Gabriele e Tomas escrita por Pirra08, Villen


Capítulo 3
Capítulo 3




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Por volta do meio dia Gabriele voltou para casa bem animada, e se sentindo melhor do que quando saíra mais cedo. Estava tão feliz por tudo estar caminhando que pensou até em fazer um bolo de cenoura com cobertura de chocolate quando chegasse. Mas toda a sua alegria foi por água abaixo ao chegar na porta de casa e encontrar uma ambulância estacionada. Exasperada, ela corre pra dentro de casa se perguntando: Meu Deus, o que estava acontecendo?

Ao entrar na casa ela se depara com dois socorristas debruçados por cima de uma mulher que respirava ofegante. Quando ela se aproxima para ver quem é, sua mãe sai da cozinha correndo e diz:

— Enfim chegou querida, a Ilda veio pedir ajuda aqui por que não estava se sentindo muito bem, mas quando chegou aqui ela piorou. Preciso que você ligue para o Tommy e avise a ele sim? Por favor, meu anjo. Depressa.

— A-ah, claro. Está bem mamãe.- Ainda nervosa mas meio aliviada por não ser ninguém da família, ela discou o número que prometeu que não mais discaria. E ela realmente não iria se naquele momento não fosse necessário, mas a mãe dele precisava do filho.

Do outro lado da linha Tomas atende ao telefone:

—Alô?

—Tomas, preciso que venha para a minha casa. A sua mãe não se sentiu bem e veio até minha casa para pedir ajuda para a minha mãe, mas ela ficou ainda pior e minha mãe chamou uma ambulância.

— O que? Quem está falando? Para a casa de quem a minha mãe foi?

— Calma, desculpe. Sou eu, a Gabriele. Ela procurou minha mãe, vamos levar ela ao hospital do centro, você pode nos encontrar lá certo?

— Sim, vou agora.

Assim que os telefones se desligaram, nenhum dos dois conseguia acreditar que haviam acabado de conversar mesmo que sob algumas circunstâncias ruins. E agora seus números estavam na lista de registros um do outro. Mas agora não era a hora certa para devaneios e palpitações. Gabriele seguiria para o hospital com a ambulância e deixaria a mãe tomando conta da casa, enquanto Tomas seguiria para o hospital após avisar ao chefe que sua mãe não estava bem.

Depois de algum tempo Gabriele estava no hospital e agora faria de tudo para ajudá-lo. Enquanto esperava por Tomas, resolveu dar uma olhada nas documentações da clínica por lá mesmo, já que era tudo tão perto e ela poderia trabalhar pelo notebook.

Com alguns minutos de diferença, Tomas chega ao hospital e trata logo de se informar onde ele pode encontrar sua mãe. Ela estava no 2º andar- Sala 12 ,de acordo com a enfermeira. Assim que o elevador chegou, ele caminhou apressado, com ansiedade e medo do pior.

Quando o elevador se abriu e ele saiu, ele avistou alguns passos a frente uma moça de cabelos ondulados deixar o notebook encima da cadeira e ir em direção ao bebedouro. Ele a reconhecera facilmente. Mesmo a Gabi de agora tendo uma aparência totalmente diferente da que ele conhecera, certos hábitos haviam permanecido. E um deles era o modo que ela brincava com a pontas do cabelo. Ela estava bebendo água enquanto tinha nos dedos alguns fios de cabelo, que ela teimava em enrolar e enrolar.

Ele só queria que ela lhe deixasse explicar tudo. Sabia que ela estava machucada, de coração partido e só Deus sabe como ele se culpou por isso, nos anos que se passaram com ela em Londres. Mas ele havia ido até a casa dela justamente por isso, para pedir perdão. Por não estar ali e acabar com a palhaçada que armaram para ela. Mas como nem tudo na vida é como se quer e espera, ele logo concluiu que teria que reconquistar sua amada aos poucos novamente. Mas não agora, o foco agora era saber como estava a saúde de sua mãe.

Ele então foi em sua direção para perguntar o estado de dona Ilda, quando ela se virou falando:

— Tomas, que bom que está aqui. Me desculpe assustar você ao telefone. Sua mãe só teve um início de enxaqueca, mas nem eu nem minha mãe sabíamos que a enxaqueca dela era tão forte assim, então chamamos a ambulância. Não se preocupe pois ela já foi medicada e está em repouso. Você está bem?

Ele não conseguira responder. Tudo que ele podia fazer no momento era observar os detalhes de seu rosto. Os olhos brilhantes e compreensivos, as bochechas rosadas e os lábios cheios e convidativos. Por nenhum momento sequer Tomas havia deixado de amar Gabriele. Mesmo quando ela se afastou, mesmo quando ela foi embora. Quando souberam que Gabriele havia viajado, as meninas caíram encima dele como abutres, mas ele rejeitava a todas afirmando que estava namorando.

E por esses quatro anos ele esperou e esperou, mas agora ele estava ali parado em sua frente e suas ações diziam que ela não o queria mais. Não tinha interesse nenhum nele. Ao menos era isso que ele pensava. Gabriele também não conseguia desviar o olhar de Tomas. Seus olhos castanhos, seu cabelo curto, as covinhas que se formavam quando sorria. Ah como ela amava aquelas covinhas. Ela fora bem áspera e fria com ele logo cedo, é verdade. Ela sabia disso, mas naquele momento ela se deixara levar pela mágoa e pela raiva. Ela ainda o amava, mesmo que sofresse por isso.

