“Os sentimentos são como animais selvagens: subestimamos sua ferocidade até abrirmos a janela”

***

Talvez seria exagero dizer que Peeta foi o homem mais incrível que esteve presente em minha vida, mas não era nenhum exagero dizer isso. Ele parecia um ser de outro planeta. Não podia negar o quanto estava completamente apaixonada e ateada a ele.

Mesmo me envergonhando da minha repentina atitude de querer me entregar a ele daquela maneira em um banheiro, tive que confessar que foi uma das melhores aventuras que já vivi. Seu corpo junto ao meu era a conexão perfeita.

Depois daquela noite na boate acordei em seu apartamento sentindo a maior dor de cabeça, mas ele estava lá cuidando de mim.

Logo percebi que estar com ele tornaria meu maior vício.

— Katniss que cara é essa de paisagem? – Portia insistia em comentar que eu estava estranha nas últimas semanas.

— Não é nada, estou tentando ter inspiração para criar algo, como diz nossa chefe “algo revolucionário”. O que essa mulher quer?

— Nossas cabeças em uma bela travessa – brincou Octavia. - O Fashion Week é em agosto e ela já quer deixar tudo pronto.

— Mas, claro que ela quer que adiantemos agora, esqueceram que iniciamos abril? – Cinna nos lembrou.

— Pessoal, acho que já vou indo – disse olhando para meu relógio de pulso.

— Já cherry?

— Sim, hoje entrei mais cedo do que vocês, lembra? – Sendo quinta, Cressida tinha me pedido para vir mais cedo e ajudar a separar, a coleção de primavera para a sessão de fotos.

Me despedi de todos e saí da empresa rumando o apartamento do meu namorado. Sabia que não estaria lá, mas me pediu para sempre que eu quisesse, dormir com ele. Não resistiria a esse pedido por nada e desde semana passada em que tivemos àquela noite inusitada passei a dormir em sua companhia. Peguei meu celular e digitei uma mensagem para ele.

[17:05]

Eu: Amorzinho, já estou saindo do trabalho e vou passar naquele restaurante árabe para comprar nosso jantar. Te amo.

Entrei no carro e coloquei minha bolsa no banco do passageiro, talvez ele não responderia tão logo, já que deveria estar em reunião com meu pai. Segui até o restaurante e fiz o pedido. Aproveitei para averiguar meu aplicativo do Messenger. Não pude visualizar nenhuma enquanto estava adiantando trabalho, mas procurarei responder a todos. Até Annie adicionei à minha lista, infelizmente tanto eu quanto Peeta não podíamos colocar nenhuma foto de perfil juntos. Era tão lindo o perfil da Annie e da minha cunhada que estavam acompanhadas de seus respectivos maridos.

— Pedido 256 – bloqueei a tela do meu celular e me dirigi até o balcão para pegar o que pedi.

***

Cheguei ao prédio e assim que me identifiquei, o porteiro abriu o portão para eu entrar na garagem.

O cheiro de seu perfume que inalei quando adentrei o apartamento já me era familiar. Foi inevitável não me arrepiar por completo. Coloquei o jantar sobre a bancada e minhas coisas no amparador. Tirei os saltos que tanto apertavam meus pés e fui até a suíte de Peeta. Retirei o vestido que me sufocou o dia todo, o sutiã e coloquei uma camiseta do meu namorado que estava sobre a cama cujo o comprimento vinha até a metade de minhas coxas. Ajeitei meu cabelo em um coque desajeitado e retornei para a cozinha. Escutei o bip do meu celular e ao desbloqueá-lo sorri mordendo os lábios.

[17:46]

Pee: Acabei de sair da reunião e estarei em casa em 15 min. Também te amo minha vida.

Ajeitei a mesa para jantarmos e quando estava pegando um vinho na adega refrigeradora de Peeta, o próprio me abraçou por trás.

— Que mulher mais sexy é essa atacando minha adega... – suas mãos espalmadas passeando pelo meu corpo quase me fez derrubar a garrafa e só para provocá-lo ainda mais empinei meu bumbum fazendo-o me apertar mais contra si.

