Maid's Tale - Laços de Amizade escrita por ARurouni


Capítulo 1
Parte I - A Chegada ...


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo. A chegada de Madeline na mansão e os primeiros contatos com as demais empregadas e Elle, a dona da mansão.



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Vale Touille, Manthle – 18 horas.

A neve caía, ainda fraca, mas a noite demonstrava que poderia haver mais incidências.

As nuvens cobriam o céu, dando um ar de certa tristeza ao local, apesar de ter uma das mais belas vistas: uma enorme cadeia de montanhas a envolver o local, inúmeras árvores secas, cobertas por uma camada branca de neve, assim como o caminho à frente, ainda de terra, coberto por algumas folhas secas, caídas durante a estação, cuja havia recém terminado.

Mais a frente, próximo de uma encosta, havia uma enorme mansão, cuja arquitetura remetia ao estilo barroco, assim como contava com várias janelas, a contar com belos detalhes em sua composição, cobertas com o que pareciam ser espessas cortinas de cor marrom-avermelhada. Era possível ver, em algumas destas, cujas cortinas encontravam-se parcialmente abertas, uma fraca iluminação, que aparentavam serem de velas, aumentando, ainda mais, aquela sensação de nostalgia.

Os ventos frios cortavam entre as secas árvores, causando assobios ao passarem por estas e, como se lutasse para enfrentá-los, uma figura caminhava, carregando uma mala em uma de suas mãos, enquanto que a outra apertava mais o casaco que usava, no intuito de se manter aquecida: no entanto, tal tentativa se demonstrava inútil, perante as forças daqueles ventos.

No trajeto até os amplos portões gradeados da mansão, cujo, em um dia comum, não se levaria mais do que poucos instantes, aquela figura levou, praticamente, uns dez minutos para alcançá-lo.

Tremendo de frio, aquela figura colocou a mão que segurava o casaco em um dos bolsos do mesmo, pegando uma chave e, com certa dificuldade, destrancou-o: o mesmo se abriu, com certa dificuldade, devido ao caminho coberto por neve. Porém, assim que pode trespassá-lo, aquela pessoa pode adentrar aquele amplo caminho que levava até a mansão que, nas demais estações, deveria ser um sereno e belo cenário, com todas aquelas árvores que ali, estavam, como se fosse um corredor natural.

Com um suspiro, aquela figura levantou vagamente o capuz de seu casaco para ter uma melhor visão da mansão, revelando o belo rosto de uma jovem mulher: seus lábios, marcados pelo frio, tremiam e, a sua clara pele, dada a baixa temperatura, ganhava uma leve tonalidade pálida.

“Brrr...”

Murmurou, a mulher, ainda a tremer de frio e a recolher-se, na tentativa de ganhar alguma temperatura e, em seguida, fechou parcialmente os olhos, cujos ventos, agora que os mesmos encontravam-se desprotegidos, pareciam castigá-los, fazendo com que ela apertasse os seus passos.

Em poucos minutos, ela atravessou a ampla área de entrada da mansão, alcançando as amplas e duplas portas de madeira bem cuidada, da mesma: com um suspiro, ela colocou sua mala no chão, ao seu lado e, em seguida, guardou novamente a chave no bolso de seu casaco, enquanto voltava o seu olhar para aquela entrada.

Silêncio.

No intuito de tentar ouvir algum tipo de som, ou algum indício que ali, realmente, vivia alguém, a jovem mulher exibiu certo receio, pois, apesar das luzes das velas que avistara do portão gradeado, ela não conseguia ver ninguém.

Erguendo lentamente uma de suas mãos, a jovem mulher segurou na aldrava e, em seguida, bateu por três vezes.

A princípio, pareceu-lhe que nada havia acontecido: nenhum som, ou algum tipo de movimento, que pudesse lhe comprovar a presença de alguém, se tornou presente. Logo, no entanto, um clique na fechadura se tornou audível e a jovem, a tremer de frio, pode ver que as portas se abriam: de trás das mesmas, a figura de uma jovem mulher, cuja aparência não lhe dava mais do que dezessete ou dezoito anos e uma estatura máxima de 1,65m. Ela estava vestida com um antigo e longo vestido negro, com partes em branco, bastante similar aos utilizados pelas empregadas de muito tempo atrás.

Ela possuía uma pele clara, enquanto que os seus cabelos, longos e lisos, possuíam um belo tom de loiro; seus olhos castanhos, a exibirem preocupação, fixou-se com os da recém-chegada mulher.

“Oh… por favor...” Começou a dizer, a jovem empregada. “… Entre, entre!” Continuou, dando espaço para que ela pudesse entrar.

Assim que a mulher passou ao seu lado, a jovem voltou a falar.

“… Você… é?”

Questionou, a jovem empregada, cujos olhares delatavam que ela se queixava de não ter questionado, previamente, mesmo ao ver que aquela mulher estava sofrendo por demais, com o frio.

A mulher, a sentir-se melhor, graças a temperatura mais agradável de dentro da mansão, proporcionada por uma enorme lareira situada no centro do amplo salão de estar, olhou para a jovem empregada que a recebera e exibiu um breve sorriso, um tanto quanto trêmulo.

“… Err… b-boa tarde… m-meu nome é Madeline.” Começou a dizer, a jovem mulher, dando uma breve pausa para recompor o seu fôlego, este perdido dado a baixa temperatura e a altura em que aquela mansão se encontrava. “… E-Eu fui chamada para--”

A jovem empregada sorriu, levemente.

“Ahh… sim, sim! Seja bem vinda...” Disse, passando a ajudá-la com a mala. “… A senhora dessa mansão está em seus aposentos, mas eu já vou avisá-la...” Continuou e, em seguida, estendendo a sua mão livre, ela indicou um dos sofás presentes no centro daquele salão.

“Por favor, sente-se. Deseja um chá, ou um café?” Questionou, a jovem, despejando certa animação sobre Madeline, cuja corou, levemente sem jeito.

“N-Não, obrigada...” Respondeu, Madeline, ainda um tanto quanto constrangida. “S-Só… gostaria de poder me sentar, um pouco...” Continuou, observando o sofá indicado pela jovem empregada, cujo aparentava ser bem confortável e convidativo.

A jovem empregada sorriu, animadamente.

“Esteja à vontade!” Exclamou e, tão logo recobrou-se de sua animação, ela fez uma breve reverência e continuou. “Irei a chamar a nossa senhora...”

Sorrindo, a jovem empregada afastou-se, com uma renovada cortesia. Porém, após alguns poucos passos, ela parou.

“Ah...” Disse e, em seguida, voltou-se para Madeline, quase a girar no mesmo ponto. “… A propósito: meu nome é Lucy. Prazer em conhecê-la e saber que trabalhará conosco!” Concluiu, bastante animada, Lucy e, após, repetiu o seu gesto cortês, afastando-se, definitivamente, desta vez.

Madeline não pode conter um sorriso com o jeito gentil de Lucy: parecia muito animada, apesar de bastante nova, porém a sua curiosidade logo voltou-se para o local onde havia sido convidada para trabalhar.

Sentia-se um tanto quanto estranha: o local era enorme, com uma vaga iluminação proporcionada pelas chamas das lareiras e de lustres, cujos, assim como a fachada da mansão, possuíam um tipo clássico, apesar das luzes serem elétricas, misturando o antigo com o moderno.

“… Aqui… é enorme… mas este… silêncio...” Pensou, Madeline, olhando para todos os lados, um tanto quanto nervosa de não ver e nem ouvir nenhum som, além do crepitar da lenha na lareira, assim com o agora fraco som dos uivantes ventos do lado de fora.

Abrindo parcialmente a sua mala, Madeline conferiu alguns de seus pertences que, entre eles, ela encontrou uma carta, cuja encontrava-se parcialmente amarrotada, apesar de seu envelope encontrar-se cuidadosamente aberto: logo, ela a pegou e começou a observá-la por alguns instantes.

Em seguida, com um suspiro, ela a releu, como se a recordar.

 

Uma semana atrás...

Madeline havia recentemente perdido o único parente que teve, uma senhora cuja a adotara de um antigo orfanato, cuidado por freiras e, desde então, tentava reconciliar a sua atual situação: sua mãe adotiva, antes de morrer, inspirou muitos cuidados, o que, consequentemente, fez com que todas as economias delas se esvaíssem com tratamentos e medicamentos e, apesar disso, ela não se importara.

Apesar de sempre ter consciência que era adotada, Madeline a amava como uma mãe biológica, sempre ao seu lado, até o final de sua vida.

Porém, agora, ela estava sozinha e sem saber o que faria para se manter: conseguira alguns pequenos e temporários empregos, quase como uma diarista, a passar e fazer a limpeza da casa de outras pessoas, além de cuidar da cozinha e outras tarefas.

Tal situação, no entanto, não eram bem os planos que tinha, quando era criança, mas tinha que agradecer de poder ter um lugar para morar.

Às noites, se sentava perto da janela de seu quarto e pensava sobre o seu passado: a se destacar entre tais lembranças, uma que sempre tocava fundo em seu peito eram as memórias de sua jovem irmã, Élise.

Madeline e Élise eram bebês quando foram deixadas no orfanato e, conforme cresciam, sempre se demonstraram muito próximas e dependentes, uma da outra. Porém, o casal que adotou Madeline não tinham como adotar as duas e, com isso, elas se separaram.

Os primeiros meses e anos foram os mais difíceis para a jovem Madeline, porém, quando já era maior de idade, ela tentou procurá-la, mas o local havia sido fechado por não haver mais como cuidar dos menores ali, abandonados.

Desesperada, Madeline procurou pelas antigas freiras, porém, apesar de ter se reencontrado com algumas delas, nenhuma teve notícias do destino da jovem Élise, o que abalou os sentimentos dela: apesar de não desistir de sua busca, aos poucos, Madeline começou a acreditar que nunca mais a veria.

Com muito custo, Madeline continuava a tentar se manter, até que, certo dia, uma grande correspondência havia chegado em sua casa, onde, na mesma, havia uma chave, uma carta em um fino e delicado envelope.

E, dobrado de forma impecável no fundo da caixa da correspondência, estava um longo vestido de empregada.

Removendo-o da mesma, Madeline o posicionou a frente de seu corpo e se observou a frente do espelho de seu armário: era um longo vestido negro, com alguns detalhes em branco com rendas.

Madeline logo o admirou, achando-o extremamente bonito, apesar de um pouco quente para vesti-lo, no momento.

Logo, no entanto, ela retornou a realidade.

“Por que alguém me mandaria algo assim?!” Pensou, achando que pudesse ser de algum rico excêntrico e um certo receio percorreu-lhe a coluna. Porém, assim que o pôs sobre a sua cama, ela voltou a sua atenção para o envelope.

Tomando todo o cuidado para não rasgar, por demais, o envelope, tendo em vista que admirou o material do mesmo, ela removeu a carta que ali, havia e logo começou a lê-la.

Prezada Madeline,

Gostaria de, primeiramente, me apresentar: meu nome é Elle Pagannini e provavelmente, já deve ter ouvido falar de meu nome.

Conheci seus trabalhos a poucos dias atrás e, com isso, gostaria de lhe propor uma oportunidade: sei de seus gostos por desenhos artísticos e atualmente estou precisando de um auxílio em minha residência. O trabalho poderá ser um pouco cansativo e exigir, inclusive, a sua convivência em minha mansão: o salário, inicialmente, será de K$ 1.700,00, porém encontro-me aberta a negociações, se você se interessar.

Caso esteja interessada para uma entrevista inicial, peço, encarecidamente, que entre em contato, para que possamos acertar os pormenores. Sei, também, que passas por uma complicada situação financeira, então reforço que poderemos discutir a respeito.

Pense bastante na proposta, pois creio que será uma boa oportunidade para você.

No aguardo de seu contato,

Elle.”

Ao concluir a leitura inicial, Madeline observava a carta com grande incredulidade.

“I-Isso… é uma piada!?” Foi o seu primeiro pensamento: Madeline conseguia, com muita sorte, entre 400 a 500 Khalis por mês e agora recebia esta proposta de 1.700!

Havia, também, um outro ponto fundamental: a proposta estava assinada por Elle.

“ELLE!” Disse, Madeline, quase a gritar.

Elle era bastante conhecida em toda Tharan, como uma mega empresária, fundadora da marca Lust, umas das mais cobiçadas linhas de roupas, calçados e até de produtos de beleza, como maquiagens e entre outros, além de ser uma promoter e ter o seu nome espalhado em vários tipos de negócios, o que faz com que muitos praticamente sonhem em trabalhar para ela, pois são raros os casos de alguém não conseguir ter o seu nome famoso.

