Entre elfos e vampiros escrita por neko chan


Capítulo 14
Se eu me perder novamente, por favor, me encontre




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"Droga, droga, droga, droga, droga!", penso enquanto caminho de um lado pro outro entre os beliches do quarto terminando de ler a carta que havia recebido a pouco tempo, eu já havia a lido quase 5 vezes, mas me recusava a acreditar, era uma carta dos meus pais dizendo que foram convocados para lutarem ao lado dos animagos contra as tropas de Azazel, "como vocês podem fazer isso comigo depois de todo o esforço que tivemos para nós TIRAR da ultima guerra?", protestava incansavelmente no quarto solitário.

— Voltamos... Wow. - diz Safira abrindo a porta do quarto com uma sacola plástica em mãos - Você continua girando no mesmo lugar desde que saímos? Se você fizer um buraco no chão você vai pagar o concerto

— Continua lendo a carta, minha querida? - pergunta Madeleine vindo logo atrás da garota

— Sim. - suspiro me jogando na cama e batendo a cabeça na parede e me sentando logo depois de um pequeno "ai" - Estou preocupada que eles se machuquem

— Seus pais já fizeram parte do exercito antes, não fizeram? - pergunta Safira

— Sim, mas fazem alguns séculos

— E quantas pessoas na sua família morreram em guerra?

— Tiveram 3 primos, 4 tias, 6 tios, meus avós, meus tataravós, meu tio-avô com um olho de vidro que gostava de lamber cactos....

— Ok, ok, eu entendi, desculpa a pergunta. - elas se sentam uma de cada lado perto de mim - Mas acredite nos seus pais e no exercito de nossa mestre, aquele maluco psicótico com certeza vai voltar para seu país com o rabo entre as pernas

— Espero que tenha razão. - dou uma pausa guardando dobrando a carta e a colocando no meu colo - A Meren ainda não voltou?

— Não, ela pegou a carta e saiu já faz quase 4 horas. - Madeleine afaga minha cabeça - Por que? Está preocupada com ela?

— Claro que estou, ela é minha amiga, preciso ir atrás dela. - as duas se entreolham por um tempo

— Vocês ainda não se resolveram mesmo depois de muitos meses, tem certeza de que quer ir?

— Certeza absoluta

Me levanto e jogo a carta encima da mesa, saio do quarto e começo a procurar Meren pelo pátio, era de noite, então ela provavelmente estaria em um lugar que fizesse muita sombra e não pudesse ser vista facilmente, "menina previsível", penso indo até o banco que ficava na parte de trás da academia, me sento e encaro a árvore próxima dele por um tempo.

— Pretende ficar ai por mais quantas horas? - pergunto

— Como sabia?...

— Eu cresci tendo que te procurar por ai quando você estava chateada e queria fugir. - ela desce do galho em que estava num pulo e caminha para ficar de frente para mim

— Por que veio atrás de mim?

— Porque eu sabia que também estava preocupada com seus pais. - afasto um pouco de onde estou sentada e dou dois tapinhas no espaço ao meu lado para indicar que ela se sentasse, e ela assim o faz

— Ainda está com raiva de mim? - pergunta encarrando seus joelhos

— Raiva? Eu não sinto raiva de você

— Então por que estava me ignorando?

— Bem.... - faço uma pausa longa - Eu não tenho ainda uma resposta pra você....

— O que? É só isso?! Vá pras profundezas do tártaro, Emma, eu achei que você me odiasse!

— Mas eu nunca disse que te odeio!

— "Não tenho uma resposta". - repete em tom de deboche - Eu não te pedi uma resposta, eu apenas disse que gosto de você, eu nunca te dei um prazo ou te obriguei a me responder

— MAS ISSO É O CERTO A SE FAZER, ANIMAL! - digo meio alto me levantando e ficando a frente dela

— EU NÃO TE PEDI PRA FAZER O CERTO, EU APENAS QUERIA QUE VOCE SOUBESSE. - Meren também se levanta ficando próxima ao mês rosto, nos encaramos por algum tempo até que ela não consegue mais conter o riso, eu dou risada junto com ela, parecia que faziam séculos que não riamos assim juntas

— Você é uma idiota, sabia? - digo

— Você é uma maior ainda. - ela me abraça - Não precisa me responder, mas se um dia quiser, eu gostaria de ouvir, apenas não se apresse ou tente desesperadamente pensar em algo para dizer, só aja normalmente, tá?

