TWD - Quinta Temporada escrita por Gabs


Capítulo 6
Quatro e Meio


Notas iniciais do capítulo

"Um dos seus por um dos meus"



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Encostada no carro abandonado, com o walkie-talkie na mão e de olho nos dois reféns, fiquei esperando o sinal. Mais à frente no terraço, estavam Daryl e Sasha com as snipers, de olho na movimentação das ruas. Sentados no chão perto de mim estavam os dois reféns, sendo vigiados por Sam e Jason. Tyreese, Kylie e Noah estavam mais próximos, observando o estacionamento.

Mais à frente, Daryl chamou minha atenção, estalando o dedo e apontando sutilmente para a rua. Levantei o walkie-talkie e o deixei em frente à minha boca, apertando o botão de falar em seguida.

— Eles estão indo ao ponto de observação. – Falei, soltando o botão em seguida, para poder escutar a resposta

Ok.— A voz de Rick saiu chiada através do walkie-talkie – Entendido.

Imagine minha satisfação quando Rick conversou novamente comigo pelo walkie-talkie, dizendo que estava tudo arranjado.

Passamos pelas portas frontais do hospital meia hora depois, seguindo aqueles dois policiais que Rick interceptou no estacionamento mais cedo. Empurrando nada delicadamente a mulher que pegamos de refém e nem um pouco interessada em saber ou memorizar seu nome, a escoltei pelos corredores mórbidos do Hospital Memorial Grady, ao lado dos meus amigos e o outro refém.

Ao encontrarmos as portas do terceiro andar, onde os outros policiais e Dawn estaria supostamente nos esperando, Rick se adiantou, olhou através do pequeno vidro por longos segundos, antes de uma voz feminina soar pelos rádios dos policiais perto de nós.

— Armas nos coldres.

Rick olhou para trás, para nós e afirmou com a cabeça.

— Façam o mesmo. – Ele nos pediu, logo em seguida

— Ok.

Ignorando meu coração acelerado e descompassado de ansiedade, guardei minha tão amada pistola e companheira de viagem no coldre em minha coxa, seguindo os movimentos dos outros ao meu redor.

Quando as portas marrons do terceiro andar foram abertas pelos policiais que estavam com a gente e eu coloquei meus olhos no que nos esperava mais à frente no corredor, me perguntei se eles estavam tão nervosos quanto eu mesma estava naquela situação.

Atrás dos quatro policiais, estavam minhas duas amigas.

As pessoas que faltavam para minha família estar completa.

Enquanto apoiava a mão nas costas da policial refém e esperava os dois policiais que Rick interceptou mais cedo se aproximarem deles, mantive meus olhos fixos nas pessoas paradas no meio do corredor branco. Mais precisamente em duas mulheres, a adolescente loira estava com o braço engessado e a mulher de cabelos curtos e grisalhos estava sentada em uma cadeira de rodas.

A mulher que supus ser Dawn, acenou com a cabeça para Beth e a adolescente acenou de volta, colocando as mãos no apoio da cadeira de rodas que Carol estava sentada e caminhou mais para a frente, empurrando a cadeira para que pudéssemos vê-las direito.

Desta vez, me permiti soltar um suspiro pesado, enquanto sentia meu coração bater cada vez mais forte.

— Eles não foram machucados. – Rick anunciou alto, para os policiais, ou melhor, para Dawn

— Cadê o Lamson? – A mulher que estava ao lado de Beth perguntou e vi que minhas suspeitas estavam claras, ela era mesmo a Dawn, a mulher que comandava o Grady

— Foi pego pelas coisas. – A policial que estava a um passo de distância de mim lhe respondeu, convicta e séria

— Nós vimos acontecer. – O policial que estava sendo segurado por Daryl acrescentou, como o combinado

— É uma pena saber disso. – Dawn disse alto, depois de balançar a cabeça positivamente e emitir um gemido de lamentação – Ele era uma das pessoas boas. – E então ela me pareceu respirar fundo – Um dos seus por um dos meus.

— Muito bem. – Rick concordou logo em seguida, afirmando com a cabeça

Meu amigo e ex-líder deu uma olhada para Daryl e indicou a mulher com a cabeça. Isto bastou para que o caçador soltasse o homem e o empurrasse lentamente para ele andar, enquanto murmurava “Andando” e o acompanhava. Os dois pararam uns bons passos à frente, Daryl levantou o braço por alguns segundos, chamando uma das nossas amigas.

