O local estava cheio, grande parte dos alunos tinham saído para aproveitar o dia de folga, Luna e Gina estavam em uma mesa no canto esquerdo do lugar, uma mesa com quatro lugares, então Hermione e Nevile seguiram para se juntar às amigas. A ruiva parecia mais calma e Luna tecia um monólogo, mas parou instantes antes deles chegarem a mesa.

— Podemos nos sentar aqui? - Nevile perguntou educadamente à Gina, já puxando uma cadeira.

— Claro que sim, saímos juntos não é mesmo! - Respondeu ao amigo com um pequeno sorriso, e olhando para Hermione que se sentava a mesa ao lado de Luna continuou, - Desculpa Mione, eu me descontrolei, é difícil falar nos meninos e lembrar que eles estão tão longe, mas ainda assim influenciam diretamente nas nossas vidas, enquanto eles lá parecem nem sentir falta da gente. Eu realmente acho que você precisa se envolver com mais pessoas, eu tenho você, a Luna e o Nevile, mas também tenho os outros que são do mesmo ano que eu com quem eu convivo e tenho até certa amizade, Luna também é assim é Nevile tem os meninos, como Lino e Simas, só quem está mais só Mione é você, ou está nas aulas, ou na biblioteca, só se socializa comigo no quarto, e com a gente na hora das refeições, por isso que insisti tanto pra você vir aqui hoje. Você precisa viver, esse é seu último ano, tenque ser maracante! Desculpa por falar assim, mas me preocupo com você... - a ruiva parou, elas se olhavam e Gina pareceu dizer tudo o que Hermione sentia, mas para se manter forte não falava. Desde quando colocou os pés no trem se sentiu sozinha, e dentro desses três meses nada mudou, ela se absorve nos estudos para tentar esquecer, mas não dá, por vezes já pensou se estava mesmo valendo a pena ter voltado, nesses momentos ela costumava escrever para Harry e Rony, que sempre respondiam suas cartas, porém eram sempre curtas e somente respondendo ou comentando o que ela havia escrito e isso a fazia sentir mais sozinha. E ela concordava com a amiga, sim precisava viver! 

— Não tem que se desculpar Gina, você disse exatamente o que eu precisava ouvir, sabe vocês três tem sido minha única companhia aqui, e eu agradeço muito por isso, já está difícil assim, sem vocês eu nem sei se teria aguentado até hoje. Quero mesmo ter algo para lembrar desse ano, e definitivamente não quero que seja o ano mais solitário e sem graça da minha vida. Obrigada por me fazer enxergar isso. - ela falou estendendo os braços e dando um meio abraço coletivo nos três. Todos sorriram e desfrutaram a deliciosa cerveja amanteigada que acabava de chegar a mesa.

A conversa correu tranquila depois, eles ficaram lá por um tempo e então saíram, foram passear pelo lugarejo.

A loja mais requisitada pelos estudantes era a Dedos de Mel, suas guloseimas eram sucesso entre eles, os quarto também pretendiam passar ali, só que mais tarde, quando a loja estivesse mais vazia. Pararam na praça e ficaram relembrando momentos vividos ali, ao longe eles ainda conseguiam ver a 'Casa dos Gritos", lembraram a última vez que cada um esteve ali, contaram como foi, e relembraram com menos pesar que o esperado cada um deles. Vez ou outra Gina apontava algum garoto interessante pra Hermione, que só fazia rir da situação, Luna também dava seus palpites e depois de um tempo de brincadeira até Nevile começou a indicar alguns, ele soltou que Simas tinha um apresso pro ela, e sempre comentava dela quando eles estavam sozinhos no quarto dos garotos. 

— Já podem parar de tentar encontrar alguém pra mim, ok?! Faz tempo que não vejo vocês tão empenhados em algo, será possível! Que fique bem claro uma coisa, o garoto que quiser vai precisar vir até mim, depois do que passei com Ron, não corro mais atrás de ninguém! Vamos, mudar de assunto e falar de algo mais interessante.-

Eles chegaram uma praça que ficava quase no centro do lugarejo, se sentaram e começaram a comentar sobre as matérias que estavam tendo, Hermione estava cada vez mais encantada com Transfiguração, mas achava um desperdício ter que cursar a matéria de Adivinhação. Luna tinha seu jeito próprio de analisar cada aula e vez ou outra eles não conseguiam se conter e acabavam rindo da forma com que ela falava. Gina que era a apanhadora do time de quadribol da Grifinólia, lugar esse que assumiu o desde quando Harry não estava mais lá e era tão boa como o namorado, também tinha aptidão e gostava muito das aulas de porções. Já Nevile ainda possuía, como desde o primeiro ano, um talento nato pra herbologia, e até pretendia trabalhar com isso no futuro. Com a conversa o tempo foi passando, já era a tarde quando eles se deram conta do horário, Nelive precisava passar na loja de artigos de herbologia para pegar uma encomenda que a professora "X" havia pedido, Luna foi com ele, ela estava curiosa para ver o que era, Gina queria ir mas em uma lojinha no final do lugarejo que possuía algumas peças diferentes de quadribol, e Hermione que não gostava muito disso resolveu esperar todos na "Dedos de Mel".

Os amigos se separaram, Hermione então entrou na loja de doces, já bem mais vazia que cedo, e começou a andar por entre as prateleiras, escolhendo um ou outro docinho e colocando na cestinha que tinha pegado quando entrou. 

Toda conversa do dia tinha feito bem pra ela, havia exposto um pouco dos seus medos e percebido ainda mais que precisava aproveitar melhor o ano, afinal onde quer que estivessem nesse momento  seus dois melhores amigos eles deviam estar fazendo exatamente isso, aproveitando ao máximo! 

