Devoradora de Memória escrita por Elle Maria


Capítulo 4
Capitulo 4 - Casa Vazia. Cidade de almas




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A caminhada havia durado horas e Gabrielle estava cansada quando avistou pequenas luzes fracas vindo de um calmo vilarejo. Tudo estava quieto e silencioso, parecia à primeira vista estar abandonado. As casas eram antigas feitas de tijolos vermelhos e pedras escuras, e o caminho estava úmido e escorregadio tendo então dificuldade em andar por ela.
No final de uma rua tinha uma grande edifício da qual reconheceu como sendo a biblioteca de suas visões. A grande porta estava fechada por vários paus, que impediam a entrada de qualquer pessoa. Com as mãos e os braços rígidos, Gabrielle lutou para retirar alguns paus, assim podendo entrar. Por dentro tudo estava escuro, o pouco que via era graça a má iluminação da lua cheia que entrava pelas janelas quebrada. Havia vários livros jogados no chão, como tinha visto em suas memórias, os respingos no chão já estavam secos.
   “Então as visões eram reais.” Pesou Gabriele, sentindo seu coração doer. Seus olhos começaram a esquentar e ficar úmido, quanto mais o peito doía ficava insuportável segurar as lágrimas que vinham escorrendo pelo seu rosto. Ela sentia sua respiração ficar difícil, até que ela se deitou sobre os livros e abraçou o livro com os respingos. Tudo em seu corpo parecia estar em dor profunda.

Ela não poderia aceitar isso. Já não tinha suas próprias lembranças, vivia das dos outros, a única lembrança que tinha era uma cena de um pecado horrível. Respirava, mas se perguntava se realmente estava viva.

 

— Como deixaram uma das nossas pacientes desaparecer?! Gritava o diretor Kian para o médico de cabeça baixa enquanto sua veia saltava no rosto - Incompetente. Bastardo! Tire seu corpo inútil da cadeira e traga a garota de volta.
Sem dizer nem uma palavra o médico se levantou e saiu. Enquanto saia da sala seus olhos claros se tornaram amarelos como de um gato, havia uma sombra nas linhas de seu rosto. Algo escuro pairava sobre todo aquele lugar.
Do lado de fora o médico transpirava como se estivesse acabado de fazer uma longa corrida, sua face estava pálida de um branco surreal. Suas roupas pareciam que o sufoca e por isso se despia. Tirando sua gravata o médico tropeçou sobre sua própria perna e caiu.
   Seu peito soado subia e descia rapidamente, ele rasgou sua camisa sentindo um forte calor que o queimava. Sua face se contorcia em dor profunda, até que os dedos de sua mão e pés começaram a  esticar, todo seu corpo começou a se esticar. O som dos estalos de seus ossos se encontrava com seus gemidos de dor. O médico acabara de virar uma criatura horrível. Seu andar era desengonçado, porém ágil e rápido. Uma criatura de braços longos e garras mortais, com pelos no corpo, olhos amarelos e orelhas enorme como de um cachorro.
   A criatura deu um uivo rouco e apavorante e pulou para dentro da floresta. Sentindo o cheiro da garota e destruindo tudo que aparecia pela frente. Era uma fera incontrolável.

 

Gabriele não havia notado, mas acabou adormecendo sobre os livros. Quando abriu os olhos sentiu seu corpo todo tremer, por conto do vento assustadoramente frio que passava pelas frestas das janelas quebradas. Com as pernas latejando ela se levantou e foi para a parte mais escura da biblioteca para se esquentar.

Estava perto da mesa do bibliotecário. Se aproximando ainda mais teve uma breve visão de uma cena: O velho de cabelos grisalhos mexia em alguns pergaminhos sobre a mesa sobre a luz fraca das velas, sua face estava enigmática, já não se tinha sensação de bondade em seu rosto. Alex. Esse era o nome do velho. Um senhor estudioso das antigas magias, ambicioso e traidor. Ele estudava vários mapas, um em especial : amarelado e cheio de manchas escuras amarronzadas.
O mapa dizia onde estava uma casa em cima de uma colina rodeada por árvores. Gabrielle se aproximou mais da mesa, abriu a gaveta e tirou de lá os pergaminhos e o mapa. A menina sentiu que poderia encontrar todas as suas respostas na casa da colina e por isso guardou o mapa, dobrado em seu sutiã.
O Som de madeiras sendo quebradas violentamente se aproximava da biblioteca.
   “Não é dentro da biblioteca.” Pensou a garota se afastando da mesa e indo procura um lugar seguro. O som das forte batidas tentando arrebentar a porta, fazia o coração da garota estremecer junto com a velha estrutura da biblioteca. Se abaixando atrás de umas das enormes torres de livros a garota trêmula se escondeu, esperando não ser achada.


