A mestre debate com meus pais sobre o que ela poderia fazer para que continuássemos em seu território, tínhamos a vantagem por sermos refugiados da região dos magos do tempo graças ao extermínio em massa de vampiros, mas, mesmo que tivéssemos todos os motivos do mundo para continuarmos nas terras dos animagos, ainda havia a questão das leis, os lideres, em quase 95% das vezes, tem todos os direitos sobre seus cidadãos, mesmo que não estejam em sua terra natal. Ela se desculpa mais uma vez por não ter certeza se poderia nos ajudar enquanto nos guiava para fora, estava bem mais tarde e começara a chover, a carruagem dos pais de Meren estava nos esperando, nos despedimos e corremos para dentro do carro.

O caminho para a decida da montanha era longo e irregular, meus pais passaram boa parte do tempo conversando com a tia Lizz e o tio Arlo sobre a situação que estávamos passando. O pai de Meren ia na frente controlando os Cenolpus* e a mãe ia ao lado dele, meus pais sentavam-se nas cadeiras no meio e os bancos da última fileira, a de trás, eram meus e da Meren, coloco meus pés para cima do banco e abraço meus joelhos encarando as gotas de chuva correrem até a base da janela.

— Você está bem? - ela me pergunta deslizando para perto de mim e passando a mão pelo meu ombro

— Nem um pouco

— Podemos conversar depois?

— Não pode ser agora? - pergunto a encarando com desanimo

— Não, é muito importante

— Certo, então podemos conversar quando chegarmos na academia

— Emma....

— O que?

— Não fique triste, por favor

— Não posso evitar

— Você fica mais bonita quando sorri. - diz rindo tristemente e pondo sua mão em minha bochecha

— Diz isso da boca pra fora

— Eu não te elogiaria assim a toa

— Verdade, você é a amiga mais escrota do universo. - digo rindo finalmente

— Viu, fica bem melhor quando sorri. - ela se vira para ficar de frente para mim e me puxa para seu colo, fico deitada olhando a janela e o rosto dela se inclinando para ficar acima do meu - Pra quê se preocupar se vai ficar tudo bem?

— Acha mesmo que vai ficar tudo bem?

— Tenho certeza absoluta, vai duvidar dos meus instintos élficos?

— Meren, você comeu duas tigelas de macarrão só pra ter certeza que estava mesmo fora de validade, e antes disso leu a embalagem e viu que estava mesmo fora da validade, mas do mesmo jeito você fez e comeu

— Mas a embalagem podia estar errada

Eu rio junto com ela, levanto uma das mão para tocar seu rosto e o abaixo para que eu possa beijar sua testa, eu a solto, mas ela não se afasta, continua ali me encarrando e sorrindo por alguns segundos.

— Acha que chegaremos em Verafenda muito tarde?

— Não muito, os Cenolpus do papai são bem rápidos, estamos quase no fim da montanha

Em pouco menos de 30 minutos estávamos na cidade, Meren insistiu que não precisavam nos deixar na entrada da academia, pois, de acordo com ela, "chuva não era um problema", nossos pais foram embora da carruagem e me puxa para correm com ela pelas poças de água que se formavam nas ruas, os vendedores e pedestres se apressavam para encontrar um lugar seco até que a chuva parasse, enquanto isso nós duas estávamos encharcadas, gargalhando e girando entre os postes de lampião. Em pouco tempo estávamos na entrada da academia, mas Meren sugeriu que entrássemos pelos fundos, afinal, nosso estado não estava dos melhores.

Indo pela parte de trás encontramos um lugar com um banco de madeira e paramos um pouco para nos sentarmos e conversarmos, Meren começa a falar sobre como seria legal ter uma copia dela.

— Imagine como seria ótimo, se você não estivesse com vontade de fazer algo a sua copia faria para você

— Mas se você não tem vontade de fazer, por que a sua copia teria?