O policial ao lado de Beth fez com que ela tirasse as mãos da cadeira de rodas de Carol e a empurrou ele mesmo, caminhando na direção do caçador, empurrando a mulher de cabelos grisalhos com uma mão enquanto carregava uma bolsa com a outra. Assim que ele chegou perto de Daryl, teve a bolsa arrancada bruscamente de sua mão e a cadeira puxada para longe dele. Mas mesmo assim o policial não se abateu e enquanto Daryl empurrava a cadeira de rodas de Carol para nossa direção, ele levou seu amigo para o outro grupo que estava do outro lado do corredor.

Desviei meu olhar por alguns segundos de Dawn e olhei para Carol, lhe cumprimentando com um pequeno e sincero sorriso de alívio quando ela chegou perto de nós.

Uma já foi.

Apenas faltava outra e então poderíamos partir.

Senti a mão de Rick no meu ombro e olhei para trás, ele afirmou com a cabeça antes de se aproximar da policial refém e me tirar aquele fardo. Enquanto Daryl entregava a mochila de Carol para Sam, eu observei Rick caminhar com a mulher que pegamos como refém em direção ao outro grupo, mas parou quando viu que Dawn estava se aproximando deles, segurando Beth pelo braço enquanto caminhava ao lado da loira.

Meu coração ficou mais leve quando a troca aconteceu e Beth já estava com as mãos de Rick nela, estava protegida.

Observei os dois se virarem e começarem a caminhar em nossa direção e quase, quase esbocei um sorriso antes de ouvir novamente a voz da Dawn.

— Que bom que resolvemos tudo.

— Pois é. – Rick lhe disse, enquanto Beth caminhava em nossa direção

Estendi minha mão para Beth assim que ela chegou perto e a cumprimentei silenciosamente, com um aceno quase imperceptível, abracei a menina pelos ombros e nos viramos, copiando os movimentos da nossa família que estavam começando a caminhar em direção as portas marrons que nos levaria de volta as escadas.

— Agora vou precisar de Noah. – Novamente, a voz de Dawn soou, depois de alguns segundos – E depois podem ir embora.

Segundos suficientes para nos fazer parar logo em frente à porta e nos viramos para olhá-la. Vi que Rick estava na metade do caminho, parado também. Enquanto Rick se virava, larguei Beth e segurei Noah pelo braço, impedindo que ele desse muitos passos em direção a eles.

— Isso não fazia parte do acordo. – Rick disse a ela, sério, enquanto caminhava em sua direção

— Noah era meu auxiliar. – Dawn comentou, interrompendo ele – Beth assumiu seu lugar e a perdi, então o quero de volta.

— Senhora, por favor, isso é...

— Shepherd. – Dawn disse alto, interrompendo a mulher que a pouco tempo era a nossa refém – Meus oficiais arriscaram a vida para achá-lo. Um deles morreu.

— Ele não vai ficar. – Daryl disse num rosnado, caminhando até Rick

— Ele é meu. – Dawn retrucou alto – Não tem direitos sobre ele.

Puxei Noah um pouco para trás e fiquei mais ou menos em sua frente. O menino não era um objeto para ser dela, ele era um humano e tinha seus direitos.

Ele não ficaria ali com aqueles loucos.

— O garoto quer ir para casa, não pode solicitá-lo. – Rick disse a ela, segundos depois que ela falou

— Então, não tem acordo. – Dawn comentou, olhando diretamente para ele

— O acordo está feito. – Rick retrucou, alto, fazendo com que sua voz grave ecoasse por todo o corredor

— Está tudo bem. – Noah disse depressa, saindo de trás de mim

— Não. – Falei alto, novamente agarrando o braço do menino, fazendo-o parar de andar – Não está tudo bem.

— Eu preciso fazer isso. – Noah disse baixo, mas não tão baixo, pois Rick olhou para trás e o encarou por alguns segundos, e então, o menino me entregou sua pistola

— Isso está errado. – Beth disse meio baixo

— Está resolvido. – Dawn anunciou, séria

Crispei meus lábios, enquanto guardava a pistola no cós da calça camuflada. Noah deu alguns passos para frente, e quando passou por Rick e Daryl, teve uma pequena movimentação ao meu lado.