Com um suspiro, no entanto, Madeline achou estranho tal proposta, não acreditando que fosse de verdade.

“Provavelmente é uma piada… uma piada de muito mau gosto!” Pensou, largando a carta em cima da caixa e se jogou sobre a cama, muito desanimada: estava começando a acreditar que a sua vida estava para melhorar, até que aquela encomenda veio parar em suas mãos.

“E alguém aparece para ‘brincar’!” Pensou novamente, Madeline, aborrecida.

Exausta, Madeline nem percebeu que, aos poucos, começava a adormecer: quando finalmente abriu os seus olhos, zonza e confusa, Madeline percebeu que já era bem tarde da noite e colocou uma de suas mãos sobre a testa, ainda a ‘despertar’.

Retirando as suas roupas casuais e trocando por suas roupas de dormir, Madeline guardou o vestido dentro da caixa e a afastou, resolvendo dormir definitivamente.

Na manhã seguinte, se levantou e tomou o café da manhã: precisava se preparar para começar mais um dia de trabalho. Quando, no caminho, ela esbarrou na caixa da encomenda, quase a cair sobre a mesma e novamente voltou sua atenção para o vestido, cujo ela havia admirado e a carta.

Com um suspiro, Madeline exibiu uma curiosa e pensativa expressão por alguns instantes.

“… E se… não for…?!” Pensou, Madeline, a se sentir confusa: pegando a carta, ela viu e reviu o telefone de contato.

“… Vamos ver...” Disse para si mesma e, em seguida, pegou o telefone, discando os números indicados na carta.

Este tocou umas duas vezes e, em seguida, uma feminina voz atendeu a ligação.

“Pois não…?” Disse a voz, no aparelho.

Receosa, Madeline respondeu.

“Err… b-bom dia… m-meu nome é Madeline e eu--” Madeline preparava-se para completar a sua frase, quando a mesma fora interrompida pela voz.

“Oh!...” Exclamou, a voz, tão logo ouviu o nome da jovem. “… Olá, Madeline. É um prazer! E então?” Questionou, a voz, com certo toque de animação.

“Err… e-então… o quê…?!” Questionou, Madeline, ainda sentindo-se confusa e, ao mesmo tempo, surpresa, começando a acreditar que aquela voz era, de fato, da própria Elle.

“Aceitará, ou não, a minha proposta?!” Questionou, Elle, gentilmente.

Madeline não conseguia acreditar, sentindo o seu corpo quase se paralisar, por completo.

“U-Uh… e-eu… n-não sei...” Murmurou, Madeline, com um tom baixo de voz.

“Hmhm...” Elle riu, de forma sem abrir os seus lábios: de uma forma contida e delicada. “… Pense bem, será uma ótima oportunidade. Infelizmente, no momento, eu necessito de uma ótima e responsável empregada para trabalhar em minha mansão, tendo em vista que o trabalho aumentou muito… e recentemente, perdi uma de minhas melhores, então eu gostaria muito que aceitasse...”

“B-Bem… é que… eu não sei… onde eu--?!” Madeline começou a dizer, ainda a sentir a sua cabeça girar, em um misto de confusão e ansiedade a quase lhe suprimir o seu respirar. Elle, no entanto, a interrompeu, novamente.

“Onde irá trabalhar?!… Hmhm...” Disse, Elle, a rir, novamente. “Você trabalhará em minha mansão, em Manthle...”

Madeline arregalou os seus olhos, extremamente surpresa.

“Manthle?” Pensou.

Manthle é um amplo e frio continente, situado ao norte de Tharan: geralmente muito procurado pelos ricos e milionários de todo o planeta, para fins de turismo e um agradável local para se passar as férias, tanto para os mais novos, com os esportes radicais, como snowboarding, Ski e entre outros; quanto para os mais velhos, com vários elementos e construções de muito tempo atrás, repletos da história de todo o mundo.

Madeline ainda tentava racionalizar tudo, enquanto que Elle continuava a falar, pela ligação.

“… Irá precisar de um voo que… hmm...” Elle deu uma breve pausa, feito que conferisse algo, mas logo continuou. “… Daqui a uma hora e, ao chegar em Manthle, deverá pegar um trem para o vale Touille: é onde se localiza minha modesta moradia...”

Elle e Madeline se calaram por alguns instantes: a empresária parecia quase dizer o estado em que a jovem mulher estava e optou por dar-lhe um tempo, para se reestruturar, sem dizer mais nada: e, como esperado, Madeline logo voltou a murmurar.

“M-Mas… e-eu--”

Sem jeito, Madeline ainda estava incrédula, sem mais conseguir pensar, coerentemente, falando apenas o que veio-lhe a mente, com a menção de sua provável viagem.

Ouvindo seu comentário, no entanto, Elle continuou.

“Você não tem dinheiro?...” Questionou, Elle, mas sequer esperou pela confirmação de Madeline. “Hmhm, isso não é um problema… Vá ao aeroporto St. Andrews e alguém irá lhe encontrar lá, que a ajudará.”

Elle se calou por alguns instantes e, como Madeline continuava muda, ela sorriu brevemente.

“… Quando chegar em minha residência, conversaremos mais… e, se até lá não estiver certa, não se preocupe: poderá voltar para casa. Estamos de acordo?” Disse, Elle, em um leve tom irônico, mas a manter a sua polidez.

Madeline continuava muda, cujo estado durou apenas cinco segundos, mas que, para a jovem mulher, pareceram-lhe horas.

“Uh… ok...” Respondeu, Madeline, sem jeito.

“Ótimo!” Exclamou, animadamente, Elle. “… Será um prazer recebê-la em minha morada.”

Madeline nada mais dissera e Elle, já obtendo a sua resposta e praticamente certa de sua aceitação, sorriu, animadamente.

“… Beijos e até breve...” Concluiu e, em seguida, ambas encerraram a ligação.

Elle sorria, a bater, delicadamente, o seu celular sobre a ponta de seu queixo, enquanto observava, de forma distante, mas com uma animada expressão, a janela de seu avião particular. Ela pode sentir, no entanto, os atentos olhares de uma mulher que estava de pé, ao seu lado.

“Hmhm…” Elle riu, novamente, a cobrir os lábios com uma de suas mãos, enquanto que, com a outra, depositava o celular no banco, ao seu lado.

“… Sei o que está pensando, Mert...” Concluiu, Elle e a mulher, ao seu lado, sorriu de volta, quase a dar de ombros, acompanhando no riso da empresária.


Trazida de volta aos dias atuais, Madeline sacudiu brevemente a sua cabeça, como se afastasse as memórias de seu nervosismo e ansiedade, ela pode ouvir sons de passos a descerem das escadarias laterais que levavam para o segundo andar daquele amplo salão: tratava-se de uma ainda animada Lucy, que descia, acompanhada de uma mulher.

Esta possuía um tom de pele claro e não deveria ser maior do que 1,70m de altura. Ela possuía um porte austero e determinado; Seus cabelos eram lisos, porém curtos, quase a alcançarem a altura da linha dos ombros, enquanto que os seus olhos, cinza claros, fixavam-se na jovem Madeline.

A jovem mulher estranhava a forma como ela estava trajada: a usar um estilo de vestido de peça única, com aberturas em ambos os lados de seu corpo, aberto em suas costas e a se firmar na altura de seu pescoço, este era muito comum nas desérticas e quentes regiões de Thanan, o que surpreendeu Madeline.

“E-Ela não sente… frio?” Pensou, Madeline, ainda a manter contato visual com aquela mulher.

Em seu rosto, ela usava um véu semitransparente, cujo cobria do nariz, para baixo. Preso em sua cintura, encontrava-se um objeto que chamou a atenção de Madeline ainda mais do que a constatação que ela não sentia frio: ali encontrava-se um chicote enrolado, na cor marrom escuro.

Atrás desta mulher, também a descer as escadas, uma outra, que Madeline não demorou para reconhecer em se tratar da própria Elle.

Elle era uma alta mulher, cuja Madeline, agora melhor do que qualquer outro momento que a tenha visto, percebia que ela deveria ter entre 1,73m e 1,75m de altura, com um corpo sinuoso e de formas perfeitas; sua pele era clara, quase a beirar uma leve palidez, enquanto que os seus olhos, quase sempre a ostentar certa malícia e sagacidade, eram de um belo tom de azul-claro. Seus cabelos negros eram bastante longos, quase a alcançarem a altura de sua cintura, e levemente ondulados, cujos Madeline podia facilmente dizer que eram bem tratados, dado o seu brilho e leveza.

Ela estava trajada com um longo negro, cujo contava com um sedutor decote na altura de seus seios e, como a outra mulher, suas costas estavam parcialmente desnudas, assim como contava com longas luvas da mesma cor do vestido.

Com um sereno sorriso, Elle voltou os seus olhares para Madeline e, tão logo ela se aproximou da jovem mulher, fez uma breve reverência.

“… Seja bem vinda, Madeline...” Disse, Elle, educadamente.

Madeline encontrava-se parcialmente sem jeito, a segurar nervosamente o seu casaco e a exibir um ansioso e nervoso sorriso.

Lucy, que acompanhava aquela outra mulher e Elle, sorriu, fazendo uma breve reverência para Madeline.

“Se me permite, Elle...” Disse, gentilmente, Lucy e esta voltou-se para a sua jovem empregada, concordando com a cabeça. Em seguida, acenou, animadamente, para Madeline e as deixou, adentrando um corredor que certamente levava para outro cômodo daquela ampla mansão.

Madeline a seguiu com os olhares, até que a mesma desapareceu de seu campo de visão e, em seguida, voltou-se para as duas a sua frente: sentia os olhares daquela mulher a fixarem-se atentamente sobre si, enquanto que Elle continuava a ostentar a sua costumeira calmaria.

Engolindo em seco, Madeline tentava iniciar a sua conversa, o que levou alguns poucos instantes a mais.

“...Uh… o-obrigada...” Conseguindo vencer o seu próprio nervosismo, Madeline começou a falar e Elle sorriu-lhe, gentilmente. “… D-Desculpe… o a-aparente nervosismo… mas é que...” Continuou, a jovem mulher.

Elle sorriu, animada, levando uma de suas mãos à boca.

“Hmhm… Tudo bem.” Disse, de forma educada, Elle e logo a negar com a cabeça. “… Não há razões para se preocupar, pois não é a primeira… e nem a última vez que acontece...”

Madeline queria desaparecer, mas Elle mantinha-se calma, a sorrir brevemente e, em seguida, continuou a falar.

“Bem… então você já me conhece e...”

Elle moveu-se gentilmente para o lado, apontando uma de suas mãos para a mulher ao seu lado.

“Está é Mert...” Elle fez uma breve pausa e aquela mulher limitou-se a inclinar parcialmente a sua cabeça a frente, como se copiasse, de forma mais reservada, a reverência que Elle fizera, anteriormente.

“Ela é minha quase irmã, melhor amiga e… melhor companheira… Hmhm...” Continuou, Elle, sorrindo e observando Mert, cuja retornou-lhe um sorriso.

“Ela não é de falar muito… porém não quero que pense que ela é muda.” Elle disse, voltando a sua atenção para Madeline.

Mert e Elle sorriram, novamente, deixando Madeline ainda mais tensa, mas tentava se conter e a forçar um sorriso.

Percebendo que Madeline ansiava para conversar sobre o trabalho, Elle interrompeu o seu sorriso, assumindo uma expressão um pouco mais séria, mas ainda a manter a sua gentileza.

“Bem… passemos então para a nossa… conversa...” Começou a dizer, Elle e Madeline, ficando um pouco mais tensa, porém menos incomodada com as apresentações.

“… Como disse… perdemos uma de nossas melhores empregadas, recentemente. Uma que eu quase a considerava como ‘mãe’...” Explicou, Elle, exibindo uma leve expressão de pesar.

Madeline, cuja até aquele momento, acreditava que, na realidade, a menção a frase ‘perder’, referia-se mais a saída de uma das empregadas, mas não no sentido real de ‘perda’, que ela compreendera pela forma de falar de Elle.

Entristecida, ela baixou sua cabeça.

“Err… e-eu sinto… muito...” Limitou-se a dizer, Madeline, tentando demonstrar também o seu pesar.

Elle a observou e sorriu brevemente para ela.

“Obrigada...”

Elle interrompeu-se, inspirando fundo e logo reassumiu o seu costumeiro jeito mais recomposto.

