Sweet Desires escrita por Anna Miranda


Capítulo 1
Meet Regina


Notas iniciais do capítulo

Eu to tão nervosa com essa história que nem sei o que dizer aqui, só realmente espero que alguém goste hhahaa



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/726281/chapter/1

New Jersey, Sussex.

Há estudos que comprovam que quando o ser humano é privado de um de seus cinco sentidos, os outros sentidos tornam-se mais aguçados, em determinadas situações a morena de estatura mediana gostava de colocar em xeque esses estudos e propositalmente se privava ora do olfato, ora do paladar e algumas vezes até mesmo da visão. No entanto, naquela manhã de segunda-feira especialmente fria, não era um dos momentos em que ela escolheria desafiar a ciência, visto que até o fim da semana ela passaria por dois testes que exigiriam que todos os seus sentidos estivessem cem por cento intactos. Então ter as papilas gustativas alteradas e o olfato comprometido devido ao recente resfriado adquirido, estava deixando-a próxima a um colapso nervoso.

Perdida em pensamentos, ela fazia uma lista mental de todos os alimentos que podia lembrar naquele momento que faziam parte do complexo de vitaminas C, logo em seguida ela forçou a mente a recapitular todos os medicamentos que tinha na pequena caixa de plástico transparente que fica no banheiro do seu dormitório. Ela tinha exatamente setenta e duas horas para se recuperar ou provavelmente teria problema com uma ou duas matérias da faculdade, e isso era tudo o que ela não queria naquele momento.

Regina tinha apenas doze anos, quando chegou em  casa após o período escolar e encontrou a cozinha imersa em uma nuvem densa e cinzenta, que carregava o forte odor de queimado. Poucos segundos depois de sua mente registrar o fato, ela saiu em um ato quase desesperado correndo por toda a casa abrindo as janelas a fim de dispersar a fumaça, que ela havia inalado pouco, mas mesmo assim a fazia tossir.

De volta à cozinha, ela encontrou o pai sentado em uma das cadeiras com o rosto enterrado nas duas mãos, a porta do forno aberta e um tabuleiro com o que ela imaginava ser um frango sob a pia.

“Papai? O que aconteceu?” A menina interrogou em um tom tão comedido, que quase não se podia ouvir.

“Penélope teve uma emergência com uma de suas netas, e avisou que talvez não conseguisse deixar o jantar pronto para nós, e eu disse a ela que estava tudo bem, que eu seria capaz de alimentar minha própria filha pelo menos por uma noite. Mas aparentemente eu não sou tão capaz assim.”

As mãos gorduchas, mas já marcadas pelo o tempo correram de forma quase agressiva pelo rosto de Henry, a frustração era quase palpável, e trazia um desconforto tão grande para a garota que assistia a cena, que ela rapidamente deslocou o olhar para outro canto. Não queria encarar o pai, não naquele momento.

“Esta tudo bem, a gente pode passar a noite de hoje para a noite da pizza.” A menina disse tentando simplificar a situação.

“Já se completaram oito meses desde que ela se foi, a gente não pode depender para sempre de Penélope, eu preciso ser capaz de pelo menos fazer uma refeição para nós Nina.”

A menção silenciosa a mãe fez o coração da pequena doer, era como se mãos o tivessem comprimindo na tentativa de diminuir o tamanho dele, os pulmões de repente pareciam não receber ar suficiente e ela se viu lutando bravamente com as lagrimas que se acumularam nos olhos dela ansiosas para escorrerem pela face alva e infantil.

“De qualquer forma eu não estou com fome, eu vou para o meu quarto.” A voz embargada pelo choro quase não foi capaz de completar a frase, e sem esperar a resposta do pai, ela correu escadas acima se trancando no quarto. Ao se jogar sob a cama ela sentiu o estomago protestar pela fome, dormiria com fome aquela noite se fosse necessário, mas não desceria as escadas para encarar o pai novamente.

No outro dia pela manhã, ao descer as escadas ela se deparou com uma mesa farta de café da manha, havia bolo, panquecas, coockies e leite fresco. O pai carregava um sorriso de desculpa no rosto e o papel da padaria mais perto da casa deles, amassado no lixo perto da porta, denunciava que ele provavelmente havia acordado antes do galo cantar.

Naquele momento ela decidiu que não importava o quão difícil fosse, ela faria da sua missão de vida aprender a cozinhar, faria refeições fartas e gostosas para ela e para o pai, e então eles não precisariam de Penélope, e muito menos viveriam situações como a do dia anterior.

