Três Anos escrita por Mia Lehoi


Capítulo 3
Muita informação


Notas iniciais do capítulo

To chegando com as tretas, rapaziada!!



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Querida Denise,

Prometi para mim mesmo que não entraria mais e contato com vocês e os deixariam seguirem com suas vidas em paz. Só estou quebrando essa promessa porque tenho coisas muito urgentes para te contar.

Reencontrei a minha Denise, se é que ainda posso chamá-la assim. Cheguei tarde demais. Depois de dezessete anos me esperando, ela seguiu em frente, se apaixonou outras vezes e decidiu enterrar nossa história no passado.

Eu sei que você está com o Xaveco e que os sentimentos que ele tem por você são tão verdadeiros quanto os que eu tive por ela. Torço muito por vocês.

Mas estou entrando em contato por outra razão e preciso que você preste muita atenção no que vou dizer. Vocês correm perigo. Há um mal muito grande se aproximando, algo que não posso explicar porque seria arriscado demais se vocês soubessem mais que o necessário. Se tem uma coisa que aprendi é que não podemos mexer com o futuro.

Vocês precisam ficar espertos. Tudo parece estar em paz agora, mas mudanças vão acontecer e tudo pode desandar. Agora a turma precisa se reunir mais do que nunca. Por favor, eu te peço isso pelo bem de vocês, faça de tudo para que todo mundo permaneça junto e não deixe as brigas destruir os laços de amizade que vocês tem. Lembrem-se sempre das crianças que vocês eram no passado.

Elas serão a chave para destruir esse mal.

Com carinho,

Xaveco

A carta terminava assim, sem mais nem menos. Denise vasculhou o papel em busca de qualquer outro sinal, algum endereço ou número de telefone que ela pudesse usar para entrar em contato, mas não havia nada.

Ela suspirou pesadamente, sentindo a garganta fechar e arder com o choro que queria vir. Sentia-se uma grande idiota por se sentir dessa maneira apenas por conta de algumas frases, mas haviam muitas informações implícitas naquela mensagem.

Sempre que sentia algum medo do amanhã, pensava no Xaveco e na Denise do futuro, em como eles se amavam e se protegiam. Isso a fazia acreditar que o mesmo aconteceria com ela e o loiro nessa vida. Porém, saber que eles não estavam mais juntos, e pior ainda, que ela o deixara, a fez se assustar muito.

Em segundo lugar, o fato de que Xavecão estivera ali e que sabia coisas sobre sua vida atual também era atordoante. Ele fora seu primeiro amor e por mais que soubesse que era apenas uma outra versão do garoto que ainda amava, era difícil não os separar em duas pessoas diferentes. Será que, na ânsia de encontrar sua Denise aquele rapaz do futuro ainda a observava? O que mais ele sabia sobre ela?

E por fim, o grande mal que ele mencionara. Sair do Limoeiro a fizera deixar para trás todos os vilões e o caos que ela e a turma enfrentaram por tantos anos. Lá fora viviam uma vida normal de jovens adultos, tomando várias doses de café para se manterem acordados em aulas chatas, indo a festas, fazendo amizades. Há tempos não se deparava com vilões maiores do que professores carrascos e provas difíceis.

Ouvir falar em algo perigoso e sombrio, que provavelmente envolvia o sobrenatural e seus antigos demônios, lhe trouxera uma descarga de adrenalina que percorrera o corpo inteiro.

Precisava decidir o que fazer com todas aquelas informações.

E urgente.

Magali caminhava pela velha lojinha de conveniência do bairro, colocando algumas guloseimas e coisas que sua mãe lhe pedira para comprar no carrinho. Nas caixinhas de som tocava uma canção dos anos 80 que ela conhecia de um filme que não se lembrava bem qual era. Estranhamente ela se recordava de algumas partes da letra e cantarolava baixinho enquanto andava devagar.

Ao entrar em um dos corredores, avistou uma figura conhecida no extremo oposto da loja, onde havia uma meia dúzia de prateleiras com DVD’s para alugar que o dono da loja mantinha sabe-se lá porque, já que quase ninguém os usava.

Quase.

Pelo visto ele continua tendo hábitos diferentes do comum, ela pensou, assistindo o garoto. Do Contra alternava entre as caixinhas dos filmes, lendo títulos e sinopses com uma atenção até mesmo exagerada. Tinha um carrinho cheio com pacotes de biscoito, engradados de cerveja e comida congelada abandonado perto de si, indicando que ele também fazia compras. Ele continuava usando os mesmos cabelos espetados de antes, mas de resto estava muito diferente. Um punhado de tatuagens adornavam seus dois braços, uma delas saindo de dentro da gola da camiseta e subindo até o pescoço. Vestia uma bermuda meio largada, uma camiseta cinza surrada e um par de chinelos, mas ainda assim parecia um rock star perdido num mercadinho de bairro.