“No entanto… sei que também perdera alguém, recentemente. Alguém… muito importante para você, não é mesmo?” Questionou, Elle e Madeline concordou timidamente com a cabeça.

Em um gesto de conforto e amparo, Elle pousou sua mão sobre o ombro de Madeline.

“… Quero que saiba que sinto também por sua perda e, qualquer coisa que possa fazer, mesmo que seja até uma conversa a respeito, eu estou aberta a lhe ajudar neste complicado momento...” Disse, Elle, a expressar uma gentileza que Madeline nunca havia visto em nenhum de seus antigos amigos e colegas de trabalho, o que a fez se sentir, apesar de incomum, mais à vontade com a imponente presença daquela que era uma das mulheres mais famosas do mundo inteiro.

“… Enfim...” Elle continuou a dizer, após algum tempo de silêncio. “… Estou realmente a necessitar de alguém que possa me ajudar… e, quando soube de seu trabalho enquanto eu visitava uma das casas em que sou proprietária e pude admirar o seu trabalho...”

Elle deu uma breve pausa, a sorrir, gentilmente e Madeline a observou, confusa.

“… Normalmente, eu costumo deixar a parte da contratação aos cuidados de Mert ou algum de meus subordinados… porém...” Elle se interrompeu, novamente, a exibir certa animação no rosto da empresária. “… Desta vez, eu resolvi… eu mesma tomar conta do assunto.”

Madeline, apesar de forçar um sorriso, encontrava-se tensa, mesmo após ter se sentido um pouco mais à vontade, anteriormente.

“… E-Er… m-me perdoe, s-senhora...” Disse, Madeline.

Elle, no entanto, sorriu, em negação com a cabeça.

“Pode me chamar de Senhorita… ou apenas Elle, se preferir...” Retornou-lhe, Elle, rindo, porém a sua recomendação surtiu um efeito ainda mais constrangedor para a jovem Madeline.

Timidamente, Madeline limitou-se a se corrigir.

“E-Err.. S-Senhorita Elle...” Madeline deu uma breve pausa, inflando o seu peito, no intuito de se recompor. “… M-Mas… eu não entendo… o que eu faço de tão… especial, para ser contratada… e com...” Madeline tentou completar, ainda sem acreditar em tudo aquilo que lhe acontecia: ela começava a crer, novamente, que aquilo tudo não passava de uma piada de mau gosto, ou então, estaria tendo um sonho.

Um sonho, muito incomum.

Elle riu, animada, enquanto que Mert olhava de sua companheira para Madeline, permanecendo em silêncio, porém parecia gostar do que estava vendo e ouvindo: a jovem mulher, no entanto, continuava a se achar quase como a piada local e ainda a ficar embaraçada.

Após alguns instantes, no entanto, Elle cessou o seu riso e inspirou fundo, a apagar, por completo, quaisquer resquícios do mesmo.

“… Perdão.” Disse, Elle e Madeline, apesar de ainda embaraçada, negou com a cabeça e a exibir, novamente, um forçado sorriso. “… O que eu quero que saiba é que… muitas que trabalham aqui, hoje, também eram como você: não se sentiam especiais, ou sequer duvidavam de suas próprias capacidades. Porém, atualmente, elas colaboram, e muito, em manter esta mansão em um perfeito e confortável habitat… tanto para mim e Mert, quanto para elas.”

Elle deu uma breve pausa e pode perceber que Madeline ainda exibia certa descrença, fazendo com que a empresária sorrisse, brevemente.

“Hmhm… eu não estou inventando isso… três das minhas melhores empregadas, também sequer imaginavam em realizar suas tarefas… e hoje se sobressaem entre as demais…”

Elle concluiu, a observar Madeline e esta suspirou: ainda não conseguia compreender, mas optou por não mais discutir, a respeito.

Logo, Elle sorriu e estendeu sua mão em um cortês ato, como se a convidar Madeline a segurar a sua mão.

“Gostaria que me acompanhasse, Madeline… quero lhe apresentar a minha mansão...” Disse, Elle, gentilmente e Madeline, sem jeito e ainda um tanto quanto assustada, ergueu a sua mão, de forma trêmula, segurando-a da empresária: parecia algo irreal, pois ela estava a segurar a mão da pessoa mais famosa do mundo.

Tão logo a segurou, Madeline pode sentir o delicado material, cujo as suas longas luvas eram feitas, ao mesmo tempo em que admirava o quão linda ela ficava naquele vestido. Porém, ela logo suspirou, visivelmente embaraçada, ao se ver com o casaco que usava, tão surrado e desgastado este se encontrava.

Com seus curiosos olhares e a se questionar inúmeras vezes, Madeline ainda não conseguia entender como elas não pareciam se incomodarem com o frio, dadas as roupas que elas vestiam e as suas aberturas: ela, inclusive, percebia a enorme tatuagem nas costas de Mert, que se tratava de uma ave em chamas, bem detalhada. Logo, ela suspirou, pensando se conseguiria, assim como elas, a se acostumar com o frio: apesar do fogo da lareira central conseguir aquecer o local, ela ainda se incomodava com o gélido temperatura do ambiente.

Elle sorriu, brevemente: parecia como se ela soubesse o que Madeline pensava, porém dedicou-se a apresentar o local.

“Este, como deve ter notado, é o salão principal...” Começou a dizer, Elle, quebrando o seu breve silêncio. “… Se trata de uma ampla para repouso, onde meu pai costumava passar alguns momentos comigo ou com os seus convidados.” Concluiu, observando, com certo orgulho, o salão, mas logo assumiu uma séria expressão, o que confundiu Madeline.

“… Era… também… onde minha… mãe… costumava se exibir para os demais: era geralmente onde ela se achava quase como uma rainha.” Disse, Elle, ainda a ostentar certa seriedade em seus olhares.

Madeline pode perceber que Mert observou Elle, porém esta nada disse, enquanto que a própria jovem mulher limitava-se a observar o salão, também em silêncio, apesar de ter percebido a diferença no jeito de falar de Elle: no entanto, não achava correto mencionar algo a respeito.

Elle suspirou, logo a voltar a exibir o seu costumeiro sorriso.

“Venha...” Começou a dizer, Elle, a apertar um pouco os seus passos, como se conduzisse Madeline, enquanto que Mert as seguia, calmamente.

“Quero mostrar-lhe algo, que certamente vai gostar...” Continuou, Elle e, em seguida, as levou até uma porta que, ao abri-la, revelava um longo corredor, com algumas portas: abrindo-as, uma a uma, Elle apresentava o que parecia se tratar de um longo quarto, com várias camas, todas enfileiradas, cujas pareciam serem bem confortáveis.

Ali, Madeline podia ver algumas das demais empregadas: estas se encontravam ali e, ao vê-las, elas se postaram de pé, a cruzarem os seus braços a frente das mesmas e baixarem as suas cabeças, quase como uma reverência.

“Aqui, minha cara...” Começou a dizer, Elle, tão logo voltou-se para Madeline. “… será onde você irá dormir...”

Madeline observou de Elle para o longo cômodo e exibiu certa surpresa: acreditava que as suas acomodações não seriam tão suntuosas quanto aquela, ali, apresentada. Porém, antes que ela dissesse algo, Elle prosseguiu com a sua explanação.

“… As minhas empregadas dormem neste cômodo...” Disse, Elle, serenamente. “… Há um outro cômodo como este, no outro lado da mansão, onde os empregados dormem...”

Adentrando no local, Elle retornou a reverência para as demais, ali, presentes, enquanto deixava uma ainda surpresa Madeline à entrada.

“Um momento do tempo de vocês...” Disse, Elle, em um tom mais alto de voz, como se a chamar a atenção delas. Sorrindo e vendo que elas a obedeciam, Elle voltou um olhar para Madeline.

“Quero que conheçam Madeline...” Continuou, Elle, fazendo um gesto para apresentá-la. “Madeline… estas serão suas novas colegas de trabalho: tenho certeza que, logo em breve, serão grandes amigas...”

Elle sorriu, enquanto que Madeline as observava, um tanto quanto embaraçada: todas já se encontravam vestidas com os seus clássicos e suntuosos uniformes, igual ao que ela recebera, em sua encomenda. Ela encontrava-se sem jeito, tendo em vista que ainda trajava as suas simples roupas: timidamente, a tentar disfarçar as suas preocupações e não parecer má educada, Madeline ergueu um de seus braços, a realizar um gesto de cumprimento para elas, cujo logo fora recebido de volta, de forma cortês, quase a se assimilar ao que Lucy fizera: o diferencial é que a jovem e animada Lucy o fez com tamanha alegria.

Madeline suspirou, enquanto que Elle exibiu um breve sorriso para ela.

“Hmhm… Bem...” Disse, Elle, quase a limpar a garganta. “… Logo, você poderá ter um melhor momento para poder se apresentar a elas, mas antes quero lhe apresentar o resto da mansão...”

A acenar para as demais, Elle, Mert e Madeline deixaram o local, voltando ao corredor: tão logo a porta começou a ser fechada por Mert, Madeline pode perceber que as empregadas logo começavam a se conversarem, como em sussurros, até que ela mesma não mais podia ver o quarto.

“Provavelmente… a conversarem sobre mim...” Pensou, Madeline, deixando escapar um desanimado suspiro. Em seguida, no entanto, ela apertou os seus passos, a acompanhar Elle e Mert, enquanto que a empresária e proprietária da mansão apresentava-lhe os quatro banheiros, cujos eram exclusivos para elas.

“… E existem outros quatro para os homens, também a se localizarem do outro lado da mansão...” Disse Elle, ainda a continuar em sua apresentação de sua morada e Madeline pôs-se a observar aqueles banheiros, cujos contavam com banheiras, não necessariamente suntuosas, mas mesmo assim, bem espaçosas e pareciam-lhe bastante confortáveis, completamente diferente das que ela já havia visto, em seus antigos trabalhos.

Logo que as três se afastaram das entradas dos banheiros, Elle seguiu até o final do corredor, cujo levava até uma ampla área, onde encontrava-se disposta uma enorme mesa, a contar com alguns jarros de flores e inúmeras cadeiras e, nas paredes, jaziam quadros gigantescos, cujas ilustrações representavam belas mulheres, em sensuais, porém, ao mesmo tempo, delicadas poses.

“Esta é a sala de jantar...” Disse, Elle, distraindo os curiosos olhares de Madeline, cuja ainda se encontrava a observar todo aquele local. Quando se observaram, no entanto, Elle sorriu-lhe gentilmente.

“É enorme, não…?” Questionou, Elle e Madeline limitou-se a responder com a cabeça, ainda estupefata.

“Meu pai idealizou a decoração do local...” Continuou a dizer, Elle, passando a observar desde os quadros, móveis e até as delicadas e bem conservadas tapeçarias, cujas disputavam espaço com as pinturas.

“Eu apenas preservei o seu trabalho, como as suas pinturas, as pratarias e, obviamente, o mobiliário, assim como em toda mansão...” Disse, Elle, a sorrir, quase a beirar um breve gesto de emoção e orgulho.

Madeline exibia um breve embaraço ao ver os quadros, porém não podia negar que eram perfeitos, quase a beirar o realismo, mas logo voltou a sua atenção para a mesa e no que Elle falava.

Após algum tempo, no entanto, elas deixaram o salão de jantar, a seguirem para uma sala adjacente, onde estava situada a cozinha.

Como o salão de jantar, a cozinha também era enorme, o que deixou Madeline surpresa e espantada: era completamente diferente e ostentosa comparada a qualquer uma que já havia visto! Em seu centro, haviam grandes e espaçosas áreas onde poderiam ser preparados os pratos, enquanto que, do lado oposto onde estava a entrada, havia uma outra longa bancada, com algumas pias, para que várias das empregadas pudessem lavar todos os pratos e talheres, assim como as panelas e demais utensílios: acima desta área, haviam janelas que certamente permitira uma boa iluminação durante o dia, mesmo que ali também contasse com luminárias para o período da noite.

Ao lado desta bancada, havia uma ampla e espessa porta de aço, cuja estava bem lacrada e era possível, conforme Madeline caminhava pelo local, pode perceber o quão frio era a área próxima dela.

Recostando-se contra um amplo armário próximo da porta de entrada, Elle ficou a observar Madeline caminhar pelo local e, tão logo esta se aproximou daquela porta de aço, ela sorriu.

“Hmhm… Frigorífico...” Começou a dizer, Elle, chamando a atenção de Madeline, que prontamente voltou-se para ela, com curiosos olhares. “… Foi uma das modificações que fiz na mansão, assim como o fogão...”

