Rune abr Fricai - Os Versos do Amigo escrita por Dan Achard


Capítulo 5
Alva Nau - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Bem, aí está! Boa leitura e espero que gostem *0*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/726344/chapter/5

Apesar de estreito, o navio Talita era incrivelmente longo. Seu convés era grande o suficiente para conter um grupo de cem homens, o que era muito em comparação às embarcações em que Ismira já havia viajado. Sua proa era enfeitada por uma cabeça de dragão entalhada em prata ou algum outro metal tão brilhante quanto, e suas bordas eram cuidadosamente ornadas por formas que pareciam folhas e flores brancas. Era exótico e belo – obviamente, uma obra élfica.

A moça corria seus olhos ágeis pela embarcação à medida que caminhava em direção à cabine espaçosa que ficava no centro. Blödhgarm e seus elfos guiavam os Cavaleiros e a garota ao único lugar coberto da parte superior do navio, com o intuito de terem mais privacidade do que teriam fora dele. Se Ismira havia entendido bem, os ovos estavam ocultados por meio de magia e precisavam ser transferidos para uma espécie de bolso no espaço-tempo logo acima de Fírnen – o que pareceria loucura caso não existisse magia.

A rainha Arya mostrara-se mais reservada do que de costume, encarando o horizonte durante toda a caminhada. Parecia perdida em algum pensamento, porém Ismira não poderia dizer se triste ou feliz – a elfa era incrivelmente habilidosa em esconder suas emoções. Entretanto, caso precisasse dar um palpite, a garota apostaria que a Cavaleira estava recordando-se de Eragon. O pai da ruiva dissera certa vez que, na despedida do primo, Arya estivera presente e era muito próxima do Cavaleiro. Ismira percebia que estava em uma situação semelhante à da rainha: também daria adeus a um amigo no navio Talita e partiria na direção oposta à de seu destino. Sentiu algo imprensando seu peito ao se lembrar de que, se tivesse a sorte de estar viva, demorariam anos para que revisse o amigo.

Ao se aproximarem da porta da cabine, os quatro elfos de mantos brancos postaram-se em frente à porta, atentos a tudo que os cercava. Blödhgarm explicara que eles vigiariam o convés para combater qualquer ameaça que se aproximasse.

Passando pela estreita abertura, Ismira e os demais seguiram o elfo de pelos lustrosos até um aposento extenso e pouco mobiliado. Uma pequena lâmpada sem chamas iluminava o local, que possuía apenas uma mesa retangular que se estendia por quase toda a cabin; uma vintena de cadeiras postadas nos lados da mesa; uma espécie de armário, onde provavelmente estocavam os mantimentos para a viagem; e quatro catres aos fundos. A filha de Martelo Forte examinou cada metro do lugar, porém não viu sinal dos ovos. De fato, pensou ela, eles sabem esconder as coisas.

— Bem... Presumo que esse seja o momento de revelá-los. – declarou Blödhgarm. – Mestre Eragon Matador de Rei consultou-me sobre qual seria a melhor escolha de ovos para enviar. Creio que tanto Vossa Majestade quanto Fírnen concordariam que os que estiveram há mais tempo, desde antes da Queda da Antiga Ordem, sob os cuidados dos Cavaleiros seriam os ovos ideais.

— Certamente. – concordou Arya.

— Os eldunarí ajudaram-nos nessa parte, indicando quais eram os mais antigos: três ovos de um dragão selvagem e outro de Miremel, a Marrom. – prosseguiu o elfo. – Creio que Vossa Majestade recorde-se dela.

— Claro. – respondeu a rainha. - Não era nascida quando Miremel viveu, mas acredito que nenhum elfo em toda a Alagaësia desconheça a história do dragão que incendiou parte de Du Weldenvarden acidentalmente e agitou a Menoa por quase um mês. A rainha Islanzadí costumava citar o ocorrido como uma das maiores catástrofes vividas na floresta.