Ela ouvira falar de sua aventura Brasil afora e não se surpreendera em nada com isso, embora muita gente tenha ficado chocada. Mesmo eles dois tendo conversado várias vezes, especialmente no verão do último ano de escola, sobre seus sonhos e planos para a faculdade, ela sabia que a vida acadêmica não era suficiente para aquele garoto.

Ele jogou um dos DVDs dentro do carrinho e se espreguiçou, dando a entender que sairia dali. A garota, constrangida por estar observando a tempo demais, tentou se retirar antes que ele a visse, mas na pressa esbarrou o carrinho em uma das prateleiras, fazendo um punhado de latas de milho despencarem no chão com um estrondo.

— Magali? – ele perguntou, abrindo um sorriso de canto de boca. Ela corou, já e abaixando para desfazer a bagunça.

— Está tudo bem aí? – perguntou o dono da loja, um senhor que já conhecia os dois jovens há um bom tempo.

—S-sim! – ela respondeu – Pode deixar que eu recolho tudo, seu José! – sorriu, aproveitando aqueles segundos para se recompor.

O garoto riu, vindo até ela para ajudar a pegar as embalagens. Magali se amaldiçoou mentalmente, desejando te rum buraco para se enfiar. O roqueiro no entanto, apenas a encarou, esperando que ela dissesse alguma coisa.

— Oi Do Contra. – sorriu sem graça, quando finalmente terminaram o serviço e se levantaram.

— Oi. – o sorriso dele aumentou – Nossa, faz tempo que não me chamam desse jeito! – riu.

— O que? – perguntou, surpresa – Te chamam como na faculdade? – continuou, a curiosidade se tornando maior que o embaraço.

— Pelo nome, ué. – respondeu, como se fosse muito óbvio. Ela o olhou com uma grande interrogação nos olhos, o que o fez rir mais ainda ao notar que ela não sabia (ou pelo menos não se recordava) seu nome de verdade. – Maurício. – completou.

Maurício. – repetiu – Uau, é como se eu estivesse conhecendo uma pessoa totalmente nova.

— Prazer em te conhecer, menina do milho. – ele estendeu a mão para cumprimenta-la, fazendo uma cara muito séria.

— Magali. - Ela riu baixinho, apertando a mão dele animadamente.

Continuaram com as mãos entrelaçadas por alguns segundos, os dois rindo sem motivo aparente enquanto não sabiam o que dizer. Ficaram assim até uma canção barulhenta soar do celular dele.

— Oi. – deu uma pausa – Eu já to indo, vou só pagar as coisas. – outra pausa – Já peguei, pode falar pro papai parar de gritar. Tchau. – riu antes de desligar o telefone. – Tenho que ir antes que eles comecem o pôquer sem mim. – girou os olhos, falsamente aborrecido. – Acho que a gente se esbarra por aí, né?

— É. – ela respondeu, acenando. – Espera! – ele já estava chegando ao caixa quando ouviu o chamado. A olhou com as sobrancelhas arqueadas, esperando. – E o Nimbus? Vai dizer que ele secretamente se chama, sei lá, Marcelo?!

— Quase! – ele respondeu, depois de dar uma gargalhada. – É Mauro.

— Informação demais pra mim. – ela sorriu. – Tchau Maurício.

— Tchau Magali.

Ela continuou as compras, sorrindo sozinha. Do Contra, ou melhor, Maurício, sumira por um bom tempo. Ele não era de usar redes sociais e a última vez que o vira fora numa palestra da faculdade ainda no ano anterior. Era bom saber que ele estava bem.

Ao chegar em casa a menina ligou para Mônica para conversar besteiras. Depois de três anos morando juntas, as duas criaram o hábito de contar absolutamente tudo uma a outra. Magali lhe contou sobre a coincidência do mercado, ressaltando o quão diferente o rapaz estava. Hoje em dia a dentucinha já conseguia falar sobre ele sem problemas, porque o namoro deles parecia ter sido em outra vida.

As garotas ainda conversaram por um tempo, passando por vários tópicos, até chegarem à noite de pijama das meninas, que estava marcada para a noite seguinte.

Era uma pena que o assunto não poderia ser apenas sobre bobagens e garotos, como era antigamente.


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Notas finais do capítulo

Hello darkness my old friend...
Gostaria de começar essa nota dizendo que: Não, eu não consigo disfarçar o crush no DC. Não dá, gente!
Esse capítulo trouxe uma parte muito importante e mais essa ceninha pra descontrair!
E preciso dizer que: GENTE EU TO NO CHÃO, 13 ACOMPANHAMENTOS NO NYAH E 13 FAVORITOS NO SPIRIT EM DOIS CAPÍTULOS!!!
Tô passada. Mas assim, de um jeito ótimo.
Ah, pra quem acompanhou a Super Saga Do Meu ENEM em Dois Verões, terça começam minhas aulas na universidade. TO NERVOSAAAAA
Espero vocês no próximo!
Kisses



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