“Não há ninguém mais miserável do que aquele que não vê a riqueza de sua vida”

***

   Peeta disse que não queria me soltar por nada neste mundo. Como ele havia se interessado por mim desde que tinha 25 anos? O instiguei sobre isso, mas sendo um homem misterioso, não me deu "explicações". Se ele não quis me contar, teria que investigar por mim mesma.

Estávamos curtindo um divertido luau no sábado à noite. O local escolhido pelos irmãos Mellark, se encontrava devidamente decorado. Eu, Madge e Annie ficamos responsáveis por isso e até Prim colheu flores para o momento. Ela escolheu especialmente uma de cada cor diferente para nós colocarmos atrás da orelha. Estiramos esteiras e tecidos floridos pela areia, arranjamos uma mesa improvisada de formato arredondado com um tecido dourado bem no centro e almofadas em volta. Peeta trouxera a churrasqueira portátil para assar a carne dos hamburguês que ele mesmo preparou. Em torno de onde estávamos havia várias tochas de bambu com óleo para iluminar. Um iPod estava conectado a um amplificador, à bateria, da mesma marca para ambientar o local com música agradável.

Levantei para buscar mais gelo na caixa térmica quando meu irmão se aproximou de mim com um sorriso um tanto espevitado.

— O que fizeram na selva, hoje à tarde? - Olhei para Peeta que se encontrava concentrado na churrasqueira e desviei para nossa turma sentado pouco afastado de nós dois antes de voltar a olhar para Gale.

— Que tipo de pergunta é essa, grandão? - questionei sorrindo de lado.

— Ora, sou seu irmão mais velho, preciso saber - exigiu cruzando os braços sobre o peito. - Além do mais, Madge me falou que hoje de manhã você estava com um sorriso bobo. Faz um tempo que não sorri assim.

— Bem, o sorriso bobo foi porque Peeta me pediu em namoro. - baixei meus olhos e passei a observar meu pé esquerdo que brincava com a areia macia.

— E o que respondeu? - Gale quis saber.

— Aceitei.

Meu irmão ficou um tempo em silêncio, mas logo me tomou em seus braços congratulando-me pela decisão. Ao se afastar foi até onde estava Peeta e o agarrou fazendo graça e o dois se embrenharam em um combate de titãs.

Sentamos para comer e Peeta levantou o copo de drink tropical que Finnick preparou.

— Quero propor um brinde - iniciou com um belo sorriso estampando seu rosto - Brindo pela presença de todos vocês aqui e por Katniss que chega a ser mais bela do que o pôr-do-sol, o qual amo observar nos fins de tarde.

Foi unanime o "uhu". Eu, por outro lado pude sentir minha face pegar fogo até porque, Prim se encontrava presente. Mas a garotinha comemorou batendo palmas.

"Saúde". Batemos nossos copos e Prim seu refrigerante.

Após comermos, dançamos músicas agitadas, divertidas e lentas. Em um momento olhei em direção as almofadas e Prim já dormia profundamente.

Não demorou muito e também fomos dormir.

***

O domingo amanheceu ensolarado e Peeta propôs almoçarmos em alto mar e de lá irmos pra casa.

Pude explorar o iate detalhadamente, a ostentação do momento. Era mágico estar em cada compartimento e Peeta foi modesto em falar das cabines, pois na verdade tinha duas suítes másters.

— Peeta quase morri quando propôs um brinde a mim. Prim estava lá e... - falei ao me aproximar dele que estava na cozinha começando a preparar o almoço.

— Falei com a Prim assim que voltamos da nossa caminha, ontem à tarde. Ela adorou saber que estamos namorando e disse que vocês duas serão grandes amigas.

— Prim é uma menina doce. Acho linda a relação de vocês dois. Um dia fui assim com meu pai, mas daí um dia tudo mudou e ele ficou paranoico quanto a minha segurança. - Peeta me encarou enigmático, então narrei toda a história de quando quase fui sequestrada e exigiram do meu pai uma grande quantia em dinheiro.

— Então você se acha protegida demais pelos seus pais? - observou.

— Eles pensam que sou aquela menina que iniciou a faculdade. E, minha mãe só se preocupa com o nome da família. Sempre fui de expor o que penso e para ela isso é causar escândalo. - Toda vez que eu pensava nisso uma raiva acometia meu corpo. percebendo isso, Peeta largou o que fazia e se aproximou de mim tocando meu rosto delicadamente.

— Se algo parecido acontecesse a Prim, não sei o que seria de mim. Pense no seu pai assim. Sei que ele te ama muito e quer sua proteção. - Fechei meus olhos e senti seus lábios me beijarem calidamente, logo escutamos passos apressados entrarem na cozinha.

— Papai... Ops, me desculpe se atrapalhei... - Prim sorriu sem jeito e tratamos de dizer que não nos atrapalhou. - Hã... vim perguntar se quer ajuda.

