Quando o amor bater à porta escrita por Lyare


Capítulo 12
Epitáfio


Notas iniciais do capítulo

Antes que alguém infarte, leia até o fim, ok? Tem um comentário meu lá no final. Obrigada por terem acompanhado.



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Epitáfio

 

Nunca pensou que as horas pudessem se arrastar tanto como naquela sala de espera do hospital. Já passava das dez da noite e Itachi, Naruto e Hinata não saíam dali por nada. Tanto os Uchihas como os Uzumakis chegaram algum tempo antes, Kushina quase desmaiou com as notícias de Sakura.

A Haruno estava em cirurgia. O pedaço de vidro tinha feito muito estrago e ela precisou de sangue — Hinata prontamente doou por ser O negativo e Naruto tinha a mesma tipagem que Sakura. Itachi via-se de mãos atadas. Como odiava não ter o controle das coisas. Ele só queria ter Sakura de volta em seus braços, era pedir demais?

— Quer comer alguma coisa? — Sasuke sentou ao lado do irmão oferecendo uma barrinha de cereal. Itachi negou com a cabeça e continuou a olhar pro relógio.

Reiko apareceu. Ela parecia cansada.

— Descobrimos um sangramento no cérebro, passei as últimas quatro horas tentando conter, mas não parece ter sido suficiente. Tivemos que levá-la pra UTI pra receber mais sangue ou ela não ia aguentar. Quando ela estiver estável de novo, volta pra cirurgia. Não sei se ela vai conseguir resistir. — O silêncio parecia pesar mais do que as palavras. Itachi segurou a cabeça com as mãos.

A Uchiha não lembrava de ter visto Itachi chorar uma única vez em toda sua infância, nem mesmo quando Obito fazia suas brincadeiras sem graça.

Nem quando ela mesma teve que dar pontos no joelho do menino sem anestesia. Itachi não chorava. Itachi não se deixava abalar pelas coisas. O antigo Itachi não teria derramado lágrimas naquela sala de espera.

Tamanha surpresa foi quando Sasuke sentiu a cadeira balançar. Os ombros do irmão balançavam em um choro mudo. Não sabia se o tocava, se o abraçava ou se deixava o irmão sozinho. Fugaku foi quem se aproximou e apertou o ombro de Itachi.

— Sua noiva precisa de você, Itachi. Vá ficar ao lado dela. — Fugaku tinha a voz meio embargada. Gostava da nora, gostava do jeito que ela via as coisas. A queria na família, ao lado do filho mais velho. Arrependia-se de não ter falado isso diretamente pra ela.

Diante da incerteza, faz-se a sinceridade.

Reiko conseguiu deixar Itachi ficar junto a Sakura na UTI. O moreno teve que usar roupas especiais e agora estava sentado ao lado do leito.

O monitor apitava a freqüência cardíaca, havia uma bolsa de sangue quase no fim ligada ao braço da rosada. A cabeça estava enfaixada e uma máscara de oxigênio a possibilitava respirar. Também havia grandes bandagens no abdômen.

Como as coisas chegaram a aquele ponto? Tinha sido um percurso de menos de quinze minutos, uma tarde com os amigos. Um táxi entre tantos carros, uma escolha mal pensada e agora estavam ali.

— Sakura... Você precisa ficar bem, tá bom? — As lágrimas escorriam sem o Uchiha se importar. — Eu não me vejo vivendo sem você, sem acordar e te ter tão perto de mim.

— Você vai se recuperar disso, eu sei que vai. Não me deixe sozinho. Não é justo você me deixar sozinho depois de me ensinar tudo que você ensinou, ok? Tenho tanta coisa pra te contar ainda. — Ele afagava a mão dela, mas só sentia o plástico da luva.— Eu não te contei ainda quantos filhos eu quero ter com você, nem contei sobre o gato que eu estava quase adotando pra te fazer surpresa. Sobrevive meu amor, por favor. Sobreviva.

Ele dormiu sentado ao lado da cama dela. Deitou a cabeça no pedacinho da cama e ficou ali pedindo pra que ela sobrevivesse.

 

Sakura sentia-se leve. Como se estivesse flutuando sobre o nada. Não conseguia lembrar do que tinha acontecido, nem onde estava. Não conseguiu abrir os olhos quando tentou, parecia não ter forças pra isso.

Começou a vagar entre memórias. Sabia que eram memórias, porque via a Sakura de cinco anos sendo consolada pela mãe depois de cair no parquinho. Viu quando ela, Naruto, Hinata e Ino fizeram um trabalho em grupo na escola, viu quando passou pra medicina e Naruto a sujou dos pés a cabeça com ovos e trigo estragado.

Ah, quando conheceu Itachi naquele banco. Os momentos que passou com ele, as vezes que dormiu ao lado dele, a viagem, o paintball, quando se vestiram de mico e unicórnio pra entreter crianças. Quando eles se beijaram pela primeira vez, o pedido de casamento.

Ele a consolando em seus piores momentos. As mensagens no meio do dia. Ah, Itachi. Onde estava Itachi? Sentia seu corpo deixá-la. Ou era ela que deixava seu corpo? Como amava aquele homem! Como desejava estar sempre com ele. Ele sabia que ela o amava, não sabia? Tinha aprendido sobre o amor com ele também.

Queria encontrá-lo de novo, mas sentia que isso não seria possível. Sentia que era puxada, puxada para uma eternidade.

