— Por Hermione Granger –
É estranho estar aqui... Já fiz essa viajem várias vezes, mas nenhuma delas foi como está sendo a de hoje.
Alguns meses atrás eu não fazia ideia de que voltaria para 'Hogwarts' o futuro era algo em que não tínhamos tempo para parar e pensarmos, era completamente incerto, mas tudo aconteceu, a batalha, as perdas e a vitória contra Voldemort, tudo tão intensamente e depressa que também não nos permitiu pensar em nada.
Quando tudo finalmente acabou, os alunos sobreviventes foram enviados de volta para suas casas para férias por período indeterminado, o castelo estava arrasado e tudo precisava ser reestruturado.
Nós também voltamos, eu e Harry fomos junto com os Weasleys, para o que restou da toca, trabalhamos em conjunto durante dois dias e conseguimos colocar tudo de volta no devido lugar, claro que o que realmente faltava não poderia ser consertado, ninguém tinha o poder, por maior que fosse a magia ou feitiço de trazer Fred de volta, a alegria da família estava irremediavelmente comprometida e por melhores que fossem as perspectivas de futuro nenhuma parecia o suficiente.
Era triste vê-los assim, passava grande parte do tempo com Rony, queria ajuda-lo, queria ver ele feliz, mas nada parecia funcionar completamente, tínhamos sim momentos bons, mas sempre eram seguidos de melancolia por um futuro que não fazíamos ideia de como iria ser. Acabei me aproximando de Jorge também, ele parecia outra pessoa, quando Fred se foi parecia ter levado com ele metade de tudo que o gêmeo era, Jorge não sorria mais e cogitava até mesmo em fechar a loja, dizia que não saberia criar mais nada sem o irmão, quando estava com ele tentava falar de outros assuntos, procurava contar coisas peculiares do mundo dos trouxas para ver se assim atiçava um pouco sua criatividade, tive sucesso algumas vezes, mas a névoa triste nunca saia daquele olhar.
Me sentia tão mal por ele, pelo Sr. e Sra. Weasleys, pela Gina, pelo Ron... Até mesmo para o Harry era difícil ficar ali, às vezes parecíamos intrusos no meio da família enlutada, mas ele não tinha muito para onde ir e eu tinha medo do que iria enfrentar, não sabia se conseguiria reverter a memória dos meus pais.
Depois de duas semana ali resolvi procurar por eles, havia lido nesse período algumas coisas sobre como reverter o feitiço, mas nada me dava reais garantias de ter minha família se volta. Apenas torcia para eles ainda estarem na nossa antiga casa, e tentaria tudo que estivesse ao meu alcance para reverter.
Lembro-me de cada detalhe daquela manhã de domingo, meus pais estavam conversando animadamente na varanda da casa quando dobrei a esquina e pude vê-los de longe, pareciam felizes e eu sorri instantaneamente ao avistar os dois, tudo podia dar errado, mas somente o fato de ter conseguido salvá-los já valia a pena qualquer coisa. Quando cheguei ao portão sorri e chamei minha mãe pelo nome, ela me olhou com um olhar curioso aquele sorriso acolhedor que só ela sabia me dar, meu pai se levantou de sua cadeira de balanço e juntando-se a mamãe veio até a mim no portão, por instantes pensei que eles não estavam mais sobre o efeito do feitiço, pensei que eles sabiam quem eu era, quando eles chegaram até mim já não consegui mais me conter e chorei, eles se aproximaram ainda mais e me abraçaram, mas apenas quando minha mãe me segurou nos ombros olhou pra mim e disse:
— Quem é você minha querida? Por que está chorando? - a ficha realmente caiu e percebi que as coisas não seriam tão fáceis assim.
Resolvi contar toda a verdade, por mais maluca que ela parecesse, sempre preferi a verdade como caminho para fazer as coisas e nesse caso não conseguia pensar diferente, eles me escutaram, cada detalhe de tudo que eu dizia, pensei que eles deviam estar me achando uma lunática qualquer, ou alguém com severos problemas psíquicos, mas não eles me escutaram e por mais que parecessem confusos resolveram tentar acreditar em mim, me deixaram ficar em casa, me encheram de perguntas sobre a família, das quais eu sabia sempre as mais completas respostas e eles pareciam confusos ao ver que tinham uma filha da qual não se lembravam nenhum pouco, passei o restante do dia e a noite com eles e quando eles dormiam comecei tentar reverter o maldito encantamento.
E assim os dias foram se seguindo, não dava pra perceber se eles lembravam algo ou se estavam desenvolvendo um afeto por mim, mas me tratavam muito bem e decidiram me acolher, me deixar ficar, era tanta alegria que não cabia em mim, ok eu talvez não pudesse trazer todas as nossas lembranças de volta, mas o amor que eles sentiam por mim não foi esquecido, bastou o mínimo de convívio que acendeu novamente dentro deles e sim eu podia viver com isso.
Três meses depois já éramos quase que uma família normal, na medida do possível claro, os feitiços para reverter o encantamento fizeram um pouco de efeito e a memória mais antiga eles conseguiram recuperar, lembraram do meu nascimento, de como escolheram meu nome, da descoberta que eu era diferente e até alguns lances da minha primeira vinda pra cá, mas nada fazia com que eles lembrassem de algo além desses fatos, mas eu me contentei com isso, pelo menos eles tinham alguma memória de mim e então tudo que eu contei fez sentido e podíamos enfim pensar em um futuro juntos.
