Acordei assustada naquela noite. Lissa havia me acordado de novo, só que dessa vez, algo estava mais errado que o normal.
Tudo era muito estranho na minha vida, mas de todas as coisas, Lissa na minha mente era a pior.
Era como uma força sobrenatural que me puxava para outra vida, uma que não era a minha, era dela. Sempre foi assim,  desde que me lembro. Crescemos juntas mas nunca nos conhecemos realmente. Sempre achei que fosse apenas algo da minha cabeça, loucura talvez, nunca soube.
Mas com o tempo aprendi a dominar, foi difícil mas com muito esforço e força de vontade, bloqueei seus pensamentos para dar lugar aos meus.
Até porque a mente era minha, não dela.
O problema, era que quando parecia que as emoções dela eram muito fortes, não havia força de vontade no mundo que me fizesse bloquear- las.
Assim como naquela noite, as emoções de Lissa me atingiram como um raio, forte e rápido. De repente eu estava lá, dentro daquele carro, tudo girava, eu gritava mas ninguém me ouvia, o cheiro de gasolina e fumaça estava por todo lado,consegui sair do carro com muito esforço.
A dor consumia todo meu corpo, mas me arrastei para fora, desorientada, sem saber o que acabara de acontecer. Num minuto eu estava com minha família no carro, e no outro só havia metal retorcido e sangue. Sangue pra todo lado. Eu tentava gritar, mas não saia nenhum som, mamãe, papai e André não se moviam, o que estava acontecendo?
Eu sentia como se tudo tivesse acabado ali, eu sentia, eu sabia, mas não era eu, era Lissa. Um momento depois voltei à mim, fiquei surpresa ao perceber lágrimas rolando em meu rosto, eu podia sentir a dor que ela sentia, o coração se partindo, o sentimento de desespero, medo.
Mas como é possível, um sonho ser tão real, Lissa em minha mente sempre foi estranho, mas eu à via apenas como um sonho, uma imaginação, tipo um amigo imaginário que eu nunca criei. Mas naquele momento não parecia ser apenas um sonho, era tão real quanto minhas lágrimas.
Foi preciso muito de mim para voltar a dormir depois daquele pesadelo, cada vez que fechava os olhos, o cheiro de metal retorcido, o sangue, os corpos e a fumaça, invadiam minha mente.
Na manhã seguinte fui até o quarto de Mason, pois sentia que precisava de alguém pra conversar, desabafar sempre torna as coisas melhores, ainda mais quando você está ficando louco. De todo o orfanato ele era a única pessoa em que eu podia confiar.
Mason era ruivo de olhos castanhos claro, suas sardas no rosto, fazia de sua beleza ainda mais angelical, porém o que mais se destacava era seu porte, forte e musculoso, Mason sempre arrancou suspiros das garotas do orfanato, mas ele era um legítimo cavaleiro, o tipo de cara que topava qualquer coisa que eu pedisse, estava comigo sempre e pra tudo, e embora eu soubesse dos seus sentimentos para comigo, nunca pude corresponder da mesma forma, sempre o tive como meu melhor amigo.
Assim como eu Mason também havia crescido no orfanato, sem família.
Com o tempo passamos a cuidar um do outro, e juramos ficar sempre juntos, aos 16 anos, éramos o "terror" do orfanato.
"Cara, você acabou de atrapalhar meu sonho com a Jenifer Lopes. Que horas são hein, ela estava prestes a tirar o sutiã." Ele disse com aquela cara de preguiça, de quem acabara de acordar.
" Ei, você sabe que são dez da manhã neh!? E, Jenifer Lopes!? Não quero nem saber o que aconteceria se eu não tivesse te acordado."
"Não se preocupe, com ela é só diversão, você está no topo da minha lista. E só pra deixar claro, tenho certeza que seus peitos são mais bonitos que os dela."
Seu tom de sarcasmo,sua marca registrada, me mostrava que eles estava em um de seus dias bons, que basicamente eram todos os dias.
"Mase, só você pra alegrar meu dia, mas olha vou deixar você imaginar ta bom."
"Ah, isso eu sei fazer bem"
Rapidamente me lembrei do sonho, e meu rosto demonstrou o que eu tentei esconder.
"Hum, já vi que teve mais um daqueles seus sonhos estranhos" Mason me conhecia muito bem, sabia quando havia algo de errado comigo.
"Bem, você sabe, comigo estranho é pouco pra explicar"
"Rose, você sabe que pode contar comigo, me diga o que está acontecendo, somos amigos, e eu vou te ajudar." Ele me disse segurando minhas mãos e olhando diretamente nos meus olhos.
" Você me conhece tão bem. Bom sim, mais um dos meus sonhos estranhos, só que dessa era mais real que o normal Mase, não sei, eu senti, eu vi, eu vivi aquilo..."
Contei a ele todo o sonho, e como sempre ele me ouviu paciente, mas eu via em seus olhos que ele não me entendia, mas como julga lo por isso, não havia explicação, não importa o quanto eu falava, ele ouvia mas não entendia.
