Precisamos um do outro escrita por Moon


Capítulo 17
Queda livre


Notas iniciais do capítulo

Todos estão abalados com a morte do Mason e reunidos para seu velório. A despedida final se aproxima.



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POV Topanga

Eu e Cory fomos desejar boa noite a Riley e Stiles antes de voltarmos ao quarto de hospedes. A verdade era que estar naquela cidade outra vez, agora com Riley e a família dela era muito difícil. Eu sentia a tensão do Cory.

— Ela tem outro pai. – Ele disse pra si mesmo deitado na cama com a voz baixa.

— Isso não muda nada! – Me deitei ao lado dele.

— É mais fácil pra você. – Ele se virou pra mim e abaixou ainda mais o volume na voz. – Porque ela não tem outra mãe.

Ele estava se sentindo ameaçado pelo novo relacionamento da Riley com o pai biológico. Eu entendia. Seria realmente difícil ver a Riley ficar próxima de uma mãe que não fosse eu. A possibilidade de ser substituível. Mas isso é completamente irracional.

— As pessoas não são substituíveis, amor. – Segurei sua mão. – Nós ensinamos isso pra ela.

Acabamos caindo do sono no meio de uma conversa sobre como as coisas mudaram desde que a Riley descobriu que é adotada.

Na manhã seguinte acabei acordando com a luz do sol entrando pela janela. Escutei vozes. Peguei o celular embaixo do travesseiro. Ainda era seis horas da manhã. Me levantei e encostei o ouvido na porta para escutar melhor.

— Não conseguiu dormir?

— Eu fico lembrando do Mason. – Era a voz da Riley. – Eu só o conheci por um dia, mas...

Ela fez uma pausa.

— É estranho saber que alguém simplesmente se foi. Um dia estava aqui e no outro. – Eu podia sentir a dor na voz dela. – Desde aquele dia, parece que eu estou presa num pesadelo e que nada é real.

— Essa sensação. Esse entorpecimento. Quando a ficha não cai. Eu fiquei muito tempo preso nessa fase do luto quando a sua mãe morreu e quase foi como se eu tivesse morrido também. E quando isso passa você tem que encarar o luto.

— Como que isso passa?

— Com o tempo.

Abri a porta cuidadosamente sem querer interromper.

— Eu já encarei a morte algumas vezes. – A voz dele era calma e séria. – Não fica mais fácil e isso nunca vai sumir completamente. Mas vai melhorar. Eu prometo.

Sai do quarto sem tentar fazer silêncio, andando normalmente. Segui o corredor, passei pela porta do quarto do senhor Stilinski e fui a sala.

— Bom dia! – Disse assim que os vi.

— Bom dia, mãe.

— Bom dia. – Noah parecia abalado.

Riley se levantou tentando parecer casual.

— Eu vou tomar banho. – Ela saiu apressada da sala sem dizer mais nada.

Noah foi a cozinha e começou a fazer o café. O acompanhei no preparo da refeição e conversamos um pouco enquanto a Riley tomava banho.

— Como tem sido? Encontrar sua filha? – Perguntei tentando soar o mais normal possível.

— A Riley é uma menina maravilhosa. – Ele se virou pra mim e os olhos dele brilhavam enquanto ele falava. – Eu vejo tanto da Claudia e do Stiles nela. Ela é gentil, inteligente.

Eu não podia discordar de nada.

— Obrigado! – Ele me surpreendeu. – Quando a Claudia morreu, eu. Eu perdi minha cabeça. Mas quando eu voltei a mim, tudo o que eu mais queria era voltar no tempo e cuidar da minha filhinha. Eu tinha medo que ela estivesse só, ou que ela achasse que tinha sido abandonada, que não tivesse uma boa família.

Ele encarou o chão por um segundo e voltou o olhar a mim.

