Aquelas fanfics de casal escrita por ShadowReaper


Capítulo 4
The 100: Clarke e Lexa


Notas iniciais do capítulo

Então, essa história é meio diferente das demais, não só por ser longa ou por ser o primeiro yuri (romance lésbico) que escrevo, mas sim por ter conseguido criar uma história, ao mesmo tempo zoando a original (o que não foi muito difícil, pois a original tá ficando cada vez mais zoada) e também fazer umas ironia massa.
— SR



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Ao acordar, Clarke foi à janela para sentir a brisa do inverno. Nessa época costumava vir um vento frio no alto da torre da Polis, mas a namorada a mantinha aquecida.

— Não quer deitar mais um pouco? - Lexa a chamou, levantando a coberta. Após a noite anterior, só havia conseguido por uma fina camisola antes de dormir – Preciso de alguém pra me aquecer…

Clarke sorriu.

— Não tem assuntos importantes a tratar hoje?

Lexa cobriu o rosto com o travesseiro.

— Governar doze clãs é chato. Vou tornar meu quarto independente e governar só ele, o que acha? Meu quarto é o meu clã. Vou ficar aqui o dia todo só comendo, lendo e assistindo essas séries dos anos 2010 naqueles serviços de streaming que o Monty instalou nas TVs. Podemos ser que nem Kelly e Yorkie de Black Mirror, e aqui o nosso San Junipero!

— Vista isso – rindo, Clarke lhe atirou sua blusa de peles e sua “roupa de líder”, como costumava chamar, e também deixou o rímel em cima da pia – Lá fora tá frio.

— Que nem você de manhã?

— Nem tanto assim.

Vestiu-se a caráter e desceu pelo elevador. No salão principal estavam se reunindo vários líderes dos clãs, além de Skaikru, no horário marcado. Os Terra-Firmes serviam-lhes café da manhã ou ficavam de guarda na sala. O conselheiro de Lexa já estava à esquerda da cadeira vazia da Heda. Após Titus ter errado o tiro, Lexa tornou pública sua traição e o levou para julgamento popular, tendo ele tido seu fim amarrado num poste, onde foi esfaqueado duzentas vezes. Em seu lugar tinham posto seu irmão gêmeo, Ilyn Payne, que não era muito bom em dar conselhos, mas era muito bom guarda-costas. Sua presença era meramente simbólica, já que Lexa era inteligente demais e foda demais no combate comparada à qualquer um.

Foi chamada por rostos familiares no balcão de Skaikru.

— Clarke – Chanceler Kane se levantou, junto a Bellamy – Está tudo bem?

— Estou ótima – respondeu – Como vão as coisas em Arkadia?

— Estão todos bem. Sua mãe perguntou quando irá voltar.

— Diga a ela que estou servindo como diplomata do nosso povo, então ficarei aqui por mais um tempo.

— Clarke – chamou Bellamy – Podemos conversar?

— Eu vou checar se Octavia e Indra já chegaram – o chanceler saiu a passos apressados. Ficaram os dois a sós ali na mesa, com a multidão conversando em volta deles.

— Clarke, por que ainda está aqui?

— Como assim? Estou servindo como diplomata da nossa nação.

— Você deveria voltar com a gente, todos acham perigoso que continue neste lugar. - deu uma olhada na audiência – Não confio nessas pessoas.

— Caso você tenha esquecido, sua irmã mais nova também está com uma delas.

— Não é a mesma coisa. Lincoln e Indra se mostraram ser confiáveis, e consideram Octavia como uma deles. Já você está muito próxima de Lexa.

— E qual é o problema? - deu um risinho – Tá com ciúme, Bellamy?

Ele manteve sua expressão séria.

— Não é ciúme, Clarke. Caso você tenha se esquecido, ela era nossa aliada no passado e íamos atacar Mount Weather, mas na última hora ela aceitou um acordo com Wallace, nos traindo e nos deixando lá. Nós fomos obrigados a matar uma civilização inteira! Todas aquelas pessoas inocentes, crianças, Maya, a namorada do Jasper… Ela fez a gente matar eles, Clarke!