— Espere! – Beth disse alto, praticamente correndo até Noah e então ela o abraçou apertado

— Está tudo bem. – Noah repetiu o que tinha dito antes, depois que riu fraco

— Sabia que você voltaria. – Dawn disse para a menino, com seus olhos claros cravados nele

Lentamente, Beth largou Noah e deu poucos passos até a mulher que comandava aquele hospital, enquanto o menino negro atravessava o corredor e caminhava na direção do outro grupo.

— Agora eu entendi. – Beth disse para a mulher

Tudo aconteceu muito rápido, vi Beth perfurar Dawn com alguma coisa e logo em seguida, vi minha amiga levar um tiro certeiro bem no meio da cabeça.

O ar faltou em meus pulmões, meu coração desacelerou num ponto que eu não sabia se iria desmaiar ou se eu mesma estava morrendo. Arregalei meus olhos, vendo o corpo da menina cair no chão, imóvel.

Desviei o olhar para Dawn, aquela mulher estava com a pistola nas mãos, fora ela que atingira Beth.

— Eu não queria fazer isso! – A mulher que comandava o Grady disse alto, seus olhos estavam arregalados e sua voz estava tremula

Nem mesmo tive tempo para esboçar alguma reação quando Daryl puxou sua pistola do cós da sua calça e atirou bem no meio da testa da mulher. Antes mesmo do corpo dela cair no chão, os policiais do seu grupo levantaram as armas, fazendo com que nós imitássemos seus gestos.

Empunhei as duas pistolas que estavam comigo, uma em cada mão e sem ligar para o recuo que as duas armas teriam, mirei na direção deles.

— Não, não atirem! – A mulher que pegamos como refém, Shepherd, disse alto, tentando segurar os policiais atrás de si – Acabou. – Ela apontou para o corpo morto da policial no chão – O problema era ela. – E então virou a cabeça para o lado, para os policiais atrás de si – Abaixem as armas!

Lentamente, os policiais atrás dela abaixaram suas armas. Tão lentamente quanto eles, guardei as pistolas e caminhei em passos largos em direção aos dois homens do meu grupo que estavam mais à frente. Coloquei uma das mãos no ombro de Rick e com a outra mão, toquei o rosto do caçador.

Ele estava chorando.

Eu nunca o vi chorar.

Isso era tão assustador quanto o momento que estávamos vivendo.

— Vocês podem ficar. – Shepherd nos disse, depois que viu os dois abaixarem suas armas

Abri minha boca, para lhe responder, mas nenhum som saiu. Eu estava entorpecida, literalmente. Era como se de repente, tudo ao meu redor sumisse e eu começasse a reviver os piores momentos de todas as guerras que participei, reviver as mortes de companheiros próximos que presenciei e ao menos pude trazer seus corpos de volta ao seu país.

Estava revivendo minhas piores lembranças.

Mas mil vezes pior.

Eu não conseguia parar de ver e rever a morte da menina, da garota que aos poucos, conquistou minha amizade e lealdade, da menina que tinha tudo para se tornar uma grande e bela mulher.

A irmãzinha mais nova da Maggie, o último laço de sangue da minha melhor amiga.... Agora jogada no chão perto dos meus pés, morta, com uma bala na cabeça.

— Estamos sobrevivendo aqui. – A voz do homem de jaleco me trouxe de volta dos meus pensamentos – É melhor do que lá fora.

Pisquei algumas vezes, apenas para começar a sentir as lágrimas que já deviam estar caindo a muito tempo. Soltei o ar pela boca e inspirei, tentando descobrir como respirar normalmente.

O cheiro do sangue estava começando a impregnar no meu nariz.

Me lembrando diversas vezes de que aquilo era real.

— Não. – Rick negou, o tom da sua voz estava misturado, parecia que estava indignado e perplexo ao mesmo tempo. Eu o olhei por alguns instantes, antes de mais uma vez, colocar a mão no caçador, desta vez, em seu ombro – E eu vou acolher quem quiser ir embora. Quem quiser vir conosco... – Ele parou lentamente, respirou fundo enquanto balançava a cabeça negativamente – Quem quiser vir conosco, dê um passo para frente.

