Narrado por Regina

A passagem pela mata havia sido tranquila, apesar de ainda podermos ouvir os ecos de um luau ao longe, acho que até o toque de recolher da mãe de Killiam tinha exceções no final de semana. Acreditem se quiser, mas eu não derrubei nada e nem ninguém precisou me guiar por entre as folhas, apesar de que eu daria tudo para sentir Emma segurando meus braços de forma protetora, mas ela ia à frente concentrada ou me ignorando o que era mais provável.  

Definitivamente tenho que admitir que os tênis eram calçados mais adequados para esse tipo de aventura. E o melhor de tudo que me deixou mais animada para essa noite que começava é que não tive os ataques de histeria de Belle em cima de mim me deixando mais ansiosa do que eu já me encontrava.

Apaixonei-me pelo lugar antes mesmo de chegar nele. Ainda na traseira do jipe eu admirava a construção iluminada nas pedras. Killiam disse que nos levaria em um bar novo dessa vez, e nossa. Ficava no final de uma praia que eu imagino ser a continuação da praia do acampamento que a gente não tinha acesso por conta das formações rochosas que bloqueavam nossa saída daquela área.

O bar todo de madeira pintada de branco era uma área imensa fechada pelos lados que davam para a rua e do outro lado era cercado pelas rochas que formavam um paredão até o mar. A música era ouvida de longe e já fazia efeito em minhas veias.

Diversos varais espalhados por todos os lados estavam carregados de lâmpadas nas mais diversas cores que hora ou outra piscavam de acordo com a batida musical. Eu mal podia esperar para descer daquele carro, nunca havia me sentido tão afoita para uma festa, o que no mínimo é de se estranhar.

O carro mal parou na rampa alta e já estávamos a caminho da entrada, percebi que a animação não era só minha, nenhuma das garotas esteve aqui antes e estavam tão eufóricas como eu. Nem demos atenção a Killiam que saiu depois de desistir de chamar nossa atenção.

Assim que entramos a música me preencheu com tudo. E eu queria desesperadamente rir porque era exatamente o tipo de música que minha mãe abominava o que me fez amá-la ainda mais.

Como na outra noite Ana saiu para um lado diferente do nosso, mas o restante de nós permaneceu junto. A entrada nos dava direito de beber o que quiséssemos lá dentro e eu queria beber alguma coisa. Uma vez na vida não deve fazer mal.

—Alguma coisa meninas? – Um garçom chegou perto da gente com uma bandeja cheia de drinks coloridos e cada uma pegou um dando até briga entre Dot e Belle porque aparentemente só tinha um sex on the beach. Levantei meu braço e peguei um copo azul e todos os olhares se viraram para mim.

—O que foi? – Perguntei me encolhendo e trazendo o copo para mim como se ele pudesse me proteger daqueles olhares.

—Achei que não bebesse. – Belle me disse esquecendo-se de sua bebida que foi tomada por Dot. Somente encolhi meus ombros.

—Tem certeza disso Regina? – Elsa perguntou receosa e com olhar preocupado como se aquela bebida fosse um monstro prestes a me atacar.

—O que pode ter demais em um drink? – Perguntei não entendendo qual era a delas. Todas bebiam, por que eu não poderia?

—Bom, aí tem licor e vodca. – Emma disse apontando para meu copo. E daí que tivesse licor e vodca? O dela tinha mato dentro e eu não estava falando nada.

—Deixem a garota – o garçom disse – você fez uma boa escolha, o Lagoa azul é a bebida para quem quer se libertar, se divertir como se a vida fosse férias no caribe. – Ele disse olhando para mim e logo saiu. Emma levantou uma sobrancelha atrevida para mim como se dissesse “tem certeza?” e juro que só por causa disso eu vou tomar quantos desse eu quiser.

                Quando levei o copo à boca ignorando qualquer aviso elas deram de ombros e foram se alocar em umas mesinhas que ficavam em um deque que tinha vista para o mar. Senti o liquido passar pelas minhas papilas gustativas e descer por minha garganta. Céus. Seco e ao mesmo tempo vibrante. Aparentemente gaseificado com um toque de limão. O garçom estava certo, era como férias no caribe porque senti o ânimo percorrer minhas veias no mesmo instante. Ou era efeito do álcool, vai saber.

                Sorri indo de encontro às garotas que se dividiram entra umas banquetas altas e o próprio beiral do deque. Eu queria dizer o quanto aquilo era perigoso, mas no segundo em que vi o mar lá em baixo que mesmo à noite era cristalino e refletia as luzes do bar eu simplesmente fiquei sem fala. Tinha como esse lugar ser mais perfeito? Claro que o destino nunca conspiraria com minha felicidade momentânea e meu momento interiorização foi interrompido pela conversa das garotas.