— Hummm... desse jeito não resisto – falei com uma voz melosa ao sentir seus lábios, levemente molhados beijarem minha nuca.

— E não é pra resistir mesmo... – ele me ergueu em seus braços e nos encaminhou para o quarto. – Senti sua falta o dia todo. Faz ideia do efeito que está fazendo em mim? – ao me colocar de pé comecei a despi-lo.

— Também senti sua falta amor... – quando faltava somente sua peça debaixo ele levou as mãos para debaixo da camiseta que eu usava e apertou levemente meus seios, fazendo-me abafar um gemido e jogar a cabeça para trás. – Onde vai? – perguntei quando parou de repente o que fazia e se afastou.

— Vou colocar a banheira pra encher – logo retornou e tornou a me agarrar. – Onde paramos, mesmo?

— Aqui... – fiquei na ponta dos pés como uma bailarina e tomei seu rosto com minhas mãos para beijá-lo ardentemente. Terminamos de nos despir e senti o colchão em minhas costas. Seu corpo cobriu o meu e logo parecia que o mundo desabaria ao nosso redor. Peeta era firme, constante, faminto e fazia com que eu quase arrancasse sua pele. – Pee... quero mais... muito mais... – atendendo ao meu pedido puxou minhas pernas para cima de seus ombros e exprimi tudo que vinha guardando há tanto tempo.

Chegamos ao ápice quase juntos e no fim me senti como uma manteiga derretida espalhada sobre o pão. Ele não gostava de pôr peso sobre mim, mas eu disse que não ligava. Então com sua cabeça sobre meu peito acariciei seus macios, porém suados cabelos.

— Seu pai deve estar desconfiando que está saindo com alguém... – comentou com a voz um tanto enrouquecida.   

— Por que acha isso? – ele se levantou me pegou no colo nos encaminhando para o banheiro. Em seguida desligou o registro da banheira, colocou alguns sais, ligou por alguns segundos o modo hidro para misturar e espumar a água. Entrou e me juntei a ele ficando de costas para seu peito. – Minha mãe andou reclamando que estou dormindo muito fora de casa, mas disse que estava na casa de uma estilista amiga, que trabalha comigo. Acho que engoliu, pois sabe que o Fashion Week está próximo e fico apurada nessa época – Peeta pega uma esponja marinha e começa a deslizá-la sobre minha pele.

— Escutei ele comentando com Gale que, você anda meio aérea e com cara de boba apaixonada – virei meu pescoço para encará-lo e acabei capturando seus lábios.

— Isso não consigo disfarçar.

— Terá que fazer uma atuação melhor, Srta. Everdeen.

— Eu não quero – respirei antes de completar: - Quero que saibam que estamos juntos.

Ele paralisa e seus olhos analisam minuciosamente meu rosto.

— Está falando sério?

— Estou.

— Sabe que seu pai pode voltar atrás e quebrar o contrato que tenho com a empresa, não sabe? – sua testa se vincou em um modo tristonho, mas não deixei que se sentisse assim.

— Papai é orgulhoso demais e sabe que você fez a diferença na WBE – ergui meu corpo para mudar a posição e me ajoelhei sobre a banheira me sentando bem de frente para ele que revirou os olhos quando nossos sexos se tocaram. – Nada, nem ninguém fará com que me afaste de você.

— Se é assim que você quer, estaremos sempre juntos... – nos amamos mais uma vez antes de terminarmos nosso banho.

***

— Que delícia que está essa kafta e esse quibe... – estávamos à mesa depois o que me pareceu horas de total entrega entre nossos corpos.

— Deve ser por estar com fome, amor – jantávamos bem à vontade com nossas cadeiras lado a lado e minha perna direita se encontrava entre as suas. Volta e meia trocávamos carícias.

— Pois é, lembrei que só tomei um café expresso antes da reunião e depois disso não comi mais nada.