—x-

Regina havia ouvido uma vez que a escrita era um dom, mas que também era um trabalho e esforço árduo e continuo, muitas vezes ela ouvira dizer, que na verdade a escrita era mais um trabalho do que realmente um dom. A morena não tinha se aventurado muito no mundo das palavras durante a vida, vez ou outra usava-as como válvula de escape, mas os pequenos trechos de textos, se perdiam em pedaços de papeis espalhados pela escrivaninha ou ia sem qualquer sentimento de culpa para o lixo. Nunca haviam ganhado os holofotes do conhecimento de uma segunda pessoa.

No entanto, depois de muitas frustrações, varias receitas que deram errado, esgotamentos emocionais que talvez fossem desnecessários e uma vontade imensa de desistir, a morena percebeu que a verdade sobre a escrita se aplicasse ao processo culinário. Cozinhar poderia até mesmo ser um dom, mas era um trabalho exigente e desgastante que requeria uma dedicação e força de vontade enorme. Cozinhar era esperar pelo acerto, mas prioritariamente esta pronta para o erro.

Henry costumava dizer que o pior defeito e a melhor qualidade de Regina era sua teimosia. Desde muito nova, quando a menina enfiava algo na cabeça, ela não media esforços para alcançar o objetivo, e não havia ninguém que conseguisse dissuadi-la de suas metas. Por isso, não havia sido surpresa para ninguém, que no prazo de um ano a menina havia aprendido a cozinhar refeições completas sem a ajuda de ninguém.

No inicio era tudo muito simples, apenas a comida do dia a dia e seu cupcake favorito de sabor de amêndoas, mas a dedicação e o tempo ajudaram-na a aperfeiçoar tudo o que fazia. A culinária se tornou uma paixão, e então, com o apoio constante do pai, ela começou a fazer pequenos cursos pelas redondezas de onde morava e também onlines.

Regina começou a trocar os passeios a cavalo dos fins de semana, por incansáveis buscas  de novas receitas e testes na cozinha da fazenda que cada vez se tornava mais e mais adequada as aventuras da morena. Se havia uma coisa que ela se orgulhava mais do que quando suas receitas finalmente davam certo, era o fato de a grande maioria dos seus ingredientes serem naturais e frescos, visto que desde que se entendia por gente morava na fazenda Mills, uma fazenda que tinha pertencido a inúmeras gerações da família do pai na cidade de Sussex.

Leite fresco, ovos recolhidos logo após as galinhas botarem, verduras e frutas colhidas do pé. A qualquer um isso poderia parecer algo sem relevância ou até mesmo frescura, mas ela sabia o quanto isso tinha peso no resultado final de uma receite, afinal uma geleia de bluberry industrializada nunca teria o mesmo efeito sob uma torta do que uma geleia feita de frutas frescas.

Não foi surpresa para ninguém que a conhecia quando o envelope com a carta de aprovação do CIA chegou pelo correio para Regina. A surpresa veio mais tarde, quando depois de muita luta e muita persuasão por parte do pai, ela aceitou a vaga na faculdade. Por mais que o CIA fosse o maior desejo de Regina, o fato de ter que deixar a casa em que cresceu para trás e o pai mornando sozinho, quase se levantaram como uma barreira na caminhada dela rumo aos seus sonhos.

O Instituto de Culinária da América, ou simplesmente CIA, havia sido fundado no ano de 1946. Uma faculdade independente e sem fins lucrativos, o CIA é conhecido por definir o padrão de excelência em culinária profissional, e oferece diplomas de associate em artes de culinária ou artes de panificação e confeitaria, e também bacharelado de gestão, ciência culinária, e estudos alimentares aplicados. 

O campo do CIA de Nova York era o mais próximo a cidade natal de Regina, por isso essa havia sido a escolha final dela. No entanto, o campus fica em Hyde Park, por isso era preciso uma viagem de mais ou menos duas horas de carro de Sussex até Nova York e então, mais duas horas ou um pouquinho mais até Hyde Park.

Usualmente ela fazia o trajeto até a Big Apple com Mary, sua melhor amiga desde a infância. Mary cursava Inglês e ocasionalmente fazia matérias sobre escrita e literatura, no fundo, Regina sempre soube que o futuro de Mary era em uma sala de aula, as crianças a adoravam e o universo escolar havia sempre orbitado a sua volta. Mas naquela manhã em especial Mary não iria para Nova York, não teria aula até a metade da semana, portanto, a morena precisava sair mais cedo que o rotineiro da casa do pai, visto que o percurso até a cidade grande feito de ônibus gastava em torno de três a cinco horas de viagem.

