Living in the North escrita por Saulo Poliseli


Capítulo 12
Capítulo 12 - Devon Joseph


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez o capítulo com ponto de vista é do último personagem que recebi ficha enquanto escrevia Living in Hell.

Boa leitura!



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Era o último dia de outubro, e consequentemente Dia das Bruxas. As folhas das árvores, em sua maioria sobre o chão, estavam amarelas ou em um tom alaranjado. Apesar de ser outono, a temperatura não estava baixa e se preparando para desabar para o inverno.

Devon estava sentado defronte à um computador em um escritório consideravelmente grande e espaçoso. Pessoas de ambos os sexos estavam no local com o rapaz em suas respectivas mesas. A maioria deles estavam digitando coisas no teclado do computador, enquanto outros escreviam algo à mão usando caneta e papel, e Devon estava com sua mão esquerda sobre o queixo quando ele olhava distraído para a tela do computador. Estava em um escritório de jornalistas da cidade de North Hopeville.

Ele trajava uma camisa social branca, calça social preta e sapato social da mesma cor, além de uma gravata vermelha. Seus olhos estavam cansados e as pálpebras pesadas, estava quase fechando os olhos quando seu chefe disse para todos que o expediente havia acabado.

Devon saltou da cadeira, pegou sua mala empresarial que sempre deixava ao chão do lado da sua cadeira, e foi até o refeitório para encher metade de um copo descartável de café. A bebida quente e doce fez com que ele despertasse um pouco e espantasse um pouco do sono e cansaço que sentia. Ele se despediu de alguns amigos de serviço e entrou em um elevador para descer até o térreo e se retirar do local de trabalho.

Optou por voltar pra casa caminhando, como sempre fazia, pois morava perto do pequeno prédio em que trabalhava. Mas se arrependeu de ter escolhido essa opção em vez de ter voltado pra casa com um cocheiro. Sentia o seu corpo fraco e extremamente cansado, suas pálpebras parecia pesar dez quilos a mais a cada minuto que passava, e manter seus olhos abertos parecia ser uma luta pior do que sobreviver do lado de fora dos muros da cidade.

Não lembrava de ter chegado em sua casa e muito menos de estar se despindo para deitar em sua cama e adormecer em questão de milésimos. Devon estava sem dormir há quase vinte horas, e naquela semana em específico não dormia mais do que quatro horas por dia. E o motivo disso era que a empresa de jornalismo em que trabalhava estava à todo vapor publicando diversas matérias sobre o caso de Elize ter encontrado os corpos de Ariel e Thomas. Toda a cidade estava sabendo disso, mas sempre querendo mais detalhes sobre o caso, então a cada três dias tinha alguma matéria nova no jornal. Devon estava editando a entrevista que Lizzie deu para um de seus amigos jornalista e repórter, que iria ser publicado impresso e também iria para o rádio, e isso consumia muito tempo do rapaz. Mas finalmente tinha terminado de editar a entrevista e poderia descansar.

Acordou várias horas depois, quando o sol já tinha ido embora e a lua cheia se apresentava no céu nublado e sem estrelas. O quarto de Devon estava sendo iluminado pela luz lunar quando o mesmo levantava da cama e ia para o banheiro tomar um banho. Depois do banho, Devon fez a sua barba, que com toda essa correria e pouco descanso, ele mal teve tempo para fazer sua barba. Devon se olhava no espelho conforme passava suas mãos sobre o seu rosto para conferir se tinha alguns pelos faciais que não foram cortados.

Ainda defronte ao espelho pôde ver sua aparência. Agora o seu rosto negro estava sem nenhum pelo facial nele, olhou o reflexo de seus olhos heterocromáticos, boca carnuda, corpo que era nem magro e nem gordo, e viu a tatuagem de um tigre em seu braço esquerdo. O motivo e significado dessa tatuagem era que Devon achou, ainda antes do apocalipse começar, um cachorro da raça rottweiler na rua, o adotou e passou a cuidar dele, e o nome do cachorro era Tiger. Quando Devon o achou, o cachorro era tão magro e mal tratado que dava para ver os ossos das costelas do animal. Tiger veio a falecer no dia anterior do apocalipse começar, e em seus últimos momentos de vida, o rottweiler deu uma suave lambida no rosto do seu dono, e Devon se lembra disso até hoje.