— Ela não teve escolha. O povo dela estava preso, e o que ela fez foi para salvá-los.

— Achei que ela nos considerasse como povo dela, ainda mais com essa nova proposta de agora.

— Bellamy, têm de acreditar que tudo o que ela faz é pelo povo dela. Se nos tornarmos o 13º clã, teremos sua proteção.

Um berrante soando interrompeu a conversa entre os dois. Todos se puseram em seus lugares enquanto o arauto falava:

— Todos saúdem Lexa, Heda dos doze clãs Trikru! - Heda sentou-se no trono de galhos de árvore, característico de seu povo. Usava delineador negro nos olhos, além do pingente entre as sombrancelhas.

— Heda! - tinham se posto de pé quando ela havia aparecido, e agora todos dos doze clãs se curvavam.

Quando ela deu o sinal, puseram-se a sentar. Clarke ocupava um lugar na bancada do Skaikru, à direita de Marcus Kane. Acenou para Octavia quando a viu ao lado de Indra. Lexa começou a falar:

— Povo das tribos! O assunto da reunião de hoje deve ser tratado de forma imediata: É sabido que Azgeda, ou Nação do Gelo, como chama o Skaikru, tem avançado sobre o nosso território. - levou a mão direita em direção a um líder de tribo – Melero do Clã do Lago Verde, dê-nos seu testemunho.

— Nós os vimos no sopé da montanha, Heda – disse o homem – Montaram um acampamento, oh sim, duzentos guerreiros, por aí. Tinham umas bandeiras com aquela mãozinha de redemoinho também.

— Então ficou claro o problema que aqui temos – olhou para sua bancada – Kane do Povo do Céu, o que os traz aqui?

— Nosso povo chegou a um acordo, Comandante, e aceitamos sua proposta de nos aliar ao Povo das Árvores como o 13º clã.

— Sim, foi isso que eu tinha proposto, mas este acordo não sairá de graça. Devem nos demonstrar sua lealdade antes de obter nossa proteção.

Sentado à esquerda de Kane, Bellamy segurou sua inquietação.

— Demonstrar nossa lealdade? - sussurrou – Sério?!

— Vocês têm a nossa lealdade, comandante – respondeu Kane – Já a demonstramos em Mount Weather.

Lexa pareceu ter ignorado aquilo.

— Vamos querer suas armas de fogo.

— Bem, o assunto deve ser visto com o Conselho em Arkadia, mas tenho certeza que há algumas sobrando que podemos emprestar, e também um treinador capaz.

— Nada disso, vamos querer todas.

— Comandante Lexa? - Kane se assustou – Não podemos dar nossas armas, pois não teríamos mais com o que lutar.

— Usem lanças, arcos e flechas – apontou para a mesa do Tondc – Octavia e Lincoln são os mais próximos a vocês, creio que podem lhes ensinar a fazer.

— Mas eu não sei… - Octavia tentou dizer, mas foi interrompida por Indra e as pessoas da mesa.

— Nós viemos do espaço, comandante, temos nosso próprio modo de vida e prezamos por nossa segurança – disse Kane – Então sinto lhe dizer que tal pedido é algo muito difícil para o nosso povo, e creio que não podemos realizá-lo.

— Você me entendeu errado, chanceler. Isso não foi um pedido, foi uma ordem.

— Ordem?! - soltou Bellamy. Alguns ao redor puderam ouvir, como Monty e Miller, que estavam de guarda atrás. O primeiro sussurrou:

— O que está acontecendo, Clarke? - ela apenas se manteve em silêncio, pois também nada sabia.

— Isto é algum tipo de ameaça, Comandante Lexa? - perguntou Kane – Nós não recebemos ordens suas.

— Não estou ameaçando ninguém, chanceler – respondeu Lexa - Há alguns minutos você jurou a lealdade e união a Trikru, todos nessa sala podem confirmar isso – lançou um olhar para os líderes de clãs, e nenhum fez qualquer objeção - Não é o representante escolhido do Skaikru? Não é isso que diz o emblema em sua jaqueta?

