é só depois de Cair escrita por Yoruki Hiiragizawa


Capítulo 1
Que nós crescemos!




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É só depois de cair...
... que nós crescemos!

por Yoruki Hiiragizawa

 

Era a primeira vez que aquela jovem ia ao parquinho com aquela criança e, como geralmente acontece quando um elemento estranho é inserido a uma paisagem imutável, tornou-se o centro das atenções durante aquela tarde. As mães e babás – mais babás do que mães – ali presentes avaliaram-na com olhos clínicos e críticos imaginando qual a relação entre a estranha e a menina. Ela era nova, mas não era nova demais para ser a mãe da garotinha de 4 anos que corria e pulava e se balançava e girava e ria sozinha enquanto a jovem mantinha-se alguns passos afastada.

Segurando firmemente as mãos das suas crianças, as outras mulheres a observavam com desconfiança e indignação. O que ela achava que estava fazendo deixando aquela criança solta daquele jeito? O pior de tudo era o efeito que aquela serelepe estava exercendo sobre as outras crianças que, vendo-a explorar livremente o parquinho, agitavam-se cada vez mais.

Um burburinho começou a se alastrar enquanto as mães e babás urgiam seus infantes a ficarem quietos. Uma delas, não conseguindo segurar o filho que se debatia, empalideceu ao vê-lo ir ao chão quando conseguiu se soltar. Como reflexo, todas as mães e babás seguraram mais firmemente a suas crianças, erguendo-as do chão. Cercaram, em seguida, a mulher que se descuidara enquanto ela segurava o menino junto ao peito tentando fazê-lo interromper o pranto que se sobrepôs ao habitual silêncio daquele parque infantil.

Minutos depois, quando o choro cessou e as mulheres voltaram a se afastar para brincar com suas crianças, ainda mais desconfiadas do que antes a respeito da estranha, um novo som aterrorizante interrompeu a paz. Todas se voltaram para onde estavam as duas estranhas, ouvindo a menina chorar caída ao chão. Assim como acontecera anteriormente, começaram a se aproximar delas, mas pararam ao receber um olhar de advertência da jovem, que calmamente se aproximava.

As mães e babás olharam chocadas enquanto a jovem se abaixava ao lado da menina que estava aos prantos e, sem tocá-la, começou a lhe dizer algo que gradualmente a fez diminuir o choro. Quando a menina ergueu os olhos vermelhos na direção da mulher que a acompanhava, todas aquelas que observavam a cena engasgaram cheias de dó. A estranha parecia inabalável e, com a mesma tranquilidade, continuou a falar com a menina até que ela parasse de lacrimejar e que, sozinha, pudesse se erguer.

Só então a jovem secou-lhe o rosto e examinou o joelho que havia se ralado. Continuando a falar com a garota, segurou-a pela mão e abriu um pequeno sorriso, antes de começarem a se afastar; as duas caminhando.

Indignação. Era a única palavra capaz de descrever o sentimento daqueles que testemunharam a cena. Como uma pessoa podia ter tanto sangue-frio diante do sofrimento de uma criança? Como podia ver-se diante das lágrimas de um anjo inocente e não acudi-lo? Aquilo era um absurdo! Forçar a criança a parar de chorar sem confortá-la, a erguer-se sozinha e, ainda por cima, forçá-la a caminhar com os joelhos ralados... Era insensível demais!

Diante de toda aquela situação, as mulheres seguraram com ainda mais firmeza a seus protegidos, mantendo-os ainda mais próximos ao peito e, prometendo a si mesmas que os protegeriam de tudo, que os carregariam no colo enquanto suportassem seu peso, que não os deixariam se afastar enquanto cresciam. Elas jamais seriam como aquela mãe – ou babá – que forçava uma criança a erguer-se e a caminhar com as próprias pernas depois de cair.

 

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Notas finais do capítulo

Este texto surgiu como uma pequena reflexão de minhas observações pedagógicas em conflito com minhas lembranças da infância.
Há certa inquietação me corroendo nos últimos anos ao observar a criançada e venho me perguntando o que mudou desde a minha época de criança e o que quais as consequências disto para as futuras gerações.
É algo a se pensar, no mínimo.
Espero que gostem!



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