Devon se vestiu com uma camisa preta, calça jeans azul e tênis da mesma cor da camisa. Também usava um pingente que ganhara da sua mãe, Raquel, com a foto de seu irmão, Paul, o mecânico, no pescoço. Até hoje Devon não sabia que Paul fizera parte do grupo de Mark, Harry, Ariel, etc, pois nunca havia citado o nome dele ou mostrado a foto do pingente. Devon imaginava que ele tinha morrido junto com sua família, e não em uma casa qualquer de uma cidade qualquer, em uma missão de coleta de suprimentos, ainda quando o grupo estava na madeireira.

O jornalista foi até seu quarto, sentou-se na beirada da cama e pegou um papel que estava no criado-mudo e releu as palavras que tinham nele:

"Ei, Devon! Você vem pra minha casa no Dia das Bruxas, né? Espero que sim. Chamei umas pessoas do escritório e acho que seria uma ótima oportunidade para nos conhecermos melhor, pois não dá para conversar direito no trabalho, não é mesmo? Ah, não precisa trazer nada, tá bom? Eu já preparei tudo pra festa. Então, por favor, venha.

Laura"

Devon amassou o papel com a mão e o colocou de volta sobre o criado-mudo. Deu uma olhada no seu quarto, ainda iluminado pela luz lunar, e viu vários posters do anime Dragon Ball e Dragon Ball Z, de que sempre foi um grande fã desde sua infância. Respirou fundo e se levantou, decidido em ir para festa na casa da amiga de profissão, Laura. Pegou sua carteira e chaves na estante da sala de estar, e ouviu o barulho da campainha tocando enquanto caminhava até a porta para abri-la.

— Doces ou travessuras! – disseram três crianças juntas. Devon olhou para elas e sorriu.

— Esperem um momento – pediu. Devon foi até a cozinha e pegou balas, pirulitos e barras de chocolate. – Aqui está, crianças – disse ele enquanto distribuía os doces igualmente para as três crianças. – Belas fantasias – concluiu.

Uma das crianças estava fantasiada de vampiro, outra de minotauro, e a última, ironicamente, estava fantasiada de zumbi. Algumas crianças não sabiam que de fato existia essa criatura do outro lado dos muros da cidade, enquanto algumas sabiam pois os pais falavam para elas. E quando o caso de Lizzie veio a público, a maioria das crianças ficaram sabendo do homem maluco que criava duas mortas-vivas em casa como se fosse animal de estimação.

Depois de dar os doces para as crianças, Devon deixou a sua casa e caminhou pelas ruas repletas de crianças e adolescentes fantasiados até a casa de Laura. Chegando lá, viu que a casa estava aberta e cheia de gente do lado de dentro e também de fora, e Laura fazia parte das pessoas que estavam do lado de fora. Ela viu seu amigo se aproximando e acenou com o braço levantado.

— Devon! Aqui! – chamou ela. O jornalista avistou ela no meio da multidão e foi até ela. – E aí, tudo bem? Obrigada por vir!

— Estou bem, Laura. Eu que agradeço o convite – disse ele, de forma gentil com um sorriso no rosto.

— Veio um monte de gente do escritório, Devon! – informou ela, eufórica. – Até o chefe veio! Acredita nisso? Eu não acreditei quando vi ele – disse, rindo baixo. – Entra, entra! Tem bebida de todos os tipos, doces, salgados, e tudo mais o que você pensar – Laura puxou Devon pelo braço para dentro da casa dela.

Devon foi direto nos doces de abóbora, colocando vários deles na boca e os engolindo. Depois, se serviu de uma taça de vinho tinto e foi bebericando aos poucos. Estava tocando música tema de Dia das Bruxas, com risos maléficos, gritos de medo, som de trovões e de criaturas mitológicas, etc. Devon pegou mais doces, dessa vez de chocolate, e foi para o lado de fora da casa, onde tinha gente jogando cartas, contando piadas, fazendo a brincadeira da garrafa, que as pessoas apontadas pelo gargalo e base do objeto tinham que se beijar.