— Ainda se depara com a namorada travessa que o faz praticar um dos exercícios que mais provoca fome... – o encaro inocente e acaba por apertar minha coxa.

— Domingo o Finn disse que vai ter um almoço especial na casa dele e quer nossa presença.

— Sério? Vou adorar ir com você.

Ainda não conhecia a residência do seu irmão, só tinha visto algumas fotos.

— Prim virá no sábado para irmos até a Hípica e podemos passar o dia lá, o que acha? – torci os lábios, a Hípica era o clube que minha família frequentava, na verdade, minha mãe. Geralmente o aras ficava do outro lado, distante da área de lazer e desde que Prim começou a equitação sempre os acompanhava, mas nunca ficamos para almoçar lá ou algo assim.

— É arriscado encontrarmos minha mãe, ou alguma de suas amigas pomposas – reviro os olhos.

— Quando quer revelar para sua família que estamos juntos? – seu olhar era apreensivo e toquei seu rosto antes de pronunciar:

— O que acha na semana que vem, no mesmo restaurante que nos encontramos a primeira vez? – ele assentiu não comentando nada. – Hei... depois disso podemos fazer diversos programas em público com nossa loirinha – quando disse isso seus lábios se entortaram em um belo sorriso.

— Você é a mulher mais linda que eu já vi na vida – pousei a taça de vinho que bebia sobre a mesa e ele me fitou ainda mais. - Você me deixa louco... – naquele momento me senti nas nuvens e lancei-me para seu colo o beijando desesperada e já levando minhas mãos até o cós de seu short, pois seu peito já se encontrava nu. Nos amamos intensamente e como se não bastasse fomos para o quarto e passamos a noite dando prazer um para o outro.

***

Pela manhã, ainda deitada, observei a tatuagem de âncora que Peeta tinha no meio das costas um pouco abaixo do pescoço. Quando questionei em que época havia feito, me contou que foi em uma fase “rebelde” de sua vida antes de concluir o colegial. Mas que não se arrependia, pois percebeu que aquela âncora lhe dava forças.

— Diz que vai dormir aqui de hoje pra amanhã, diz... – ele sabia que já me encontrava acordada, sua voz soava como uma canção enfeitiçadora a qual eu não pudesse resistir.

— Só preciso passar em casa e pegar mais algumas coisas. – me debrucei sobre suas costas e o abracei por trás, ele se encontrava de bruços também, mas se remexeu até estar de frente pra mim, de modo que me sentei sobre sua virilha.

— Os coelhos também dão uma pausa, sabia amor? – meneei a cabeça negativamente num gesto que não estava nem aí, e numa fração de segundos já nos amávamos mais uma vez.

Pela manhã tomamos banho de chuveiro e depois comemos rapidamente. Nos despedimos e fomos para nossos empregos.

Ao pisar meus saltos na Asprey fui convocada para estar na sala da minha chefe em menos de cinco minutos. Fiz malabarismo sobre o chão impecavelmente lustroso ao correr até chegar à sala de Cressida Dormer.

— Queria me ver? – perguntei.

— Sim, preciso de quinze modelos exclusivos Primavera & Verão e cinco de gala, até o fim do próximo mês. Sendo que pelo menos uma peça de cada, estejam prontas para um ensaio fotográfico – senti meu estômago embrulhar. Isso era uma brincadeira, certo?

— Cressida, não sei se consigo...

— Sei que vai conseguir. É esforçada e parece que sua inspiração anda a mil. Ontem passei na sua sala depois do seu expediente e vi o trabalho que está fazendo. Eu adorei, é inovador, clássico e atingirá grande parte dos nossos clientes mais influentes.

— Obrigada, mas será que não posso pelo menos ter a ajuda de Cinna? – ela franziu os lábios e negou com a cabeça.

— Sei que foi pupila do Cinna e, ele é talentosíssimo, mas isso é um desafio para você. Quero ver seu potencial, entende? – não tinha a mínima ideia de como realizar essa missão e nem como iniciá-la. – É, só isso. Está dispensada.

Girei meus calcanhares e saí bufando.