Elle interrompeu-se, apontando para trás de Madeline que, tão logo virou-se para onde ela apontara, arregalou os seus olhares, bastante surpresa: Madeline acreditava que, dada a arquitetura, decoração e a escolha dos uniformes serem clássicas, começava a acreditar que o mesmo seguiria a mesma linha.

“Hmhm… Sim...” Começou a dizer, Elle, serenamente. “… Por mais que eu me apegue tanto ao estilo clássico, eu detestaria ver as pessoas com quem trabalho a ‘sofrer’, desnecessariamente, mesmo que eu tenha certa predileção por uma comida feita em um fogão de pedra...” Continuou.

Madeline ouvira parcialmente o que Elle dizia, ainda a contemplar o amplo e quase a reluzir, de tão limpo, quase como se o mesmo fosse novo: tratava-se de um tipo de fogão similar aos industriais, a contar com oito bocas, todo pintado perfeitamente com tinta que se assemelhasse com o tom cinza escuro das paredes de pedra maciça.

“Gostou?” Questionou, gentilmente, Elle e Madeline concordou, repetidas vezes, com a cabeça, fazendo com que tanto ela, quanto Mert sorrissem brevemente.

Madeline, no entanto, trazida de volta a realidade com o sorriso das duas, suspirou: observando Mert, ela demonstrava um certo receio ao ver aqueles fixos e quase penetrativos olhares que ela lançava. Seu medo aumentava pelo fato dela se demonstrar tão misteriosa, nunca a ouvir uma única palavra proferida pelos seus lábios.

Aproximando-se lentamente, Madeline lançou um breve olhar para Mert e, novamente, suspirou.

“E-Ela me assusta...” Pensou, a jovem mulher. No entanto, seus pensamentos foram dispersos quando Elle, a sorrir, se afastou do armário e começava a deixar a cozinha, logo a ser acompanhada por Mert.

“Bom…” Disse, Elle, sem se voltar para trás, a atravessar o salão de jantar. “… Venha, vou lhe apresentar algo mais interessante… creio que gostará.” Concluiu.

A tentar acompanhá-la, Madeline apertou, um pouco, os seus passos e logo, as três retornaram para o salão central.

Em seguida, as três preparavam-se para subir as escadarias, porém Madeline voltou-se para aquele amplo local, confusa, enquanto procurava por sua mala, avistando uma outra jovem empregada, de escorridos cabelos ruivos, levando-as.

Surpresa, Madeline arregalou os olhos.

“E-Ei… E-Espera!!” Exclamou, em um misto de susto e preocupação, a chamar a atenção da jovem, cuja a observou com assustados olhares, como se estivesse a fazer algo que não deveria.

Elle e Mert, no entanto, tão logo voltaram-se para trás e observaram a cena, a empresária sorriu, brevemente.

“Está tudo bem, Madeline...” Disse, calmamente, Elle. “… Fui eu quem pedi para que ela levasse a sua bagagem para o quarto...” Concluiu.

Madeline a observou, em um misto de receio e embaraço: apesar de estar a adorar todo aquele local, ela acabara por cair na realidade, lembrando-se que não haviam, sequer, acertado nada, sobre se realmente aceitaria a proposta de trabalho.

Mesmo após inúmeras menções e insinuações da própria Elle sobre tal aceitação.

Como se percebesse o que a jovem pensava, Elle deixou escapar um renovado sorriso.

“Hmhm… Eu sei que… sequer iniciamos a nossa conversa… e sequer acertamos se você aceitaria… ou não… a minha proposta…” Começou a dizer, Elle e Madeline pode perceber que Mert observou a sua companheira de soslaio, mas logo voltou a sua atenção para a jovem mulher.

“No entanto...” Continuou a falar, Elle, em um imperativo, porém levemente delicado, tom de voz. “… Creio que não desejará voltar para a sua casa, com este tempo… e muito menos a esta hora...”

Madeline, com os seus olhares arregalados, voltou-os em direção a um enorme relógio pedestal, situado na parede oposta a lareira, onde o mesmo indicava que havia se passado alguns poucos minutos depois das oito horas da noite e, percebendo que o tempo do lado de fora sequer demonstrara ter melhorado, ela percebeu que Elle estava certa: seria realmente um ato de loucura tentar voltar para casa.

A jovem mulher suspirou, desanimada.

Elle voltou a sorrir e observou a jovem empregada, cuja ainda estava parada, no meio do salão, a segurar a mala de Madeline, também a observá-la, ainda com a mesma e assustada expressão.

Com um concordar de sua cabeça, Elle falou-lhe.

“Pode levar a mala da senhorita Madeline, Lila...” Começou a dizer, Elle e Lila concordou, brevemente. Porém, logo interrompeu-se, assim que Elle continuou. “… E, depois.. pode ir se cuidar: Lucy cuidará da ceia, esta noite...”

Lila concordou novamente, apressando-se em obedecer ao pedido de sua empregadora.

Madeline, a se sentir um tanto quanto incomodada pela forma que agira com Lila, a observou, enquanto esta apressava a atender a ordem dada por Elle, porém havia algo que lhe chamara naquela jovem.

Lila não deveria ter mais do que 1,65 metros de altura e, como as demais, estava trajada com o seu uniforme; ela possuía um tom de pele claro e seus olhos, cinza bem claros, pareciam exibir um misto de compenetração.

Havia algo mais, no entanto, que lhe chamara a atenção nela, que Madeline sentiu-se incomodada por alguns instantes e a própria Elle percebeu, voltando-se para a jovem mulher.

“… O que houve, Madeline?” Questionou, Elle, um tanto quanto curiosa.

Como se trazida de volta a realidade, Madeline a observou por alguns poucos segundos, como se a recompor de seus próprios pensamentos.

“U-Uh...” Começou a dizer, Madeline, inspirando fundo, interrompendo-se momentaneamente. “… N-Nada… perdão...”

Elle sorriu-lhe e, em seguida, voltou-se para as escadarias.

“Venha… creio que vá gostar do que tenho a lhe mostrar...” Disse, Elle, após começar a subida dos degraus e, em questão de poucos segundos, as três chegaram ao segundo andar da mansão.

Voltando a realizar a apresentação do local, Elle começou a falar, novamente.

“… O meu cômodo e o de Mert é no terceiro andar...” Disse, Elle, gentilmente, enquanto apontava para uma outra escadaria, situada no centro daquele patamar, cujo servia de elo com uma outra escadaria, situada no lado oposto da mesma que elas subiram, por onde elas também poderiam ter subido para onde estavam.

“Neste andar… destacam-se a biblioteca, um estúdio, alguns outros cômodos, cujos são reservados para os convidados que aqui, recebo...” Continuou Elle, indicando cada um dos locais que ela falava, enquanto que caminhavam por todas as áreas daquele andar.

Madeline nada falava, apesar de ter demonstrado certo interesse na biblioteca e no estúdio: ela sempre gostara muito de ler e era, como Elle mencionara na ligação que ela fizera, quando aceitara viajar até ali, apaixonada por desenhos e pinturas.

Era como um dom que Madeline tinha, mas nunca o explorou, pois sempre fora advertida pelos seus adotivos pais, tendo em vista que certamente não lhe daria muito sustento, tal paixão.

Seus pensamentos, no entanto, foram dispersos, quando ela ouviu a voz de Elle, a falar-lhe.

“… E...” Disse, Elle, aproximando-se de duas amplas portas de madeira maciça, abrindo-as após utilizar-se de certa força: não demorou e logo os frios ventos da noite adentraram violentamente pelo local, fazendo com que Madeline se recolhesse, brevemente.

Madeline, lentamente, acompanhou Elle, enquanto que esta se aproximava de um amplo parapeito, cujas partes superiores formavam alegorias de arcos e ela logo pode perceber que o mesmo se repetia por mais umas dez bancadas, de cada lado.

“Um solário~!” Continuou, Elle, exprimindo um amplo sorriso, animada. Logo, ela, com a ajuda de Mert, fecharam os vidros daquelas bancadas, assemelhando-se aos usados no que Madeline sabia como um Jardim de Hrívë, no intuito de diminuir o frio daquela área.

Madeline contemplou aquele local e não fazia a menor intenção de admirar o quão grande e, certamente, tão linda e serena área era aquele solário: compreendia que, com a neve, o visual se demonstrava um tanto quanto desolador. Porém compreendia que, em outras estações, deveria permitir uma bela visão dos campos ao redor da mansão, assim como todo o vale.

Apertando mais o seu surrado casaco, Madeline retornou as suas triviais preocupações ao ver que nem Mert e Elle demonstravam se incomodar com tão baixas temperaturas.

“B-Brr… q-que frio...” Murmurou, Madeline, mas logo exibiu certo embaraço ao ver que Elle percebera e a observava.

“Hmhm… verdade… Perdoe-me...” Disse, Elle, sorrindo serenamente, enquanto pegava um casaco, cujo havia sido ali, esquecido e logo se aproximou da jovem mulher, vestindo-a com o mesmo.

Era um belo casaco, em um tom forte de azul imperial que, apesar de possuir detalhes bem bonitos, não se assemelhavam, em suas ideias de fina costura, que Elle se utilizaria.

“Pronto...” Começou a dizer, Elle, sorrindo brevemente. “Melhor?” Questionou-a, em seguida e, bastante embaraçada, Madeline limitou-se a concordar com a cabeça, enquanto que Mert parecia se divertir com a situação.

“U-Uh… S-Sim...” Disse, Madeline, apertando o seu ‘novo’ casaco com as mãos, sentindo aquela fria sensação a começar a dar espaço para o calor emanado pelo mesmo, a exibir ainda mais embaraço ao perceber Mert a vê-la, com divertidos olhares. Logo, no entanto, esta voltou a sua atenção para o lado externo, como se contemplasse o visual daquele solário.

Elle, no entanto, chamou a atenção de Madeline, quando falou-lhe.

“… Perdão… esqueço que você não está muito habituada com as baixas temperaturas daqui… mas precisava que você visse este local: é onde costumo ficar, quando quero apenas um momento para mim...” Disse, Elle, com um sereno, mas levemente emocionado, sorriso, enquanto voltava-se para a visão daquele local, cujo, perto do parapeito, era possível ter uma bela e ampla visão ao redor.

Inclusive, era possível ver, bem na linha do horizonte, pequenas luzes, do que certamente se tratava da cidade por onde Madeline passara, para chegar na mansão. Era, também, possível perceber a beleza do sutil toque proporcionado pela neve – cuja caía com mais intensidade naquele momento – com a escuridão da noite.

Tal visão foi o suficiente para arrancar um suspiro e um breve murmúrio de animação de Madeline.

“… Uau… é… lindo… mesmo...”

Nunca, por mais que ela se esforçasse, Madeline havia visto tão bela e agradável visão e Elle riu, concordando com a cabeça.

“Hmhm… Eu sabia que ia gostar...” Disse, Elle, sem muito conseguir tirar a atenção de Madeline de tal visão. “… meu pai teve um excelente gosto em escolher este local para ser a sua própria residência...” Continuou, admirando a visão, junto de Mert e Madeline.

“… É… maravilhoso...” Disse, Madeline, já sem muito se incomodar com o frio. “S-Seu pai realmente… teve muito bom gosto...” Sorriu, brevemente animada.

Elle concordou.

“Tenho inúmeras mansões… em vários cantos do mundo...” Começou a dizer, Elle, apoiando-se no parapeito e a tocar, distraidamente, a ponta de seu indicador no espesso vidro que ali, protegia dos frios ventos.

“… No entanto...” Continuou, Elle, sem voltar-se para Madeline, ainda centrada em seu dedo, cujo começava a delinear indefinidas linhas no vidro. “… dentre todas.. é esta que mais prefiro passar o meu tempo...” Concluiu, aparentando uma expressão e jeito de falar um tanto quanto nostálgico.

Madeline sorriu, compreendendo-a. Logo, no entanto, ela voltou-se para Elle, com certo olhar de curiosidade e apreensão.

“Mas… s-seu pai… onde ele está…?” Questionou, Madeline, mas logo quis se corrigir, crendo que agira um tanto quanto de forma indelicada: especialmente ao perceber que os olhares, antes animados, de Elle, alternaram-se para certa seriedade e, inclusive, um breve aborrecimento.

“… Infelizmente...” Começou a dizer, Elle, com certo tom que pareceu tão confuso para Madeline, que ela não sabia dizer se era de rancor ou pesar. “… ele… faleceu… faz um longo tempo...”

