Scorpius Malfoy

Eu estava deitado na minha cama e queria amaldiçoar qualquer que fosse o ser ou entidade que controlasse a minha vida.

Rose Granger-Weasley me destruía, me quebrava como ninguém. Para que inimigos quando a sua melhor amiga (e, ao mesmo tempo, amor da minha vida) te tortura lentamente sem saber?

Eu sou completamente apaixonado por essa ruiva, a Rainha dos Corações Partidos. É irônico que Rose sempre saia do seu relacionamento com o coração em caquinhos enquanto quebra o meu cada vez mais toda vez que aparece com outro, e diz que esse finalmente será a sua alma gêmea.

Ela diz que tem certeza de que aquele é diferente dos outros, e mesmo que eu saiba que nunca é, concordo com ela, fingindo um sorriso. Sei que é melhor assim. Toda vez que um daqueles babacas quebra seu coração, Rose volta correndo para mim, com lágrimas nos olhos e os restos do seu coração na mão. Seus olhos transmitiam seu sofrimento, como se perguntassem se eu tinha visto uma cola por ali para colar os pedaços do seu coração partido.

E eu sei que eu serei sempre o otário que vai abrir a porta no meio da noite, deixando-a entrar e passar a noite. Sei que ela vai me abraçar, e pedir para dormir ao meu lado na cama, por medo de ficar sozinha, e sei também que sempre vou dizer que sim. E no dia seguinte, ela irá me abraçar na porta, agradecer-me por ser um amigo.

E uma semana depois ela chegará com outro cara, dizendo que eles certamente tinham sido prometidos um para o outro. Outro Bryan, outro John, outro Daniel, outro Jack.

Eu fecho os olhos e deito a minha cabeça no encosto do sofá quando escuto a campainha tocar, e imediatamente já sei que é ela. Rose. Me preparo emocionalmente para vê-la sofrendo, e quando abro a porta e me deparo com aqueles fios de cabelo vermelhos bagunçados, as lágrimas nos olhos e maquiagem borrada, tenho a impressão de estar tendo um déja vu.  

— Scorp... Eu... - a voz de Rose estava embargada. 

— Pode entrar. - eu adianto, e Rose tenta sorrir, agradecida, mas tudo que sai é uma careta. Não consigo deixar de notar que, mesmo chorando e fazendo uma careta, ela continua linda. Tento tirar esse pensamento da cabeça o mais rápido possível enquanto fecho a porta do meu apartamento e a sigo em direção ao sofá da sala, onde eu estava antes. - Rose. O que aconteceu?

Eu sabia muito bem o que tinha acontecido. O último dos caras que Rose tinha certeza de que era sua alma gêmea, Josh, fez alguma coisa. Terminou com Rose, a traiu, ou algo assim. Eu já estava acostumado. No início, ficava até surpreso com as histórias absurdas que Rose contava (ou que a sua longa lista de ex-namorados tinha contado a ela), mas agora não me surpreenderia nem mesmo se Rose me dissesse que tinha pego o ex no flagra em um ménage. Não que essa possibilidade seja tão absurda. Pode até ser que tenha sido isso que de fato aconteceu. 

— Joseph, ele... - Ah. Joseph, não Josh. Eu não fazia questão de decorar o nome dos ex-namorados de Rose, e eu estava realmente surpreso por ter chegado tão perto de acertar. - Ele está com Dominique agora. 

Arregalo os olhos. O ex-namorado de Rose estar com Dominique era uma possibilidade mais absurda do que Rose tê-lo pego na cama com outra (ou outras). E era ainda pior. Dominique era prima de Rose, e quase todas as outras garotas da família (exceto, talvez, a irmã de Dominique, Victoire) a invejavam, a usavam como exemplo para tudo. 

Dominique era inteligente, bonita, simpática e alegre, até mesmo os nossos pais diziam, mesmo que não na nossa frente, que desejavam que suas respectivas filhas fossem "tão graciosas quanto Domy" ou "tão perfeitas e bonitas quanto a filha caçula dos Dellacour". Chegava a ser irritante, principalmente para Rose, que nunca foi "a bonitinha". Eu a achava linda, com os seus cabelos ruivos voando enquanto estava em cima da vassoura, jogando quadribol, mas a sociedade achava bonitos e adoráveis cabelos compridos loiros, saltos altos, vestidos "femininos", lábios vermelhos e maquiagem no rosto para cobrir aquilo que era considerado imperfeição.

Eu gostaria de dizer a Rose que ela era mais linda que Dominique ou qualquer garota, para mim. Que eu não trocaria o vermelho vivo dos cabelos ou o verde dos olhos dela por nenhuma outra cor - essas já tinham se tornado as cores da minha vida, de tanto que eu as amava. Eu gostaria de dizer a Rose que muitas pessoas achavam o seu jeito muito melhor e muito mais adorável do que a perfeita Dominique Dellacour Weasley.