“Onde eu fui me meter”.

E, Cressida não estava nem aí para quem eu era e de que família vinha. O quanto podia me sugar, fazia isso.

***

A semana passa num piscar de olhos. Me estressei bastante e quase não me alimentava direito por conta do prazo que minha chefe tinha me dado. Nem consegui ficar direito com Peeta e por conta disso passei os demais dias em casa. Marquei com meus pais, Gale e Madge para jantarmos e contar que estava namorando. Era uma sexta-feira e eu trocava de roupa instantaneamente. Nenhuma parecia me agradar e por fim, um vestido azul royal, que valorizava meu corpo foi o escolhido.

— Uau, isso tudo é pra contar para as feras, que está comprometida com o Mellark? – Gale caçoa quando estou terminando de colocar os brincos, já no corredor.

— Fale baixo, quer estragar minha noite antes dela começar? – ele sorriu sem se preocupar.

— Não esquenta. Sou seu irmão mais velho e te protejo. Qualquer coisa te salvo – ele lançou seu sorriso charmoso e o abracei.

— Eu te amo, grandão.

— Também te amo, Catnip.

— Estou pronta – minha cunhada também estava deslumbrante. – Katniss, adivinhe na terça terá o lançamento daquele livro que você tanto aguardava. Quer ir comigo?

— Claro que quero.

Encontramos com meus pais no andar de baixo e seguimos até o restaurante. Eles não desconfiavam de nada. Pensavam que era apenas um jantar em família, mas assim que Peeta surgiu. A expressão no rosto dos dois mudou.

— Peeta, que coincidência nos encontrarmos aqui.

— Pai, na verdade, ele irá jantar conosco – minha mãe torceu os lábios e meu pai estendeu a mão e sorriu a contragosto. – Temos que lhes contar algo.

Peeta se sentou ao meu lado e por baixo da mesa segurou minha mão que se encontrava fria.

— Não compreendo, Katniss.– meu pai estava com um olhar sério e sem rodeios pronunciei:

— Peeta e eu estamos namorando.

— Por que ele? – desdenhou minha mãe.

— Porque estou apaixonada por ele.

— Não está falando sério, Katniss Weber Everdeen Hawthorne. – com seu jeito dramática dona Lara encarava meu namorado como se fosse o ser mais desprezível que existia.

— Nunca falei tão séria em toda minha vida, mãe – ela bufou e meu pai tomou a frente.

— Quando isso começou?

— Há três semanas, Sr. Everdeen.

— E, não pensou em me comunicar em nenhuma de nossas conferências, Sr. Mellark? – meu pai estava se segurando, mas a raiva em seus olhos era perceptível. – Que eu saiba é casado, não?

— Não, senhor. Me divorciei há quase quatro meses, mas separado já estava alguns anos.   

— Vocês dois não tem meu consentimento para estarem envolvidos.

— Não podem decidir quem devo, ou não namorar, pai. Esqueceu que não sou mais uma garotinha?

— Você sabe muito bem minha regra sobre não se envolver com ninguém da empresa...

— Sua regra?

— Sim, minha regra e o Sr. Mellark sabe muito bem sobre isso – meu pai trocou um longo olhar com meu namorado e eu já estava cansada com tudo isso. Com essa prisão que era minha vida.

— Essa é sua palavra final? – cruzei meus braços e o encarei.

— Sim.

— Pai, acho que se o senhor...

— Não se intrometa, Gale – meu irmão que estava quieto, tentou ajudar, mas não adiantou.

— Esqueça que tem uma, filha – me levantei e segurei Peeta pela mão o puxando para fora.

— Katniss, posso falar com ele e...

— Esquece, Peeta! – exasperei. – Ele só aceitará se eu der um gelo nele. Por favor, vamos para o seu apartamento.

Ele assente com a cabeça e saímos dali. Claro que minha noite não terminou como planejava e muito menos fantasiei que seria algo fácil. Deitada sobre o peito de Peeta passei boa parte da noite chorando. Nada iria me separar dele, disso tinha certeza.