— Eu sou, comandante, mas não era esse o nosso acordo. O que nos foi proposto foi uma aliança, e não submissão – de pé desde que começou a falar, pegou sua bolsa e levou a mão direita ao bolso, onde estava sua arma, e lá deu um sinal para os guardas atrás – E como chanceler do Povo do Céu, digo que nosso povo jamais aceitará tais termos – Bellamy também se levantou – Se nos der licença, estamos nos retirando desta reunião.

— Prendam Kane de Skaikru por traição! - ordenou Lexa. Miller e Monty apontaram seus rifles para Lexa ao ouvirem aquilo, e assim também fizeram Marcus e Bellamy com suas pistolas. De imediato, todos os presentes dos doze clãs, exceto Lexa, se levantaram e apontaram para eles suas flechas, bestas e lanças.

Então Marcus fez sinal para que se rendessem. Soldados de Trikru pegaram as armas e ataram as mãos dos quatro, conduzindo-os para fora da sala. Clarke assistiu à cena e olhou para a amada. Sem ter mudado de posição uma vez sequer no trono, Lexa disse:

— Chefe Jason Rothenberg do Clã do abismo de viceFansér, como vão as defesas?

— Estamos bem murados, Heda – um homem alto, cabelo escuro com corte de príncipe, barba rala grisalha e óculos se pôs de pé para falar – Embora tenhamos feito muita merda com nosso povo, ainda temos uma quantidade enorme de fanáticos para nos sustentar.

Sozinha na mesa, Clarke olhava com indignação para Lexa e sua indiferença consigo, e esta enfim percebeu.

— Vamos fazer um breve intervalo – suspirou, e os líderes dos clãs e seus assessores se levantaram, enchendo o ambiente com suas conversas – Porque minha namorada tá dando chilique.

Clarke foi ao seu encontro numa sala particular.

— Lexa!

— Qual é o problema, Clarke?

— Qual é o problema?! Você mentiu pra gente! Armou uma armadilha para pegar nossas armas!

— Eu fiz o que era preciso. Nós precisamos das armas para derrotar a Nação do Gelo.

— E precisava ter mentido pra gente?! Nós podíamos ter ajudado!

— Eu não tive escolha! Eu fiz pelo meu povo, precisava mostrar força naquela situação, entende?

— Sim, eu entendo. O que acontecerá aos meus amigos?

— Chanceler Kane concordará em colaborar conosco e eu os libertarei.

— Posso vê-los?

— Estão nas celas do quarto andar. Vá lá e lhes diga minha proposta. Mais uma coisa, Clarke.

— Sim?

— Você me ama?

— Eu te amo – sorriu.

Lexa beijou-a.

— Você deve ter mesmo vindo do céu, porque é um anjo – riu – Eu também te amo, nunca se esqueça.

Pegou o elevador com o coração suavemente acelerado. Ainda não acreditava que, depois de tantas tentativas, havia encontrado sua alma gêmea. Clarke e Lexa eram perfeitas uma para outra: Ambas tinham personalidade forte, eram líderes em suas nações e gostavam de viver uma com a outra. Devíamos selar essa aliança com um casamento, que nem naquelas séries medievais, às vezes se iludia, se imaginando de vestido e caminhando ao altar, onde Lexa também usaria um. Provavelmente ririam uma da outra, se estivessem assim. Por ser bastante ridículo, deixariam o vestido de lado e usariam suas melhores roupas. Algum dos anciãos oficiaria uma cerimônia de casamento do povo dos Clãs da Floresta, e então lá estariam, cercadas daqueles que amam e protegem. Sua mãe, Marcus, Bellamy, Monty, Raven, Jasper… e seguia a lista, e do outro lado, o povo de Lexa, do qual agora faria parte. Lincoln e Octavia seriam os padrinhos, riu novamente, pensando nela usando vestido. Não, se lembrou, Lexa já é casada com a liderança.

Ao chegar viu duas celas ocupadas: Uma com Kane e a outra com os outros três. Miller foi o primeiro a vê-la, e chamou os outros.