Mas eu não podia dizer aquelas coisas. Na realidade, eu já havia dito a maior parte dessas coisas a ela, mas o que eu podia fazer se ela não acreditava? Rose não queria acreditar nisso, e eu não podia obrigá-la. Não podia abrir os olhos dela e mostrar que eu estava bem ali, e que ela não precisava sair todos os dias tentando agarrar o primeiro cara que visse - o que aconteceria rápido, já que Rose é estonteante, e tira o brilho de qualquer outra, mesmo que não perceba isso.

Quando saio do meu transe, vejo que Rose já está levantando do sofá, onde estava deitada ao meu lado. Levanto e a sigo, enquanto ela pega o sobretudo que usava, cobrindo a roupa amassada da noite anterior.

— O que você vai fazer? - pergunto, com os olhos fixos nas costas dela.

— Vou para casa, Scorp. Acho que eu preciso de um tempo sozinha. Solidão, músicas depressivas e alguns potes de sorvete podem servir como cola para um coração partido, não podem?

Fecho os olhos e tento impedir as lágrimas de caírem deles. Eu estava ali, parado olhando para ela, e a cola em minhas mãos provavelmente estava invisível para ela.

— Rose! - eu seguro o braço dela, que estava abrindo a porta. - Eu estou aqui. - eu digo, e quando Rose olha para mim, confusa, respiro fundo, pronto para deixar todas as palavras que estavam presas em minha garganta há tanto tempo saírem. - Eu estou aqui para você, sempre estive. Eu te amo mais do que tudo. Eu preciso de você, Rose Weasley. Me deixe tentar colar o seu coração partido?

Rose encolhe os lábios e uma lágrima escorre pelos seus olhos. Ela está me encarando, e eu estou me sentindo nu ali. Mostrando a minha alma, me ajoelhando para ela. Eu faria qualquer coisa por ela, e lá estava eu, falando as coisas que eu nunca pensei que fosse falar, por um impulso. Eu precisava de Rose ali, comigo, e não da mesma forma de sempre.

— Mas... Você promete que não vai partir o meu coração ainda mais? - Tenho vontade de rir, por causa da certeza de que, se eu não a tivesse impedido de ir embora, ela teria arranjado outro cara babaca e o seu coração teria se partido ainda mais do mesmo jeito. - Você é o meu melhor amigo, Scorp. É para você que eu ligo quando o meu coração se parte. Se você partir meu coração, eu não terei nem mesmo a certeza de que você estará aqui, me esperando, de braços abertos. Scorpius, se você partir meu coração, se eu não puder correr para os seus braços, eu não vou ter nada, não vou ter ninguém.

E é aí que eu entendo o medo de Rose. Eu sou a casa dela. É para mim que ela volta sempre que se sente em perigo, sempre que não tem onde se apoiar. Se me perdesse, ela teria perdido todo o apoio, e não estaria apenas com o coração partido. Ela estaria com a alma partida.

Eu sorrio, mesmo que seja um sorriso um pouco triste, por eu não gostar de vê-la chorando, por eu não gostar de vê-la tão indefesa, simplesmente pelo fato de eu saber que ela é mais forte do que qualquer pessoa que eu já tenha visto.

— Rose Weasley, por algum acaso eu já não estive aqui para você? Eu nunca vou sair do seu lado, Rose, não importa o que aconteça. Ver essas malditas lágrimas escorrendo parte o meu coração, então, por Merlin, como eu poderia ser o causador delas algum dia?!

Sem que eu esteja esperando, Rose pula nos meus braços, e aperta a minha nuca, puxando meus cabelos de leve. Em um primeiro momento, eu fico surpreso, sem ter reação alguma, mas depois de alguns segundos, eu apenas seguro a cintura dela, acariciando-a, e amando-a. Como Rose poderia pensar, mesmo que por alguns segundos, que eu algum dia poderia conseguir quebrar o coração dela?

Se Rose ficasse com medo de - sei lá! - ver uma maldita barata no chão da cozinha, o meu coração ficaria apertado por vê-la ter medo de algo! Como eu poderia ao menos pensar na possibilidade de deixar o coração dela quebrado, deixá-la sem ter um lugar para o qual voltar, deixá-la sem ter um lugar para que seu coração fique aquecido?

Eu nunca quebraria o coração de Rose Weasley, porque um ciclo vicioso tinha acabado naquele momento. Rose Weasley não recebia mais o título de Garota do Coração Quebrado, nem o de a Garota que Quebrava Meu Coração Todos os Dias.