                _Loirão – Dot olhou para Emma – você não para de atrair todos os olhares. – ela disse como se fosse uma confidência e todas olharam ao redor, inclusive eu, e pudemos ver o que a garota do Texas estava falando. Alguns caras viraram a cara rapidamente ao serem pegos no flagra e as garotas, pasmem vocês, continuaram encarando. As meninas assoviaram, Emma corou e eu dei outro gole generoso em minha bebida ignorando a ardência que isso causou em minha garganta.

                _Será que Mérida vai estar aqui hoje? – Belle perguntou sugestivamente no que Emma deu de ombros. E eu? Bem, eu esvaziava meu copo com certa avidez já mirando outro na bandeja de um garçom que se aproximava.  Será que isso e normal?

                Narrado pela Autora

                A noite continuava entre idas e vindas das garotas que dançavam ou ficavam com alguém e sempre voltavam para a conversa. Regina dançou algumas vezes com as meninas e virava um copo de bebida atrás do outro. Emma continuava serena com todo seu brilho sentada no beiral enquanto conversava e ria abrindo um buraco no peito de Regina cada vez que fazia isso.

                Emma ainda estava chateada pelos acontecimentos da manhã e sabia que tinha que tratar de seus problemas com maturidade e conversar com a garota por quem se apaixonou. Mas nesse momento tudo que conseguia fazer era mostrar para a morena que sua atitude não havia a afetado em nada o que estava gastando todas as suas energias já que era uma grande mentira. Se tinha uma coisa que Emma estava nesse momento era afetada. Afetada principalmente pelos olhares que Regina despertava em outras pessoas e a loira tinha que ignorar enquanto sua vontade era de voar na pessoa e socar a sua cara, sendo mulher ou homem.

                A morena sentou-se no perto da loira no momento em que suas pernas já na aguentavam mais ficar de pé o que foi completamente uma má ideia pois desequilibrou-se na mesma hora, mas ao mesmo tempo pareceu ser uma boa ideia pois pode sentir os braços de Swan em volta de si a amparando recebendo, contudo, um olhar severo da loira.

                _Chega de bebidas para você Regina. – Disse com uma carranca. – Eu poderia não estar aqui para te segurar.

                _Estaria fazendo o que se não estivesse aqui? – Completamente alterada pela grande dosagem de álcool em seu organismo Regina replicou decidida a não deixar ninguém controlá-la. Obviamente a bebida inflou uma coragem até então desconhecida por ela. – Eu não preciso de babá só para você saber. – Emma fuzilou-a com o olhar, mas na teve a chance de retrucar.

                _Emma poderia estar beijando aquela morena arrasa todos os quarteirões ali. – Todas as meninas viraram na direção em que Dot apontava com a cabeça – Ela está comendo a essa criatura com os olhos há horas. – Riu enquanto a loira ruborizava.

                Emma levantou a cabeça e olhou para a garota que lhe encarava descaradamente e lhe deu um sorriso tímido fazendo a veia na testa de Regina pulsar quase dolorosamente.

                _Acham mesmo que eu devo? – Emma perguntou às garotas, ela não queria ficar com a menina, queria irritar Regina e manter seu plano de mostrar o quão bem estava em ação – Ela é meio... vulgar. – Seu braço ainda pousava na cintura de Regina e nenhuma das garotas parecia querer mudar a situação.

                _Pelo amor de Deus Emma! – Belle gritou atraindo a atenção de algumas pessoas em volta. – Você está pensando em casar com a menina? É só dar uns beijos mulher. E ela tem um corpão.

                _Tá dando para ver bem o corpo dela Belle. – Disse mordendo o lábio inferior em um sorriso quase safado arrancando risadas de suas amigas. Foi demais para Regina que se levantou rapidamente retirando o braço de Swan de sua cintura. A morena pediu licença dizendo que ia ao banheiro. Emma ficaria com aquela garota bem na cara de Regina? Ela não podia acreditar. Com uma visão periférica que até agora não sabia que tinha, Regina pode ver quando a loira levantou da bancada dando seu copo para Elsa segurar enquanto recebia aceno positivo de Belle.

                A morena se escondeu atrás de um tablado de madeira e se encostou a ele. De repente toda àquela bebida tinha lhe subido a cabeça deixando-a totalmente tonta. Ela não sabia se estava mais com vontade de vomitar ou chorar. De onde estava via de relance a outra morena com suas curvas exuberantes saindo da pouca roupa que mal a cobria. Um nó subiu em sua garganta.