Foi então que à um mês atrás recebi uma carta timbrada de 'Hogwarts' me convocando para voltar à escola, para concluir meu ensino e prestar meus 'Niens'. Sim eu havia decidido abandonar os estudos no último ano, não podia deixar Harry e Rony sozinhos naquela empreitada, mas da forma que os fatos se desenrolaram ninguém havia conseguido concluir o ano e todos precisaram repeti-lo, por isso fomos todos novamente convocados. Fiquei perplexa com aquilo, de tudo que tinha pensado, voltar para cá era a única coisa que nunca tinha cogitado.
Desde que voltei para casa dos meus pais, mantive contato via carta e telefone com meus amigos, as coisas na Toca não pareciam ter melhorado muito, eles apenas aprenderam a lidar com a dor e a saudade. Harry também não aguentou a pressão por muito tempo e duas semanas depois que eu fui embora ele também saiu de lá, o mistério da magia, através da 'ordem' lhe devolveu a mansão dos Black (mansão de seu padrinho Sirius Black que ele havia recebido de herança) e ele voltou para lá, Rony e Gina iam visita-los as vezes e até eu mesma fui passar um final de semana com ele, Harry dedicava seu tempo para restaurar o lugar, sem deixar perder a característica original, e devo admitir que estava fazendo um ótimo trabalho, quando fui visita-los a mansão parecia nova, impecável e imponente.
Depois de receber a carta imediatamente entrei em contato com eles, todos haviam recebido também, Harry e Rony porém estavam totalmente desinteressados em voltar, haviam recebido um convite para estudarem em um curso para aurores na Romênia, e estavam muito mais interessados nisso do que voltar ao castelo, Harry pelo menos estava, Rony apenas não queria voltar e como não havia passado na seleção para o time nacional de quadribol preferiu ir com Harry para Romênia. Eles haviam pedido autorização ao ministério, que sabendo do feito dos dois na guerra não se oporão e concederam um certificado de conclusão aos dois e também uma carta de recomendação para o curso. Eu também poderia desfrutar do mesmo certificado se quisesse eles me disseram, mas eu definitivamente não queria ser uma auror. Gina porém não tinha escolha e iria voltar para 'Hogwarts' afinal ainda tinha dois anos pela frente até a conclusão, ela quase implorou para que eu fosse com ela, pois já teria que ficar sem o namorado (Harry, enfim eles se assumiram) e não queria ir sem nenhum de seus amigos próximos.
Meus pais achavam que era melhor eu voltar, afinal todos os empregos que eu achava ter mais haver comigo eu precisava de bons resultados nos meus 'Niens', então decidi voltar.
À dois dias voltei a toca para né despedir dos meus amigos e me juntar a Gina para virmos para 'Hogwarts'.
Fazia tempo que não via Rony, tinha muitas expectativas em relação a isso, afinal na guerra nós nos aproximamos e à quem dissesse que nós éramos namorados, até agíamos como tal as vezes, mas depois de lá não falamos mais sobre isso, então esperava que nesse reencontro fôssemos esclarecer as coisas. Mas nada aconteceu, pelo contrário Ron me tratava muito bem sim, mas como a amiga de sempre, era como se nada nunca tivesse acontecido entre a gente, e pra ser sincera eu também não falei no assunto, e nem sei o que realmente senti sobre isso, as vezes me pego pensando se o que sinto por ele é realmente ainda aquele amor.
Despedi dele e do Harry, fiquei triste em fazer isso, nunca pensei que passaria um ano em 'Hogwarts' sem aqueles dois.
Gina que estava toda melancolia quando chegamos na estação subiu comigo no trem e simplesmente desapareceu, suas amigas estavam eufóricas para saber sobre o namoro dela com o famoso Harry Potter e ela adorava falar sobre isso, então me vi sozinha.
Estou com um visual um pouco diferente esse ano, minha mãe deu uma repaginada no meu cabelo e andei fazendo uns exercícios com meu pai nos últimos meses e digamos que fizeram um pouco de efeito, logo são poucos os que me conhecem, e eu faço o máximo para que não me notem, não gosto de toda essa fama de heróis de guerra que a batalha contra Voldemort nos deu.
Encontro um compartimento vazio e resolvo ficar nele. Que diferença! Como meus amigos já estão fazendo falta, sento na poltrona, fixo meus olhos na paisagem do lado de fora e me absorvo nos meus pensamentos.
Enquanto repasso tudo que passei a porta se abre, e com um olhar assustado, um tanto vergonhoso mais ainda assim prepotente, orgulhoso e superior, o garoto alto, loiro, de olhos acinzentados e lindo entra de uma vez no compartimento.
— Achei que estivesse vazio. Todos os outros estão lotados, posso ficar aqui? - Ele diz tudo rapidamente, como se não percebesse que era eu ali.
— Pode, Malfoy, se não tem outra alternativa não é!?- não gostava de ter que dividir aquele momento com o Malfoy, não mesmo. - Granger é você? - Ele me olhava de cima abaixo incrédulo com o que via, céus como podia não me reconhecer.