“Pai! São quatro da manhã, você não precisava estar acordado por pelo menos mais duas horas.” Regina ralhou ao descer as escadas e encontrar o pai na cozinha.

“Eu só queria checar se esta tudo bem, ou se você precisa de algo.”

“Henry, eu faço essa viagem pelo menos dois finais de semana por mês, por quase dois anos, você precisa parar de se preocupar, eu estou bem.”

“Você é minha filha única filha Regina, você pode ter dez ou vinte anos, eu vou sempre me preocupar.”

“Tudo bem só tente não esbranquiçar ainda mais essa cabeleira, pode ser?” Ela disse rindo e depositou um beijo na bochecha do pai.

“Este velho senhor, pode ter o privilegio de comer antes de você partir uma boa panqueca com bacon?”

“Que tal uma boa panqueca com mel e algumas frutas? Acho que estamos precisando maneira um pouco na ingestão de carne vermelha e bacon depois dos resultados dos últimos exames.”

“E agora quem esta se preocupando atoa?” Henry devolveu em um tom quase de deboche a pergunta.

“Não é uma preocupação atoa quando suas veias estão prestes a explodir de tanto que estão entupidas.”

“Bla bla bla.”

“Bla bla bla, diz a criança de quase cinquenta e seis anos. Panqueca com frutas e mel é tudo que você vai conseguir de mim hoje.”

“Que seja, vou pegar uma caneca forte de café, antes que você me proíba disso também.”

Resmungando ele pegou sua xicara dupla de café e saiu porta a fora em direção ao estabulo. Regina ficou na cozinha preparando o desjejum dos dois enquanto ria da reação do pai, as vezes os papeis se invertiam de uma forma tão natural que ela se quer percebia isso.

—x-

Os tijolos em um tom avermelhado se empilhavam um sob o outro de formar harmônica. As arvores bem cortadas, e a grama aparada e verdinha devido ao fato de serem constantemente irrigadas completava a paisagem que agora já era uma velha conhecida da morena. De pé diante da entrada daquele edifício, ela podia quase se sentir em casa.

“Me fala que você passou todo o final de semana presa naquele fim de mundo estudando sobre gestão de uma panificadora de pequeno e médio porte, e que de uma forma quase milagrosa você vai ser capaz de me fazer entender isso nas próximas horas.”

Não era preciso olhar para o lado para identificar quem havia dito isso, o tom de voz e o sotaque nova-iorquino entregavam completamente Rebecca. Dona de uma beleza incomum, herdada totalmente da descredencia irlandesa, a ruiva de olhos azuis com um corpo de causar inveja em qualquer mulher, era companheira de quarto de Regina desde quando ambas haviam ingressado no Instituto.

A amizade das duas não foi o que se pode chamar de amizade à primeira vista, vindas de criações e costumes completamente dispares, os primeiros meses de convivência quase diária foram no mínimo estressante. Mas após um tempo, quando perceberam que o mais próximo que teriam do sentimento de família era uma a outra, elas acabaram se dando uma trégua, e foi nesse período de paz que a amizade surgiu, e tempos mais tarde floresceu em uma relação de quase irmandade.

“Na verdade eu estava esperando que você pudesse me explicar.” Regina disse fitando a amiga.

“Você caiu e bateu a cabeça nesse fim de semana passado ou sei lá, sofreu alguma espécie de lobotomia? Você é parte dedicada aos estudos dessa relação aqui.” Rebecca disse movimentando os dedos no espaço entre elas.

  “Não dessa vez, eu tive algumas festas e eventos para cobrir esse final de semana.”

“Festa? Ok, onde estão às câmeras, isso só pode ser piada ou algo assim.”

“Rebecca, eu vou a festas como qualquer outro jovem da nossa idade, isso não é uma exclusividade sua.”

“Não Regina, você não vai a festas, eu é que te arrasto até as festas. E puta que pariu se nenhuma de nós duas estudamos fodida não chega nem perto de qualificar o que estamos.” O desespero era perceptível na voz da ruiva, e determinada a não prolongar mais essa situação e não conseguindo controlar mais a risada a morena resolveu abrir o jogo.

“Na verdade eu estudei, mas você precisava ver sua cara quando você quase acreditou que eu não tinha feito isso. Vamos, movimente essa bunda bonita para que eu te explicar o máximo possível.”

“Você é uma babaca, não sei por que ainda sou sua amiga.” A ruiva disse caminhando em direção ao dormitório arrastando uma mala que Regina acreditava ter coisas muito além do necessário para apenas um final de semana.

—xx-


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sweet Desires" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.