Ismira sentiu-se instintivamente curiosa a respeito da história. Além dos relatos sobre Saphira e Thorn – o dragão de outro primo de seu pai, Murtagh – que Martelo Forte contara para ela, os únicos feitos de um dragão que a moça conhecia eram os de Fírnen ou algumas poucas histórias que lera em Ellesméra. Apesar disso, decidiu aguardar a viagem de volta para perguntar a respeito – sabia que aquele não seria um momento oportuno e precisava de algum assunto que não fosse a tristeza de se despedir de um amigo para conversar com a rainha dos elfos.

Blödhgarm assentiu e começou a pronunciar várias palavras da Língua Antiga rapidamente. Ismira não conseguiu identificar a maioria delas, mas conseguiu identificar ládrin du hurdh— abra a porta – entre os sons proclamados. Após alguns minutos, um vento correu pelo ambiente e a ruiva sentiu seus cabelos eriçarem-se. Como se nunca tivessem saído dali, quatro figuras ovais surgiram acima da mesa, envoltas em um tecido macio e vermelho.

Os quatro ovos eram pouco diferentes em tamanho – cada um media cerca de quarenta ou cinquenta centímetros de uma extremidade à outra. Entretanto, suas cores eram tão diversificadas e contrastantes que pareciam ter saído de um dos vários mosaicos que permeavam algumas câmaras de Tronjheim. O mais próximo da porta era amarelo como gema de ovo. Sua superfície era coberta de veios brancos que lembravam teia de aranha, o que lhe dava um aspecto excêntrico e natural ao mesmo tempo. Um pouco afastado do primeiro, o próximo era púrpura como ametista. Sua superfície totalmente lisa refletia a luz do sol poente que entrava pela abertura da cabine, fazendo-o facilmente ser confundido com uma gema retirada dos mais preciosos tesouros dos anões. O terceiro era de um verde profundo, quase negro – a única forma de distinguir as cores era observando o brilho esverdeado em sua superfície levemente rugosa. Entretanto, o ovo que mais prendera a atenção de Ismira fora o último deles: um ovo totalmente prateado que resplandecia, em parte pela luz que provinha dos últimos raios de sol, em parte pela iluminação da lâmpada sem chamas. Era coberto por finas camadas que se sobrepunham umas às outras, como pequenas escamas, e parecia vibrar levemente sob o tecido carmesim – ou talvez fosse apenas uma ilusão criada pelo contraste entre as sombras abaixo de suas escamas e a luz refletida por sua superfície.

Com a cabeça levemente inclinada de forma régia e uma expressão admirada, a rainha Arya aproximou-se do primeiro ovo e o tocou, sentindo seus veios brancos entre os dedos e suspirando, trêmula. Os elfos possuíam profunda admiração pelos dragões ou por crianças e filhotes. Ao combinar os dois elementos e apresentá-los a um elfo, era esperado que ele sentisse-se profundamente emocionado. Contudo, Ismira precisava admitir que os ovos eram, verdadeiramente, majestosos à vista – uma maravilha criada pela natureza que, em todos os aspectos, reproduzia a essência da vida e de um novo começo.

Ki’dáin e Naatruk também se aproximaram da mesa, estupefatos com a beleza dos ovos. Ismira acompanhou-os, postando-se à distância de um braço do ovo prateado.

— Posso? – perguntou, estendendo a mão para o ovo.

— Claro. Fique à vontade. – respondeu Arya. – Quem sabe já não ganhamos uma nova Cavaleira bem aqui e agora.

A jovem de cabelos acobreados tocou o elemento reluzente com seus dedos, hesitante. Após constatar que suas camadas não poderiam feri-la, acariciou sua parte superior com as duas mãos, absorta com o sentimento de paz que o ovo transmitia. Sentiu como se todos os seus medos de repente sumissem e nada mais importasse, apenas que aquele belo ovo estava em suas mãos e que podia sentir o dragão ali confinado observando-a e lendo suas intenções. Após alguns minutos, afastou-se do ovo e suspirou fascinada, sentindo uma profunda vontade de chorar – não de tristeza, mas de alegria e êxtase.

