Você é meu mundo escrita por Blue Butterfly


Capítulo 10
Um mundo para governar


Notas iniciais do capítulo

Como prometida, a segunda parte do mundo dos dragões.



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—Yukko, eu estava pensando nas cinco categorias em que as pessoas desse mundo são classificadas. Há os Lutadores que protegem as pessoas, os Cuidadores que cuidam dos dragões, os Assassinos que matam dragões malvados e os Terrenos que são pessoas normais. Mas o que são os Dominadores?

—Neste mundo, você nasce com seu destino escolhido, um Lutador sempre será um Lutador, ele nunca terá habilidades que um Cuidador tem, assim como um Terreno nunca será forte o bastante para comandar um dragão. Até mesmo um Assassino já nasce com habilidades para ser isso, embora seja tão difícil ver quem nasce para ser Assassino que as famílias decidiram que achar um pelo método da tentativa e erro é mais rápido. O Dominador é uma exceção, ele pode ser tanto Cuidador quanto Lutador, pois tem as duas habilidades necessárias, além disso um Dominador pode fazer algo que nem mesmo o maior Cuidador se atreveria a tentar.

—…

—…

—O que é? Anda, responde logo.

—Oh, mas estamos no nosso terceiro pedido já? Eu realmente adorei este mundo…

—Ahhh!!! Traição!!! Você faz isso de propósito. Eu não quero saber de nada, vou descobrir tudo sozinho com minha inteligência incrível!!! Só toque esta maldita luz e nos leve para o futuro.

—Como quiser, Wa-ta-nu-ki.

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Subaru recolheu o último filhote com cuidado, tomando a pequena fera com carinho antes de estende-la para um jovem loiro. O jovem sorriu, fechando os olhos quase que de imediato assim que suas mãos tocaram o corpo recém apresentado ao mundo, ainda havia um pouco de gosma nas asas do dragãozinho, mas o loiro não parecia se importar.

—Ele gosta de liberdade e de conhecer lugares novos – Fay contou, a voz tranquila e aconchegante – Ele não se importa com levar peso ou ter que trabalhar, porém decididamente não quer participar de brigas. Um Cuidador viajante seria o mais indicado.

Subaru concordou, um adolescente anotou as informações, contente por ter chegado ao fim, desde o inicio da manhã o adolescente, o sensei e o jovem loiro estavam listando os filhotes e verificando qual seria o melhor mestre para cada um. O sensei analisava cada fera, procurando por feridas ou qualquer enfermidade grave, se o filhote estivesse bem ele era entregue para o loiro, o adolescente não sabia muito sobre ele, era alguém mais velho, um D. da família Fluorita que havia chegado na academia quando tinha pouco mais de dez anos e ficara lá pelos últimos nove anos. Ele trabalhava junto com sensei Subaru cuidando dos filhotes e quando não estava em meio às pequenas feras podia ser visto caminhando com um dos Lutadores graduados que permaneceram na academia. Às veze, ele também andaria com Kinomoto e Tsukishiro, um Lutador e um Cuidador que já tinham se graduado três anos atrás.

Como um D., o loiro tinha a incrível capacidade de ler a mente e entender a vontade dos dragões, em especial os mais novos, e trabalhava na academia ajudando a escolher um mestre adequado para os filhotes que chegavam mensalmente.

—Terminamos por hoje – o sensei declarou satisfeito – Obrigado pelo trabalho de hoje, Fay – e deu seu sorriso doce que ganhava o coração dos alunos.

—Obrigado pelo trabalho, sensei – o loiro respondeu antes de se virar para o adolescente e repetir a frase.

—Fay, pode tirar dois dias de descanso, logo teremos a chegada de mais filhotes e vou precisar que ajude na enfermaria no seu tempo livre, então aproveite essa folga.

