O absimo escrita por Gyane


Capítulo 4
Capitulo 3 - Será o fim?




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Acordei com o sol batendo sobre meu rosto na manhã seguinte. A cama ao meu lado estava vazia e arrumada o que indicava que deveria ser tarde.

Passei a maior parte da manhã trancada no quarto desfazendo as malas, gastei o dobro do tempo que necessitava para isso, mas a verdade é que eu não tinha muito que fazer. Quando eu finalmente terminei, desci para o café da manhã, a casa estava silenciosa e vazia, o que foi bom, eu não costumava ter um bom humor matinal.

Sentei-me à mesa quadrada que ocupava o centro da cozinha ampla e bem iluminada, e a analisei por pouco tempo os armários de madeira que ocupava quase toda a parede, a pia de inox ficava de frente para janela, do lado de fora o sol brilhava na sua melhor forma, radiando calor infernal para todos os lados. E eu comecei a sentir falta de um ar condicionado, aquilo me pareceu um utensílio indispensável naquele momento.

Obviamente não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento, nem próximos dias, eu imaginei o que Lauren faria no meu lugar, provavelmente milhares de coisas que eu era incapaz de pensar. Meus pensamentos se voltaram para o exato momento em que Lauren estragou minha vida dizendo a todos que eu era a única culpada por Sofia estar naquela situação. Eu sabia que o que havia acontecido com Sofia não havia explicação, mas as deduções de Lauren eram ilógicas, mas pareciam que todas as pessoas estavam pensando de forma irracional.

Suspirei fundo tentando esquecer meu passado nebuloso, eu estava longe dos olhares acusadores de Lauren. Isso me pareceu bom e triste ao mesmo tempo. Lauren e Sofia eram minhas amigas, eu sentia falta delas, até mesmo de Natiely e seu jeito esnobe me pareceu fazer falta naquele planeta verde que eu havia parado.

—Finalmente acordou. —Diana disse entrando na cozinha com um cesto de roupas sujas, seu olhar severo caiu sobre mim por um instante.

Isso me fez imediatamente me lembrar se Leda havia pegado as roupas na lavanderia, eu pensei em ligar para ela só para checar, afinal essas era uma das minhas “funções”, mas eu abandonei esse pensamento, de agora em diante minha vida era aqui, como ela havia escolhido, esse pensamento fez como que eu sentisse uma pequena pontada no coração. Eu sabia que não era exatamente assim, mas eu estava com raiva demais para desculpá-la.

—Não tem o que fazer? — Ela perguntou como se não fosse obvio.

Eu não queria conversar, eu não me importava com que ela pudesse pensar. Eu apenas queria fingir que ainda estava em casa.

—Seu pai vai providenciar uma vaga na escola, assim terá algo com o que se ocupar e não imaginar coisas...

Eu assenti com a cabeça, me recordando que o Sr. Vagner havia deixado bem claro que minha presença na Escola Roberto Alves já não era mais bem-vinda.

            —Agora acho que poderia procurar algo para fazer. — Ela disse deixando bem claro que minha presença no mesmo espaço que o dela era demais, eu tinha que concordar, era demais para nós duas.

            Sai para varanda e olhei sem animo a minha volta, aquilo era o pior tipo de pesadelo. Meus olhos pararam no paredão de rocha bem a minha frente. A frase de Emily voltou a minha mente “sempre há um corpo”,mordi meus lábios fortemente, decidindo ser era a coisa certa ou não a se fazer.  Mas era obvio que era a única maneira de provar que eu estava certa, que não havia imaginado nada no dia anterior.

Desci os degraus, o vento gelado me recebeu com uma lufada me fazendo estremecer. Olhei por alguns instantes para o topo do precipício e tentei calcular mentalmente a localidade do corpo, depois de alguns minutos de indecisão caminhei a passos largos para o outro lado da rua e adentrei a estreita faixa de mata aos pés do precipício.

O farfalhar das folhas secas era o único som que se ouvia ali. Não era uma sensação extremamente boa, tentei não pensar em nada que me fizesse desistir de meu plano, enquanto caminhava olhando atentamente em todas as direções, a floresta com suas árvores de copas enormes não permitia facilmente a passagem da luz, o musgo verde subia pelas rochas se misturando com moitas de samambaias.

 Parei diante da parede de rocha e erguei meu olhar para cima, me sentindo completamente minúscula diante da grandeza da natureza. Havia acabado de descobrir que não tinha o menor senso de direção, e que meu plano não parecia tão bom quando havia imaginado.

Olhei em minha volta sem saber para que direção seguir. Não havia nenhum sinal de presença humana por ali e comecei a me sentir uma idiota por estar fazendo isso. Esse sentimento foi interrompido quando um estalo alto de um graveto se partindo chegou até mim, amedrontada olhei a minha a volta atentamente, sons de folhas secas sendo esmagadas, soavam cada vez mais alto, como se estivesse aproximando-se.