— Clarke - Bellamy foi até as grades – Tira a gente daqui!

— Graças a Deus você chegou! - disse Kane, e então sussurrou para ela – Eles não tem escutas, então posso dizer o plano aqui: Arrume as chaves da segunda cela e traga sangue com você. Pode ser de um pássaro morto, ou de carne roubada da cozinha, sei lá. Venha aqui no meio da noite para uma “visita” e abra a cela. Miller vai sair de lá e se deitar no chão, e aí vocês vão passar o sangue no peito dele. Aliás, traga um punhal ou algo do tipo e passe sangue também. Depois disse você vai chamar os guardas e todos vamos falar que um prisioneiro se rebelou sozinho e quis te matar, te acusando de “trair o Povo do Céu”, e você matou ele antes. Quando chegar alguma autoridade, pode ser até a Lexa, você vai dizer que ele é de Arkadia e lá pertence e vai pedir para deixá-lo lá, para ser enterrado. Pelos fatores culturais, eles vão entender. Então você leva ele e volta na mesma noite, pra não deixar suspeita, e Miller vai chamar Abby e os outros e vai contar para eles tudo o que aconteceu. É difícil, mas é assim que a gente vai sair daqui!

— É o quê?! - disse Clarke – Não vou fazer isso, Lexa vai soltá-los.

— E o que ela quer em troca? - perguntou.

— Quer que a gente colabore, ela vai dizer como.

— Nós já sabemos como, ela quer todas as nossas armas. Não podemos fazer isso, Clarke, iríamos ficar desprotegidos.

— Nós teríamos a proteção dos doze clãs! O que vale mais, algumas armas que não seria o suficiente contra o exército da Nação do Gelo ou um exército de doze clãs nos protegendo?

— Ela tem um ponto – comentou Miller.

— Pode até ser, mas não confio neles – respondeu Monty.

— Aceitar isso seria assinar nossa sentença de morte, Clarke – disse Bellamy – Não confio neles, não depois de tudo aquilo. Tem que seguir o plano.

— É muito arriscado – respondeu Clarke – Por favor, têm de confiar em mim. Se fizerem isso e der errado, podemos perder um de nós cinco.

— Um de nós cinco já está perdido.

Kane permaneceu em silêncio, com o olhar sério voltado ao chão. Saiu da sala, perturbada. Precisava falar com alguém, alguém que a entendesse. Foi quando viu Octavia na mesa do bar na cidade.

— Está sozinha? - Clarke perguntou ao chegar.

— Esperando o Lincoln – ela respondeu – Senta aí.

Um rapaz veio atendê-la e Clarke pediu uma caneca de hidromel, e Octavia pediu uma cerveja.

— Pois é… - Octavia tinha certa cautela pra falar alguns assuntos, sobretudo os mais delicados – Foi meio inesperado o que a Lexa fez com vocês.

— Tudo bem, já conversei com eles, vai dar tudo certo. Mas ainda sim me preocupo com Skaikru. Sinto que Lexa é uma pessoa muito boa e inovadora, e a mente deles é muito fechada. Kane e Bellamy, principalmente. Se continuar assim, podem estragar tudo.

— É, difícil mesmo.

Octavia foi assustada com o mata-leão que levou de súbito de alguém que parecia ter surgido do nada. Mas logo Lincoln a soltou e os dois riram.

— Olá, meninas – sentou-se ao lado de Octavia e olhou para a convidada – Como vai, Clarke?

— Clarke tá na bad por causa do povo dela não aceitar o namoro dela com a Lexa.

— Ah… sinto muito. Ei, conta pra ela aquilo que rolou com você esses dias.

— Ahh, é mesmo! - Octavia começou a rir – Vou contar.

— O quê? - perguntou Clarke, um pouco mais desperta.

— Seguinte, sabe a Echo da nação do gelo? - perguntou Octavia.

— Sei – disse Clarke – A que anda com o Roan, por quê?

— Então, tinha uns três caras atrás de mim.

Três guerreiros treinados! - completou Lincoln.