O loiro sorriu, seria bom ter um tempo livre, ele estava planejando um pick-nick já há certo tempo, talvez fosse um bom momento para realizá-lo, o céu prometia dias ensolarados e quentes na medida certa, o tempo ideal para uma refeição a beira de um lago. Ainda segurando o filhote, o loiro suspirou, divagando sobre certo Lutador de olhos vermelhos, desde que chegara na academia Kurogane Suwa o acompanhou, protegendo e cuidando dele e até mesmo dividindo seu dragão quando Fay queria brincar ou treinar com ele. Fazia apenas dois meses que um Kurogane envergonhado e sem jeito decidira revelar seus sentimentos – que todos já conheciam, inclusive Fay, na verdade ele estava se perguntando quanto tempo mais Kurogane levaria quando o homem resolveu se confessar.

As coisas tinham mudado um pouco desde então, porém de uma forma boa e confortável, Fay ainda o provocaria e distorceria seu nome quantas vezes quisesse e em quantas formas sua imaginação permitisse, Kurogane ainda o mandaria para o inferno verbalmente e quase o faria fisicamente, perseguindo o loiro com raiva por toda a academia. A única diferença é que ao invés de correr até a exaustão, Fay agora acabaria se deixando ser pego e em vez da morte Kurogane o puniria com um beijo. Um ótimo progresso, se perguntassem a opinião do loiro.

—Fay, você sabe se o Yukito voltará logo? – Subaru pediu prestes a sair.

—Provavelmente sim. Ele tinha uma corrida para disputar, mas conhecendo Shoran tenho certeza que ele estará de volta antes do jantar. Não há nenhum dragão mais rápido que ele.

Subaru concordou com um sorriso, se despedindo antes que a visão daqueles filhotes o prendesse ali por mais tempo do que ele podia dispensar.

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—Uhull, coma nuvem Kinomoto idiota!

—Não vá se achando, Suwa. Seu dragão pode ter crescido, mas ele ainda é o mesmo filhote medroso.

—Como se o seu dragão fosse melhor, ele ainda te abandona toda vez que o Cuidador está por perto.

—Meninos, não briguem, todos sabem quem é o melhor treinador aqui.

Yukito surgiu entre as nuvens, seu dragão ganhando altura e velocidade com uma facilidade impressionante. Os dois Lutadores fizeram careta, ainda se perguntando como o Cuidador sempre os convencia a também participar das corridas. Yukito teve a coragem de retirar da mochila um lanche e comer em meio a corrida, seu imenso dragão cinza e azul sempre estável e seguro, e acenar para os outros dois.

A fera de Touya se agitou, com o tempo o dragão tinha mudado sua paixão platônica do Cuidador para o dragão do Cuidador, o que significava os mesmos problemas para Touya. Vendo pelo lado bom, pelo menos agora o Lutador e o Cuidador tinham uma desculpa para viverem juntos pra cima e para baixo, Kurogane pensou se divertindo, tratando de incentivar seu dragão a voar mais rápido.

Ele estava tomando uma boa distância dos outros dois competidores – não que fosse sinônimo de vitória, nunca se sabia quando Yukito ia parar de brincar e voar de verdade – quando ele avistou a fumaça.

—Hey, temos problemas – ele gritou virando rapidamente a cabeça para trás para ter certeza que tinha sido ouvido.

A conversa animada as suas costas parou, um semblante sério tomando o rosto dos dois homens, sem maiores explicações os três voaram com velocidade surpreendente em direção as chamas, eles tinham experiência suficiente para saber o que aquela cor arroxeada na fumaça queria dizer.

—Yuki, volte para a academia, informe para Seishiro o que está acontecendo – Touya orientou – Nós vamos tentar controlar a situação enquanto isso.

—Sim.

O homem de cabelos de prata concordou, dando um último olhar para o Lutador antes de guiar seu dragão para longe, de volta para a academia. Touya emparelhou com Kurogane, seus olhos percorrendo todo o cenário, captando os detalhes necessários para uma ação segura e eficiente.

—Um D. – Kurogane anunciou o óbvio – Aparentemente da família Wang.