Mert pousou sua mão sobre o ombro de Elle tão logo percebeu tal expressão no rosto de sua companheira, o que fez com que a empresária esboçasse um breve e educado sorriso.

Sem jeito, Madeline parecia querer se encolher, dada a sua indevida curiosidade.

“E-Err… m-me perdoe...” Disse, Madeline, tentando se esquivar da atenção de Elle.

Esta, no entanto, negou com a cabeça e logo voltou a exibir o seu costumeiro sorriso educado.

“Hmhm… está tudo bem...” Disse, Elle, sorrindo. “… Faz um… longo… tempo...”

Logo, as três entregaram-se a um breve, porém incômodo silêncio, até que Elle voltou sua atenção para Madeline.

“… E então…?” Questionou, Elle e Madeline reergueu sua cabeça, um tanto quanto surpreendida.

“… Chegou a uma… decisão?… Sei que… deverá ser um trabalho árduo, mas não estará sozinha. E, qualquer necessidade, poderá estar à vontade para falar comigo ou com Mert.” Continuou, Elle, indicando, com a sua mão, a sua companheira.

“Quanto a folgas… poderá combinar comigo, qualquer dia que lhe interessar, no entanto, apenas peço que avise, previamente...” Continuou, Elle, observando-a atentamente.

Madeline suspirou: eram muitas coisas que realmente teria que fazer, em especial, abandonar, por completo, a sua antiga vida na casa que viveu por tanto tempo, desde que deixara o orfanato.

Além, obviamente, que perderia qualquer pista sobre a sua jovem irmã Élise.

No entanto, era a primeira vez que se sentia bem: viveria em uma grande mansão e ganhando um salário que nunca imaginaria receber, enquanto estivesse vivendo em Senn e, sem contar o fato de trabalhar, para ninguém mais e ninguém menos, que Elle.

Após alguns poucos segundos em silêncio, com os olhares curiosos de Elle e os reservados quase sem muitas expressões de Mert, sobre si, Madeline engoliu em seco, mas logo afastou os seus lábios, pronta para dar a tão aguardada resposta.

“S-Sim...” Disse, Madeline, quase em um tom de murmúrio. “E-Eu… aceito...”

Elle sorriu, animadamente, concordando repetidas vezes com a cabeça.

“Ótimo!” Exclamou, Elle. “Seja então, bem vinda, Madeline… a seu novo lar.” Sorriu, repetindo a mesma frase utilizada por ela própria, quando elas se encontraram.

Madeline acompanhou Elle em seu sorriso, porém um tanto quanto acanhada.

“Bem… creio que deseja se trocar e começar a se adaptar ao seu cômodo, agora, não?” Questionou, gentilmente, Elle e, em seguida, ambas começaram a adentrarem, novamente, na mansão.

Madeline concordou timidamente com a cabeça e Elle sorriu, novamente.

“… Saiba que a banheira tem água em três temperaturas e logo a ceia será servida: então, querendo comer, poderá juntar-se a nós, na mesa...” Disse, Elle, animada, enquanto atravessavam o corredor em direção das escadarias do salão central, onde pararam: ali seria o breve ponto de separação delas.

“… Como moro apenas eu e Mert aqui, não quero que sinta-se embaraçada e incomodada em sentar junto de nós, para comer...”

Elle concluiu, deixando Madeline ainda mais surpresa: era bastante raro ver patrões comerem junto de seus empregados. Ao menos, era o que ela sempre viu em filmes e leu em livros, mas Elle era completamente diferente de tais ‘estereótipos’.

Elle sorriu-lhe, novamente a parecer que ela sabia o que estava a pensar.

“Bem… novamente… seja bem vinda~!” Exclamou, Elle, acenando para ela e, em seguida, ambas seguiram para a escadaria que levava para o terceiro andar da mansão, deixando-a, por fim, a sós.

Madeline, vendo-as subirem as escadas, parecia sentir-se um tanto quanto zonza, como se fosse uma árvore envolta pelos violentos ventos de uma tempestade: era, ao menos como ela se sentia.

Eram tantas as novidades e o jeito tão gentil e educado de ser, de Elle, a assombrava, ao mesmo tempo que a fascinava, realmente a lhe surpreender por tudo o que lhe fora apresentado e ofertado.

“… É muito bom para ser realidade...” Pensou, Madeline e uma dúvida e receio subiram-lhe como um frio dedo em sua coluna, mas nada mais poderia ser feito, agora: havia, de fato, aceitado a proposta de trabalho. Agora, competia-lhe ver como seriam os seus dias, daqui para a frente.

Descendo, por fim, as escadarias, Madeline voltava a observar a beleza da decoração daquele local, com os tímidos raios de luz do luar, cujos conseguiam trespassar as espessas nuvens no céu, proporcionava-lhe um ambiente nostálgico e sereno, mas não assustador, como ela acreditava, previamente, que ali seria, na parca iluminação do local.

Em seguida, como se a tentar lembrar dos caminhos que havia feito com Elle e Mert, Madeline conseguiu chegar no quarto das empregadas e, tão logo entrou, ela pode ver que ali encontravam-se algumas das demais, cujas se arrumavam novamente com os seus belos uniformes, que Madeline mal esperava a hora de experimentá-lo.

Sem muito se demorar, no entanto, Madeline pode avistar, junto delas, a jovem Lila, cuja secava os seus ruivos cabelos, já praticamente vestida.

Lembrando-se do episódio na escadaria, no entanto, Madeline engoliu em seco, parcialmente cabisbaixa e envergonhada.

“E-Er… p-perdoe-me… por antes...” Disse, ainda constrangida, Madeline, porém Lila, a observá-la, negou com a cabeça, com um fraco sorriso em seu rosto.

“Está tudo bem...” Respondeu e, tão logo terminou de secar os seus cabelos, ela começou a penteá-los.

Como ela nada mais disse, Madeline voltou a se adequar ao local, a procurar onde dormiria, dali para frente. Percebendo que a mesma encontrava-se confusa, no entanto, Lila interrompeu-se, se aproximando-se dela para ajudá-la, mas sem ostentar uma expressão de aborrecimento: mas, sim, uma serena e amigável, na melhor forma possível, já que, como Madeline percebera previamente, Lila sempre se demonstrava uma pessoa compenetrada.

“Aqui… poderá usar esta cama...” Disse, Lila, indicando uma das várias camas, cujas encontravam-se, agora, utilizadas pelas demais empregadas ali, presentes, que limitavam-se a observar a recém-chegada.

“Poderá usar o baú, a frente da cama, para guardar as suas coisas, ok?” Disse, gentilmente, Lila e Madeline retornou-lhe um amigável sorriso, mesmo que ela ainda exibisse certo embaraço ao se lembrar do que fizera, previamente.

Em seguida, Lila voltou a se arrumar, fechando o feixe de seu sutiã e, em seguida, a arrumar e prender, como podia, o seu uniforme, reassumindo o seu visual de empregada, enquanto que Madeline abria a sua mala, removendo o seu novo e sequer utilizado uniforme, ao mesmo tempo em que destacava algumas outras coisas que havia trazido: retirava de sua mala coisas como uma toalha e alguns produtos para o seu banho, colocando as demais peças de roupas que havia trazido dentro do grande baú que Lila a apresentou.

“Não será necessário...” Disse, Lila, chamando a atenção de Madeline, cuja a observou com uma expressão surpresa e confusa.

“Huh??!” Questionou, Madeline.

“Não será necessário...” Repetiu-se, Lila, serenamente. “Nossa senhorita tem uma grande variedade de produtos para o banho, que você poderá usar...” Concluiu.

Madeline piscou algumas vezes, surpresa: outra novidade que ela sequer estava acostumada, pois, todas as vezes que precisava passar uma noite na casa de seus antigos empregadores, ela precisaria utilizar-se de seus próprios produtos, sob o risco de ser ralhada no caso de usar os dos patrões.

Agradecendo, Madeline sorriu-lhe brevemente, mas logo suspirou, enquanto que as demais empregadas terminavam de se arrumarem e a deixarem, uma a uma, o local, seguindo em direção do corredor que a jovem mulher apenas pode adivinhar que se dirigiam ao salão de jantar.

“Perdoe-me… realmente...” Disse, Madeline e Lila a observou, mas antes que a mesma se prontificasse a responder, novamente, a jovem mulher continuou.

“… Eu ainda… estou a me… acostumar aqui… e acho que… acabei por me assustar, ao ver que carregava a minha mala… perdão… Perdão, realmente.” Madeline deu uma breve pausa, mas logo exibiu um tímido, mas amigável sorriso, enquanto estendia a sua mão na direção de Lila.

“M-Meu nome… é Madeline. P-Prazer em conhecê-la, Lila...” Disse, por fim, Madeline, enquanto que Lila a observou, de cima a baixo, parando apenas na altura daquela estendida mão.

Por fim, Lila estendeu a sua mão, também e, em seguida, apertou a de Madeline, em um simbólico gesto de amizade.

“Prazer em conhecê-la… Madeline...” Respondeu, Lila e, apesar de ter respondido meio que sem vontade, ela exibiu um breve e tímido sorriso.

Percebendo que ela sorrira para si, Madeline retornou-lhe o mesmo, quase a fechar os olhos em uma animada expressão.

“Amigas?!” Questionou, Madeline, meio sem jeito por parecer agir de forma um tanto quanto infantil.

Lila riu, desconcertando-a.

Porém, antes que Madeline desfizesse o seu sorriso, Lila continuou.

“Amigas!”

E logo ambas sorriram, quase a rirem. No entanto, elas se silenciaram por alguns instantes, porém desta vez foi Lila que quebrou o silêncio entre elas.

“…. Bem… vá logo se banhar, que já estaremos nos reunindo para a ceia.” Disse, Lila, a voltar a exibir a sua expressão compenetrada, quase como uma pessoa altamente responsável e perfeccionista no que fazia, guardando as suas roupas comuns no baú de sua cama que, para a surpresa de Madeline, era a cama ao lado da sua.

“Ok!” Exclamou, Madeline, um pouco mais animada e, em seguida, começou a obedecer a recomendação de Lila, apressando-se para o seu banho, sendo acompanhada por Lila, que apenas se separaram quando esta seguiu em frente, em direção ao salão de jantar, enquanto que a jovem mulher abriu a porta que levava para aquele banheiro.

Ali, entrando, Madeline e o admirou: já o havia visto antes, conforme Elle fora apresentando o local, porém sua visão do local fora breve, mal o observando como o fazia, agora.

Em um misto de surpresa e admiração, Madeline caminhou para o centro do mesmo, onde encontrava-se uma ampla e aparentemente confortável banheira, enchendo-a com água bem quente. Em seguida, pegou alguns dos produtos de banho, cujos, como Lila mencionou, haviam os mais variados tipos: Madeline pegou alguns dos mesmos e, assim que a banheira já se encontrava cheia, ela removeu as suas roupas, sentindo o frio do local a incomodar-lhe, fazendo com que a mesma se acelerasse para dentro da quente água, cuja quebrou, finalmente, a sensação de frio que ela sentia.

Madeline relaxou a sua cabeça, contra a borda da banheira, deixando o seu corpo quase que completamente submerso nas águas, enquanto que, lentamente, parecia querer repousar e, quase a adormecer.

Porém, antes que o fizesse, de fato, Madeline recordou-se que não poderia demorar muito, ou perderia a ceia e, em seguida, tratou de se banhar, o mais rápido que a disposição de sair dali lhe permitia.

Dez minutos, enfim, se passaram e ela terminava o seu banho: saindo da banheira e pegando a toalha, Madeline começou a se enxugar e, em seguida, pegou o vestido, cuja deixara dobrado sobre a bancada da ampla pia que ali, se encontrava e o estendeu, observando-o contra a luz do local.

Ela o admirava, novamente.

Tocando o tecido do mesmo, Madeline sentia a sua leve maciez e começava a se imaginar, já vestida: por uns poucos instantes, ela acreditou que poderia despertar, a qualquer instante, daquele louco ‘sonho’ que estava para viver, tão logo o vestisse, porém ela logo sorriu de sua ingenuidade.

Tinha a plena consciência que trabalharia – e muito – naquele local, mas estava, deveras, feliz de vivenciar um novo tipo de vida: estava por demais acostumada a ouvir reclamações de seus trabalhos, mesmo quando o fazia de muito bom grado, sendo raras às vezes em que recebia algum tipo de elogio e reconhecimento.