— Pois é, e sabe que eu passei dezesseis anos da minha vida debaixo do chão, né? - Clarke confirmou com a cabeça, então continuou – Aí eu cheguei aqui na Terra e com pouco tempo e treinamento virei uma guerreira muito habilidosa, tipo, mais do que os caras lá que treinaram a vida toda, porque eu sou muito foda! Então, vieram os três me capturar viva. Um deles tava armado com arco e flecha e mirando em mim.

— Aí ela sacou uma faca e atirou nele sem nem ter disparado!

— E ele morreu na hora! Aí vieram os outros dois, a Echo e um cara de máscara de caveira. A gente lutou por alguns segundos, com eu conseguindo fodasticamente atirar um no chão sempre que o outro vinha. Aí eu dei um cortezinho na Echo e ela deu um em mim. O da caveira veio e eu dei um cortezinho nele também, aí ele simplesmente caiu no chão e morreu.

— Devia ser hemofílico.

— Então, agora vem a parte mais foda: A gente tava em frente a um abismo que a queda devia ter tido, uns doze andares. Aí eu e a Echo lutamos por um tempo, até que ela enfiou a espada na minha barriga, tipo, empalou. Aí eu desequilibrei e caí do penhasco.

— Queda livre de doze andares!

— E eu sobrevivi!

— Quebrou algum osso? - Clarke perguntou.

— Não, e ainda tive força suficiente pra subir no cavalo!

— E pensar que aquele Bran Stark ficou aleijado por muito menos! - disse Lincoln.

— Mas… nem deu hemorragia?

— Hemo-quê? - perguntou Octavia.

— Deixa… Eu fico feliz por ter sobrevivido, Octavia – olhou para Lincoln – Pena que não possa dizer o mesmo de você.

— Fazer o quê, né? - ele abraçou Octavia – Foi pra aumentar o fanservice em cima dela.

Na noite seguinte, foi de volta à Polis. Lexa tinha marcado uma reunião particular com os presos de Skaikru e ela. Heda estava guardada por três guardas que Octavia mataria sem qualquer dificuldade.

— Pois bem – Lexa começou – Kane, eu vim barganhar.

— Vai voltar atrás no assunto das armas? - ele perguntou.

— Não. Estamos com uma webcam instalada que transmitirá o vídeo para Arkadia. Nele vamos apertar as mãos, você vai dizer que aceita a integração e pedirá ao Skaikru que entreguem todas as armas para nós. Então nós os soltaremos e poderão voltar para casa ou ficar aqui, já que vamos precisar que alguém nos ensine a usar as armas.

— E se não aceitarmos?

— Serão condenados a morte por traição. Você se importa com seu povo, Kane? Essa é a hora de provar.

— Vão pelo menos nos dar armas do tipo que vocês usam?

— Não, também vamos precisar delas.

— Kane – disse Bellamy – Não podemos aceitar.

Kane parecia perturbado. Seu rosto estava sujo, marcado pelo suor e a aflição, como o dos outros.

— Não tem jeito, Bellamy – respondeu – Temos que fazer o que é preciso, como te disse mais cedo – olhou para Lexa – Nós aceitamos.

Um dos guardas destrancou a cela individual de onde Marcus Kane saiu. Este levantou os braços e foi revistado. Vestia sua jaqueta de couro com o broche de chanceler no lado esquerdo do peito, levando nada mais que a roupa do corpo consigo. Clarke deixou a sala dos três presos e acompanhou o grupo. Queria estar lá para ver. Afinal, era ela quem unia o céu e a terra, o Skaikru e o Trikru. Tudo o que acontecia dependia dela, até porque em quase toda situação fodida que acontecia todo mundo dizia que não sabia o que fazer e pediam para ela decidir sozinha, aí quando dava merda diziam que a culpa toda era dela.

Clarke contou doze guardas no andar. Alguns tinham lanças, e um ou dois usavam arco. Ilyn Payne ligou o computador instalado na sala, bem rudimentar se comparado aos que possuíam na Arca. Clarke ficou ao lado dele, e os dois líderes se posicionaram para a transmissão. Deram as mãos ao Ilyn dar o sinal, e Lexa começou o discurso:

— Eu sou Lexa, Heda de Trikru, Comandante dos Doze Clãs e escolhida pela chama do comandante. Eu fiz uma proposta de integração ao Skaikru, a qual debatemos em uma assembleia e chegamos a um consenso.