—É o que parece. Nos aproximamos pela direita ou esquerda?

—Esquer…

Antes que Kurogane terminasse sua fala, uma rajada de fogo alcançou os dois dragões e os Lutadores perderam o equilíbrio, suas feras se afastando demais para evitar o ataque. Saindo da zona de fumaça, eles enxergaram o caos na aldeia abaixo. Uma garota com longos cabelos pretos cacheados estava no centro da aldeia, seu corpo rodeado por uma fina fumaça roxa, ondas de poder partindo de seu corpo, a face ensandecida, um dragão disparava bolas e rajadas de fogo, consumindo tudo ao redor, obedecendo cada ordem que a garota dava.

Treinados desde muito cedo para agir em conjunto, os dois Lutadores voltaram a se unir, prontos para enfrentar o dragão que causava toda aquela bagunça e tentar afastá-lo da vila antes que ele destruísse tudo. Foi quando um segundo dragão descontrolado apareceu, dessa vez rodeado por uma nuvem branca com toques vermelhos.

—Mas que merda é essa? – Kurogane praguejou – Por que também tem um D. da família Reed descontrolado aqui?

—Inferno, isso vai ser complicado. Devemos recuar e esperar reforços – Touya aconselhou irritado com a situação, ele odiava recuar.

—Mas se deixarmos, eles vão destruir tudo.

—Eu acho que no momento eles estão mais ocupados tentando matar um ao outro. Vamos tentar retirar as pessoas em segurança e deixar que eles se matem.

Era verdade, acompanhando o dragão surgiu uma mulher alta e magra, com olhos mortos e cabelos acinzentados sujos, sangue escorria de sua face pálida, seu dragão estava ferido e pronto para consumir o mundo inteiro com suas chamas.

—Você o matou – a de cabelos cacheados gritou furiosa – Você teve a coragem de ir até nossa casa, fingiu ser nossa aliada só para ter a oportunidade perfeita para matá-lo.

O seu dragão destruiu a torre no lado norte da vila, gritos desesperados de Terrenos invadiram o ar. Os Lutadores tentaram chegar até aquele lado, mas o segundo dragão os impediu, avançando na frente e destruindo tudo pelo caminho. Enquanto as mulheres discutiam, Touya esperou seu companheiro determinar o plano de ação, embora ele fosse considerado um estrategista superior, Kinomoto reconhecia que, no meio de um campo de batalha, Kurogane sempre sabia a melhor forma de agir e lutar, ele tinha reflexos mais rápidos e dificilmente ficava paralisado por uma situação inesperada.

—Hey, vou chamar a atenção dos dragões e levá-los para o sul, ainda há Terrenos na vila, tente esvaziar esse lugar rápido e depois vá me ajudar.

—Não seja louco. É preciso no mínimo quatro de nós para dar conta do dragão de um D., que dirá dois. Você vai morrer…

—Hey, cale a boca e me obedeça, eu confio minha vida em Ginryu, ele vai me manter protegido, apenas seja rápido.

—Kurogane…

—Não temos outra escolha.

Touya se calou, ele não podia acreditar naquilo, há meia hora atrás sua única preocupação era vencer uma corrida, agora ele estava vendo seu amigo prestes a sacrificar a vida para proteger uma vila. Só havia algo que ele conseguia pensar em dizer naquele momento.

—Está bem. Mas lembre que se eu voltar sem você, Fay vai me esquartejar e me dar para os filhotes, então é melhor você sobreviver.

Um sorriso de escárnio foi a única resposta que recebeu antes que o moreno se afastasse para executar o plano. Com pesar, Touya assumiu sua parte, esperando que Ginryu não tivesse nenhuma recaída ou um momento “recordar é viver” e se mantivesse o dragão corajoso e valente que Suwa e Fluorita tinham criado com tanto esforço. A última coisa que ele viu antes que sua atenção focasse completamente nos Terrenos precisando de auxílio foi o dragão negro de olhos rubis atacando as duas mulheres e se tornando o novo foco de sua raiva.

