Quando o amor bater à porta, viva um dia de cada vez.

1 dia após Sakura e Itachi se conhecerem...

Acordei muito quebrada naquela manhã. Talvez fosse por causa da terceira noite mal dormida — mesmo estando no segundo mês de aula. Levantei quase me arrastando e fui pro banheiro virar gente. Quando saí, eram 6:30.

Sabe, muitas vezes quando criança imaginei meu sonhado curso um pouco diferente do momento atual. É claro que eu tenho ralado mil vezes mais do que eu tinha imaginado, além de que eu sempre chego à conclusão que não estudei o suficiente. Mas, graças a Deus, consigo manter minhas notas altas entre o top 10 dos nerds do meu curso. Tem horas que eu penso seriamente em simplesmente seguir outra carreira — desconfio que eu possa me dar bem com arquitetura ou quem sabe ser professora de literatura. Eu sobreviveria. Mas aí eu lembro que sou fascinada pelo corpo humano, fascinada com sua funcionalidade e com as pequenas coisas que nos mantêm vivos. É por isso que não jogo tudo pra cima em dias como aqueles.

Depois de ontem, quando eu conheci aquele garoto estranho, pensei se não seria loucura enviar uma mensagem. Tudo bem, ele é da minha faculdade. Mas há tantos casos de gente doida por aí... Tudo bem também que ele seja uma pessoa muito bonita, mas beleza não significa ausência de loucura. Vai que.

Vesti as roupas mais confortáveis possíveis e saí de casa. Mamãe não estava em casa de novo, provavelmente ela dobrou no trabalho de novo. Isso ainda vai acabar trazendo problemas de saúde e não vai ser por falta de aviso.

Encarei o celular por alguns segundos enquanto esperava o elevador. Estava curiosa de verdade sobre Itachi. Quer dizer, que coisa mais louca, não? Essa pode ser uma amizade nova bem interessante, já que falamos bastante ontem. Ok, não custa tentar.

Desbloqueei o celular e obviamente ele tinha whatsapp, mas não havia foto alguma. Será que foi o número certo que eu anotei? Se for o errado, sou muito burra. Senhor.

Olá, estranho de ontem. Ah, Sakura. Ótima tentativa de socialização, meus parabéns. Decidi não criar expectativa alguma de resposta, afinal, eu nem sabia se era o número certo mesmo.

A manhã se passou lenta. Dei graças a Deus por ter sido esperta e ter escolhido meus jeans folgados e uma blusa confortável, tivemos aula teórica a manhã inteira no auditório lotado. Consegui anotar a maioria das coisas importantes pro teste da semana que vem. Foi só na hora do almoço que recebi uma resposta.

Uchiha Itachi enviou uma mensagem.

Achei que você não fosse falar comigo haha. Sorri quando li. Eu também pensei que não fosse falar. Mas preciso de coisas novas na minha vidinha.

Depois de termos conversado até sobre tipo sanguíneo sem você ter saído correndo, é claro q eu iria atrás de vc. Não é sempre que se acha um bom amg de estudante de medicina.

Verdade. Minha mãe é pediatra, acabei tendo que ouvir muita coisa sobre medicina na vida.

Isso você esqueceu de mencionar ontem haha. Como vai a vida hoje? Menos pensativo?

Mais ou menos. Tenho umas duas horas de seminário pra assistir... Peguei uma matéria de humanas --'

Se eu fosse de humanas ficaria ofendida, mas é a verdade haha.

— Sakura-chan! — Naruto brotou me tirando do celular. — Que bom que te encontrei! Podemos almoçar juntos.

— Yo. Claro que podemos. Cadê a Hina-chan? — Alguns metros atrás dele eu vi Hinata vir na nossa direção com a testa enrugada. Na verdade, ela estava em uma árdua tarefa de equilíbrio ao tentar manter equilibrada a lata de refrigerante, o copo de plástico e também tinha o fator vento que queria levar os guardanapos embora.