— Está tudo sob controle, princesa. Mas que tal você e a Katniss irem tomar um banho de sol? - sugeriu indo até o frigobar e pegando duas latas de Schweppes Citrus e entregando a nós duas.

— Está nos achando pálida, papai? - Prim estreitou os olhos e Peeta acabou rindo.

— Claro que não meu amor, mas sei que o sol de agora lhes fará muito bem. Então, as duas me deem um beijo e vão se deitar nas espreguiçadeiras.

Nos aproximamos dele que nos tomou em seus braços. Na filha beijou a bochecha e em mim deu um selinho.

***

— Niss, verdade que você já fez equitação e ainda participou de competições de hipismo? - Nós duas estávamos de bruços sobre a espreguiçadeira e desde então, a loirinha se engatou em uma animada conversa comigo.

— Sim, ganhei algumas medalhas e um troféu, mas o que mais gostava era ter o contato com os cavalos. O Netuno era o mais incrível e corria como um the flash.

— Me ajude a convencer o papai, a me colocar na aula? Por favor, por favor... - ela fez o pedido juntando as mãos.

— Posso falar com ele sim.

— Eba, você é demais, Niss!

Paramos no meio do trajeto e almoçamos. Depois de ajeitarmos tudo o iate voltou a se movimentar. Madge não estava passando muito bem e foi se deitar. Prim quis tirar uma soneca também. Gale, Finnick e Peeta ficaram conversando na área externa enquanto meu namorado conduzia o iate.

— Annie, por que o casamento do Peeta não deu certo? Prim me disse que ela o fazia de gato e sapato, o que quis dizer? – ela olhou na direção onde os três estavam conversando distraidamente e logo se voltou para mim com um olhar zangado.

— Delly, era muito sarcástica e ficava se desfazendo do Peeta na frente de outras pessoas. E, não só isso, mas ela o chantageava... Mas, até que ele aguentou tempo demais.

A ruiva não me disse muito, mas fiquei mais intrigada. Não conseguia imaginar alguém maltratando ou se desfazendo de Peeta. Tudo que eu mais queria era tentar fazê-lo feliz e faria qualquer coisa para que isso acontecesse.

***

Chegamos pouco antes das 16h no Distrito 4. Prim não quis se desgrudar do pai e chorou manhosa, até que ele lhe propôs:

— Filha, venho te buscar na sexta depois do trabalho e no sábado a Katniss vai nos levar para conhecer um clube onde tem um aras. E vamos ver aula de equitação pra você. Pode ser? - Rapidamente ela enxugou as lágrimas e apertou o pescoço do pai e em seguida o enchendo de beijos.

— Eu te amo, papai - ela desceu do colo dele e veio em minha direção e me abraçou. - Também amo você, Niss. Tomara que você e papai fiquem para sempre juntos.

Fiquei sem reação, mas retribuí sua fala com um sorriso sincero.

— Tenha uma ótima semana e vai dar tudo certo, ok? - me ajoelhei e abracei ela inalando o aroma de seu cabelo, que cheirava a xampu de frutas.

Me despedi de Finnick e da Annie que ao me abraçar cochichou que eu e o Mellark tínhamos um lindo futuro pela frente. Retornamos para a Capital e o difícil foi Peeta e eu nos despedirmos um do outro.

— Adorei passar esse fim de semana com você. Espero que isso se repita muitas e muitas vezes. - Peeta tinha um braço ao redor da minha cintura e acariciava minha bochecha com sua mão livre.

— Foi um fim de semana inesquecível e tenho certeza que engordei alguns quilinhos, pois você cozinha divinamente. Peeta, eu não sei fazer praticamente nada. - Rimos juntos antes de darmos um selinho.

— Não se preocupe com isso, se você quiser posso te passar algumas dicas...

— Nada disso, dicas não. Quero aprender - disse com firmeza atropelando sua fala.

— Ok. Vou ensinar o que minha namorada quiser.

Nos beijamos e parecia que não nos desgrudaríamos mais, até escutar meu irmão limpando a garganta.

— Mal começaram a namorar e já estão nesse grude todo. Imaginem quando a coisa avançar o nível - declarou Gale arqueando as sobrancelhas de modo sugestivo.

— Gale! - exasperei.

— Isso tudo é ciúme de irmão mais velho? - questionou meu namorado.

— Não, te conheço há tempo e se suportei os ex-namorados idiotas da Kat, com você ficarei super tranquilo. - Meu irmão argumentou abraçando a esposa.

— Nossa, dormirei mais tranquilo a partir de hoje - desabafou Peeta me dando um último beijo. - Te vejo amanhã, depois, depois e depois, né?

— Sim, nos veremos a semana inteira. Durma bem - falei o abraçando ainda mais forte.

— Você também, durma bem. - Peeta afagou meus cabelos e depositou um beijo em minha fronte.

Não queríamos nos afastar, mas era preciso.

— Peeta muito obrigada por tudo. Estávamos precisando de um fim de semana assim. - Madge agradeceu e Gale apertou e abraçou-o agradecendo por tudo.

