou de todo o conflito, imaginei que não era como ela estava pensando, talvez ela estivesse apenas confusa. Mas saber daquilo com certeza mudava completamente de figura. Não duvido que Lucas goste da Riley, mas tampouco posso acreditar que ele goste dela de verdade.

Ela se afastou bruscamente e secou o rosto com as costas das mãos com força, seu rosto estava vermelho. Se levantou e andou por um instante, de um lado para o outro. Engoliu em seco, arrumou a postura. Pegou o celular que agora vibrava e jogou na cama.

— Nós tínhamos planos pra hoje. – Ela disse firme ainda de costas pra mim.

— Riley, pode ser outro dia. Eu e o Liam vamos estar aqui todos os dias. Quando você quiser. – Comecei e ela me interrompeu.

— Eu não vou ficar aqui chorando por ele! – Ela afirmou firmemente e saiu do quarto.