Cecília e Dulce passaram o resto daquele dia brincando. Aproveitando o repouso da garota, tinham recebido permissão da Madre, que finalmente percebera que a verdadeira felicidade de Cecília estava ao lado da família Lários. Cecília também tinha recebido permissão para conversar com Gustavo ainda naquela noite.

Ligou para a casa de Dulce para avisar que iria até lá, estava rezando para que não fosse Gustavo a atender o telefone, ainda não sabia como falar com ele. Por sorte, foi Silvestre quem atendeu.

Ligação on

— Casa da Família Lários, boa noite?

— Boa noite Silvestre, aqui é a irmã Cecília, como vai?

— Muito bem irmã, obrigado. Algum problema com a Dulce Maria?

— Não, ela já está melhor. Eu liguei pra saber se posso ir até aí daqui a pouco, preciso conversar com o senhor Gustavo.

— Quer que eu passe o telefone pra ele?

— Não precisa, obrigada. Só avise a ele que estou indo, por favor?

— Claro irmã. Boa noite.

— Boa noite Silvestre, e obrigada.

— De nada irmã.

Ligação off

— Quem era Silvestre? – Perguntou Gustavo, que vinha do andar de cima

— A irmã Cecília, senhor. Pediu pra avisar que ela vem daqui a pouco, para conversar com o senhor.

— Aconteceu alguma coisa com a minha filha?

— Não senhor, Dulce Maria está bem – Sorriu – Ela não disse sobre o que era, mas parecia ter urgência.

— Está bem, Silvestre. Pode ir, obrigado.

— Sim senhor, com licença – Disse e foi para a cozinha

Sentado no sofá, Gustavo se perguntava o que Cecília gostaria de falar com ele, para ter urgência e ir naquela noite mesmo. Mas não negava estar ansioso, vê-la mexia com ele de uma forma que só Tereza já havia mexido. Quanto a Nicole, era página virada. Resolveu subir, tomar um banho e se vestir com ainda mais elegância.

Meia hora mais tarde, Cecília chegou ao apartamento de Gustavo e foi recebida por Silvestre.

— Boa noite irmã, como vai?

— Bem, obrigada Silvestre! – Disse adentrando o apartamento

— O senhor Gustavo já vai descer senhorita, pode se sentar. Deseja alguma coisa?

— Um café, falam tão bem do Rey Café que eu fico até curiosa pra provar! – Riu

— Agora mesmo irmã.

Enquanto Silvestre preparava o café para Cecília, Gustavo descia as escadas vestido num terno muito bem cortado, de melhor qualidade.

— Pode deixar que eu termino o café da Cecília, Silvestre.

Silvestre voltou para a cozinha, e Cecília olhava para Gustavo fixamente, completamente apaixonada pelo pai de Dulce Maria. Gustavo retribuía o olhar da ainda noviça, enquanto terminava de desenhar um coração na espuma do café.

— Sabe que é a primeira vez que alguém desenha pra mim na espuma do café? – Sorriu a moça

— Ah é? – Estranhou Gustavo enquanto entregava o café nas mãos de Cecília e se sentava no sofá ao lado dela

— Verdade, lá no internato não tem ninguém que faça isso, e não somos autorizadas a sair por aí passeando. E esse café é uma delícia mesmo! Não é à toa que falam tão bem dele!

— Obrigado Cecília, mas... Não foi pra isso que você veio aqui não é?

— Não, não foi. Eu vim porque precisava conversar com você sobre uma decisão que eu tomei, inclusive eu até já conversei com a Dulce.

— É algo sério então, pra ter vindo com essa urgência.

— É, de certa forma é sim. Eu pensei muito antes de tomar essa decisão, caso contrário nem falaria com a Dulce. Gustavo... Eu vim aqui pra abrir meu coração pra você.

— Como assim? – Surpreendeu-se

— Eu tive uma conversa definitiva com a Madre hoje cedo. Ela tinha pedido pra eu me afastar da Dulce Maria mas hoje, quando eu vi ela com febre, eu não resisti e não saí de perto dela. A Madre percebeu e me chamou na sala dela, pra me fazer algumas perguntas.

— Que tipo de perguntas?

— Sobre meus sentimentos. Ela me perguntou se eu desejava abandonar o noviciado, se eu desejava ter uma família.