Levantei rapidamente e peguei o copo e a latinha, facilitando a vida da minha amiga.

— Obrigada, Sakura. O Naruto não ouviu quando eu pedi ajuda. — Ela fez um bico quando sentou. Naruto coçou a cabeça e começou a pedir desculpas.

— Seja mais atencioso, Naruto baka. — Eu ri. Era uma ideia meio impossível já que levou muito tempo, tipo MUITO tempo pra ele perceber os sentimentos da Hyuuga. Mas tudo é possível.

— Como vai você? — Naruto me perguntou depois que desistiu de pedir mais desculpas.

— Quatro horas de sono por noite, ótima. E vocês? — Comecei a tomar meu suquinho de uva.

— Ótimo. Hoje tive uma matéria incrível de educação, tô muito animado pra começar logo o estágio. — Naruto começou a devorar o tradicional lámen. O loiro cursava pedagogia, praticamente entramos juntos, mas meu curso demora muito mais tempo pra acabar. Logo meu amigo estaria trabalhando em uma escola, se tudo cooperasse.

— Bem também. Aquela professora de Química experimental é meio estranha, como você disse mesmo. Mas vou conseguir passar. — Hinata estava otimista como sempre. Biomedicina. Acho que eu não conhecia pessoa mais centrada e "cabulosa" do que a Hina. Talvez o primo, Neji, competisse lado a lado com a genialidade da menina. Mas nunca me preocupei em definir quem é o mais cabeça dos dois.

— Acho que fiz um novo amigo, inclusive. — Hina ergueu as sobrancelhas curiosa e Naruto me olhou estranho. — Ah, qual foi. Eu não sou tão antissocial assim...

— Você não faz amigos, Sakura. Você só fala com a gente porque te conhecemos desde o jardim. — Naruto falou tão sério que eu fiquei chocada. Hinata acenou com a cabeça concordando com o namorado. E cara, se ela fez isso é porque a coisa é realmente séria.

— Credo. É claro que tenho amigos... Tem... — Foi aí que comecei a pensar nisso. Naruto resmungou que "família não vale" e nem pessoas que eu só dou bom dia. Céus, não tenho amigos. — Ok, obrigada pela bad logo cedo.

— Não é que seja algo estranho, é até bom ser seletiva com as pessoas. — Hinata argumentou tentando me animar. — E quem é o amigo?

— Uchiha Itachi. Ele faz engenharia mecânica. Foi engraçado como nos conhecemos...

Contei a história do dia anterior e Naruto morreu de rir. Hinata soltou umas risadinhas. Talvez eu seja uma pessoa estranha mesmo. Droga. Mas pelo menos isso me rende boas histórias.

Uchiha Itachi enviou uma mensagem.

O celular vibrou. Eu tinha esquecido sem querer do meu serial killer.

Hoje parece que vai ser um dia daqueles também. Estou na empresa do meu pai, tem tanto trabalho que parece que vou ter que voltar pra cá depois da minha aula.

Bom, podia ser pior. Pensa sempre por esse lado, aí as coisas parecem mais fáceis :) mamãe sempre me diz que é só viver um dia de cada vez.

Você ainda mora com a sua mãe, né? Eu lembro de você ter comentado. Meus pais já me enxotaram de casa tem algum tempo. Mentira, eu prefiro morar sozinho mesmo. Sakura riu. Nem parecia que o Uchiha tinha senso de humor.

— Pra aula, moça. Vamos, vamos. — Hinata balançou a mão na minha frente, sorrindo pra mim. — Você tá falando com ele, que gracinha. Você consegue fazer amigos, Sakura! Go, Go, Go.

Revirei os olhos e peguei minha bolsa. Eu tinha criado um monstro. Ninguém diria que Hinata era uma calourinha tímida há alguns anos.

— Obrigada pelo apoio moral.

Cheguei em casa morta por volta das 19h. Quando tranquei a porta, encontrei minha mãe dormindo no sofá ainda com roupas do hospital.