— Mas vocês a criaram. E fizeram um ótimo trabalho. Ela é uma boa garota. – Ele secou uma lágrima que escapou. – E ela cresceu com uma família que cuidou dela, que a ama. E eu sempre serei grato por vocês serem pais maravilhosos pra minha filha.

— Ela fez mais por nós, do que nós por ela. – Cory disse na porta da cozinha.

Eu não o tinha notado ali. Não sabia a quanto tempo ele estava ali, o quanto ele tinha ouvido, mas eu estava feliz que ele tivesse escutado.

POV Stiles

Eu demorei pra dormir. Riley se revirava na cama. Eu conhecia aquela sensação. Escutei quando ela pegou a mochila e saiu do quarto, mas estava muito cansado e voltei a dormir. Acordei outra vez, mas foi com o cheiro de comida. Me levantei e fui na direção da cozinha. Meu pai e os pais da Riley estavam fazendo café da manhã e conversando.

Os pratos já estavam na mesa distribuídos nos lugares. Tinha ovos, pães e panquecas, além de café e leite. Eu estava me acostumando em ver a mesa servida.

— Bom dia. – Escutei a Riley atrás de mim, saindo do banheiro.

Ela estava com outra roupa. Calça jeans e uma blusa amarela. Os pés descalços. Com uma mão ela esfregava o cabelo molhado na toalha, e com a outra segurava a mochila. Eu podia dizer que ela estava exausta por causa dos olhos escuros.

— Vem tomar café. – Dei espaço pra ela entrar na minha frente.

Ela largou a mochila no chão e estendeu a toalha na cadeira antes de sentar. Todos nós sentamos a mesa, mas o silêncio prevaleceu durante a maior parte da refeição. Houveram alguns comentários elogiando as panquecas da Topanga e sobre como seria o dia.

— Nós vamos na casa do Scott agora de manhã. – Eu comentei.

— Eu posso mostrar a cidade pra vocês durante a manhã. Enquanto eles encontram os amigos. – Meu pai se ofereceu e a Topanga concordou.

Eles sabiam que ele só estava tentando dar espaço pra Riley. Ninguém realmente queria ver a pequena cidade. Ainda mais depois do falecimento de um menino.

A Riley não falou muito. Ela só concordou com os planos e pediu licença antes de sair da mesa. Eu me retirei logo em seguida. Só troquei de roupa e chamei minha irmã.

Ela calçou o tênis que eu a emprestei da última vez que ela esteve aqui e guardou o celular no bolso da calça antes de sair de casa.

Cory tinha me emprestado o carro. Chegamos na casa do Scott em alguns minutos. Caminhamos juntos até a porta e bati na porta.

A casa estava em silêncio. Imaginei se estavam todos dormindo ainda. Mas logo a porta se abriu revelando uma Melissa de pijama e roupão, com os olhos fundos e tristes.

— Oi, meus amores. – Ela disse antes de nos abraçar com força. – Venham. Entrem!

Estavam todos na sala, dormindo. Me lembrei de outras vezes que aquilo tinha acontecido naquela mesma sala.

No sofá maior, Scott dormia com Malia em seus braços. Não pude evitar de sorrir com a cena. Eu estava desconfiando que eles estavam juntos desde que resgatamos Malia. Lydia estava encolhida numa poltrona. Corey estava deitado no tapete com um cobertor cobrindo a maior parte do corpo.

— E o Liam? – Perguntei a Melissa num sussurro.

— Ele tá lá em cima. - Ela respondeu. - Ele subiu a alguns minutos.

— Posso subir? - Riley perguntou meio sem jeito e Melissa só fez que sim com a cabeça.

— Segunda porta. Esquerda. - Ela a direcionou antes de seguir pra cozinha.

Vi Riley subir silenciosamente as escadas e então segui Melissa.

— Como estão as coisas? - Perguntei meio sem jeito sabendo que era uma pergunta idiota.

— Ninguém esperava por isso. - Ela servia duas xícaras de café. - Estava tudo tão calmo, sabe?!

— Eu sei.