— E o que você respondeu?

— Que eu desejava sim, ter uma família – Cecília respondeu francamente, e viu o sorriso de Gustavo se iluminar – E agora começa a parte difícil da conversa.

— Por quê? – Perguntou o empresário

— Esse meu desejo de ter uma família foi o que me fez vir até aqui – Deixou a pequena xícara em cima da mesa de centro e se levantou – Gustavo, desde a primeira vez que nos vimos eu senti algo diferente. Eu fiquei muito tempo sem saber o que era, mas eu me confessei, rezei e pensei muito antes de ter a certeza de que... Eu estou apaixonada por você. E por causa disso, decidi que vou deixar o noviciado. – Disse sorrindo sinceramente para ele

Gustavo se surpreendeu com a resposta, não imaginava ver Cecília se abrindo com ele dessa forma, relaxada, sorrindo, e também se levantou.

— Você... Está apaixonada por mim? – Perguntou surpreso, mas claramente feliz

— Sim - Cecília virou-se para ele, olhou fundo em seus olhos e respondeu sinceramente

— Cecília, você me deixou surpreso, mas muito feliz – Disse sorrindo para a noviça – Já que foi sincera, eu também preciso ser com você.

Gustavo pegou as mãos da jovem noviça e sentou-se com ela no sofá, olhando-a profundamente

— Eu confesso que também senti algo diferente quando te vi pela primeira vez – Disse sinceramente - Mas não dei importância porque eu namorava a Nicole, ia me casar com ela. No começo eu pensei ser gratidão pelo amor que você sempre teve pela Dulce – A noviça sorriu - Mas com o passar do tempo eu percebi que era muito mais do que isso. Não faz muito tempo, eu me dei conta de que também me apaixonei por você – O sorriso de Gustavo denunciava sua felicidade por poder se abrir com Cecília

Cecília se levantou novamente e Gustavo levantou-se atrás dela e a segurou levemente pelos braços.

— Cecília, você está apaixonada por mim, e eu por você. Sabe o que isso quer dizer?

— Sei. De acordo com a Dulce, isso quer dizer que ela acaba de ganhar uma mãe – Riu

— Isso é tudo que ela sempre quis! Você disse que falou com ela, como ela reagiu?

— Super bem! Ela mesma já tinha pedido, antes de eu conversar com a Madre, pra me chamar de mãe. Ficou chateada quando eu expliquei porque ela não podia ainda. Mas quando eu disse que ela podia me chamar de mamãe ela ficou radiante!

— Que bom! Você é a mãe que a Dulce sempre quis! Mas e com relação a nós dois?

— Eu acho que a gente não deve se apressar só porque... – Respirou fundo – Nos amamos.

Gustavo sorriu largamente e beijou uma das mãos de Cecília.

— Você tem razão, vamos deixar acontecer. Mas e o hábito?

— É só tirar, já recebi autorização da Madre e das autoridades necessárias pra isso. Depois disso eu vou ser completamente livre! Mas acho que podemos falar com a Dulce amanhã mesmo!  

— Eu concordo! – Sorriu – Posso te dar um abraço?

— Claro que pode!

Cecília e Gustavo se olharam profundamente e se abraçaram fortemente, era o primeiro abraço verdadeiro dos dois.

Ao deixar Cecília no colégio, Gustavo despediu-se dela com um beijo no rosto. Era o primeiro beijo que Cecília recebia de um homem, sentiu seu rosto ficar vermelho mas não se importou, estava muito feliz pra isso.

Entrou no colégio radiante, como nunca tinha estado antes. Foi direto para o quarto das alunas dar um beijo em Dulce Maria, mas deixaria a boa notícia de sua conversa com Gustavo para o dia seguinte, para contar junto com ele.

— Mamãe! Você demorou!

— Oi meu amor! – Deu um beijo no rosto de sua amada garotinha

— Você conversou com o meu papi?

— Eu conversei com ele sim filha! – Sorriu ao se ouvir dizendo essa palavra, e também recebeu um sorriso de Dulce

— Você vai casar com ele? – Perguntou a menina, mais feliz do que nunca

— Calma Dulce! – Riu – Eu só conversei com ele!

— E o que ele disse?