— Estou melhor agora. - ele começou, se sentando em uma das cadeiras- Obrigado por cuidar dela, ontem nos brigamos e...- foi ai que ele estancou, com a voz embargada. Tomas não

conseguiu segurar o choro e desabou. Gabriele sem saber o que fazer para conforta-lo, passou a mão por seus ombros trazendo sua cabeça de encontro a seu ombro.

"Nunca o tinha visto assim"- ela pensou.

— Mantenha a calma Tomas, ela está bem.

Mas ele não chorava por sua mãe. Sua mãe sempre tivera essas crises e sempre voltava com muito mais energia. Ele chorava por ela. Só por ela. Ele nunca havia se imaginado desse jeito, chorando por uma garota. Mas ele amava Gabi demais para continuar longe dela.

— É, Gabi. Você está certa.- ele suspirou, se afastando um pouco.- Tenho que me recompor, volto logo.

Enquanto ele se dirigia ao banheiro ela chamou seu nome:

—Tomas!

Ele virou e ela se aproximou dele, dando-lhe um forte e aconchegante abraço.

— Não precisa se recompor, vai ficar tudo bem, estamos aqui para ajudá-la.

Ele a apertou contra si, desfrutando do calor que ela emanava. Era muito bom poder abraçá-la novamente, sentir seu cheiro, seu corpo. Mas assim como tudo que é bom dura pouco, ela se desvencilhou delicadamente de seus braços:

— Me desculpe Tomas, mas já que você chegou eu preciso ir. Ainda tenho que enviar alguns documentos, e ir para casa dormir pois amanhã depois do trabalho tenho uma reunião. Tudo bem se eu for?

— Sim, claro, obrigada por tudo, por cuidar dela, por me compreender e... por me abraçar. Apesar de tudo, me desculpe por tudo e obrigada.

—Não se preocupe, faria com qualquer um que precisasse.

Mas não era verdade. Aquela frieza era uma máscara, e aquele abraço significou tudo. Só que ela não daria o braço a torcer, ela não era assim, não mais...

Tomas se entregou totalmente àquele abraço de Gabriele. Enquanto a abraçava, ele se sentiu mais feliz do que nunca em quatro longos anos. Mas depois do abraço, as palavras de Gabriele o fizeram querer que o mesmo não tivesse acontecido. Embora ela tivesse tentado escolher melhor as palavras, ainda havia soado bem fria. Então ele realmente não tinha mais nenhum significado para Gabriele? Ele estava confuso e se sentindo ainda pior. Aquele "faria por qualquer um que precisasse" haviam sido como uma faca atingindo seu coração. Então tomado pela confusão e a angústia, ele disse:

—Você faria por qualquer um? Então não signifiquei nada? Nos conhecemos a muito muito tempo e você vem e usa palavras assim tão duras?

—Ah por favor, Tomas. Eu disse isso sem intenção de ferir seus frágeis sentimentos. O que falei é verdade. Eu faria e faço com quem precisar, pois há momentos na vida que um abraço de

conforto é melhor que mil palavras. Pare de drama, você não é mais criança. - Ela sabia que depois de tantas palavras duras ela choraria, mas não seria na frente dele. -Preciso ir, tenho compromissos e você já esta com a sua mãe. Ela ficará bem Tomas, não se preocupe. Pode contar com minha amizade sempre.

—Desse jeito? Não, obrigado.- ele agora estava sendo grosso embora não quisesse e não fosse aquilo que ele planejava, mas Gabriele estava sendo dura demais.

—Você é quem sabe. É tudo o que restou de mim e é o que você poderá alcançar. Agora se me der licença, preciso ir.

Gabriele saiu de perto andando apressada. Sequer olhou para trás para que a vontade de pedir perdão por ter sido tão rude não tomasse conta dela. Tomas ficou observando-a a espera do elevador, pensando: "Eu deveria confrontá-la. Deveria tomá-la em meus braços e obrigá-la a me ouvir, deveria beijá-la..."

Mas ficar pensando assim não daria em nada, sua doce e frágil menina não estava mais ali. Em seu lugar havia uma mulher decidida, forte e que sabia se impor e dizer palavras duras. Ele iria ter um trabalho enorme em reconquistar sua confiança, sua amizade verdadeira....seu amor. Mas ele não desistiria tão fácil.

Dona Ilda despertou do repouso no hospital e ao olhar ao redor, viu seu filho sentado em uma poltrona. Mas seu rosto evidenciava tristeza. Muita tristeza. E coração de mãe percebe as coisas rápido, logo ela sabia que ele não estava daquele jeito por sua causa. Mas mesmo assim resolveu falar:

—Tommy querido, estou melhor, não fique triste.

—Ah mãe,- ele levantou a cabeça - que bom que a senhora acordou. Que belo susto em dona Ilda? Por que não me ligou em vez de ir para a casa da dona Aura?

—Tommy por favor, o que era mais rápido? Te ligar e esperar ou ir na vizinha mais próxima a nossa família e pedir ajuda?

Ele meneou a cabeça. Não iria começar a discutir com sua mãe recém recuperada, mas ele preferia que ela tivesse ligado pois assim teria evitado o abraço enganoso e as palavras duras.

—Está certo mãe. Me desculpe por termos discutido ontem. Fui um tolo.

— Esta tudo bem amor, logo mais estaremos em casa novamente e farei pra você uma comidinha bem especial.

—Nada disso. Nós comeremos fora hoje e a senhora vai descansar, está bem?

Ela assentiu e então eles passaram a conversar sobre a saúde dela, do dia deles e de como as coisas deveriam ser diferentes dali em diante.


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