Ela tomou um gole e me entregou a outra xícara.

— Todo mundo tá meio abalado. O Scott quer cuidar de todo mundo. A Malia nega, mas ela tá se sentindo culpada.

Ela atravessou a cozinha e se encostou no balcão.

— O Corey está calmo, mas é óbvio que ele está de luto. E o Liam.

— Eu nem consigo imaginar. - Só a ideia me dava arrepios.

Ele perdeu o melhor amigo. Ele e Mason eram como eu e Scott, como Riley e Maya. Aquele tipo de amizade única e especial que você só encontra uma vez, se tiver sorte.

POV Liam

Melissa me olhou com os olhos tristes e eu já sentia o que ela iria falar. Ela iria me dar a notícia que o meu melhor amigo havia morrido. Eu já sabia. Mas quando aquelas palavras saíram da boca dela...

O mundo parou de girar por uns instantes, e então tudo ao meu redor foi saindo de foco, perdendo a forma e então o mundo voltou a girar, mas era muito rápido. Rápido demais.

Mason é meu melhor amigo. Ele é meu chão.                                           

Ele era.

E agora é como se eu estivesse em queda livre, sem nunca parar de cair.

Todos os dias que se seguiram eu estava ali, vendo o mundo continuar. Eu só estava indo para onde me mandavam ir, respondendo sempre que estava bem, vendo os rostos me encarando alguns com pena, alguns com preocupação, alguns em luto. Meus pais queriam me apoiar, mas eu só queria estar perto da matilha.

Estavam todos ali na sala, adormecidos.

Mason deveria estar ali. Talvez adormecido ao lado do Corey, ou talvez acordado conversando comigo.

Minha garganta queimava. A dor parecia estar presa ali. O choro engasgado. Meus olhos pesavam, mas cada vez que eu os fechava via Mason com a garganta rasgada me encarando, pedindo que eu o ajudasse.

Eu não o salvei.

Não consegui salvar meu melhor amigo.

Levantei do sofá e subi as escadas. Passei pelo quarto da senhora McCall, ela estava sentada na cama encarando a parede. Entrei no antigo quarto do Scott. Tudo continuava no mesmo lugar.

Sentei na cama e encarei a rua pela janela, as folhas caindo, o sol nascendo. A paisagem parecia alheia a tudo que estava acontecendo. O sol brilhava, os pássaros cantavam, as flores coloridas e a grama bem verde. As pessoas começando o dia.

Batidas na porta.

As ignorei e continuei encarando a janela.

Batidas na porta. Agora mais perto. Me virei esperando ver o Scott me encarando preocupado.

Riley.

Ela estava lá parada na porta.

Ela estava esperando por uma reação. Me levantei da cama.

— Eu achei que fosse o Scott. – Disse andando até ela.

— Você não consegue sentir esse tipo de coisa?

— Geralmente. – Parei de frente pra ela.

Riley deu um passo na minha direção, ficou na ponta dos pés e me abraçou.

Eu não estava esperando por isso.

Automaticamente a abracei de volta e senti ela apertar seus dedos nas minhas costas e pousar a cabeça no meu pescoço. Apertei meus braços em sua cintura.

Aquele ardor na garganta ficava mais forte. Enterrei meu rosto nos seus cabelos. O ardor se transformou em lágrimas.

Ela não disse mais nada. Só me abraçou enquanto eu chorava tudo o que eu tinha guardado.

Faz mal guardar esse tipo de sentimento, meu filho. Eu entendo que é difícil, mas você tem que chorar a morte do seu amigo. — A voz da minha mãe ecoou na minha cabeça.

Até então era como se não fosse real. Como se o passado talvez mudasse enquanto eu seguisse na minha queda livre. Mas não mudaria.

Ele continua morto.

Eu estou chorando a morte dele.

E nada mudaria isso.


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Notas finais do capítulo

Comente sobre o capítulo. Obrigada por ler. Espero que tenha gostado e volte logo!



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