"Sabe do que você precisa?
Vamos tenho uma surpresa pra você" Ele me puxou pelo braço me levando para fora do quarto.
" Tenho até medo do que seja." Eu disse ainda tentando ler seu rosto pra ter uma ideia do que se tratava.
" Ah Rose, nem sempre  você pode saber de tudo, as vezes o mistério é legal. Bom, surpresa é surpresa, mas olha, garanto que você vai gostar"
" Ta legal, confio em você" Eu disse, me deixando ser levada por ele, para onde quer que ele estivesse me levando.
Mason me guiou para fora do orfanato, em uma pequena trilha que ficava a cerva de 200 metros do portão do fundo, quase ninguém ia lá, então o lugar era encoberto por folhas, galhos, que pra minha surpresa, quando Mason os removeu, deu em um portão com quase dois metros de altura para um e meio de largura, era feito de cobre, todo desenhado com bordas de ouro, e no centro havia um coração, com uma entrada para uma chave. Chave que eu já vira outras vezes, mas não me lembrava aonde. Sim, o colar de Mason, sempre em seu pescoço.
" Espera, o que é isso?" Perguntei surpresa pela descoberta que acabara de fazer.
" Eu não sei, ontem estava andando por aqui, quando avistei um corvo, que me olhava firmemente, como se estivesse me observando e não sei porquê, ele me cativou, e sem perceber, eu já estava o seguindo. E quando dei por mim estava parado aqui olhando para esse portão"
"Wow, cara isso é muito louco você sabe neh!? Quero dizer, um corvo não é um dos passarinhos mais fofos."
"Ei, falou a pessoa que sonha com uma garota imaginária, quer falar de coisas estranhas, comece por aí."
" Ta legal, não sou tão normal assim para julgar você, mas isso não faz desse fato menos estranho, acho que você anda muito comigo, será que loucura pega?" eu disse rindo de como aquilo era estranho, mas para ele era normal, já que tudo em nossa vida era estranho.
Quando a porta se abriu, havia uma escada que descia alguns metros  em um corredor dando em uma grande sala, na verdade quase que uma biblioteca, prateleiras com livros e mais livros antigos, as paredes eram cheias de pinturas que me pareciam bem caras, mas eram incrivelmente lindas, móveis antigos, no estilo rústico, decoravam a sala dando um ar de sofisticação, nenhuma janela, mas haviam cortinas por toda a sala, e apesar dá falta de janelas , a sala era fresca e bem iluminada.
Mason, como um bom adolescente, se entretia com os vinhos que eram bem antigos, eu já podia imaginar o gosto maravilhoso.
Andando pela enorme sala,me perguntava como um lugar tão grande cabia embaixo da terra, e nunca ninguém do orfanato tinha visto. De repente algo me chamou atenção, um quadro, de duas mulheres, lindas, uma loira de cabelo encaracolado, alta, magra, olhos verdes esmeralda, parecia como uma modelo de revista, a outra porém, totalmente diferente, mas não menos bonita, era menor,na verdade bem menor, cerca de um metro e meio, cabelo ruivo, também encaracolado, seu porte era forte, suas curvas bem delineadas, também muito linda. Eu tinha a sensação de já à ter visto em algum lugar, era como se eu a conhecesse, eu sentia isso, era estranho, wow, ela parecia comigo. Aquilo era louco, como alguém que nunca vi na vida tinha tanto em comum comigo?
E quando pensei que nada mais me surpreenderia, algo no sorriso da mulher loira me chamou atenção, presas, literalmente presas, seu sorriso era lindo, e suas presas se destacavam nele. Aquilo me deixou sem ar momentaneamente. Dando um passo para traz tropecei em algo no chão, era brilhante, duro como ferro, mas não era ferro, era prata, tinha uma ponta, com um superfície lisa, um cabo onde parecia que se segurava, era como uma estaca, e nela haviam duas letras, "iniciais de um nome", veio a minha mente JH, essas eram as letras.
Decidi me distrair dando uma olhada nos livros. Só haviam histórias de vampiros, lendas eu supus, mas o que isso tudo fazia ali?
Fiquei em transe, histórias de vampiros, que eram mortos por estacas de prata, nunca foi uma coisa ao qual eu quis acreditar, minha vida já era louca o bastante.
Fui tirada do transe quando Mason me chamou, estava na hora de ir, mal percebi, mas já haviam se passado 3 horas, e os outros deviam  estar procurando por nós.
Sai de lá com mais dúvida do que já estava antes de entrar,  muitas coisas em minha vida me surpreendiam, mas isso, deixou minha mente a mil.
Passei o resto do dia pensando sobre aquelas mulheres, os livros com as lendas que mais pareciam relatos vividos, do que histórias pra dormir, e principalmente, a estaca de prata, o que era tudo aquilo? Por que eu sentia que já havia visto essas mulheres, tantas semelhanças.
Fui dormir naquela noite, com mais duvidas do que quando acordei. E como de costume, mais uma vez estava no sonho de Lissa.
Só que dessa vez, ela falava comigo.