— Beleza

— Continua preocupada com seus pais?

— Claro.... - suspiro - Mas se pensarmos bem o exercito da mestra é incrivelmente poderoso

— E um dia seremos um dos soldados dele

— Absolutamente

— Aí poderemos lutar tão bem quanto aquele seu tio-avô lambedor de cactos

— Ah, tio-avô Louie, ele era um grande guerreiro das linhas de frente antes de perder a sanidade

— Como ele morreu mesmo?

— Se amarrou num torpedo no meio da guerra marinha achando que era um foguete que o mandaria para a lua

— Minha tia de segundo grau morreu em alto mar também

— Na guerra?

— Não, ela estava fazendo um cruzeiro perto das águas do *Dimaniq, bebeu de mais e decidiu dar um mergulho do convés, acabou se afogando nas águas frias

— Não é querendo ofender, mas parece o tipo de coisa que faria você morrer

— Deve ser mal de família então. - ela sorri

— Venha. - digo a puxando pelo pulso

— Pra onde?

— Pro quarto

— Mas já?

— Quero pegar nossas espadas, vamos treinar um pouco como antigamente

— Ah, claro, foi totalmente isso que eu quis dizer

— Por que eu ainda falo contigo mesmo?

— Porque você me adora

— Fato

Fomos até o quarto, as garotas não estavam mais ali, mas deixaram um bilhete encima da mesinha dizendo "não nos esperem acordadas ♥", o que significava que não as veríamos aquela noite, pegamos nossas espadas e fui em direção à porta novamente.

— Por que não fazemos isso aqui dentro? - ela pergunta

— Porque você vai destruir o quarto inteiro

— Vaaaaaaaaaamos, eu prometo se cuidadosa, podemos brincar de pirata

— Quantos anos você tem?

— Eu sou um homem do mar, o tempo nessas águas perigosas passa de uma forma diferente. - diz apontando sua espada para mim e subindo metade da escada para a cama de cima do beliche das garotas

— Isso significa que é um velho?

— Para você é capitão, marujo!

— Eu me recuso, meu caro velhote do mar. - digo entrando na brincadeira com ela

Passamos algumas horas usando os beliches como barco e batendo nossas espadas uma na outra pelo espaço entre as camas de cima, era infantil, era idiota, era esquisito para duas garotas de 1600 anos, mas ela estava ali, na minha frente, sorrindo como se aqueles meses nunca tivessem existido, mas esse momento entre nós era real, ela era real, aquele sorriso gravado sem eu rosto era real, e a felicidade que eu sentia naquele momento era uma das coisas mais reais que eu sentira ao longo da vida. Essa garota, essa maldita e adorável garota, era simplesmente a coisa mais importante que eu tinha, eu não queria deixa-la de lado novamente, eu nunca mais queria fazer uma coisa assim, e, naquele momento, perdida em pensamentos, eu distraidamente desci da cama e invadi seu "navio pirata" apenas para dar-lhe um forte abraço.

Na hora de dormir, ela voltou a invadir minha cama e ficar agarrada nas minhas costas até pegar no sono, ela sempre dormia bem mais rápido que eu, me viro para ficar de frente para ela e sussurro seu nome algumas vezes para ter certeza que ela estava dormindo, acaricio sua cabeça e passo a mão por sua bochecha.

— Eu prometo te dar a resposta assim que eu a descobrir, Meren, até lá, por favor, que continuemos assim, ou mesmo depois da resposta, não fique longe de mim e não me deixe ficar longe de você

Beijo a ponta de seu nariz e a abraço, me preparando para ter uma noite de sono descente pela primeira vez em meses.


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Notas finais do capítulo

*Dimaniq é um conjunto de ilhas congeladas, lá é inverno o ano inteiro