GuCilia - Uma História Diferente escrita por CDA GuCilia
Notas iniciais do capítulo
Olá meninas! Milhões e milhões de desculpas pela demora! Mas passado é passado, né?
Aproveitem o capítulo novo!
— Bom dia, Franciele! – Ele disse entrando na cozinha
— Bom dia, seu Gustavo! – Ela o respondeu, solícita – Deseja alguma coisa?
— Sim. Uma bandeja com café completo pra mim, Cecília e Dulce Maria, por favor.
— É pra já, patrão! – Ela sorriu
— Obrigado. E desculpe pela bagunça no quarto da Cecília ontem!
— Que isso, seu Gustavo. Valeu a pena, por ver todo mundo tão alegre! – Ela disse enquanto começava a preparar o café
— Você e o Silvestre são ótimos funcionários, a Estefânia acertou quando contratou você! Mas a casa nova é muito maior, talvez precise de mais gente pra ajudar vocês.
— O Silvestre mandou eu ficar muda, mas eu concordo, viu? E agradeço!
— Agradece o quê, Franciele? – Silvestre perguntou entrando na cozinha – Bom dia, senhor Gustavo. – O mordomo sorriu para o patrão
— Bom dia, Silvestre. A Franciele estava me agradecendo porque eu vou contratar mais um ou dois funcionários pra ajudarem vocês na casa nova.
— O que foi que você falou, Franciele? – Ele olhou irritado para a cozinheira – Fecha isso!
— Eu não falei nada não, careca! – Ela rebateu fechando o uniforme – Foi o patrão que ofereceu!
— Nesse caso você deveria ter recusado, e não agradecido!
— Qual o problema de aceitar uma ajuda? Eu hein! – Ela resmungou – E só pra não perder o costume, tum tum!— Ela o provocou, com o tradicional passinho de samba
Gustavo ria e observava a discussão dos funcionários, e quando Silvestre ia responder, ele o interrompeu:
— Fica tranquilo, Silvestre. É só uma ajuda, nada mais!
— Tá vendo só, careca? Aprende com o patrão, aceitar ajuda não é errado!
Silvestre revirou os olhos, e Franciele entregou a bandeja com o café para Gustavo.
— Obrigado, Franciele. Depois eu venho aqui, e você me diz no que acha que vai precisar de ajuda na casa nova! – Ele disse para provocar Silvestre e voltou ao quarto
Antes de subir, ele pegou duas rosas vermelhas de um arranjo que estava sobre a mesa de jantar. Entrou devagar no quarto, deixou a bandeja sobre a cômoda e se aproximou da cama onde a namorada e a filha dormiam, beijando levemente os lábios de Cecília.
— Bom dia, minha vida.
— Bom dia, meu amor! – Ela disse ao despertar e o beijou novamente – É uma delícia acordar assim, sabia?
— Eu trouxe café pra gente!
Cecília se sentou na cama com uma expressão surpresa e olhou para a bandeja na cômoda.
— Você fez aquilo sozinho? – Ela questionou arqueando a sobrancelha e apontando para a bandeja
— Não, foi a Franciele quem preparou tudo. Mas do jeito que você falou até faz parecer que eu não sei cozinhar!
— E sabe?
— Claro que sei! E como prova, hoje eu mesmo faço nosso jantar!
— Tudo bem, Grand Chef! Agora chega de conversa, eu estou morrendo de fome!
Gustavo foi até a cômoda para pegar a bandeja enquanto Cecília acordava Dulce Maria.
— Bom dia, mamãe! – A pequena disse ao despertar – Bom dia, papai!
— Bom dia, filha! – Eles disseram juntos – Dormiu bem? – Cecília perguntou
— Sim piririm! Não tive nenhum pesadelo!
— Que bom, meu amor! – Ela beijou a cabeça da pequenina – Seu pai trouxe café pra gente!
— Iupiiii! – Ela parou e pensou por alguns instantes – Será que isso não é um truque, mamãe?
Gustavo e Cecília se olharam intrigados e confusos.
— Truque? Como assim filha?
— Uma ideia do papi pra deixar a gente mais feliz, e não gastar o dinheiro dele todinho!