 

— NÃO! — Itachi gritou quando o apito agudo encheu seus ouvidos. Várias enfermeiras apareceram, inclusive Reiko.

— Itachi, pra fora. — A médica começou a fazer massagem cardíaca no corpo inerte na cama. Sakura foi rodeada por médicos e enfermeiras, o Uchiha ficou em um canto assistindo.

Não conseguia sentir seu próprio corpo. O tempo pareceu se arrastar naquela agonia. O corpo de Sakura balançava quando os choques eram dados no coração, mas o som continuava. Era o fim.

Quando Reiko desligou os aparelhos e declarou a hora da morte, Itachi estava de joelhos no chão. O que era aquela dor absurda no peito? Aquilo tudo era um sonho? Era uma brincadeira de mau gosto do destino?

Sobrou no ambiente Reiko e Itachi. A tia se aproximou do menino, também estava com o coração partido. Sakura era uma ótima menina.

— Você pode se despedir dela, querido. Eu volto daqui a pouco, preciso dar a notícia pros outros. — E ela saiu segurando as próprias lágrimas.

O Uchiha levantou cambaleante e não sabe ao certo como chegou ao leito. Sakura tinha os olhos fechados, sem qualquer tubo ligado ao braço. Ela estava serena, como se estivesse tendo o sono dos deuses. A pele começava a ficar mais pálida.

Ela não acordaria mais. Ela não afagaria mais o cabelo dele enquanto estivessem vendo filme, nem falaria com a televisão dando algum conselho pro personagem do filme, nem choraria ou riria com um filme de cachorro.

Ela não o abraçaria outra vez, nem a ouviria cantar no banheiro. Aquilo era real? Por que o destino brincava assim com eles? Era doloroso, quase como se fosse algo físico.

Ele afagou as bochechas com carinho. A pele estava mais gelada do que antes. Ele tinha tirado as luvas de outrora. Ele não veria mais os esmeraldinos o olharem com ternura. Itachi se espremeu na cama e passou o braço pelo corpo de Sakura. Queria tê-la ali pelo menos uma última vez.


—-

 

Era o fim. Quando pensei que finalmente a teria por inteiro, quando pensei que a teria ao meu lado até ficarmos velhinhos, quando achei que viveríamos incontáveis manhãs, quando achei que...

Ela escapou por entre meus dedos e isso não estava no meu controle, nunca esteve. Diante da morte não temos controle algum, apenas nos enganamos de que nunca vai chegar.

Sakura me deixou. Deixou um espaço frio na cama... Ainda consigo sentir o cheiro dela nos lençóis quando eu acordo sonolento e esqueço do que aconteceu. Por que ela não está mais lá? Por que aquele caminhão teve que avançar o sinal... Por que eu não...?

Ah, Sakura. Sakura. Minha flor... Minha cerejeira. Minha. Eu faria qualquer coisa pra te ter de volta nos meus braços... Quero o teu sorriso sapeca, quero te ver me dando língua ou me chutando por debaixo da mesa. Quero sentir o teu carinho de novo, quero sentir tuas mãos pequenas dentro das minhas.

Ah, Sakura. Quero te envolver com os meus braços de novo e dizer que vai ficar tudo bem, quero ouvir tua voz outra vez. Quero deitar no teu colo de novo e contar quantas estrelas existem no céu, Sakura...

Você se tornou uma daquelas estrelas, meu amor. Você me ensinou tanto! Você me ensinou a amar, cerejeira. A amar sem esperar algo em troca, a abrir mão da minha vontade pelo bem de alguém.

Você me ensinou a sonhar alto e correr atrás disso, meu bem. Você me tornou alguém melhor. Agora só me resta aguardar pelo dia em que poderei correr ao teu encontro e te abraçar outra vez. Eu te amo. Sempre vou amar.

 

Itachi deixou um buquê de rosas iguais a que ele deu para sua amada quando a pediu em casamento. O Uchiha chorava e não tinha vergonha disso. Estava sozinho, de qualquer forma. Tinha se formado como planejava e agora se dedicaria à empresa. Queria que ela estivesse ali pra ver isso.

Toda vez que visitava o túmulo da Haruno, o Uchiha permitia-se sentir qualquer coisa, dar vazão a qualquer sentimento e pensamento. Ela o tinha ensinado assim. Dessa forma ele sentia que era pra sempre dela, que ela sempre estava ali em seu coração. Na pedra branca, dizia:


Quando o amor bater à porta, não o ignore.
Antes, esteja pronto para dizer olá.
Quando ele bater à porta, viva um dia de cada vez,
pois basta cada dia seu próprio mal.
Também não tenha pressa diante dos acontecimentos da vida.
Quando o amor bater à porta, guarde boas memórias,
pois não sabemos o dia de amanhã.
Quando ele surgir, valorize as pequenas coisas.
Também invista tempo, a vida é curta.
Cuide e proteja com todas suas forças.
Chore com ele nos momentos de dor,
ou então, só esteja presente.
Quando ele vier, espere pelo melhor.
E, finalmente, se o amor bater à porta...
Deixe-o fazer morada. Para sempre.


Haruno Sakura,
amada amiga,
brilhante aluna,
preciosa irmã e
doce noiva.


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Notas finais do capítulo

Sempre aprendemos com o amor, Itachi foi prova disso. Mesmo quando Sakura foi tirada dele, ele continuou a amar. A vida não é justa muitas vezes, mas tudo trata-se de um aprendizado.
Se tivermos amor, ficaremos bem. Ainda que o pior aconteça.



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