Éons de existência trazia consigo vários benefícios, muito embora para os deuses a maioria desses privilégios tenha se tornado completamente banal, afinal, praticamente nada é impossível quando se é uma divindade. Gerações e gerações pereceram e os deuses continuaram vivos, apenas mudando de um lugar para o outro! Diversos adversários se ergueram e todos, até então, foram derrotados. Sim, os deuses eram imortais! Mas por quanto tempo?

O Olimpo estava movimentado naquela momento e Dionísio foi o responsável por causar todo aquele alvoroço. Em um círculo os grandes conversavam, alguns gritando suas opiniões e outros simplesmente observando todo aquele espetáculo. -Até mesmo para nós, isso é algo difícil de acreditar. - a voz de de Hefesto se fez ouvir no momento em que os ânimos pareciam se acalmar, apesar de somente parecer já que logo outras várias vozes se elevaram, em concordância ou discordância ao que havia sido dito.

—Vou repetir somente mais uma vez. Uma nova profecia fora proclamada e todos nós corremos perigo mais uma vez. - a voz do deus do vinho era uma mistura de tédio e cansaço, como se ele tivesse passado as últimas horas falando a mesma coisa. Na verdade, era exatamente isso que vinha acontecendo.

—O que você acha Apolo? - uma bela moça moça perguntou, olhando para o homem loiro que estava ao seu lado. Antes da resposta do irmão gêmeo, Ártemis já percebeu um traço no rosto da divindade que era deveras incomum. Apolo estava confuso!

—Bem, o que sei é que essa profecia não veio de Delfos. - começou a falar, cauteloso. Desde que ele irritara Zeus e fora castigado virando um simples humano, o deus do Sol passou a medir as palavras e atitudes diante do pai. -E essas rimas não são nada elegantes. Rachel não criaria isso!

—Então, está nos dizendo que o seu oráculo foi tomado por outra coisa? - Atena, a deusa da sabedoria, fitava os outros intensamente com aqueles olhos cinzentos que pareciam enxergar até os mais íntimos pensamentos.

—Isso não seria completamente impossível, não é mesmo Hera? - Apolo perguntou, com total ironia a deusa que estava sentada ao lado de Zeus. Tempos atrás, Hera fizera algo parecido com a humana que tinha a capacidade de ver através da névoa e que tornara-se, porventura, o novo Oráculo.

—Se está insinuando que eu fiz isso Apolo… - o tom apesar de calmo era ameaçador. Hera não gostava do deus, pois assim como muitos outros ele era fruto de uma traição. A deusa gostava de deixar claro que se fora capaz de amaldiçoar a mãe dos deuses gêmeos a não poder dar a luz a eles em qualquer lugar da terra, poderia fazer coisas ainda pior.

—Não foi nada legal ter que enfrentar Cronos e Gaia. Não seria nada interessante se algum deles tentasse voltar.

—Como se você tivesse feito muita coisa para combater eles, Afrodite.

—Conte-me os seus feitos nessas guerras, Deméter. - rebateu a deusa do amor.

—Vocês podem ter esquecido, mas eu, como deus da guerra e que adora armas poderosas, sei o que significa a Arma Primordial.  -Ares estava impaciente, sentia que uma grande guerra estava se aproximando e isso o deixava animado.

—Chega. - Zeus se pronunciou, levantando-se do seu trono. -Se há de fato uma nova grande profecia, não podemos intervir. Se o que Dionísio disse é realmente verdade, o ataque aos semideuses não é apenas uma coincidência. Hades, quais as chances de… Você-sabe-quem está consciente e libertando-se de sua prisão.

O deus do submundo, que até então mantivera-se calado, olhou para todos. -É possível que o seu maior inimigo esteja desperto, Zeus. Sabíamos que um dia isso poderia vir a acontecer! - declarou, sem qualquer emoção.

—Por que tenho a impressão de que vocês não estão falando de Lord Voldemort?! - Apolo perguntou, percebendo de imediato que tinha acabado de pensar alto demais.

—Se isso realmente for verdade, então não há nenhum semideus que seja capaz de vencer esse mal. - Poseidon declarou, ficando de pé e caminhando até o meio do salão dos deuses. -Temos que intervir Zeus!

—Poseidon, você sabe… - as palavras se perderam na garganta do deus do céus e logo ele colocou-se de pé, erguendo o seu raio, jogando-o na direção de Poseidon, que rapidamente desviou.

O deus dos mares por milésimos de segundos não compreendeu o que estava acontecendo, mas logo ele também sentiu aquela energia. Aquela força, ela era pura maldade. No segundo seguinte os deuses viraram apenas feixes de luz, voando em diversas direções, causando no Olimpo sons que poderia destruir toda a vida na terra. Até mesmo olhos divinos teriam dificuldade de enxergar o que estava acontecendo.

Por ironia, Hermes, o deus mensageiro e dito o mais rápido de todos, chegara atrasado para aquela reunião e seus olhos captaram o embate que acontecia. Todos os outros deuses que compunham o panteão principal lutavam em suas formas divinas contra uma força negra e obscura, que poderia ser descrita somente como o sentido mais puro das trevas e da escuridão. O que fosse aquilo, Hermes sabia que não tinha exatamente vida, mas ainda assim ali estava subjugando todos os outros iguais a ele. -Não pode ser. - ao dizer tais palavras o mensageiro dos deuses sentiu o seu corpo ser puxado por uma espécie de vácuo, tão soberano que ele e os outros não conseguiam evitar. Logo, tudo ficou escuro e Hermes nunca sentiu-se tão incapaz e vulnerável quanto naquele momento. O deus pela primeira vez em sua existência sentiu medo... Sentiu-se mortal!