— Ela não tem escolha, eu seria a dona dela

— E caso ela se revoltasse e quisesse ser independente?

— Então lutaríamos até a morte

— Mas você duas teriam as mesmas técnicas, a mesma força e mesmos poderes

— Acho que nós duas morreríamos então

— Por isso você não pode ter uma copia, além de que seria um inferno cuidar de você em dobro, não aguento nem uma

— Espero que quando você tiver uma filha ela seja igualzinha a mim

— Isso você só deseja para seu pior inimigo

Ela ri, mas depois fica quieta, parece um pouco agitada e nervosa enquanto encara o céu, as nuvens começaram a se dispersar depois que parrou de chover.

— Preciso falar com você. - ela diz finalmente

— Ok, o que quer falar?

— Emma, eu..... - faz uma pausa meio longa

— Você?

— E-eu.... eu acho que gosto de alguém...

— O que? Serio?!

— Faz algum tempo, mas é uma coisa muito confusa, eu não sei como me sentir e nem o que fazer

— Isso é ótimo Meren. - digo sorrindo - Você deveria contar para ele

— Esse é o problema...

— O que?

— Eu já contei

— Contou? - pergunto vasculhando na minha mente a ultima vez em que Meren ficou muito tempo longe de mim para que pudesse contar algo assim para alguém - E como foi?

— Eu estou contando agora

— O que?

— Eu disse que estou contando agora para a pessoa que eu gosto sobre como eu me sinto. - diz apertando com força a barra de sua camisa com as duas mãos

— Boa piada. - rio - Por um segundo achei que estivesse falando serio, poxa, eu fiquei feliz por você, sua babaca. - afago a cabeça dela

— E-eu não estou mentindo....

— Ta bom, Meren, acabou a graça

— Mas eu não estou!

— Meren, não precisa mais brincar

— Emma! - ela fala alto me fazendo parar de falar - Eu realmente não estou brincando

— Mas....

— Eu amo você, Emma.... eu não sei, eu sempre gostei muito de você e você é minha melhor amiga, isso parece tão errado, mas mesmo assim... - ela abaixa a cabeça e vejo seu lábio tremer enquanto ela limpa rapidamente uma lágrima que desce pela sua bochecha - Eu estava com muito medo de te contar...

— Vamos voltar - digo me levantando e caminhando para a porta que levava para dentro da escola

— Emma...

— Vamos voltar! - falo mais alto do que pretendia, apertava minhas mãos tão fortemente que sentia que acabaria fazendo as palmas das mãos sangrarem

— Certo. - ela diz se levantando e caminhando timidamente a uma grande distância de mim

Chegando no quarto fui direto para o banheiro trocar de roupa, ponho um pijama confortável me lembrando de ter deixado a minha roupa favorita na casa de Meren, encaro o vestido encharcado encima da pia e o toco suavemente. "Meren..." penso com um nó na garganta, "o que eu faço com essa informação, Meren?". Saio do banheiro, ela já havia colocado um pijama e me esperava do lado de fora com o secador de cabelo em mãos.

— Você quer que eu seque para você? - pergunta sem olhar no meu rosto

— Não, obrigada, eu ajeito amanhã - digo passando por ela e indo me deitar na minha cama rapidamente

Ela suspira e guarda o secador, sobe as escadas e pela primeira vez desde que chegamos na academia ela dorme em sua própria cama. Eu não tinha a intenção de ser cruel com Meren, eu não a odiava agora ou algo do tipo, mas... eu estava confusa, muito confusa, Meren é minha melhor amiga a 1100 anos e eu certamente a amo muito como amiga, mas ainda não sabia se estava pronta para amá-la de outra forma, muito menos sabia se eu QUERIA amá-la, ela não saia de minha cabeça, passei um bom tempo me perguntando o que fazer, como não ferir os sentimentos dela e, mais importante, como fazer para que continuássemos como éramos antes.