Touya já tinha evacuado quase toda a Vila e contido a maior parte do incêndio quando os primeiros dragões surgiram, o símbolo da academia reluzindo no céu. Três dragões desembarcaram perto do moreno, os outros continuaram viagem, Seichiro guiando o grupo, atraído pela fumaça adiante e já imaginando o que seu melhor estudante planejou fazer para conseguir afastar os dragões. Yukito vinha logo atrás, em seu dragão um loiro de olhos azuis também estava montado, tensão irradiando em seu corpo.

Quando a fumaça já estava palpável eles vislumbraram um cenário aterrador. Vindo de sabe-se lá onde, mais três dragões se ajuntaram, dois do clã Wang e um da família Reed, ataques eram lançados de forma indiscriminada, destruindo o local e causando graves feridas nos participantes. Ginryu estava no chão, preferindo o solo do que se aventurar no céu repleto por bolas de fogo, além do fato que era mais fácil proteger Kurogane ali. O moreno estava ferido, por sua testa corria um filete de sangue e suas roupas estavam chamuscadas, uma ferida feia enfeitava seu braço direito e seu abdômen e o Lutador parecia prestes a desmaiar.

Seichiro dividiu seus Lutadores, Kamui preparou seu grupo, mandando os dragões para cima para dominar o ataque aéreo, Yukito não vacilou, com cuidado ele ordenou que Shoran descesse, se eles não fossem rápidos e tirassem Kurogane dali o Lutador não sobreviveria. Antes que o dragão tocasse o chão Fay saltou, correndo em linha reta para o moreno, desviando por puro milagre do fogo cruzado. Yukito ainda estava pegando uma bandagem, o ataque defensivo ainda estava se formando, Seichiro ainda estava dividindo seus homens, quando um dragão da família Wang, completamente descontrolado, avançou para Ginryu, conseguindo achar um ponto fraco em sua defesa e mirando diretamente o humano que o dragão estava protegendo a todo custo. Ele abriu a boca, lava pura borbulhando de dentro dela, trouxe o pescoço para trás, ganhando espaço para atacar com a máxima velocidade e então…

—NÃO!

O grito de Fay ecoou no campo de batalha num tom que ninguém tinha sonhado existir. A voz do loiro sempre fora doce e melodiosa, lembrando um rio fazendo seu curso, o sol aquecendo a terra pela manhã, flores se abrindo na primeira semana de primavera, um pequeno dragão saindo do ovo… Mas o som que tanto D.s quanto Lutadores e Yukito ouviram foi diferente, era firme e metálico, lembrando uma barragem se rompendo, um vulcão em plena erupção, o inverno congelando as plantas e o gelo se partindo, um dragão rosnando em pura fúria após ter seu filhote ferido. Era um tom absoluto, que recusaria qualquer tipo de desobediência.

O tom de um Dominador.

A fera interrompeu seu ataque, toda sua pose de ataque se desfazendo, o dragão assumiu uma atitude submissa, voltando para o chão e reclinando a cabeça até que esta ficasse em um nível baixo do olhar do loiro. E para completo choque, todos os dragões, tanto os dos D.s quando os dos Lutadores seguiram o exemplo, voltando para o chão e reclinando a cabeça, submissos.

Fay tremeu, incerto. Aquilo nunca tinha acontecido antes, ele estava absolutamente chocado. Os D.s olhavam com confusão, sem saber quem era aquele D. que chegara com os o membros da academia e que podia dominar suas feras.

O loiro engoliu em seco, o som de Ginryu se submetendo o retirou de seu estupor e ele correu em direção a Kurogane, seu objetivo inicial. Ele estava prestes a tocar o moreno quando a mulher de cabelos cacheados se atirou em seu caminho, querendo interceptá-lo e atacá-lo fisicamente, frustrada com a interrupção de sua vingança. Todavia ela nem se quer deu dois passos em direção ao loiro quando seu próprio dragão se pôs entre os dois, grunhindo furiosamente para ela. E finalmente eles entenderam.