— É lindo. – disse ela, vagamente consciente de que todos a observavam.

— De fato. – concordou Blödhgarm solenemente. – Esse é o ovo de Merimel, a Marrom. Creio que o escolhido pelo dragão dele será muito afortunado, dragões prateados sempre foram raros na raça.

— Acho que será, sim. – admitiu Ismira com um gosto amargo na boca.

Estava ciente de que o dragão tentara se comunicar com ela, de alguma forma a tranquilizando pela despedida que estava por vir, mas não entendeu o porquê de ele não ter nascido para ela. Era frustrante ter de se afastar do ovo por não ter sido considerada digna ou qualquer coisa semelhante. Apesar disso, sentia que havia firmado algum tipo de pacto com o bebê dragão ali dentro – parecia que ele gostara dela, de alguma forma.

— Você pode tentar algum dos outros ovos. – sugeriu Ki’dáin. – Veja esse roxo! Se me lembro bem, é sua cor favorita.

— Obrigada pela oferta, mas estou bem. – recusou-se a amiga, sorrindo. – Não acho que quero ou estou preparada pra me tornar Cavaleira. Além disso, quem sabe o que meu pai pensaria sobre eu precisar passar dois anos em Ellesméra e mais se sabe lá quantos no leste? Não se preocupe. Esse destino de aventuras não é pra mim.

O anão observou-a com dúvida. Ele sabia muito bem que a garota adorava desafios e mudanças de hábito, além de ser aventureira, literalmente, desde antes de nascer. Seu pretexto pareceu não o convencer, mas ele deixou o assunto de lado e assentiu.

— Nesse caso, é o momento de transferi-los para o ar acima de Fírnen. – decretou a Cavaleira do dragão verde. Em seguida, pronunciou uma série de palavras de forma harmoniosa, realizando um encantamento que, em poucos minutos, fez os ovos desaparecerem como se estivessem sendo dobrados pelo ar. – Está feito.

Nesse momento, Ismira e Ki’dain entreolharam-se, com seus olhares tristes. Ao perceber que precisavam de um tempo, os demais se retiraram da cabine. Arya prometera esperar a filha de Roran no convés enquanto despedia-se de Blödhgarm, Naatruk e dos outros quatro elfos. Os dois amigos permaneceram em silêncio por alguns instantes, encarando-se e relembrando vários momentos da infância.

— Quer dizer que chegou o momento. – disse, por fim, o anão. Sua voz estava embargada.

— Sim. – concordou Ismira. Sentia que, se falasse qualquer outra coisa, começaria a chorar.

O anão respirou fundo e abriu a boca para falar alguma coisa quando um rugido ecoou pela praia. Alarmado, arregalou os olhos e virou-se para a porta. Ismira seguiu seu olhar e ouviu um segundo rugido, mais alto e grave que o anterior, fazer a cabine estremecer. Ao longe, ouviu a rainha dos elfos gritar alguma coisa que não conseguiu compreender.

— Mustethun! – disse o anão, correndo em direção à porta.

Antes que a amiga pudesse segui-lo, viu pontos de luz dançando diante de seus olhos e tropeçou. Um nó se formou em seu estômago e sentiu como se todo o ar lhe escapasse dos pulmões. Fraquejando, começou a tombar para frente, mas, antes que caísse no chão, sentiu seus cabelos serem puxados violentamente para trás e tudo ficou escuro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, gostaram? *0* Comentem o que acharam dos ovos, da cabine e, mais do que tudo, o que acham que vai acontecer! Vou ser bem sincero com vocês, às vezes me pego pensando o que vocês devem esperar dessa história e como vão reagir no futuro hahahah Acho que sou meio sádico, ou talvez apenas goste de causar suspense e reviravoltas... Mas enfim, critiquem, elogiem, falem qualquer coisa! Gosto de interagir com vocês!
Na próxima sexta: Monte de Prata. Vejo vocês lá!
Atra du evarínya ono varda, fricaya!
Data de postagem: 17/03/2017



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rune abr Fricai - Os Versos do Amigo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.