Foi a vez do outro dar sua confirmação.

— Vocês me conhecem. Eu sou Marcus Kane, Chanceler de Arkadia. Já fui embaixador de Skaikru e, há um tempo, membro do conselho da Arca. Estou aqui para dar a resposta do nosso povo à Lexa. Bellamy, agora!

De súbito, o barulho de várias explosões foi ouvido, paredes se quebraram, e o chão e o teto desmoronaram em vários lugares. Por instinto, Clarke se abaixou, vendo uma intensa fumaça branca que cobria o ambiente. Kane deu um soco no meio do rosto de Lexa e a deixou imobilizada no chão. Bellamy já tinha quebrado um alçapão no teto e lançou uma arma para ele, que a apontou para a cabeça dela. Ao mesmo tempo desceu para se juntar a Miller e Monty, vindos de outras aberturas no chão e um dos corredores, surpreendendo os guardas e enchendo seus corpos de balas que atravessavam a fumaça. Clarke tentava entender tudo, confusa. Pegou o bastão de metal que Ilyn usava para se defender de… seja lá quem que a atacasse. Ele não iria precisar, pois já tinha levado um tiro na cabeça.

— Tem mais vindo – disse Kane – Miller, vigie o corredor direito, e Bellamy o esquerdo. Monty, veja como está o sistema. Não o deixe cair!

— O que você pensa que está fazendo?! - enfim perguntou Lexa. Sangue saía de seu nariz.

— Salvando meu povo.

Clarke se levantou, ainda em choque. Não podia acreditar na cena que via. Isso é um pesadelo, daqui a pouco acordarei e descobrirei que esses sons são de algum filme que Lexa está vendo. Mas por mais que tentasse, não conseguia acordar.

— Kane, solte ela! - gritou – Por que fez isso? Ela ia ser nossa comandante e nos proteger!

— Ela ia nos trair! - Kane gritou de volta – Não era óbvio? Ela mandou entregarmos nossas armas!

— Isso não prova nada!

— Não é só isso! Mais cedo, Bellamy saiu pela passagem no teto que tínhamos achado ontem à tarde, e foi andando até descer em uma sala. O que ele viu foi… inacreditável. Parecia impossível, mas Monty e Miller também foram até lá e confirmaram. Ela assinou nossa sentença de morte Clarke!

— Não acredite nele, Clarke! - disse Lexa – Ele tá louco, não percebe?

— Do que está falando? - perguntou a Kane - Como assim?

— Você vai ver – ele respondeu – Monty, como está o sistema?

— Tinha sido cortado há alguns minutos, mas consegui reestabelecer! Estamos transmitindo ao vivo para Arkadia à partir de… agora!

— Pessoas de Arkadia! Há algo que precisam saber com urgência - a arma ainda estava apontada para Lexa, posta de joelhos no chão – A Comandante do Povo das Árvores, Lexa, montou uma armadilha para nos prender, fazendo ameaças para que aceitássemos dar todas as nossas armas para eles. Como se isso não fosse óbvio o suficiente, encontramos provas de que ela está planejando um ataque para tomar nosso acampamento e dizimar nosso povo!

— Estão vindo! - disse Monty, depois de olhar o corredor.

— Reforcem todas as defesas, pois eles estão vindo! - Kane continuou – Esta era a única forma que tinha de avisá-los. Então para o que está por vir, Abby, me desculpe.

Monty encerrou a transmissão no mesmo momento em que um exército trikru entrou na sala, em ambos os lados. Nada se viu de Miller e Bellamy, e Monty se manteve abaixado atrás do computador.

— Não há como sair desta, Kane de Skaikru – disse Lexa – Você irá morrer. Abaixe a arma ou seu grupo também irá.