— Isso você só vai saber amanhã meu amor, quando seu papai vier aqui. Vamos conversar só nós três!

— Ah mamãe, conta, por favor!

— Não senhorita! Só amanhã! Mas o que eu posso te dizer é que depois da nossa conversa de amanhã, eu vou tirar o hábito e não vou mais ser noviça!

— Iupiiii – Comemorou

— Fala baixo Dulce, já é tarde filha!

— Desculpa mamãe, é que eu tô muito feliz!

— Eu sei meu amor, eu também! Mas agora é hora de dormir, tá?

— Eu não quero dormir! – Reclamou

— Mas se você dormir amanhã vai chegar mais rápido, você não quer que amanhã chegue logo?

— Sim piririm!

— Então! Eu vou ficar aqui até você dormir, tá?

— Tá bom mamãe!

— Boa noite meu amor, eu te amo muito viu?

— Eu também te amo mamãe! – Disse Dulce segurando a mão de Cecília

Cecília esperou Dulce adormecer e foi para seu quarto. Fabiana a esperava ansiosa, queria saber de todos os detalhes da conversa com Gustavo.

— E aí Cecília, como foi a conversa com o bonitão?

— Fabiana! – Disse em tom de repreensão - A conversa com ele foi ótima! – Suspirou apaixonadamente - Nós falamos francamente um com o outro e decidimos deixar acontecer, amanhã nós dois vamos conversar com a Dulce, explicar tudo pra ela e depois eu tiro o hábito.

— Vão explicar o quê pra Dulce? Ela é tão esperta que deve ter sacado tudo!

— Verdade! – Riu a noviça – Minha filha é mesmo muito esperta! – Afirmou orgulhosa

— Filha?

— Como diz a Dulce, sim piririm! Agora ela é minha filha! No meu coração ela sempre foi, mas agora eu tenho o consentimento da Madre. Ela me chama de mãe, e eu chamo ela de filha!

— Ai Cecília, eu fico tão feliz por você! Mas eu confesso que vou sentir muito sua falta aqui no colégio!

— Eu também Fabiana, mas vou vir aqui sempre que eu puder, prometo! Agora eu vou dormir, porque eu quero que amanhã chegue logo!

No dia seguinte, já bem cedo, Cecília fez questão de ir até o quarto das alunas para acordar sua filha.

— Dulce... Acorda filha! Seu papi tá vindo aqui pra falar com a gente!

Dulce Maria se virou para sua mãe, sorrindo.

— Bom dia mamãe! Cadê meu papi?

— Já tá vindo meu amor! Levanta pra se arrumar, vem!

Cecília pegou Dulce no colo e levou-a para se vestir. Em pouco tempo, a garotinha estava pronta e esperando Gustavo na porta do colégio, no colo de Cecília.

— Bom dia filha linda! – Disse pegando a filha dos braços de Cecília e dando um beijo em seu rosto

— Bom dia papi! – Deu um beijo no rosto do pai – Não vai dar bom dia pra minha mamãe?

Gustavo sorriu ao ver Dulce Maria chamando Cecília de mãe.

— Claro que sim filha! Bom dia Cecília! – Deu um beijo no rosto de Cecília, passando Dulce Maria para o colo da agora mãe

— Bom dia Gustavo, eu e a Dulce estávamos ansiosas esperando você chegar.

— Então vamos pra um lugar mais afastado pra conversarmos, onde pode ser?

— No quarto das meninas, elas já foram pra aula.

— Mas a Madre não vai achar ruim? – Indagou Gustavo

— Não, ela já me deu todas as permissões que você imagina com relação a esse assunto! – Sorriu, e em seguida deu um beijo no rosto de Dulce – Vamos?

Ao passarem pelos corredores atraíram alguns olhares, mas seguiram em frente. Chegaram ao quarto, Cecília colocou Dulce sentada em sua cama, e sentou-se ao lado de Gustavo na outra cama, ficando de frente para a garotinha.

— Eu já sei tudinho que vocês vão me dizer! – Disse Dulce surpreendendo aos dois

Gustavo e Cecília se olharam, um pouco surpresos.

— Sabe? – Perguntaram em coro

— Sim piririm! – Sorriu travessa, fazendo os pais sorrirem