Aquele loiro não era somente um D..

Aquele loiro era um Dominador.

Alguém que tinha habilidade para ser tanto um Lutador quanto um Cuidador, alguém que não precisava ter um dragão para si, pois poderia domar qualquer um que quisesse, alguém que com apenas a voz dominaria qualquer fera, mesmo se fosse a fera interior de um D.. Alguém que, naquele momento, estava longe de descobrir o que os outros tinham acabado de enxergar, toda sua atenção focada no homem moreno a sua frente.

—Kuro-pi – Fay chamou nervoso – Por favor, aguente firme.

—Hey, idiota – Kurogane chamou, tossindo um pouco de sangue – Você não deve invadir um campo de batalha.

—Kuro-pu – lágrimas rolaram no rosto loiro.

—Eu sempre soube que você era especial – Kurogane continuou se esforçando para transmitir suas últimas palavras – Afinal, ser somente um D. era pouco para alguém como você.

—Kuro-chan – Fay chorou, confuso com aquelas palavras.

—Hey, cuide de Ginryu, está bem. Nós dois realmente te amamos – Kurogane tossiu espirrando sangue no rosto pálido a sua frente, sua visão escurecendo.

Lágrimas banharam o rosto do loiro, um grito doloroso e ensurdecedor tocou o céu quando o Lutador perdeu a consciência.

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—Estão me dizendo que meu filho é um Dominador e vocês só perceberam isso agora?

Subaru lutou para manter a calma, Ashura Fluorita era um homem difícil de lidar, durante os anos que Fay ficou na academia eles tinham restringido ao máximo o contato com o patriarca daquela família justamente para evitar situações como aquela.

—Nem mesmo Fay sabia. O senhor sabe que muitas vezes um Dominador só descobre sua verdadeira capacidade quando já passou da terceira década de vida. Fay foi uma descoberta precoce para o padrão geral…

—Vocês deviam ter prestado mais atenção. Tinham um D. da família Fluorita aqui, não um garoto qualquer.

—Um D. que acreditou que seu dragão tinha morrido. O senhor mesmo disse que ele não tinha um dragão interior, embora tivesse um ao nascer.

Ashura não respondeu, tinha sido um enorme equívoco, na época ele estava tão frustrado que não dera certo criar um Assassino que nem se quer pesquisou a fundo o efeito colateral que a morte do irmão teve em Fay. Ele aceitou facilmente que Fay e Yui dividiam o mesmo dragão por serem gêmeos e que por isso Fay não podia mais invocar seu dragão depois que Yui morreu. Quando ele pensaria que, na verdade, ao invés de compartilhar, Fay dominava desde cedo o dragão de seu irmão?

—Que seja. Ele vem para casa comigo, eu deixei que ele ficasse tempo demais nessa academia, a casa de Fluorita exige a sua devolução…

—Eu não vou.

Fay se pronunciou pela primeira vez. Desde que seu pai chegara com alguns representantes daquela família ele mantivera o silêncio, sua atenção em outro mundo, uma mão estendida tocando um enorme dragão negro de olhos vermelhos.

—Você não tem escolha…

—Eu já completei dezenove anos. Sou um adulto perante a família Fluorita. Dediquei dez anos de minha vida servindo nossa família, e depois, com seu consentimento, fiquei nesta academia. Eu tenho direito de escolher meu futuro.

—Não ouse me responder, garoto mal criado – Ashura falou num tom duro.

—Você realmente vai forçar um Dominador a fazer sua vontade?

A pergunta insolente veio de Seichirou, ele tinha ficado tempo demais ouvindo Ashura resmungar e maltratar Subaru para ter qualquer consideração com o homem.