Instintivamente recuei me aproximando mais das rochas, poderia ser um animal feroz, um animal feroz e faminto, aquele pensamento cruzou minha cabeça, fazendo meu estomago doer. Estreitei o olhar na direção do som abafado na esperança de ver algo mais a nevoa impedia.

Então tudo pareceu silenciar.

Fiquei parada por um ou dois minutos escutando apenas o som da minha própria respiração antes de voltar a minha busca.

 Depois de me certificar que estava realmente sozinha eu me virei para prosseguir, e senti um espasmo de medo se espalhar dentro de mim. Eu podia ter gritado, eu devia ter gritado, mas nenhum som saiu da minha garganta enquanto meus olhos fitavam incrédula uma velha senhora parada na minha frente segurando uma bola de cristal.

Quase que instantaneamente a imagem dela de dentro do avião surgiu em minha mente, fazendo meu estomago nausear. Eu não tinha certeza se aquela lembrança era real ou não, e não achei que naquele momento isso importava muito.

 Seus olhos extremamente azuis estavam colados sobre mim, e um sorriso de satisfação estampava seu rosto enrugado. Enquanto o pânico corria por minhas veias, se espalhando por todo o meu corpo.

—Não tenha medo. — A voz esguichada da mulher ecoou fazendo me fazendo estremecer.

— O quem é você? —Ouviu a minha própria voz, sem ter certeza que realmente tinha tido aquilo.

A velha senhora moveu a boca em resposta, mas nenhum som saiu dela. Eu estava preste a falar novamente quando senti uma dor lacerante atingir minha nuca, como se ela estivesse queimando, levei a mão sobre ela, meus dedos tocaram delicadamente minha marca de nascença e eu a senti totalmente gelada, como se houvesse uma pedra de gelo sobre minha pele.

—Relempemesporgati. – A velha gritou fazendo pular e me virar para ela, no momento em que fiz isso percebei que seus olhos outrora azuis estavam negros como a noite. Então como se eu tivesse sido petrificada assisti a velha se jogar de joelhos e ergue os braços para o céu gritando palavras totalmente incompreensivas mais que pareciam de puro desespero. Por um instante cheguei a acreditar aquela velha não passava de uma louca, mas assim que esses pensamentos cruzaram minha cabeça, ela ergueu seu olhar com a expressão furiosa e disse:

—Eu não sou louca.

Senti minha gargantasecar, a estranha sensação de que aquela mulher podia ler meus pensamentos não a ajudou em nada. Senti novamente uma pontada de dor sobre a minha marca dessa vez bem mais forte, fazendo meu rosto se contorcer em uma careta de dor.

— Você esta em perigo. – A mulher recitou e como flutuasse ela se moveu em minha direção, parando apenas alguns centímetros de mim, com uma precisão incrível ela segurou firmemente meu braço. Eu estava ficando apavorada.

—Deste de quando tem isso?— A voz da mulher soou ainda mais firme como se sua fúria crescesse a cada minuto que estava ao meu lado.

Eu olhei para o meu próprio pulso e meus olhos voaram para pulso da velha tentando imaginar do que ela estava falando. A velha bufou, então girou seu pulso para cima, deixando a mostra um pequeno símbolo do infinito o mesmo que eu carregava. Uma onda de pavor tomou conta de mim. O que era aquilo?

Senti como se cada célula do meu corpo estivesse sendo dominada pelo medo. Como ela poderia ter a mesma marca de nascença que eu? Qual era a probabilidade daquilo acontecer? Eram perguntas que eu não sabia a resposta, e tinha dúvida se queria saber.

—Deste de quando tem isso? – A velha repetiu novamente a pergunta, seus olhos pareciam que iam sair de orbita.

—Deste... Que nasci. – Gaguejei amedrontada.

—Aliester. – Ela gritou se afastando um pouco. Eu achei que era uma boa hora para correr, no entanto eu não sabia como. Eu estava completamente paralisada.

—Você é uma amaldiçoada. – Ela sussurrou tão baixinho que até cheguei a duvidar que realmente tivesse ouvido direito. – Uma maldição dos infernos. – Ela arfou dessa vez mais alto, seus olhos brilhavam do que parecia ser raiva. Lutei para encontrar o verdadeiro significado em suas palavras, mais tudo me parecia loucura.

— Você foi à escolhida para quebrar a maldição.

— Que maldição?

—A maldição das almas perdidas. – A velha sussurrou novamente como se contasse um segredo e depois voltou a falar em voz alta. – A libertadora da legião das almas perdidas.

— Você é a peça que faltava. – A velha começou a cantarolar e dançar em volta de mim. – Você é a peça que faltava. Você é a peça que faltava. – repetia sem parar como se tivesse hipnotizado. Eu não conseguia acreditar que aquilo realmente pudesse ter um bom final e tive certeza disso quando a velha senhora pareceu entrar em surto completo, olhando de um lado para o outro como se procurasse por alguém, então sorriu e deu três passos para frente e se voltou novamente para mim, que ainda assistia a tudo completamente imóvel, sem reação, sem saber o que fazer.