                Sua respiração se acelerou e ela forçou as lágrimas para ficarem atrás de seus olhos. Olhando de relance para o lado viu quando Emma desviou de um grupo que dançava forçando-a passar perto de onde Regina estava. Antes que a morena soubesse o que estava fazendo ela puxou a loira pelo braço assustando-a, mas ela não se importou. Não quando todos os seus nervos estavam à flor da pele. Não quando ela encostou a amiga na parede à frente do tablado que estava encostada alguns segundos antes. Não quando ela queria fazer com que Emma entendesse que se ela fosse beijar alguém essa noite, esse alguém era Regina Mills.

                Narrado por Emma

                Eu sabia que a garota me olhava há horas, mas ela não me atraía em nada. Ela tinha um corpo bonito? Sim e em outras circunstâncias eu teria aproveitado, mas ela não era a morena que eu queria. Ela não era Regina. E por falar nessa destruidora de corações lésbicos ela saiu tão rapidamente do meu braço que eu achei que ela ia me derrubar da bancada.  

                Além dela não gostar muito de ter amigas lésbicas ela não gosta muito de papos que envolvam lésbicas. Suspirei fundo vendo-a se afastar e para minha noite não ser uma total decepção eu iria encarar a morena saidinha, o que não seria muito sacrifício no final das contas.

                Entreguei meu copo a Elsa e recebi um aceno muito animado de Belle que eu resolvi ignorar o porquê e me coloquei em direção àquela garota que em breve eu descobriria o nome, ou não. Sorri internamente com meu pensamento que foi brutalmente cortado quando senti alguém puxar meu braço com violência e me encostar a uma parede sem qualquer delicadeza.

                Eu já ia protestar e reagir contra esta agressão quando meus olhos focaram na figura que fazia isso. Meu coação pulou duas batidas quando dei de cara com as duas bolas amendoadas de Regina a minha frente. A garota estava perigosamente perto de mim e eu podia sentir o coração dela bater contra o meu próprio peito bem como eu podia sentir seu hálito e sua respiração em meu rosto.

                Regina era um pouco mais baixo que eu e quando recuperei meus sentidos devolvi o olhar que ela me dava. Tentei me desvencilhar de seu corpo, mas eu descobri que ela era forte o suficiente para me prender ali e eu não queria machucá-la. Resolvi então esperar pelo seu próximo passo. Demons do Imagine Dragons ecoava pelos autofalantes o que fazia com que o momento ganhasse uma aura completamente diferente. Fechei meus olhos ouvindo aqueles versos estridentes “Quando você sentir o meu calor olhe nos meus olhos. É onde meus demônios se escondem. É onde meus demônios se escondem. Não se aproxime muito. É escuro aqui dentro. É onde meus demônios se escondem”. Como se a música tivesse algum poder sobre mim abri meus olhos para encarar os de cor amêndoa mais uma vez.

                Eu queria desvendar os demônios que estavam por trás daquelas orbes apaixonantes. Senti nossos corações dançando a mesma dança, pulsado na mesma batida e tudo que eu mais queria era livrar meus braços do aperto de Regina e tomá-la para mim em um beijo avassalador. Mas Regina estava bêbada, e eu não era dessas. Continuei tentando controlar minha respiração, e dizer isso como um mantra em minha cabeça. Mas a verdade mais pura de todas era que eu não sabia se depois de beijar Regina eu iria conseguir suportar sua rejeição no outro dia.

                _Regina – tentei recobrar sua razão já que ela se aproximava lenta e perigosamente de mim – você está bêbada.

                _Não. – Ela disse com a voz embolada. Seus olhos brilhavam e eu não sabia se ela estava feliz ou prestes a chorar.

                _Sim. Você bebeu demais e vai se arrepen...- eu não consegui completar minha ideia porque sua mão veio para o meu rosto, seu polegar pousou em meus lábios para me silenciar enquanto seus outros dedos se espalharam em minha bochecha em um gesto tão íntimo e delicado que meus próprios olhos marejaram.

                _A vida é muito curta. – ela disse com a voz embargada e um pouco mais lenta que o normal – E devemos ser quem somos. E devemos beijar as garotas que queremos beijar. – E eu sei que ela está bêbada, mas não pude impedir meu coração de chacoalhar bobamente. – e eu realmente só... Eu quero beijá-la. Eu só... ****

                Regina não disse mais nada. Trouxe suas mãos até os lados do meu rosto e me beijou e eu não consegui pensar em mais nada que não fosse seus lábios macios sobre os meus ou no suspiro que ela deu quando abri meus próprios lábios dando passagem para sua língua encontrar a minha. Tudo a minha volta sumiu. Ali, naquele momento só existiam Regina e eu em nossos segundos que deveriam ser eternos. E nenhuma canção parecia ser suficiente para embalar o momento em que meus braços circundaram sua cintura e sua mão se perdeu em meio aos meus cabelos.