Over Game escrita por Kang SoRa


Capítulo 10
Quando A Arma Mira Para Um Headshot


Notas iniciais do capítulo

Voltei.
Só isso mesmo.
Não me batam. Violência é crime.



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—... estávamos quase no carro… na rua do estacionamento mesmo… aí veio um carro e como tinha uma poça enorme bem ao lado dela, eu a empurrei para longe… é, sim, isso mesmo… se ela ficasse no lugar o carro daria um banho nela... o problema é que ela se desequilibrou e caiu na poça… espera, não terminei de falar… não, calma... tá, mas como eu ia saber que tinha a porra de um prego lá, hyung?! Não tinha como saber! Não foi culpa minha!

Levanto-me para pedir para, seja essa pessoa quer for, calar a boca, mas meu corpo me detém. Não consigo levantar.

—Mas que porra… ?

Levanto o olhar, observando o meu redor. Vejo um suporte com soro e noto que estou numa maca.

Na moral, o que eu fiz para merecer isso?

—Então você finalmente acordou.

Olho para a direção da voz e vejo o rosto de Hongbin saindo de uma das cortinas que contornam o espaço.

—Como eu vim parar aqui mesmo? -tento disfarçar o meu total desconforto por estar aqui.

Ele me dá uma explicação breve sobre o assunto, enquanto eu olho, sem mexer um milímetro do meu corpo, o soro pingando no suporte.

— .... Bom, a única coisa que ainda não sabemos é como foi que você desmaiou.

Abro a boca para protestar.

Realmente não vou entregar o verdade tão facilmente.

—Ok, ok. Deve ter doido, mas, pare para pensar, não é TUDO isso.

—Cara, tem um prego dentro de mim. - olho para ele com um olhar desafiador. Na real, só estou disfarçando.

—Eu sei, eu sei. Mas… -alguém mexe na cortina- ok, pergunte ao médico então.

Agora, fudeu tudo.

— Srt. Morales, vejo que acordou. Como se sente?

Na mais pura merda.

Vejo que ele sente que não estou para conversa, ou percebe o quão desesperada estou, então só continua falando.

—Creio que já esteja ciente do que aconteceu. Bom, já verificamos o seu registro e a sua validade de sua vacina antitetânica. Entretanto, ainda não sabemos o que a fez desmaiar. Pode narrar a sua parte da história? Até o que se lembra?

—Sou hemofóbica.

Taí. Só disse. Joguei no ar.

Silêncio.

—Ok, então. -ele toma notas. Provavelmente, anotando o que acabei de falar- É um alívio que tudo esteja em dia, então, agora, podemos prosseguir com a cirurgia…

Oi? Eu não estou ouvindo isso. Eu somente NÃO ESTOU OUVINDO ISSO.

Com sua prancheta na mão, o médico continua falando,  mas não consigo mais entender. Só quero sair daqui.

—Então é isso. Passaremos aqui daqui há 10 minutos. Por favor, esteja pronta.

Ouço o movimento das cortinas quando passam por ela.

Fico estática. Não dá mais. Já era. Perdi minha chance de sumir daqui.

—Ei... Você está bem? -sinto Hongbin se aproximando. Rapidamente, agarro o braço dele.

—Me tira daqui...

Esse foi o ultimato.

F-u-d-e-u.

Começo a chorar.

—Me tira daqui… por favor…

Olho para Hongbin e vejo que ele me encara sem expressão. Agarro mais forte seu braço, sua pele ficando vermelha sob meus dedos, provavelmente, devido à pressão.

—Você não pode sentir pena de mim ao menos uma vez?!

Não me dou conta do quão carente soa esse comentário, mas percebo que, agora, cagou tudo. Minha integridade foi para o brejo. Estou morrendo aqui.

—Eu não… eu não quero… -continuo tentando formar frases dentre os altos soluços que saem de mim - … ficar aqui… por favor…

Olhando no fundo dos olhos de Hongbin, vejo o quão confuso está. Continuo a olhá-lo, até que percebo que dele não conseguirei nada. Ou isso é isso que penso por um curto período, pois logo pude sentir uma desajeitada mão em meu ombro.

—Não se preocupe... vai… vai ficar tudo bem…

 

 

 

—... mas não se esqueça de tomar os dois depois do almoço. É de suma importância que os dois sejam ingeridos juntos. -ouço atentamente ao médico, tentando não olhar para o bigode super bizarro que sei que se encontra acima de sua boca -Sendo assim, declaro que está liberada, Str. Morales. Volte ao hospital, caso algo venha a acontecer.

Logo que termina de falar, desaparece do quarto, deixando-me sozinha com um enfermeiro. Ele tenta me ajudar com a cadeira de rodas, mas dispenso a boa intenção. Sigo pelos corredores do hospital, pilotando a cadeira por mim mesma. Ao chegar à porta, pego as muletas em meu colo e tento me por de pé.

PUTA. CARALHO. MERDA.

A dor se instala em meu corpo como uma adaga perfurando a carne lentamente. Mesmo se estivesse de olhos vendados, poderia dizer com clareza onde ocorreu o acidente. Sinto meu pé pesado abaixo de mim.

Creio que não deva ter ficado tanto tempo no hospital, mas, com certeza, foi o suficiente para me fazer alcançar um estágio da loucura. Agora, sei exatamente quais serão as cores do meu velório: branco, contrastando com detalhes em azul piscina.

Do lado de fora, as nuvens preenchem o céu e impedem a  visualização do pôr do sol, não que os altos prédios também ajudassem ou que eu, ao menos, quisesse ver.

Só quero morrer. Só isso, mas nada.

Mesmo com dificuldade, sigo até um táxi. Dentro dele, ouço o taxista perguntando aonde quero ir, fazendo com que hesite. Não que eu tenha outro lugar além do meu apartamento para ir, mas apenas tenho a sensação de que ficar sozinha no estado em que me encontro não parece a coisa certa a se fazer. Apesar de tal pensamento, sigo a rota original.

Desço do veículo com dificuldade, após uma bronca cabulosa do motorista pelo fato de eu não ter dinheiro, e alcanço o elevador numa situação ainda pior. Prendo a respiração, como se só o fato de mexer o diafragma, disseminasse uma extensa dor. Meu corpo está pesado e fraco, o que me faz abandonar as muletas e seguir até meu quarto apoiando-me nas paredes. Paro na porta e procuro pela minha chave, percebendo que estou sem nada.

Sem bolsa.

Sem carteira.

Sem chave.

Porra...

Olho para os lados, enquanto meu corpo desce pelo batente da porta. Percebo uma forte tontura, que faz minha visão girar. Sinto uma grande impotência.

E o que eu posso fazer...

Quando ninguém sabe que estou aqui?

E o que eu posso fazer…

Quando estou sozinha?

O que fazer...

Quando se está tão perto do Game Over?


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Notas finais do capítulo

Hemofóbico: quem tem fobia a sangue.

Erros com a gramática? Comente.
Erros com a história? Comente.
Erros com a autora? Er... ela meio que já sabe.



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