Ela se virou para mim, e tinha uma adaga na mão, não sabia dizer de onde ela havia tirado aquilo, no entanto não tive tempo para uma resposta. A velha sorriu deixando a mostra seus dentes amarelos, mas seu sorriso foi sumindo lentamente a medida que pressionava a adaga contra a palma de sua mão, pequenas gotas de sangue começaram a surgir deslizando pela palma branca e caindo entre as folhas secas no chão.

Levei a minha mão a boca sufocando um grito de horror à medida que o sangue escorria mais e mais, meu estomago contorceu violentamente, e eu recuei um passo para trás aterrorizada.

—Não faça isso. – Implorei, mas foi completamente ignorada. Logo o sangue jorrou em abundancia a velha olhou fascinada para o liquido vermelho escaldante, como se estivesse diante de um bote de ouro.

—Sua vida custara a de muitas. –Ela recitou erguendo a lamina da adaga coberta de vermelho, eu senti outra onda de enjoou, tinha quase certeza que iria vomitar. – Sua vida destruirá muitas vidas.

Assisti a cena diante de meus olhos tomados pelo horror, era como se estivesse presa entre a realidade e um pesadelo. Um pesadelo horripilante, tudo a minha volta parecia estar fora de foco, senti onda de tremor percorrer meu corpo.

—Não tenha medo. – A velha pediu sorrindo macabramente, enquanto lutava para forçar a minha mente apavorada a. Então a velha se aproximou, antes que eu pudesse recuar, antes que eu pudesse fugir, ela agarrou meu braço firmemente e puxou meu pulso para perto de sim, eu senti o sangue dela colar na minha pele, eu deixei um grito pavor escapar de seus lábios.

—Nunca mostre isso para ninguém. – A velha prosseguiu como se não tivesse ouvido meu grito, como se não pudesse ver o medo estampado no meu rosto. — Não mostre a ninguém, entendeu?

Concordei com um aceno de cabeça sem saber exatamente do que ela estava fazendo.

— Agora preste atenção. — A velha olhou ao redor como se tivesse medo ser ouvida. — Eles estão atrás de vocês, eles querem vingança, não se deixe enganar. –Ficou em silencio por um longo instante olhando para mim, tudo que eu queria era fugir, mais eu não conseguia me mover. —... Eles querem te pegar. — Ela murmurou

—Eles quem? –Eu reuni toda a coragem que tinha dentro de mim e perguntei, no entanto era tarde demais para perguntas.

A velha levou a mão à cabeça como se um dor terrível a atingido, os cabelos brancos ficaram ensanguentado provocando outra onda de náuseas. Eu definitivamente estava passando mal agora.

—Eu vou acabar com você. – Gritou quando ergueu a cabeça novamente. Eu dei pulo para trás recuando e fitei a velha senhora, não havia nenhum traço no seu rosto que não dizia que ela não seria capaz de fazer isso.

Eu tentei fugir, avancei sobre o percurso percorrido até ali na tentativa de escapar, mas foi totalmente em vão, antes que eu pudesse dar dois passos senti as mãos frias de a senhora agarrar firmemente meus tornozelos, me jogando no chão. Tentei imaginar aonde ela tiraria tanta força. Mas eu já estava sendo arrastada de volta para trás, lutei para me libertar, tanto chutes e pontapés, mais ela era incrivelmente forte, minhas mãos grudaram a uma raiz que se sobressaltava do chão mais essa se cedeu facilmente.

Olhei sobre os meus ombros e pude ver o sorriso perverso brilhar nos lábios murchos como se ela se divertisse com a situação. Virou novamente para frente obrigando a pensar em uma saída no meio do pânico, eu tinha que fazer alguma coisa, meus olhos pousaram sobre um pedaço de -galho partido no chão. Meus dedos o grudaram fortemente e mantive pressionado contra o meu peito. A velha senhora deu um último puxão pelos pés ficando em cima de mim.

—Acabou para você. – Ela disse enquanto virava com um pontapé. Eu estava atordoada demais pra sentir a dor. Girei meu corpo rapidamente e arremessei o pedaço de pau na minha mão violentamente contra a cara da velha que cambaleou para trás.

Aproveitei o momento, e me levantei de um pulo e comecei a correr entre as arvores altas e sombrias. Corri. Corri o mais rápido que podia. O mais rápido que minhas pernas trêmulas me permitia. Queria resistir o impulso de olhar para trás, mas eu precisava garantir que não estava sendo seguida, eu não sabia para onde estava indo, as arvores foram diminuindo, eu lancei mais uma olhada para trás, não havia sinal algum de estar sendo seguida, era como se ela tivesse desaparecido, mas mesmo assim minhas pernas se recusavam a parar de se mover, então eu senti meu corpo colidir com outro, duas vezes mais forte do que eu, me fazendo cambalear para trás. Assustada eu ergui minha cabeça para me deparar com um garoto alto, de pele morena e cabelos bagunçados, ele usava um camisa branca e parecia tão surpreso quanto eu.


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