—Ele parou sozinho dezessete dragões, sendo que cinco pertenciam a um D., tudo isso com apenas uma palavra – continuou friamente – Inclusive, conseguiu que um dragão se voltasse contra seu mestre D. para protegê-lo sem precisar dar ordem alguma. Se ele não estivesse lá não teríamos perdido apenas uma Vila, como toda Nihon estaria em perigo. Ele salvou Nihon. Você realmente vai querer ir contra a vontade dele?

Ashura engoliu em seco. Ele jamais imaginou que aqueles homens o desafiariam daquela forma.

—Eu não vou voltar, pai – Fay repetiu – Minha vida agora é aqui. Eu jamais darei as costas para nossa casa, mas não me peça para voltar. Eu não quero ter que lutar com o senhor.

Ashura sabia quando uma discussão estava perdida, vendo a convicção naqueles olhos azuis ele suspirou, vendo diante de si um verdadeiro homem, o sonho realizado do garotinho que saíra de casa aos dez para, pelo visto, nunca mais voltar.

—Faça o que quiser, então. Mas jamais esqueça quem você é e a responsabilidade que carrega.

Fay concordou, seu olhar perdido pulando entre Subaru e Seichirou, tudo o que ele precisava era de uma autorização…

—Vá, Fay. Cuidamos do resto – Subaru finalmente falou.

E sem olhar para trás ele correu para fora da sala de reuniões, Ginryu indo para o céu e o seguindo lá de cima, o loiro percorreu com velocidade invejável os corredores da academia, seu o coração aos pulos. Derrapou um pouco frente a uma porta, seu corpo tremendo com ansiedade, com uma mão trêmula ele empurrou a madeira, rogando para que o que ele encontrasse não fosse a morte.

—Hey.

Um sorriso trêmulo brilhou no rosto pálido.

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—E essa foi a história de como Nihon foi salva por um Dominador. Fim.

O garoto no tapete bateu palmas, radiante com a história, os cabelos loiros e espetados para todos os lados, uma mistura perfeita do cabelo dos dois pais adotivos, cobria parcialmente os olhos dourados.

—Papa, será que o Dominador vai voltar para Nihon? – a criança pediu abraçando seu filhote de dragão com vontade.

—Quem sabe, Yoou-kun. Talvez, se um dia for preciso. Mas não se preocupe, seu Oto-san protege muito bem Nihon. Agora por que não deixa Mokona respirar, se continuar abraçando seu filhote dessa forma ele vai sufocar.

O garoto corou, afrouxando o abraço. O loiro bagunçou os cabelos dourados do filho, sorrindo para seu garoto com amor. A porta sendo aberta fez os dois erguerem a cabeça, um homem forte e alto entrou, botas pretas, jaqueta de couro e calça jeans escura, os cabelos espetado também eram pretos e estavam levemente úmidos.

—Oto-san – a criança berrou correndo até seu pai.

Com apenas um braço ele pegou o garoto, trazendo-o até seu ombro, do lado de fora o imenso dragão negro podia ser visto rodeando a casa e indo até onde uma refeição fresca já o esperava.

—Pirralho – o moreno cumprimentou dando um leve soco no garoto – O que você aprontou hoje?

—Eu acordei e tomei café da manhã, daí eu dei banho no Mokona porque ele estava fedido, então nós dois brincamos no jardim, depois desenhamos e vimos um filme. Papa fez o almoço e eu ajudei a lavar a louça, depois eu o Mokona brincamos no jardim de novo, só que dessa vez eu o ensinei a voar e ele quase conseguiu Oto-san, você tinha que ver. Daí eu entrei e ajudei Papa a fazer um bolo, tomei banho e acabei dando outro banho no Mokona, nos fizemos mais desenhos e até comecei meu dever de casa de férias. Então Papa nos contou a história do Dominador que salvou Nihon…

—De novo? – o homem pediu rindo de leve.