Foi então que passou por uma prateleira e pegou uma caixinha de "Feijões de todos os sabores", como algo tão banal podia trazer tantas lembranças, e ela ficou ali segurando a caixinha com a cabeça longe, lá no seu primeiro ano em 'Hogwarts' quando experimentou aquilo pela primeira vez junto com Harry e Rony no vagão do expresso. 

— Eles são para comer Granger, não para admirar! - falou em um tom todo brincalhão, uma voz já conhecida por ela. - Ou não vá me dizer que você não sabe o que é isso?! - antes que ela respondesse ele já o fez - São 'Feijões de todos os sabores', segundo Dumbledore, existem de realmente todos os sabores, ele garantia já ter provado um com gosto de meleca de nariz! - ele pegou uma caixinha na prateleira também. 

— Claro que eu sei o que é Malfoy! Só estou um pouco saudosista hoje, então estava pensando como que até isso - falou apontando a caixinha- me trás lembranças. Dumbledore falava isso sempre que via alguém comendo deles, só não sei se era pra incentivar a pessoa a comer, ou pra fazer desistir imediatamente. - terminou rindo e colocando os feijões dentro da cesta e seguindo pelo corredor, passando pelo loiro, que seguiu ao lado dela. 

— Saudades do Cicatriz e o cabeça de cenoura? - ela olhou para ele revirando os olhos mostrando não ter gostado de como ele falou, que imediatamente corrigiu. 

— Okok, saudades do Potter e do Weasley...? - e ela logo respondeu - Sim, eles eram basicamente minha única companhia e sem eles aqui me sinto sozinha muitas vezes, sem contar que como fazíamos tudo juntos, tudo me lembra aqueles dois.- confessou ela.

 Malfoy apenas concordou com a cabeça, acompanhando Hermione até o balcão do caixa, onde eles fizeram os acertos dos seus doces e se dirigiam à saída da loja.

— Eu me sinto só quase que o tempo todo Granger, pior do que não ter seus amigos por perto é não ter amigos, pode estar certa disso! E eu sofro desse último mal. Vai voltar para o castelo agora? - Ele estava novamente com o olhar triste, dava pra ver que ele falava a verdade. 

— Preciso encontrar Nevile e as garotas no Caldeirão Furado. Como eles não apareceram aqui já devem estar lá. Você disse que não tem amigos Malfoy, mas e o Blasio, o Not e a Parkinson? Eles estão sempre com você. - Hermione respondeu a ele, mas não deixou de perguntar sobre os amigos dele, ele não ia fugir do assunto tão fácil, e ela precisava entender por quê ele havia dito aquilo. 

— Sempre querendo saber de tudo não é Granger. Mas creio que isso não me custa te responder. - foram caminhando na direção do Caldeirão Furado, poucas pessoas caminhavam pelas ruas, o sol já estava baixando no céu e estava começando a ventar mais frio, Hermione se fechou mais em seu casaco e fez um leve sinal com a cabeça incentivando o loiro à falar, que segurando a sacola com os doces em uma das mãos, colocou a outra no bolso, começou a falar. 

— Not e Blasio, é acho que posso chama-los de amigos sim, mas digamos que eu nunca fui uma pessoa fácil e que as pessoas gostassem de lidar, mesmo entre os da minha casa, tinha barreiras de preconceito que me afastava das pessoas, eu achava que meu sangue puro, a tradição da minha família e o poder que eu poderia conseguir me bastariam, que não precisava de amigos. Então tratava os que ficavam à minha volta como descartáveis, e os mais próximos como cúmplices em meus atos errados, colegas talvez, amigos não. Not e Blasio sempre tiveram uma boa índole, mas eram influenciados pelas idéias errôneas, grande parte por mim, então quando a guerra acabou não demorou para eles perceberem qual era o lado certo, e mudarem. Eu demorei um pouco mais, várias seções de psicanálise e alguns remédios pra me fazer começar a aprender as coisas certas. Eles não se afastaram nesse período, me ajudaram nesse processo e estamos bem próximos, é poderia dizer que estamos nos tornando amigos, mas meu ciclo se restringe à eles apenas, para os outros fica difícil confiar em mim, ou esquecer o que eu fiz. Então evito aproximação, os meninos dizem que eu que não me aceito por isso as pessoas não se aproximam, as vezes eu concordo com eles, o problema está em mim mesmo. E a Parkinson, estamos longe de sermos amigos, ficamos algumas vezes, e partilhavamos no passado das mesmas idéias, por isso andávamos juntos, mas agora é diferente, não pensamos mais igual, e a cada dia que passa se torna mais  difícil conviver com o jeito estúpido dela, mas Blasio insiste que precisamos ficar próximos dela pra tentar influencia-la a mudar, ou para pelo menos garantir que ela não vá fazer nenhuma bobeira, mas não aguento isso muito tempo, por isso fico sozinho muitas vezes, e deixo os dois com ela, não posso dizer que ela nunca vá mudar, por que se até eu mudei, então ainda tem saída pra ela, mas eu não tenho paciência pra ser babá de ninguém. Os dois devem estar com ela lá no Caldeirão também. Sem dúvidas Granger nunca fui rodeados de amigos e amor como você.-

Hermione ouviu tudo atentamente, era estranho estar caminhando com o Malfoy e ouvindo ele falar daquela forma, não parecia ele, mais ela não estava achando ruim, viu que era possível ter uma conversa civilizada com o loiro, e não teve como negar, assim tão próximos como eles estavam, que ele era ainda mais bonito.