Nenhum deles, a não ser por Noah, deu um passo à frente. Aquilo foi mais do que uma resposta, resposta da qual no fundo, já sabíamos. Tirei minha mão do ombro do meu marido, depois de sentir seu corpo abaixar e sentindo todo o meu corpo gritar, eu o vi pegar o corpo de Beth no colo, com toda uma delicadeza que ele raramente se deixava mostrar.

Eu sabia que assim como nós, ele estava acabado. Talvez até mais, pois foi com ela que ele fugiu da prisão, foi ela que ele protegeu durante os dias que nosso grupo passou separado. E naqueles poucos dias, eu sei que ele se apegou a menina.

Quem não se apegaria?

Beth Greene é.… era uma garota muito boa, era a garota que depois da fazenda, passou a viver não apenas para ela, passou a viver para sua nova família, para nós.

Ela...   

Levantei minha mão direita até meu rosto e apertei meus olhos, tentando a todo custo parar de chorar, parar de fazer algo que eu sei que ela não gostaria.

Beth Greene era do tipo de pessoa que não gostaria que chorassem por sua morte e sim que se lembrassem de todos os bons momentos que dividimos ao logo da nossa jornada.

Senti uma mão pesada no meu ombro e tirei a mão dos olhos. Meio embaçado, Rick surgiu no meu campo de visão e ao fundo, eu pude ver a minha família se afastar, indo em direção as escadas que minutos antes, subimos para resgatar duas de nós.

Mas agora, estávamos voltando apenas com uma delas viva.

Me deixei ser guiada por Rick, enquanto seguíamos o grupo pelas escadas. Estava fazendo tudo no automático, pois se fizesse o que eu realmente queria... iria ficar horas naquele maldito hospital enchendo a cara e despejando xingamentos em todos os seus habitantes.

Fui a primeira a passar pela porta traseira do hospital e assim que coloquei meus pés no estacionamento, desviei meu olhar do chão para encarar o que tinha a minha frente, vi algo que eu não sabia se queria ou não ver.

Parte da minha família estava mais ou menos na metade do estacionamento, se aproximando de nós. Olhei para todos, para todos menos para Maggie, pois sabia que ela estava ansiosa, esperando que sua irmã saísse de trás de um de nós e corresse para os seus braços. Mas ao ouvi-la começar a gritar, soube que ela tinha visto Daryl e o corpo que ele carregava.

E toda aquela pose, toda a pose que montei durante as escadas até aqui, se quebrou em vários pedaços.

Nesse ponto, Daryl já estava bem em frente a Maggie, a qual estava jogada no chão, de joelhos, sendo aparada por seu marido.

As lágrimas escorreram durante todo o caminho de Atlanta para a igreja que usávamos como acampamento provisório. Não as escondi, não tinha o porquê, todos que conheceram Beth estavam como a mim, e até pior.

Ver o corpo já gelado da menina ser coberto por terra, foi uma das piores coisas que eu já vi. Maggie ainda estava chorando, de pé em frente ao túmulo de sua irmã mais nova, sendo amparada por seu marido e melhor amigo. Todos nós, todos nós do grupo estávamos juntos ali, em frente ao túmulo de Beth Greene, prestando respeito ao que ela foi e morreu sendo.

Dormir naquela noite foi difícil, ainda mais porque não tínhamos um lugar fixo para dormir. A Igreja estava acabada, destruída pelos caminhantes.... Não era mais um lar, ou não poderia mais ser. Era como se tivéssemos voltado há um ano atrás, quando alguns de nós ainda estavam vivos, antes de acharmos a prisão.

Nômades, era o que éramos novamente.


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Notas finais do capítulo

Desculpa gente, mas isso tinha que acontecer.
O amadurecimento da Maggie depois das suas perdas têm sido incrível e foi justamente a morte de seus familiares que a tornou quem ela é hoje. Eu gosto dessa Maggie, por mais que quisesse que o pai e a irmã dela estivessem vivos ao seu lado. Essa Maggie é forte e será mais forte ainda com o passar do tempo.

E novamente, eles perderam tudo o que tinham.

Mas mesmo depois da morte de Beth, eles ainda tinham um ao outro.

E é isso que vai ajudá-los a superar suas perdas, seus obstáculos durante o resto da jornada... Ainda são uma família, com um membro a menos, mas ainda assim, uma família.


E é com esse pequeno discurso que eu me despeço de vocês... Claro, por hoje. Sexta que vem eu estou de volta com outro cap :3

Beijos ♥




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