Também sempre vira patrões, cujos adoravam ‘pisar’ em seus empregados e, ao ver e conhecer Elle, vendo como a mesma tratava os seus empregados, ela não conseguia acreditar no que estava presenciando.

“Cear ao lado dos patrões? Banheira quente e permissão para usar o que quisesse, para bens e frutos de seus empregados!?! Será… mesmo que não estou sonhando com tudo isso?” Pensou, Madeline, porém um breve suspiro escapou de seus lábios: ela estava bem acordada e, o que a fez se sentir embaraçada, ainda se encontrava nua, a segurar o vestido a sua frente.

Um leve e emocionado sorriso, no entanto, tornou-se presente em seu rosto.

Como se trazida de volta a realidade, no entanto, Madeline começou a vestir o seu ‘uniforme’: era diferente de tudo o que ela estava habituada a vestir, o que lhe rendeu algumas dificuldades, porém, ao lembrar-se de como Lila e as demais se vestiam, no aposento, a auxiliou e, após alguns poucos minutos, ela havia conseguido.

Observando-se no espelho do banheiro, cujo situava-se acima da pia, Madeline sorriu, levemente emocionada, vendo como o uniforme coube-lhe perfeitamente, quase a se sentir como se fosse outra pessoa naquele reflexo e, como um último detalhe, ela começou a prender os seus longos cabelos negros em uma espécie de coque e colocar o que se assemelhava a uma tiara, com rendas, na tonalidade branca.

Estava, definitivamente, uniformizada.

Madeline riu de si mesma, voltando a se ver no espelho: sentia-se completamente apaixonada por usar aquele uniforme e, inclusive, assumia certos pensamentos infantis, dos tipos em que ela se imaginava a dormir com ele, sem nunca mais tirá-lo.

Com um bobo sorriso, Madeline logo se voltou para as suas roupas comuns, assim como o casaco que usara para chegar na mansão e os dobrou, guardando-as dentro do cesto de roupas para lavar, assim como a sua toalha de banho.

Em seguida, deixou o banheiro, meio que às pressas, em direção ao salão de jantar: assim que chegou no local, percebeu que ali estavam, todos os presentes.

Várias empregadas encontravam-se sentadas à mesa, assim como alguns dos empregados, próximos a uma das pontas da mesa e, na outra, sentadas a cabeceira da mesma, estavam Elle e Mert.

Todos voltaram-se em direção de Madeline, deixando-a novamente embaraçada.

“E-Err… d-desculpe-me… o atraso...” Disse, Madeline, ainda sem jeito, coçando levemente a nuca.

Elle, no entanto, sorriu.

“Por favor...” Começou a dizer, Elle, gentilmente, enquanto que erguia uma de suas mãos, a apontá-la na direção de uma das vagas cadeiras, próxima delas. “… Não precisa se desculpar. Sente-se...” Sorrindo, ela concluiu e, novamente, Madeline ruborizou, mas, em silêncio, aceitou o convite.

“Hmhm… logo a ceia já será servida...” Continuou, Elle, ainda a sorrir: ao seu lado, encontrava-se uma sineta de prata, cuja era costumeiramente utilizada, tempos atrás, para chamar os empregados ou, no caso daquele momento, para que a refeição fosse servida. Porém, Elle sequer necessitou de usá-la, pois logo Lucy e Lila vinham trazendo dois carrinhos, cujos continham vários talheres, igualmente de prata, assim como uns três grandes pratos cobertos por uma tampa, cuja era feita do mesmo material dos talheres, em cada um dos carrinhos.

Todas as ali, presentes, podiam sentir o mesmo que Madeline também sentia: tais pratos exalavam um delicioso aroma, cujo, quase que imediatamente, despertou o apetite de todos.

Haviam, presentes nos mesmos, alguns baldes com gelo, onde estavam repousados, pelo menos, umas três garrafas de champagne e vinho. E, próximos dos mesmos, podiam ser vistas duas longas jarras de água.

Sobre a mesa, Madeline agora percebera, que também haviam pães, guardanapos e outros variados tipos de talheres, assim como uma taça de água e outra taça vazia.

Levando-se algum tempo, Lucy era ajudada por Lila a depositar, a frente de cada um dos empregados – assim como Elle e Mert – os pratos, enquanto que Lila, assim que terminou de ajudar a jovem e animada empregada a servi-los, removeu uma das garrafas de champagne de um dos baldes e, em seguida, abriu-a. Logo, ela serviu uma pequena dose na taça de Elle: esta agradeceu em uma breve reverência e, pegando a mesma, realizara lentos e circulares movimentos, aproximando-a de seu próprio nariz, quase a fechar os seus ao sentir o aroma daquela bebida por alguns instantes.

Em seguida, Elle sorriu novamente.

“Sim… está perfeito.” Começou a dizer, Elle, pousando educadamente a sua taça sobre a mesa e, com um gentil sorriso em seu rosto, ela voltou o seu olhar para as demais. “Pode servir aos demais, por favor...”

Logo, Elle retornou o seu levemente irônico olhar para Madeline e a voltar a segurar a sua taça, para que Lila a servisse.

“Gosta de champagne, não, minha cara Madeline?” Questionou, Elle, sem sequer afastar os seus olhares sobre ela, deixando-a ainda mais sem jeito.

A conversa entre elas, no entanto, fora interrompida, assim que Lila e Lucy terminaram de servirem as bebidas e os pratos, passando a voltarem-se para servirem a entrada, abrindo as bandejas, cujas contavam com uma espécie de salada.

Madeline, ao observar aquela entrada, gastou um certo tempo para identificar o que eram, porém apesar de tal tentativa se tornar infrutífera – ela conseguira apenas identificar o que lhe pareciam mangas, misturadas com alface e outros vegetais –, ela não pode negar que parecia saboroso.

Observando ao seu redor, Madeline podia ver que as demais, ali, presentes, cujas já se encontravam sentadas, começavam a colocar os lenços no pescoço, para evitarem de se sujarem, enquanto que algumas conversavam, através de murmúrios e a jovem mulher não pode deixar que algumas delas pareciam lançarem curiosos olhares para Madeline, enquanto que os empregados, também a observavam, porém não pareciam realizarem nenhum tipo de comentários ou murmúrios, entre si.

Madeline sentia-se um tanto quanto incomodada com todo aquele assédio sobre ela: não se achava bonita, ou muito menos interessante, o que fez com que ela passasse a compreender que acreditavam e realizavam fofocas sobre as razões dela estar ali, junto deles.

Suspirou.

Tentando evitar olhar ainda mais para os curiosos e preocupada com as duas, cujas focavam-se, de forma compenetrada em suas atividades, em servir todos os presentes, sozinhas.

Logo, decidida em ajudá-las, Madeline fez menção em se levantar, porém foi a mão de Elle, a segurar-lhe pelo braço, de forma gentil e delicada, que a impediu: sem entender, Madeline a observou, com arregalados e surpresos olhares.

“Hmhm… hoje você é a nossa convidada, minha cara Madeline...” Começou a dizer, Elle, polidamente. “… Então, peço que, por favor, sente-se… amanhã não farei objeções...” Disse, Elle, a beber mais um gole de seu champagne, enquanto que Mert se servia de uma taça: a sua bebida, no entanto, provinha de uma espécie de uma jarra de ouro puro, completamente diferente das que Lila e Lucy haviam trazido, nos carrinhos.

Madeline sequer se lembrara da presença, até aquele momento, de tal jarra.

“M-Mas...” Começou a dizer, Madeline, porém Elle limitou-se a erguer uma de suas mãos, ainda a ostentar o seu costumeiro sorriso.

Lila, cuja percebera a situação, porém nada disse, voltando a ajudar Lucy que, apesar de continuar a servir os demais, conseguia manter o seu animado jeito de ser: sem muito se demorarem, ambas terminaram de servir os demais, logo elas passavam a servir o prato principal, que Madeline pode reconhecer se tratar de uma espécie de rosbife com um molho.

Em seguida, tanto Lila, quanto Lucy se sentaram próximas de Madeline: Lucy, sempre a demonstrar a sua animação, voltou-se para Madeline, sorrindo para a mesma e quase a conversar com a mesma, não fosse Elle bater delicadamente um de seus talheres contra a sua taça, como se a chamar a atenção para si.

“Hmhm… Sinto interromper, brevemente, o início de nossa refeição...” Começou a dizer, Elle e todos sorriram, brevemente, limitando-se a ouvi-la em seu discurso.

“… Porém, como sabem, temos mais uma nova pessoa em nossa ampla família...” Continuou, Elle, lançando um breve olhar para Madeline e esta podia quase perceber que todos, naquele momento, voltavam suas atenções sobre ela, colaborando ainda mais com o seu rubor e embaraço.

Elle sorriu, brevemente.

“… Então eu desejo que todos vocês deem as boas vindas a nossa nova companheira, Madeline...” Sorrindo animadamente, Elle moveu seu braço em direção a jovem mulher.

Logo, Madeline pode ouvir o breve aplaudir e os receptivos votos de boas vindas para ela: alguns, inclusive, o desejarem em voz alta, sendo que, uma em especial, ser a própria Lucy.

Madeline, dada a sua timidez e o embaraço da situação, desejava encolher-se, totalmente sem jeito e bastante ruborizada, porém foi Elle que, ao se levantar e, ao segurar o seu braço, novamente de forma educada e gentil, fez com que ela fizesse o mesmo.

“Hmhm… por favor, se apresente aos demais...” Disse, Elle, em quase um sussurro para Madeline, enquanto que esta ainda relutava, com todas as suas forças, para conter o seu embaraço.

Inutilmente, no entanto.

Lucy, agora, batia palmas, bastante animada e muito alegre, enquanto que Lila a observava, sorrindo brevemente, porém de uma forma um pouco mais recatada do que a sua colega de trabalho.

Assim que, aos poucos, as palmas cessavam e as conversas mudavam de rumo, Elle se sentou novamente, soltando o braço de Madeline, cuja também se sentara, porém quase que imediatamente: apesar de seu embaraço e breve constrangimento, a jovem mulher observou toda aquela comida e pode sentir que o seu estômago parecia começar a dar voltas, porém se conteve, tendo em vista que todos ainda aguardavam, pacientemente, pelo fim do discurso de Elle.

Timidamente, Madeline limitou-se em arrumar, por fim, o lenço a frente de seu vestido, como se copiasse o que vira com as demais.

Elle sorriu, gentilmente.

“Bom… creio que já nos… delongamos por demais, não?” Questionou, levemente irônica, Elle e todos sorriram para ela.

Feliz, Elle concordou com a cabeça.

“Estejam à vontade e bom apetite a todos!”

Elle concluiu e, ainda a sorrir, começou a se arrumar como as demais, sendo que o diferencial é que o lenço que ela utilizava era preto, com bordados levemente avermelhados, cujo chamou a atenção de Madeline.

Esta, no entanto, teve sua atenção interrompida por Lucy que, já preparada para começar a comer, não conseguia afastar os seus olhares de Madeline, enquanto que Lila começava a comer a sua salada e a beber um gole de sua taça de água.

Madeline, um tanto quanto nervosa com toda aquela atenção provinda de Lucy, tratou de se servir de um gole de vinho, contrariando o irônico questionamento de Elle, momentos atrás, bebendo um pequeno gole do mesmo: seus olhares brevemente se focaram na taça que acabara de beber e o conteúdo da mesma.

Não se recordava de ter tomado um vinho tão bom quanto aquele, em toda a sua vida!

“É verdade?!” Questionou, Lucy, ainda a observá-la e desfazer os pensamentos de Madeline, cuja voltara-se para a animada jovem, a ostentar uma confusa expressão.

“Huh?”

“É verdade… que você veio de Senn?!” Questionou, Lucy, com os seus olhares quase a brilharem. “Sempre… sempre quis conhecer!!! É tão… linda quanto contam?!” Continuou, Lucy, com o seu -quase- interrogatório.

Madeline suspirou, servindo-se de um pouco da salada, copiando como Lila o fazia.

“Err… bem… não creio que seja… uma cidade tão linda… quanto lhe contaram, mas… tem os seus belos e serenos locais para passear...” Respondeu, Madeline, sentindo-se um tanto quanto embaraçada em acreditar que poderia estar magoando-a com tal afirmação.

Lila, no entanto, suspirou, focando-se em sua comida.

“… Na realidade…” Começou a dizer, Lila, sem voltar a sua atenção para as duas. “… eu não gostava muito da cidade.” Concluiu, fazendo com que tanto Lucy, quanto Madeline a observarem, surpresas.