— Mãe, banho e cama. — Eu a chamei com carinho. Ela abriu os olhos sonolentos e assentiu levantando.

— Como foi a aula hoje? — Fui andando com ela até o banheiro. Eu sempre a acompanhava pro caso de acontecer alguma coisa, quando ela chegava exausta em casa desse jeito não tinha tanto senso de direção e profundidade.

— Foi boa. Fiquei preocupada quando não te vi de manhã. — Suspirei. Mamãe só tomou uma ducha rápida e saiu do chuveiro se arrastando.

— Tive que cobrir uma colega que ficou doente, não houve muito o que fazer sobre isso. Desculpe por preocupá-la, Sakura. — Os esmeraldinos a encaravam com tanto carinho que a mais nova não conseguia encontrar motivo pra ficar brava. Apenas deu de ombros.

— Aproveite sua folga, por favor. Cuide da saúde. — Murmurei quando a pus na cama e a cobri. Ela pareceu apagar assim que deitou, então logo fui tomar o meu banho e ir pro quarto.

Enquanto eu secava meus cabelos, pensei em como as coisas tinham mudado nos últimos cinco anos. Quando eu estava quase terminando o ensino médio, meus pais se separaram. Não foi algo fácil de lidar. Meu pai agiu de forma muito leviana com a nossa família e minha mãe teve que segurar as pontas já que ele simplesmente foi embora. Confesso que ainda tento entender o que aconteceu de fato, mas de forma alguma eu o culpo. Eu não estava na pele dele pra saber o que se passou pela cabeça dele quando as coisas ficaram ruins entre os dois.

Desde então a minha mãe tem trabalhado mais e mais. Eu a ajudo da melhor forma que posso por conta da faculdade também. Mantenho a casa sempre limpa e sempre tento deixar alguma comida pronta na geladeira pra quando ela chegar dos turnos do hospital, ela é enfermeira. Nos fins de semana eu trabalho em uma cafeteria no centro, consigo até uma boa quantidade de dinheiro já que o dono é o pai do Naruto. Desde sempre o tio Minato e a tia Kushina têm estado nas nossas vidas, parece que quando mais novos foi a minha mãe quem deu um empurrãozinho pra eles ficarem juntos.

Me joguei na cama. Queria algumas horas com a cabeça vazia, mas parece que mesmo enquanto durmo o estresse me persegue — eu sempre acordo achando que estou atrasada pra aula ou que não estudei pra algum teste importante. Preciso de férias. Talvez o Itachi saiba como lidar com isso.

Como você lida com estresse? Minha pergunta pareceu tremendamente boba depois que eu enviei, mas não custava tentar. Ele ficou on-line.

Hum... Boa pergunta. Na verdade, quando chega sábado à noite eu sempre desligo do celular e durmo como se não houvesse amanhã. Assim consigo acordar menos zumbi no domingo... Quer dizer, em alguma hora do domingo. Nada me impede de acordar só 24h depois :b

Você é insano, simples assim. Mas acho que vou aderir à sua ideia.

Por que a pergunta? Está com problemas? :/

Só cansaço acumulando. Preocupação também. Fico querendo que o tempo passe logo e que a residência chegue logo. Pensei se podia continuar a falar. De alguma forma, eu sentia que Itachi era uma pessoa confiável.

Um dia de cada vez, lembra? ;)

Sorri. Verdade, um dia de cada vez.

Obrigada. Me sinto melhor. Sinto que posso ler meu livro todinho de uma vez o/

Também não é assim haha. Descansa, menina. Tenho prova nessa semana e na outra, provavelmente vou ficar com menos tempo, então não morra de saudades.

Consigo sobreviver. Bye, estranho.

​Ok, ele é uma boa "companhia" — se é que pode ser considerado companhia eu conversar com alguém pelo celular. Talvez tenha sido uma boa ideia ter uma crise depois daquela prova doida. Decidi que naquele dia eu poderia me dar uma folga e dormir um pouco mais, pelo menos algumas horas... Ah não, o seminário de patologia!