— Nós iríamos ser mortos por vocês de qualquer forma. Eu sangrarei hoje, mas meu povo viverá – pôs o dedo no gatilho – Ao menos levarei você comigo.

Quando foi puxá-lo, seu corpo perdeu força. Em poucos segundos, estava no chão, com Clarke ofegante ainda segurando a barra de ferro no braço que usara pra bater. Olhou para a Lexa e a abraçou, chorando.

 

Duas semanas depois.

Mount Weather estava enfim sendo colonizado por Trikru. Seu povo trabalhava incansavelmente na reforma do lugar, afinal era um posto militar importante. Se crescesse o suficiente, poderia até se tornar o 13º clã. Desceu até o conjunto de celas, cujo chão estava encharcado devido a chuva da noite anterior. Só uma estava ocupada.

— Olá, Bellamy.

— Olá, Clarke. O que veio fazer aqui?

— Te ver pela última vez.

— Ah, eu entendo – sorriu, mas as lágrimas que saíam seus olhos e seu rosto marcado por elas mostravam o que realmente sentia – Este lugar não te traz lembranças?

— Mount Weather fez parte de nossas vidas de várias formas.

— Gina morreu aqui. Uma estação inteira do nosso povo morreu aqui. Creio que foi esse o preço a pagar por termos destruído uma civilização inteira.

— Não tivemos uma escolha.

— Sim, Clarke, nós não tivemos, e por causa da Lexa! - o grito ecoou no andar vazio – Você fica falando que ela não teve uma escolha, mas ela estava lá. Ela sabia do aprisionamento dos Trikru desde o início, sempre falávamos disso nas reuniões. Nosso povo também estava lá, e íamos salvá-los juntos. Até que ela resolveu aceitar um acordo e nos deixar pra morrer.

— Ela não podia tomar riscos! Eu teria feito o mesmo.

— Então vocês realmente se merecem. Creio que ela usou a mesma desculpa em Arkadia.

Na verdade, era Clarke quem havia ido para lá tratar do assunto. Quando a viram chegando, uma multidão se formou ao redor de si.

— Clarke! - Abby foi a primeira a vir – Minha filha, você está bem? Onde estão os outros?

— Kane foi executado por traição e Miller morreu alvejado no corredor.

Ao ouvir aquilo, Bryan, namorado do segundo, caiu em prantos e teve que ser consolado. Abby cerrou os olhos e deixou-se cair no ombro de Harper, soluçando. Esta perguntou a Clarke:

— E os outros? - percebeu que todos em geral pareciam tristes e chocados, mas era porque não entendiam. Harper, por exemplo, segurava lágrimas – O que aconteceu com Monty e Bellamy?

— Estão presos, mas estão seguros – tirou um pergaminho no bolso e mostrou ao povo de Arkadia. Era uma carta com o selo de Trikru – Trago uma mensagem de Lexa. Como sabem, Arkadia está cercada pelos exércitos da coalisão entre Trikru e Azgeda, a Nação do Gelo. Eles querem nossas armas, bombas e equipamentos tecnológicos. Lexa garante que, se entregarmos tudo, não farão nada conosco.

O Povo do Céu pôs-se a discutir o assunto. Clarke podia sentir a tensão crescente de ter problema atrás de problema a todo momento. Mas era The 100, então já estavam acostumados.

— Ouviu sua filha, Abby – disse Jaha – E você está no comando agora. O que devemos fazer?

— Já perdemos muito, e seria errado arriscar mais ainda – Abby enfim falou – Não podemos contra todos eles. Peçam a todos para que peguem tudo o que Lexa pediu e ponham em caixas na entrada. Abaixem toda a guarda e deixem o portão aberto.

Dito isso, todos puseram-se ao trabalho. Clarke voltou a Heda e disse para ela a resposta deles e o que estava sendo feito. Isso, é claro, não os impediu de tomar Arkadia, saquear o restante que tinham e exterminar sua população.

— Você entende, né Clarke? - Lexa lhe perguntou – Eu não tive uma escolha. Tive que fazer aquilo pelo meu povo. Era esperado que destruíssemos o Skaikru para firmar a aliança com o Rei Roan.