Ao entrarmos em casa fomos recebidos por um verdadeiro bombardeio de perguntas.

— Vocês não têm juízo algum! Katniss não era para sair sem nos avisar. - Minha mãe e os chiliques dela.

— E por acaso sou criança? Gale deixou um bilhete e estávamos bem! - vociferei.

— Quero ver quando um sequestrador nos ligar pedindo resgate... - ela fazia o maior drama colocando até mão sobre o peito.

— Pra desencargo de consciência, deixe-os me matar e não se preocupem em enviar dinheiro algum para resgate.

— Katniss...! - meu pai chamou minha atenção.

Meus olhos já ardiam e não esperei que dissessem mais nada. Subi para meu quarto e escutei Gale dando umas boas respostas e logo se afastou. Minha cunhada nunca falava nada. Sempre ficava como expectadora. Mas com meu irmão ela dizia que não concordava com esse excesso de proteção, ou melhor, pegação no pé.

Depois de tomar um relaxante banho. Conversei com Gale e pedimos pizza pra jantarmos. Quando fui deitar vi algumas mensagens em meu celular.

[22:35]

Peeta: Já estou com saudades de você. O que eu faço? :(

[22:36]

Peeta: Sério, amor... não vou conseguir ficar sem te ver.

[22:36]

Peeta: Que tal eu ir aí e escalar até seu quarto?

Amor???

[22:36]

Peeta: Ok, não irei te perturbar mais por hoje. Você deve estar cansada, pois eu estou e já abri meus e-mails e só da WBE tinha três, acredita? Boa noite e não esqueça de que já te amo.

Suspirei ao terminar de ler e rapidamente comecei a digitar.

[22:39]

Eu: Desculpa, lindo. Eu estava comendo pizza na cozinha com o Gale e a Madge. Meu celular estava aqui no meu quarto. Sobre SAUDADE... também estou de você, mas acho que não seria boa ideia vir aqui e escalar até meu quarto. (risos)

[22:39]

Tadinho do meu namorado já recebeu um cronograma completo de trabalho. :/ Espero que não tome todo o seu tempo. Temos que nos ver bastante ainda essa semana.

[22:39]

Peeta: Amorrrrrrrrrr... ainda está acordada, que bom... achei que estivesse dormindo. Espere vou te ligar.

Logo meu celular vibrou e antes que iniciasse a música atendi.

— Acredita que comi um sanduíche, fui assistir um pouco de TV, mas depois me bateu um tédio. Engraçado, já me senti solitário outras vezes e de repente me sinto pior agora que estamos juntos.

Peeta choramingou do outro lado da linha e soltei um risinho.

— Quem sabe um dia vou aí te fazer companhia?

— Vem mesmo, amor. Irei dormir tão agarrado a você que é capaz de sufocá-la— riu e suspirou antes de continuar: — Eu tinha que escutar sua voz, antes de dormir... Prim me ligou dizendo que está animadíssima para irmos ver a aula de equitação.

— Você é um super pai, Peeta. Ela ficou encantada com a novidade. Como mudou de ideia tão rápido? Achei que demoraria mais para se decidir.

— Acho que você me encorajou. Irá conosco sempre que puder, né?

— No que depender de mim, sempre estarei com vocês dois.

— Eu te amo, Katniss — senti uma ânsia na boca do estômago ao escutar sua declaração. - Katniss...?

— Estou aqui e... te amo... - eu queria ser menos medrosa.

— Tudo bem, minha vida. Não precisa se sentir insegura. Sei que, o que está surgindo entre nós é real, único e especial.

— Agora sou eu que, vou ter que escutar sua voz todas as noites antes de dormir. - desviei do assunto, mas ele pareceu não se importar.

— Não seja por isso, ligarei pra você todas as noites até podermos estar dormindo lado a lado.

— Peeta... - suspirei diante de sua espontaneidade.

Escutei sua risada gostosa e suave, com isso senti meu peito se encher de alegria.

— Juntos faremos isso dar certo, Katniss. E, quero que você saiba tudo sobre mim. Prometo contar-lhe o máximo.

— Eu quero saber, porque até agora conheci apenas o Mellark misterioso.

— Prometo apresentar meu outro lado, mas terá que arcar com as consequências mocinha, está preparada?— perguntou em tom de brincadeira.

— Estou sim, cem por cento preparada para o que der e vier - respondo bravamente.

— Hum... que namorada corajosa essa minha. Mas é isso amor, deixarei você descansar. Eu também preciso dormir... Então... Boa noite. Durma bem e não se esqueça que te amo— declarou todo fofo.

— Durma bem também e não me esquecerei que me ama, se não esquecer que sinto o mesmo por...

— Prometo que não esquecerei.

Ficamos nisso de "quem desliga primeiro" até que enfim depois de alguns beijos jogados através da linha desligamos ao mesmo tempo. Deitei minha cabeça no travesseiro com um sorriso pra lá de feliz.