Cecília e Gustavo gargalharam com a dedução da filha.
— Isso até que faz sentido, filha! O que me diz, Gustavo? – Cecília olhou para o namorado, cruzando os braços
— Não posso mais agradar as mulheres da minha vida?
— Pode e deve! Mas fica tranquilo meu amor, a gente vai deixar um dinheiro sobrando, tá?
— Ufa, obrigado! – Ele riu, como se estivesse aliviado – Agora vamos aproveitar esse café, eu infelizmente preciso trabalhar.
Após o café Gustavo foi para a empresa, mas antes deixou Cecília e Dulce no shopping. Ao entrar, Cecília se sentiu pequena ante o tamanho da construção. Uma infinidade de lojas, luzes, sons e pessoas a faziam se sentir um pouco perdida num mundo ainda novo para ela.
— Mamãe, você já tinha vindo ao shopping?
— Não, é a primeira vez! É tão grande, tão bonito!
— Então eu vou te ajudar, porque eu entendo tudo de shopping!
— Obrigada, senhorita expert! Por onde nós começamos?
— Pelo meu brinquedo! – A carinha de anjo sorriu travessa e Cecília riu – Depois a gente compra seu celular e um monte de coisas pra nossa casa nova!
— Eu concordo! Aliás, depois eu vou ter que pedir a ajuda das suas tias pra comprar tudo o que nós estragamos de maquiagem ontem! Mas as suas tintas a gente pode comprar hoje, que tal?
— Oba!
As duas começaram a andar pelo shopping e pararam em uma loja de brinquedos.
— Mamãe, posso levar essas bonecas? – Dulce perguntou aparecendo com duas caixas grandes, que mal conseguia segurar sozinha
— Uma só, filha. – Cecília disse pegando uma das caixas da mão da filha
— Porque?
— Porque se você levar uma só, você vai poder levar um brinquedo diferente!
— Me ajuda a escolher outro brinquedo então?
— Claro!
Depois de mais alguns minutos, Cecília e Dulce saíram com duas sacolas grandes e continuaram a andar pelo shopping, escolhendo itens de decoração para alguns cômodos da casa nova. Passaram por uma loja que chamou a atenção tanto de Dulce Maria, quanto de Cecília. Pelas paredes de vidro da enorme loja, era possível ver pianos de caudas de tamanhos, cores e tipos de madeira diferentes.
- Olha mamãe! Vamos comprar um?
— Não filha, um piano desses deve custar uma fortuna! Além do mais nós ainda não nos mudamos e eu duvido que tenha tanto dinheiro assim no cartão do seu pai!
— Por favor, mamãe...
— Ai, meu amor! Não me olha assim, eu não resisto!
Dulce olhava suplicante para Cecília com a certeza de que conseguiria qualquer coisa só com aquele par de olhinhos verdes.
— Tudo bem, vamos entrar! – Cecília suspirou, rendida
As duas entraram e rapidamente uma funcionária se aproximou para ajudar com as inúmeras sacolas que elas carregavam e deixar em um canto da loja para que elas pudessem andar mais confortavelmente, enquanto outro apresentava alguns pianos.
— Que tipo de piano vocês estão procurando, senhora... ?
— Cecília Lários. – Ela apertou a mão do funcionário, e a forma como se apresentou chamou a atenção de Dulce Maria
— É esposa do empresário Gustavo Lários? – O funcionário disse a olhando de cima a baixo
“O que isso tem a ver?” — Ela pensou
— Sim. – Ela confirmou um pouco receosa – Bom, pra ser sincera eu não sei exatamente as diferenças entre um e outro.
— As diferenças se dão, principalmente, de uma marca para outra. Cada marca produz as teclas com um peso diferente, e outros detalhes mínimos. Esses detalhes trazem as diferenças de som. Sons mais suaves, mais brilhantes... Este aqui, por exemplo, – Ele apontou para um Steinway&Sons – É um dos melhores!
— Experimenta, mamãe!
— Melhor não, meu amor! Tem muitos anos que eu não toco, tenho vergonha!