—Claro, essa é a melhor história de todos os tempos. Todo mundo da academia gosta dela, Yukito sensei sempre conta quando pedimos. Daí você chegou e agora eu e o Mokona vamos pegar nossos desenhos para você ver.

E sem nenhum cuidado ele pulou para o chão, conseguindo se manter de pé por puro milagre antes de correr escada acima. O loiro riu da familiaridade entre a criança e o moreno, o recém chegado se aproximou do outro, um sorriso suave em seus lábios.

—E o que você aprontou hoje? – perguntou de brincadeira.

—Se te contar a metade do que fiz, você ficará exausto – o loiro respondeu com carinho.

Eles se abraçaram por um instante, apenas pelo prazer de estar juntos depois de mais um dia.

—Me diz que as férias estão acabando – o loiro pediu rindo baixinho.

—Como se você não passasse o ano todo pedindo para ele voltar logo para casa – o moreno lembrou dando um beijo nos cabelos dourados – Hey, como ele pode ouvir essa história tantas vezes e nunca perguntar por que você tem o mesmo sobrenome que o Dominador?

—Ele percebeu. Mas como ele sabe que eu não sou o único que carrega esse sobrenome, acho que ele nunca pensaria que seu simples e doméstico Papa entraria para a história de Nihon como seu salvador. Eu ainda espero pelo dia em que ele vai pedir para ver meu pai e descobrir pessoalmente se foi ele o Dominador da história – e riu.

—Me lembre de nunca, jamais, nem que ele peça de joelhos, deixar o pirralho perto do seu pai.

Kurogane pediu enterrando o rosto entre os cabelos loiros e respirando profundamente o odor deles.

—Só um idiota como você para se por entre um dragão furioso e eu – Kurogane provocou.

—Você é o meu mundo, eu jamais permitiria que você se machucasse se eu pudesse fazer algo, qualquer coisa, para impedir. Eu não vou perder àqueles que amo, Kuro-pi, nunca mais.

Kurogane sorriu, deixando um beijo na testa do loiro. Fay riu, feliz e mais aquecido do que nunca.

—E eu juro que vou te proteger com tudo o que tenho, você e Yoou – Kurogane confessou sem constrangimento.

—Kuro-puu!

E Yoou fez uma careta quando voltou para a sala e encontrou seus pais numa cena muito constrangedora para os seus dez anos. Eca, ele odiava beijos.

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—Wow, eu quero um dragão. Eu quero um dragão gigante, do tipo prata e dourado com asas de titânio e garras afiadas.

—…

—Yukko?

—Um momento.

—Por que você está com esse sorriso?

—Espere um pouco.

—O que diabos você está planejando, sua megera louca?

—Nada demais, apenas calculando. Um dragão gigante, prata e dourado com asas de titânio e garras afiadas, certo? Creio que se você estiver disposto a fazer alguns trabalhos extras eu posso…

—Maluca! Nem pense em continuar! Eu estava brincando. Céus, você não tem senso de humor não? Só pensa em cobrar e cobrar, como se dar um presente de vez em quando fosse matar alguém.

—Estranho, eu me lembro muito bem que quando o Doumeki-kun quis te dar um presente você recusou e disse que nada vinha de graça nessa vida, que tudo tinha um preço.

—E tem! Quer dizer, vindo dele sempre tem!

—Ahh, e o que o nosso adorável Doumeki-kun pediu dessa vez?

—…

—Wa-ta-nu-ki…

—Você faz isso de propósito, né? Você realmente precisa me humilhar todo dia para ser feliz, né?

—Oww, é tão difícil assim admitir? Foi só um beijo…

—AHHHH, NÃO DIGA ESSAS COISAS EM VOZ ALTA!

—Mas foi só um beijo…

—EU TE ODEIO!!!


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Notas finais do capítulo

Eu amo a ideia de um filhote KuroFay. Juro! Meu coração não aguenta. Na capa da fic uma das imagens seria retratando essa família ^^
Gente que está acompanhando, não esqueçam de comentar, ok.



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