A multidão começou a gritar quando começou a tocar a música Thriller, do Michael Jackson. Grande parte das pessoas que estavam ali começaram a dançar a coreografia da música, e Devon fez parte dessas pessoas. O rapaz sorria de orelha à orelha enquanto dançava e cantava junto com as pessoas. O som da casa de Laura era potente o suficiente para as pessoas do quarteirão inteiro ouvirem.

Depois de seis horas, que Devon nem viu passar, a festa tinha chegado ao seu fim e todo mundo tinha ido embora para sua casa. O jornalista preferiu ficar mais um pouco na casa de Laura para ajudá-la a limpar um pouco da imensa bagunça que tinha feito ali. Mais algumas pessoas também ficaram para ajudar, só que eles não limparam tudo porque realmente era muita bagunça e seria impossível limpar tudo antes de amanhecer. Então Laura decidiu que iria terminar sozinha na manhã e tarde seguinte, e dispensou seus amigos que ficaram ali para ajudá-la.

Devon se despediu da amiga e tomou caminho para sua casa. Enquanto ele caminhava, viu que ainda tinha algumas crianças e adolescente brincando nas ruas. Devon sorriu ao ver que as pessoas ainda brincavam, pois não era todo dia que elas podiam aproveitar e se divertir tanto assim como nos feriados.

Ele viu duas pessoas correndo em sua direção e pensou que fosse mais crianças brincando, mas não era isso. Era dois adultos armados e nitidamente embriagados, e os dois apontaram suas respectivas armas em direção de Devon, que levantou os braços rapidamente. O jornalista olhou para os lados, na esperança de ver algum policial fazendo patrulha por ali.

— Não faça isso! – disse uma das crianças que estavam brincando na rua. – Ele não fez nada para vocês! Porque estão apontando essas armas para ele?

— É mesmo! – disse outra criança. – Não é justo!

E logo mais algumas crianças se juntaram as outras duas, todas elas indignadas com a situação. Os dois adultos deixaram de apontar para Devon e passaram a apontar para as crianças. Devon sentiu um aperto no coração e perdeu o ar quando viu essa cena. Os dois adultos atiraram diversas vezes nas crianças, e isso fez com que Devon sentisse seu coração ser esmagado por uma mão fantasma e seu pulmão ser congelado.

Ele ainda estava com os braços levantados e ficou sem reação. Os dois adultos saíram correndo e cambaleando por estarem embriagados, mas um deles se esbarrou em Devon e deixou sua arma cair no chão, aos pés do jornalista, que nem percebeu isso acontecer. Em questão de poucos segundos chegaram policiais no local.

— Ei, você! – gritou um deles. – Mãos ao alto! – quando viu que Devon ainda estava com os braços levantados, o policial arqueou a sobrancelha mostrando confuso à situação.

Devon estava em estado de choque e não conseguia falar nada, e por isso foi levado à delegacia e passou a noite preso. No dia seguinte, quando tinha condições de falar e explicar o que tinha acontecido naquela noite, os policiais não acreditaram nele, obviamente, pois ele tinha sido encontrado na cena do crime com a arma em seus pés. Devon tentou explicar diversas vezes que foram dois homens bêbados que mataram as crianças e que um deles deixou a arma cair sobre seus pés. Suas explicações não tiveram sucesso e então ele pediu ajuda ao seu advogado, mas o mesmo não pôde defendê-lo pois não estava presente na cena do crime e seus argumentos não foram suficientes.

Devon ficou preso por um mês enquanto os policiais investigavam o caso, até que o caso foi encerrado como Devon sendo o culpado. Na manhã seguinte do encerramento do caso, o prefeito da cidade sentenciou Devon à morte, por enforcamento em uma área isolada.


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Notas finais do capítulo

Mais uma morte no spin-off, só que essa morte foi completamente injusta, afinal, Devon era inocente. O que acharam dessa morte? Meio (ou completamente) bosta? Dramática? Além de injusta, é claro.

Confesso que foi tenso pra escrever a cena das crianças sendo assassinas pelos dois caras bêbados... E agora relendo a cena não foi diferente.



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