— Por favor! – Dulce olhou para a mãe com os mesmos olhos suplicantes e jeitinho doce de sempre
— Dulce Maria... Como é que você consegue tudo o que quer só com esses olhinhos?
— Você sabe, é o meu jeitinho! – Afirmou fazendo a mãe e os funcionários rirem – E só tem a gente aqui!
Cecília olhou em volta, realmente não havia ninguém além deles ali.
— Não costuma vir ninguém aqui nesse horário. – A jovem funcionária explicou
— Por favor! Eu quero te ver tocar! – Dulce pediu mais uma vez
— Vai negar a um pedido da sua filha? – Era o rapaz quem a questionava
Sem saída, Cecília se sentou à frente do piano, respirou fundo, e a belíssima melodia do Prelúdio Op. 28 Nº6 “In B minor” de Chopin começou a ecoar pela loja. As pessoas que paravam para ouvir jamais imaginariam que Cecília não tocava há anos, tamanha a perfeição com que a obra foi executada.
Quando terminou, sentiu-se envergonhada ao ouvir aplausos vindos do exterior da loja, e mais ainda ao notar que o vendedor não parava de olhá-la.
— Obrigada. – Agradeceu – Gostou filha? – Perguntou para desviar o olhar do funcionário
— Muito, mamãe! Vamos comprar esse?
— Primeiro temos que saber quanto custa, meu anjo! – Ela puxou a garotinha para seu colo e se voltou à funcionária
— Custa 250.000,00 reais, senhora!
— Eu não sei se temos todo esse dinheiro aqui, saí sem perguntar ao meu marido o limite do cartão. – Ela resolveu seguir com a brincadeira que Gustavo havia proposto, já estava incomodada com os olhares daquele vendedor e agradeceu mentalmente quando ele se afastou
— Eu posso dar uma olhada no cartão, senhora?
Cecília estendeu o cartão para a vendedora, que o olhou por alguns segundos.
— Este cartão é ilimitado. – A vendedora sorriu amigável, devolvendo o cartão para Cecília – Aqui tem todo o dinheiro disponível na conta do Sr. Lários. Se quiser ligar para o seu marido, nós saímos para a senhora ter mais privacidade.
— Eu vou aceitar, obrigada. Mas será que eu posso usar o telefone da loja? Acabei de comprar meu primeiro celular e não faço ideia de como configurar.
A vendedora olhou confusa para Cecília, que sorriu e logo esclareceu:
— Eu era noviça, saí de um internato religioso.
— Desculpe, senhora Lários. Não quis parecer curiosa.
— Não se preocupe! Vou ligar para o meu marido, ver se podemos comprar esse piano hoje.
A vendedora levou Cecília até o telefone, enquanto Dulce brincava nos outros pianos e se afastou junto com o outro funcionário, para que ela pudesse falar com Gustavo sobre dinheiro sem se envergonhar.
— Alô, Gustavo?
— Oi, meu amor! Que número é esse?
— De uma loja de pianos aqui do shopping. A Dulce quis que eu entrasse e comprasse um piano lá pra casa, me fez até tocar, acredita?
— Acredito, a Dulce Maria consegue qualquer coisa! – Ele riu – Mas por que me ligou?
— Eu saí de casa sem te perguntar o limite do cartão, até estranhei que depois de termos comprado tantas coisas ainda tenha sobrado dinheiro, mas enfim.
— O cartão é ilimitado!
— Pois é, a moça da loja me disse. Ela falou que tem todo o dinheiro da sua conta!
— Tem sim! Quanto custa o piano?
— 250 mil. É muito dinheiro, imagino que você não tenha!
— Pode comprar, à vista se quiser!
“Meu Deus, ele é muito mais rico do que eu pensava!”
Ela ainda se surpreendia com a riqueza do namorado, mas afastou os pensamentos.
— À vista, tem certeza?
— Tenho, absoluta! Compre o piano e mande entregar na nossa casa dentro de três semanas, é o tempo que falta para nos mudarmos!
— Tão rápido?
— Por mim seria até antes, mas tem que organizar tudo! Bom, meu amor, eu preciso ir agora. Nos falamos depois?