   As madeiras que fechavam a porta se quebraram como papelão e debaixo da nuvem de poeira surgiu um enorme lobo cinza de olhos amarelos reluzentes. Sem demoras ele começou a farejar por entre os livros caído o cheiro da menina, seguindo os passos, sentindo o cheiro das lágrimas derramadas.
Seus olhos escuros não podiam acreditar na visão surreal: um lobisomem a poucos metros dela.
   Se segurando para não gritar acabou mordendo a língua. O gosto quente e agridoce invadiu sua boca, atiçando os instintos selvagens da besta. A sombra abominante da fera se projetou ao seu lado. Os olhos amarelos claros a encaravam a paralisando dos dedos do pé até os fios dos cabelos. Seus lábios tentavam falar, tentavam gritar, mas, tudo o que faziam eram gemer.
Seu corpo lutava para sair dali. Tinha que arrumar forças de algum lugar. Se arrastando de costa pelo chão empoeirado, não consegui ir muito longe.
   Rugidos e passos lentos em direção a garota. Era uma presa fácil.
O sangue se misturava com sua saliva enchendo sua boca, sua garganta fechou a obrigando a tossir, em um movimento em voluntario ela jogou seu peito para frente jogando o sangue de sua boca no chão. Ficando de joelho ela viu seu reflexo no chão ao lado da mancha vermelha. Com o olhar desviado da besta ela pode ter uma ação. Correndo o máximo o possível por entre as estantes de livros ela os lançava tentando retardar o lobisomem, entretanto por mais que corresse ela podia sentir seu hálito fedorento e quente nas suas costas e os seus olhos amarelos a perseguindo.


   Na sua frente apareceu uma janela de ladrilhos coloridos com a imagem do que parecia ser uma colheita.
  “Não tenho outra opção.” Disse a menina para si mesma, em seguida se chocando contra a janela. Os cacos de vidro brilhavam com a luz da lua enquanto cortava sua pele. Era uma lua grande e amarela. Seu peito subiu e desceu antes de soltar um grito de dor. Ela estava sendo puxada de volta para dentro pela perna. Sua cabeça bateu no chão da rua com o impacto de ter seu corpo puxando com tanta violência.
  “O que eu sou? Porque todos me odeiam? Eu já não sei se a escolha certa procurar minhas memórias. . . Eu só. . .eu só queria algo que me fizesse acreditar que não sou uma pessoa má.”
A besta levava o corpo para o fundo mais escuro da biblioteca a puxava com os dentes cravados em sua perna. A garota chorava de dor que sentia na perna e na cabeça, não podia aguentar por muito tempo isso. Pegando um dos cacos de vidro no chão e o segurando com todo sua força, ela mirou em direção a besta a enfiado no animal que soltava uivos roucos e monstruoso.fazendo com que a soltasse.
Sem se importar com a dor em sua perna e em todo seu corpo ela correu.

Correndo com apenas um par de sapatos em meio a rua úmida e fria tudo o que ela queria e se jogar em algum canto e chorar até suas dores passar, mas algo dentro de si mesma sabia que estava pagando por seus erros ainda desconhecidos.

Em uma rua havia dois homens parados eles não diziam nada e nem tinham feição alguma. Eram como máscaras. Eram dois bonecos que apenas respiravam. Eles assistiram toda a cena sem dizer ou fazer alguma coisa.
   Seu corpo estava pesando e já não aguentava mais correr quando escutou a respiração do animal com os olhos cheios de raiva correndo atrás dela.
  No meio da cidade tinha um rio de águas limpas que abastecia o vilarejo, que por conta da chuva da noite anterior o rio estava cheio e com a correnteza forte que levaria até um boi gordo se o jogasse.
Se aproximando do rio sem pensar duas vezes ela mergulhou nas águas congelantes.
   Por debaixo tudo era tão escuro e calmo que podia esquecer de sua dores, pelo menos por alguns instantes até seu corpo sentir a pressão da água congelando adormecendo seu corpo enquanto a correnteza a levava para longe. O frio intenso dificultava sua respiração, era como se blocos de gelo enormes apertassem impedindo que o ar saísse com leveza.
Ela se debatia contra a correnteza se sentindo sufocada, suas pernas começaram a adormecer e depois sua consciência foi se perdendo. Estava em um inferno gelado.
  De longe a besta acompanhava o corpo da jovem sendo levado sem se atrever a chegar perto do rio.

" Tenho que continuar viva. Eu quero viver"


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Notas finais do capítulo

Esse e o quarto capitulo, espero que vocês tenham gostado. É me avisem se encontrarem algum erro. Bjss



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