— Sim, eu entendo. Eu te amo, Lexa.

Clarke destrancou a cela após Bellamy ter posto as algemas. Foram subindo até o topo da montanha, onde Lexa e seus generais esperavam o julgamento.

— Monty vai ser executado também? - ele perguntou no caminho.

— Harper foi poupada e feita prisioneira. Ela e Monty estão treinando os guerreiros do Trikru a usarem armas de fogo. Também tinham feito o mesmo com Jasper, mas…

— Entendi.

Amarraram Bellamy num tronco, onde seria condenado por seus crimes.

— Bellamy Blake de Skaikru – disse Lexa – Por ter participado da traição de Kane e matado vários de nossos guerreiros, eu o condeno a sentir a morte de cada um deles.

Alguém passou pela multidão e se colocou na frente de Lexa rapidamente, como se tivesse surgido do nada.

— Solte meu irmão, sua psicopata! - sacou a katana com a qual sempre lutava.

— Skairipa. Veio se por contra seu próprio povo?

Octavia reagiu à afronta.

— Meu povo já foi o das Árvores, e também já foi o do Céu – apontou para Bellamy – Mas antes disso, sempre foi o meu irmão mais velho. A única daqui que traiu o próprio povo foi a Clarke!

— Eu não traí ninguém! - respondeu Clarke – Eu tentei fazer o que era melhor para o meu povo, e não tive culpa do que aconteceu. A s-situação... que foi ruim e… e levou a isso.

— Eu quero o meu irmão, Lexa! - pôs sua katana na garganta dela, e logo todos os guerreiros presentes a apontaram flechas. Octavia pôs Lexa à sua frente e continuou – Vão atirar em mim? Então tentem! Sei que nenhuma flecha vai chegar antes da garganta de sua Heda ser cortada.

— Octavia, o que pensa que está fazendo? - perguntou Indra, no meio dos que assistiam.

— Cala a boca, Indra! Estou cansada de cachorrinhos da Lexa como você e a Wanheda. Eu já considerei todos vocês como família, mas parece que estava errada! Eu perdi tudo! Todos os que conhecia e amava estão mortos! - Octavia era durona e superestimada para alguém que passou a vida toda presa e obviamente seria traumatizada/sociofóbica e acanhada, mas agora era um dos raros momentos em que Clarke a via chorar – Então eu lhe peço, Lexa, ele é tudo o que eu tenho! Soltem Bellamy, abaixem as armas e deixem-nos sair.

— Ou então? - perguntou Lexa.

— ...eu te mato. Corto sua garganta e a de qualquer outro idiota que queira bancar o comandante psicopata. Mato todos os grounders se precisar. É só mais um genocídio, que diferença ia fazer nessa série?!

Nenhum poderia acertar Octavia lá de baixo, mas Clarke estava do lado de Bellamy. Andou calmamente para trás e sacou sua arma.

— As coisas que faço por amor – sussurrou, e então mandou a bala.

Octavia caiu no chão, agonizando e cuspindo sangue.

— Não! - gritou Bellamy – Você não pode morrer! Você é Octavia, é imortal, esqueceu?

— Isso não é dirigido por Jason Rothburlbbrublb… - morreu afogada em seu próprio sangue.

Horas depois, deitava-se novamente no quarto na Polis. Estava feito, suspirou quando a ficha caiu. Era triste ter terminado assim, mas o que ela poderia fazer? Lexa não teve culpa por nada. Tudo o que ela fez foi para proteger seu povo, era comandante e tinha que agir a caráter da condição. Ninguém lhe deu uma escolha. Ainda perturbada e confusa, mas aliviada, sorriu ao ver Lexa chegando para se juntar a ela.

— Você me ama, Clarke?

— Eu te amo, Lexa.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por terem lido até aqui! Se tiverem ideias, deixem sugestões sobre a próxima que devo fazer. Até agora só tenho na cabeça outras de Game of Thrones, como uma zoada lá da Catelyn e a parte dois de Jon e Daenerys. Me sugeriram Jon e Sansa, mas ainda estou pensando em como fazer.



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