— Até mais tarde, meu amor. Um beijo.
— Outro pra você, minha vida.
Ela desligou o telefone e se sentou no banco do piano que compraria e que tocara antes, puxando a filha para seu colo.
— Boas notícias, filhota! Seu pai deixou a gente comprar o piano!
— Eba! E como a gente vai levar ele pra casa?
— Não vamos levar hoje, vão entregar na nossa casa nova!
— Quando?
— Daqui três semanas!
— Vai demorar muito, mamãe!
— Só um pouquinho assim! – Ela aproximou os dedos como indicação para a filha
A vendedora se aproximou delas.
— Então, senhora Lários?
— Já falei com meu marido, temos o dinheiro suficiente.
— Vai ser esse mesmo? – Cecília assentiu – O pagamento vai ser à vista ou parcelado?
— À vista.
Cecília concluiu o pagamento, deixou o endereço para entrega e a data e elas enfim saíram da loja, carregadas de sacolas com brinquedos, itens de decoração, um celular e a encomenda de novos móveis e um piano. Pararam para almoçar e Cecília permitiu que Dulce comesse o que queria.
— Só hoje e porque estamos no shopping, tá bem? Você sabe que não faz bem comer muita besteira.
— Parece a Irmã Rita falando! “Não pode isso, não pode aquilo!”
— Ai filha, só você mesmo. – Ela riu
— Mamãe, posso te fazer uma pergunta?
— Claro, meu amor!
— Por que você disse que o papai era seu marido quando a gente foi comprar o piano? Aquela brincadeira não valia só lá em casa?
— Você conhece seu pai, ele tem ciúme... – Ela parou – Esquece, você é muito novinha pra saber dessas coisas.
— Eu não acho não, mas tudo bem.
Depois de mais algumas horas elas saíram do shopping e foram de táxi até a empresa de Gustavo.
— Boa tarde dona Cecília, Dulce Maria.
— Boa tarde, Silvana. – Cecília cumprimentou – O Gustavo está ocupado?
— Acho que não! Quer que eu anuncie?
— Não precisa, obrigada. Pode pedir pra alguém levar essas sacolas pro carro, por favor?
— Sim senhora, agora mesmo.
— E aí filhota? Como eu me saí dando a minha primeira ordem? – Cecília voltou-se à filha, assim que Silvana saiu
A menina fez um sinal de positivo e sorriu para a mãe.
— Mandou muito bem, mamãe! Vamos fazer uma surpresa pro papai?
As duas foram até a sala de Gustavo, Cecília percebeu que a filha não ia bater à porta antes que elas entrassem.
— Não vai bater na porta, filha?
— Não precisa, mamãe! O papai não é dono da empresa?
Cecília sorriu e se abaixou para olhar diretamente nos olhos da filha.
— Deixa a mamãe te explicar uma coisa, meu amor: Você sabe que seu pai é dono de todo esse prédio, tem propriedades...
— “Pro” o quê?
— Propriedades. É o que uma pessoa, uma família tem. Sua família tem essa empresa e algumas outras coisas, certo? – A menininha assentiu – Você sabe também que pra ter tudo isso, é preciso ter dinheiro. Um exemplo é tudo o que nós compramos hoje, principalmente aquele piano. Mas ter tudo isso, morar em uma casa bonita, não significa que somos melhores do que qualquer outra pessoa. E educação é uma coisa que ninguém pode tirar da gente. Tendo propriedades ou não, é muito importante sermos educados, humildes, entende?
— Mais ou menos.
Cecília sorriu e continuou:
— Você ainda é muito novinha, mas quando você crescer vai entender a importância da educação e da humildade. Então, seu pai ser dono da empresa não quer dizer que tenhamos privilégios, que não precisemos bater na porta antes de entrar, cumprimentar as pessoas, pedir licença... Tá bom?
— Tá bom mamãe!
Cecília puxou a menina para seu abraço e deu um beijo em seu rosto, tendo a paz e a certeza de que um dia, mesmo que se separasse de Gustavo e não pudesse mais vê-la, Dulce se lembraria daqueles ensinamentos.
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