“!!! P-Por quê você nunca me contou que conhecia Senn?!?!” Exclamou, visivelmente surpresa e aborrecida, Lucy.

Lila, no entanto, apenas suspirou, voltando a comer e a deixar Lucy ainda mais incomodada.

“Aww… você é uma chata!” Resmungou, Lucy, que voltou-se para Madeline.

“Mas… o que você fazia lá?!? Tem fotos?! Tem amigos ou amigas que ainda vivem lá?” Continuou, Lucy, voltando a se animar e sem parar de prestar a atenção na Madeline, deixando-a ainda mais sem jeito, mas sorria, brevemente: achava graça naquele jeito quase infantil e animado dela.

No entanto, antes que Madeline a respondesse, Elle sorriu para as duas, como se soubesse a nova empregada pensava.

“Hmhm… por favor, não repare...” Começou a dizer, Elle e, tanto Madeline, quanto Lucy a observaram.

Elle pousou sua mão sobre a de Lucy que, a sorrir animadamente, segurou a dela com extrema alegria.

“… Nossa jovem Lucy vive aqui desde que nasceu...” Continuou, Elle e Lucy concordou com a cabeça. “… É a nossa empregada mais jovem, com apenas dezessete anos e a trabalhar conosco desde que tinha doze.”

Madeline observou Lucy, um tanto quanto surpresa: tinha noção que ela parecia ter esta idade, antes, porém o que mais lhe chamou a atenção é que ela trabalhava ali, desde os doze anos.

“D-Desde os… doze anos…?” Espantada, Madeline questionou, olhando de Elle, para Lucy e ambas sorriram, concordando com suas cabeças.

Elle, no entanto, bebeu um gole de seu champagne e suspirou.

“Na realidade...” Começou a dizer, Elle, a observar Lucy. “… não foi por meu pedido, ou algo qualquer: sempre a admirei e a respeitei, dando-lhe toda e qualquer liberdade… porém, desde que Lucy era criança, sua mãe, Dahlia, a ensinou a ser uma empregada daqui.”

Elle deu uma breve pausa e inspirou fundo, como se tal nome lhe trouxesse uma sensação de nostalgia.

“… Dahlia era uma pessoa muito especial: eu nunca a vi, com o passar dos anos, como uma empregada nossa, tornando-se, como referi mais cedo, quase como uma ‘mãe’… tanto para mim, quanto para as demais.”

Elle concluiu, com um certo pesar e, Madeline pode perceber que tal expressão era compartilhada por Lucy e ela compreendeu quem ela substituiria: uma sensação de mal estar subiu-lhe, pela garganta, porém Elle negou com a cabeça.

Logo, no entanto, Lucy sorriu, brevemente, segurando a mão de Madeline com a sua, enquanto que, com a sua outra, permanecia a segurar a de Elle.

“… Então… ela nunca viu o mundo além dessa mansão...” Elle fez um acréscimo em seu comentário, mas Lucy sorriu, negando.

“… Eu gosto muito daqui! Elle sempre é minha melhor amiga e companheira, quase como uma irmã mais velha para mim!” Exclamou, animadamente, Lucy e Elle sorriu, concordando, acariciando os loiros cabelos da jovem com a sua outra mão.

Foi neste momento, no entanto, que Madeline percebera que, diferente das demais, Lucy era a única a chamar-lhe apenas pelo nome: era algo que ela havia percebido, antes, mas não associara, naquele momento. Porém, ela logo compreendeu os motivos: dada a proximidade da jovem empregada e de sua mãe, com Elle, seria natural que ela agisse de tal forma.

Logo, no entanto, Elle voltou a comer, enquanto que Madeline fez o mesmo, porém não demorou para que Lucy voltasse aos seus ‘interrogatórios’, o que a nova empregada sequer fez menção de impedi-la, respondendo todas as perguntas recebidas.

Uma hora havia se passado, desde então e todos se serviam da sobremesa: esta se tratava de uma pequena taça com uma pera que Madeline, ao provar da mesma, sentiu um levemente adocicado, mas um tanto quanto forte, gosto do vinho. Porém, ela não podia negar que estava muito delicioso e saboroso e só não repetiu pois achou ser indelicado de sua parte.

Madeline encontrava-se levemente alta, tomada pelas características sensações de calor pelo seu corpo, tendo em vista que ela tomara duas taças daquela bebida, passando a conversar um pouco mais animadamente com Lucy.

Lila, no entanto, limitava-se a comer, lentamente, a sua sobremesa, porém, vez ou outra, acompanhava as conversas das duas: não exprimia, porém parecia gostar de ouvi-las conversarem, de tal forma.

Elle, assim como Lila, também se animava, exibindo curiosos olhares em determinadas perguntas, em direção de Madeline, mas logo voltava-se a se servir de seu champagne, saboreando o seu aroma e sabor, enquanto que Mert limitara-se a comer apenas da salada e, satisfeita, passou a se servir apenas de sua estranha bebida.

Assim que todos já haviam terminado e, no intuito de ajudar Lucy e Lila, começavam a ajudar a recolherem os pratos, talheres, copos e taças, a colocarem em um outro carrinho, cujo estava separado dos demais.

Elle limpava a sua boca com o seu lenço e, animada, se levantou, novamente a chamar a atenção dos demais: assim que eles voltavam suas atenções para ela, Elle sorriu.

“Hmhm… bom, espero que estejam satisfeitos...” Começou a dizer, Elle, fazendo uma breve reverência para os seus empregados. “… Espero que tenham uma boa noite e… gostaria de avisar que, amanhã a tarde, precisarei fazer uma viagem para Etheos.”

Elle voltou o seu olhar para as empregadas a frente de Madeline, Lucy e Lila.

“… Então peço que deixem algumas das minhas roupas prontas, de manhã.” Concluiu, Elle e as empregadas, cujas ela voltara a sua atenção, a reverenciaram e responderam com um animado “Sim, senhorita”, cujas voltaram a se focarem na arrumação, seguindo em direção ao carrinho com as louças sujas, levando-o para a cozinha.

Madeline logo percebeu que elas teriam um longo trabalho para lavarem todos aqueles pratos e talheres, assim como cuidar das sobras. Porém, ela logo voltou-se para Elle, surpresa pelo anúncio, um tanto quanto em cima do momento, de sua viagem.

Elle sorriu-lhe, gentilmente.

“… E então? Está gostando?” Questionou, Elle, distraindo o que Madeline estava a pensar. Esta suspirou, mas dado o seu estado levemente ‘alto’, concordou com a cabeça.

“S-Sim… a ceia… estava ótima...” Disse, Madeline, um tanto quanto sem jeito.

“Bom saber… quero, no entanto, que agradeça a Lucy...” Disse, Elle, gentilmente, lançando um breve olhar para a jovem empregada, que fez menção de não haver necessidade para elogios, apesar que sequer fizera questão de ocultar o seu orgulho e satisfação ao recebê-lo.

“… Depois de Lila, Lucy é uma de nossas melhores cozinheiras...” Continuou, Elle e Lucy corou, brevemente, agradecendo.

“Obrigada, Elle!!!” Exclamou, animadamente, Lucy e, em seguida, voltou a ajudar as demais com os seus últimos retoques, como arrumar a mesa, novamente, para uma quase completa organização de como a mesma se encontrava, momentos atrás.

Elle retornou para Madeline, assim que Lucy e Lila cuidavam da mesa.

“Agora, descanse: amanhã será um novo dia e iniciará, de fato, os seus serviços...” Disse, Elle e Madeline concordou com a cabeça, apesar de se sentir um tanto quanto mais ansiosa, com tal aviso.

Assim que Lila e Lucy terminaram, elas se despediram das demais, cujas cuidariam da cozinha e da limpeza da mesma, e voltaram-se para perto de Madeline: Lucy, animadamente, segurou a mão da nova empregada, enquanto que Lila sorriu brevemente ao vê-las de tal forma.

“Vamos, Madeline!!! Quero saber mais sobre onde vivia e o que gosta de fazer!!” Exclamou, animadamente, Lucy e Madeline suspirou: não ocultou, no entanto, o seu riso, achando graça no jeito dela e, tal riso foi compartilhado por Elle.

“Hmhm… creio que ainda deva… demorar um pouco para dormir, pelo visto...” Limitou-se em dizer, Elle, mas logo acenou gentilmente para elas, afastando-se, lado a lado, com Mert.

No percurso, no entanto, ambas pararam e Elle voltou-se para uma das empregadas ali, presente.

“… Therese, creio que… precisarei de seus serviços…” Disse, Elle e a empregada concordou.

Ela tinha uma pele parda e tinha um corpo um tanto quanto formoso. Sua estatura era, para Madeline, quase de 1,65m e possuía ondulados cabelos castanhos escuros, enquanto que os seus olhos, de um leve tom de verde, exibiam uma cansada expressão.

Madeline observou as três a se afastarem e suspirou, brevemente.

“Coitada… ainda terá que trabalhar um pouco mais, antes de descansar…” Pensou, Madeline, a se compadecer por Therese.

Seus pensamentos, no entanto, foram interrompidos ao ouvir a voz de Lucy, animadamente a conversar com ela.

“Madeline! Madeline!!! Vamos para o quarto!?! Quero ver o que você trouxe ever que tipo de moda as pessoas usam em Senn!!!” Exclamou, animadamente, Lucy e Madeline esboçou um breve sorriso, a concordar: em seus pensamentos, no entanto, não acreditava que serviria de exemplo de como é a vida na cidade em que nasceu.

Lila, no entanto, suspirou.

“Lucy...” Começou a dizer, Lila, em um leve tom de reprimenda. “… Vamos deixá-la descansar: ela fez uma longa viagem até aqui e ainda sequer pode ter um momento de repousar...”

Lucy, apesar de não querer aceitar, sabia que Lila estava certa e exibiu divididos olhares para Madeline. Percebendo isso, no entanto, Madeline sorriu e, com a sua mão dada com a da jovem empregada, ela a ergueu até certa altura.

“Está tudo bem, Lila...” Disse, Madeline, a sorrir gentilmente. “… Eu ainda aguento ficar um pouco mais, acordada...”

Lucy, ao ouvir tal fala, parecia quase exultar de animação, ao mesmo tempo em que seus olhos quase pareciam brilhar, passando a acelerar os seus passos, quase a arrastar Madeline em direção dos aposentos.

Lila nada disse, no entanto: quando as duas se afastaram de tal forma, porém, ela exibiu um breve sorriso.

Um breve… e emocionado sorriso.

Apesar de seu cansaço, no entanto, Madeline mostrou todas as roupas e utensílios que havia trazido, assim como algumas revistas e livros que também trouxera, para Lucy. Tanto a jovem empregada, quanto Lila, no entanto, já haviam se trocado para longas camisolas, enquanto que Madeline limitara-se a ter trazido roupas mais curtas, não tendo planejado na possibilidade da noite ser tão fria.

Percebendo isso, porém, Lila suspirou e, em seguida, abriu o seu baú, pegando uma longa camisola, similar as que elas usavam.

“Tome… pode usar...” Disse, Lila, preocupada. “… ela lhe manterá aquecida, durante a noite...”

Madeline observou aquela camisola, cuja possuía uma cor branca e sorriu, extremamente agradecida.

Logo, ela preparou-se para seguir em direção do banheiro, porém Lucy a observou, surpresa, mas riu, em seguida, animadamente.

“Ahh… pode se trocar aqui!!” Exclamou, ainda animada, Lucy. “Todas nós fazemos isso, não há porque ter vergonha...” Concluiu, ainda a sorrir, enquanto voltava a observar o baú de Madeline, curiosamente a ver todas aquelas roupas e livros.

“Ahh… b-bem...” Disse, Madeline, ainda um tanto quanto constrangida, porém lembrou-se que tanto Lila, quanto as demais, realmente se trocavam ali, sem nenhum tipo de embaraço e sequer constrangimento.

Com um suspiro, Madeline começou a se despir e, tão logo encontrava-se já sem roupas, ela começou a vestir aquela confortável camisola, gostando da sensação da mesma contra a sua pele e, como Lila lhe dissera, podia sentir que a mesma conseguia mantê-la um pouco aquecida.

Lucy, cuja voltara a sua atenção para Madeline, até o momento que a mesma se vestira e começava a soltar os seus longos cabelos negros, deixou escapar um breve riso.

“Aww...” Começou a falar, Lucy, sorrindo levemente maliciosa. “… Seus seios são lindos, assim como os seus cabelos!” Concluiu, levemente provocativa, deixando Madeline extremamente ruborizada.

“!!… L-Lucy!!” Exclamou, surpresa e embaraçada, Madeline, quase a gaguejar.

Lucy riu, novamente, achando graça em como Madeline ficara.

“Aww… você ficou sem jeito!!! Hihihihi...” Exclamou, rindo, Lucy, porém algo lhe chamara a atenção no baú de Madeline e, estendendo a sua mão para pegar, percebeu que se tratava de um porta-retratos: este exibia uma foto do que parecia ser Madeline, um pouco mais nova e uma velha senhora, ao seu lado.

Curiosa, Lucy voltou-se para Madeline, cuja começava a se recobrar do comentário da jovem empregada.

“Ahh… é a sua mãe?!” Questionou, Lucy, ainda curiosa e a manter a sua atenção no retrato.

Sem compreender, a princípio, já que ainda arrumava os seus cabelos, Madeline voltou-se para Lucy e suspirou, a negar brevemente com a cabeça.

“… Na realidade...” Começou a responder, Madeline, enquanto fechava alguns dos botões da camisola que ganhara. “… Esta era a minha mãe adotiva...” Concluiu, dando um breve ênfase na menção ‘era’.

Lucy, ao ouvir Madeline, interrompeu a sua atenção na foto e voltou-se para ela, levemente surpresa e entristecida.

“E-Ela… não está… mais viva…?” Questionou, Lucy, um pouco mais assustada e menos alegre do que antes.

Madeline negou com a cabeça e Lucy exibiu tristes olhares, ao mesmo tempo que os mesmos pareciam ficarem um tanto quanto marejados.

“D-Desculpa… eu… eu também...” Começou a dizer, Lucy, a ficar brevemente com a voz embargada. “… perdi a minha mãe… há poucos dias...”

Ao concluir, Lucy não conseguia mais se conter e logo começou a chorar.

Percebendo o estado de Lucy, Lila, cuja prestava atenção na conversa, se aproximou da jovem empregada e, em seguida, começou a acariciar os ombros dela, no intuito de confortá-la. Logo, Madeline também fez o mesmo.

“Elle… ela me… contou...” Murmurou, Madeline, com pesar em sua expressão.

Com as suas lágrimas a escorrerem pelo seu rosto, Lucy começou a falar, com certa dificuldade.

“… Elle… ela… ela fez tudo o que pode...” Lucy se interrompeu, por alguns poucos instantes, a exibir um fraco sorriso ao mencionar o nome de Elle. “… Ela… chamou os melhores médicos e ficou ao meu… lado… todo o tempo… cancelando… inclusive, algumas de suas viagens, enquanto… tentavam salvá-la…”

Lucy baixou sua cabeça, por fim e tentava engolir o seu choro.

“… Mas… no final...” Lucy, após algum tempo, concluiu a sua frase, voltando a chroar novamente.

Madeline suspirou: naquele momento, passou a gostar ainda mais de Elle, perdendo as suas desconfianças iniciais, porém voltou a se preocupar com o estado da Lucy e, em um involuntário ato, ela a abraçou.

Lucy arregalou os seus olhares, surpresa por aquele ato, mas logo os fechou novamente e, mais forte do que antes, ela desatou a chorar ainda mais, ao mesmo tempo em que sentia o conforto nos braços de Madeline e, lentamente, a abraçou de volta.

As demais presentes no quarto, no entanto, adormeciam, enquanto que outras liam algumas revistas e conversavam em sussurros. E haviam outras que observavam as três, curiosas e penalizadas: todas sabiam que havia sido uma grande perda, a partida de Dahlia.

Ambas não souberam quanto tempo ficaram assim, enquanto que Lila, tomada pelo pesar e pela preocupação da jovem empregada e sua melhor amiga, começou a acariciar os seus longos cabelos loiros.

Aos poucos, no entanto, Lucy começou a cessar o seu choro e, apesar de seu rosto ainda se encontrar marcado por suas lágrimas, começava a enxugá-las como podia.

Penalizada, Madeline suspirou, afastando brevemente o seu corpo do dela.

“Melhor…?” Perguntou, de uma forma gentil, enquanto gentilmente acariciou o rosto da jovem empregada e esta limitou-se em concordar com a cabeça, ainda a continuar a tentar enxugar as suas lágrimas, enquanto que reabria os seus olhos castanhos para observar Madeline.

“D-Desculpe...” Disse, Lucy, ainda com a voz um tanto quanto embargada.

Madeline meneou a sua cabeça, em negação.

“Não precisa se desculpar, vai?” Começou a dizer, Madeline, exibindo uma gentil expressão em seu rosto. “… Eu sei bem como se sente...”

Madeline inspirou fundo, apesar de ainda manter a sua expressão.

“… Vivi em um orfanato… abandonada pela minha mãe biológica, com uma irmã mais nova, recém nascida.”

Madeline interrompeu-se brevemente e Lucy a observava curiosa, enquanto que Lila, também a manter a sua atenção sobre a nova empregada, parecia exibir certa curiosidade e surpresa.

“… No entanto… aos seis anos, eu fui adotada, mas minha irmã ficou no orfanato… Foram os dias… mais difíceis… para mim...” Disse, Madeline, passando, ela mesma, a derrubar algumas lágrimas, porém logo as conteve, momentaneamente.

“… Mas eu fiz… uma promessa a mim mesma… que um dia… eu ainda hei de encontrá-la!”

Penalizada pela sua história e ainda a manter seus surpresos olhares, Lila a observou, enquanto que Lucy, como em uma oportunidade de recompensar pelo carinho recebido por ela, começou, ela mesma, a acariciar o rosto de Madeline, enxugando as suas lágrimas.

“… Hm… eu… sei que pode ser meio que… uma pretensão de minha parte… mas…” Começou a dizer, Lucy, gentil e delicadamente, enquanto que Madeline ainda permanecia parcialmente cabisbaixa, entristecida.

“… Se quiser… eu posso ser sua… irmãzinha…” Continuou, Lucy e, ao ver que Madeline a observara, a jovem empregada fez menção em se corrigir. “… Mesmo que seja só de… consideração...”

Concluiu, Lucy, porém, esta acreditava que havia agido mal, já que Madeline ainda a observava, surpresa.

Porém, para a surpresa da jovem empregada, Madeline sorriu, animadamente, enquanto enxugava, com uma de suas mãos, algumas lágrimas que ainda teimavam em cair.

“… E-Eu… não…” Começou a dizer, Madeline, ainda a sorrir e, emocionada, logo ela deixou escapar um ainda maior. “… porquê não...”

Lucy, animada, sorriu amplamente e, em seguida, ambas se abraçaram, bastante felizes, enquanto que Lila sorria, mais calma ao ver que sua amiga estava melhor, ainda sem interromper as suas carícias nos loiros cabelos dela.

Vendo o relógio no local, no entanto, Lila suspirou: passavam-se da meia-noite. Voltando o seu olhar para as duas, ela começou a falar.

“… Bom… é melhor dormirmos… amanhã o dia será puxado e temos que levantar bem cedo...”

Lila concluiu a sua fala, enquanto arrumava o travesseiro de sua cama.

Ainda abraçada a Lucy, Madeline ouviu o comentário de Lila e concordou.

“É-É… mesmo...” Disse, Madeline, porém logo exibiu certa preocupação. Tão logo elas se afastaram, a nova empregada voltou-se para Lila. “Que horas… que precisamos estar acordadas?” Questionou, sem sequer pensar na possibilidade e temendo pelo pior.

Lila, já se preparando para se deitar e a apagar o abajur sobre o criado-mudo ao lado de sua cama, suspirou.

“Hmm… é mesmo…” Disse, Lila, percebendo que não haviam apresentado o esquema de trabalho para Madeline. “… Costumamos acordar às cinco da manhã… algumas de nós acordamos até antes...” Concluiu e logo começou a se cobrir, sentindo, por fim, o peso de seu cansaço a exaurir-lhe.

Madeline suspirou: teria muito pouco tempo para dormir, já que o relógio indicava 00:49.

Lucy, no entanto, sorriu para ela e, em seguida, pousou uma de suas mãos sobre o ombro de Madeline.

“Ahh… ‘maninha’… posso dormir com você, hoje?” Questionou, Lucy, a exibir um extremamente singelo e animado sorriso em seu rosto.

As camas das empregadas eram todas de solteiro, porém, elas eram grandes o suficiente para que duas pessoas pudessem dormirem, juntas.

Coçando a sua nuca, sem jeito, Madeline suspirou.

“Err… bem...” Começou a dizer, Madeline, ainda embaraçada, mas os olhares de Lucy pareciam, mais e mais, se tornarem implorativos.

“Awww… deixa… vai?!” Pediu, novamente, Lucy e, vendo-a daquela forma, Madeline percebeu que não poderia negar, sem contrariá-la.

Por fim, ela relaxou os seus braços, com um suspiro.

“Ok, vai… pode dormir...” Disse, Madeline, levemente sem jeito, apesar de manter um sorriso em seu rosto.

Lucy, bastante animada, a abraçou com força.

“EEEEEeeehh… ‘brigada, ‘maninha’!!!!” Exclamou, extremamente animada, Lucy e, em seguida, já pegou um de seus travesseiros de sua cama e o colocou ao lado do mesmo, de Madeline.

“Venha, vamos dormir, ‘maninha’!!!” Disse, Lucy, ainda a sorrir e já se deitar.

Madeline não conseguiu conter um sorriso: Lucy parecia como uma criança, com tais momentos, apesar de que em outros, ela parecia uma pessoa feliz com a vida e bastante compenetrada no que fazia.

Tais traços de sua atitude a deixavam animada e, delicadamente, acariciou-lhe os cabelos, gentilmente.

“Sim… já estou indo...” Respondeu, Madeline e Lucy sorriu-lhe gentilmente, concordando.

Afofando o seu travesseiro, Madeline logo apagou o seu abajur, entregando o local na mais completa escuridão e, em seguida, deitou-se ao lado de Lucy, cuja deixara escapar uma breve risada ao senti-la deitar-se ao seu lado.

Sorrindo, Madeline se cobriu, sentindo as espessas cobertas a complementarem o ‘trabalho’ da camisola que ganhara de Lila, já não mais a sentir frio.

Ela ainda ficou alguns poucos instantes, acordada, tentando ver todas as demais que ali, dormiam, assim como podia ver que Lucy, apesar de toda empolgação de momentos atrás, já adormecera.

Madeline recordava em tudo o que lhe ocorrera nesse dia: apesar de ainda guardar certas reservas quanto a Elle, assim como o seu novo trabalho, estava começando a acreditar que iria gostar de trabalhar ali.

Ela havia feito duas novas amizades e percebera que estava vivendo em um novo elo familiar, assim como as palavras de Elle, a apresentar-lhe as demais, assim como o que ela contara sobre Dahlia e o carinho que ela aparentava ter, pela mesma, a fez se sentir um pouco menos confusa, a respeito de sua empregadora.

Tão logo se ajeitou melhor no travesseiro, Madeline começou a sentir certa sonolência e, em uma questão de poucos instantes, ela logo adormeceu.

O som da tempestade de neve, cuja ainda caía do lado de fora, parecia sequer incomodar ou perturbar o sono delas, já que, ali, as paredes conseguiam abafar bem, o mesmo.

— Continua -


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Notas finais do capítulo

Me diverti demais ao escrever esta história. Na verdade, a intenção era para ser uma história escrita apenas para mim, para se ter mais ideias sobre as condutas, personalidades e entre outros pormenores dos personagens aqui, descritos. Porém, quanto mais eu escrevia, mais eu amava o desenrolar da trama e dos personagens e, desta forma, a história começou a ganhar corpo.

Alguns pontos para destacar: Khalis referem-se a moeda em Tharan, criada há mais de dois mil anos atrás no planeta, quando a imperatriz Kayla difundiu o seu império por todos os cantos, instaurando novas crenças, ideologias e um -aparente- futuro promissor, até a sua morte e o seu império decair, restando apenas algumas poucas coisas do mesmo.

Elle e Mert são duas personagens criadas há um bom tempo, porém nunca houve, de fato, uma história para elas, a não ser as situações em que elas foram usadas em RolePlay com amigos. Elle é, depois de Miana (não utilizada nesta história!), uma das personagens que mais amo, ao mesmo tempo, é também um pouco difícil de interpretá-la, já que ela tende a ser muito perspicaz. Mert, no entanto, não é muito difícil, apesar que também tem as suas peculiaridades.

Até o próximo capítulo ...



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