Slytherin Past escrita por Gaia


Capítulo 11
Travessa do Tranco




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Por alguma razão, eu acabei aparecendo no Beco Diagonal, um pouco distante da Travessa, então tive que ir andando. Então, para a minha surpresa, meus pés me guiaram quase que automaticamente para um lugar que surgiu subitamente na minha mente. Me vi na frente de Gambol & Japes, a loja da família do meu amigo de infância Jake. Se estivesse lá, ele lembraria de mim e todas as promessas que fizemos juntos, já que suas memórias não foram alteradas como as minhas, que trai sua memória de forma tão feia. Ok, em minha defesa, a culpa não foi minha.

Pensei em achar uma poção polissuco, me transformar em gata ou fazer uma mágica de deformação, mas ele precisava me reconhecer se eu quisesse pedir ajuda.

Entrei na loja, que parecia ter sido abandonada desde muito antes da guerra e suspirei, o que será que tinha acontecido?

Alguns objetos estavam exatamente onde eu lembrava na minha infância e o balcão era exatamente o mesmo, com uma madeira escura e coberto de uma grande variedade de artefatos mágicos de truques, daqueles que os alunos de Hogwarts usavam para pegar peças uns nos outros. Mas diferente de antes, estavam velhos e empoeirados, completamente abandonados.

Eu achei que já tinha lembrado de todo o meu passado na Borgin, mas parece que minha mente ainda tinha algumas pérolas para soltar.

"Eu estava com 10 anos, fato que fazia questão de lembrar a cada segundo, porque eu sabia que ano que vem estaria em Hogwarts, estudando magia propriamente.

 

— Eu não acredito que você não vai para Hogwarts, Jake, isso é traição na mais pura das formas! - exclamei, balançando as pernas de cima do balcão.

 

— Você sabe que não fui eu quem escolhi! - Jake falou, cabisbaixo. - Meus pais falaram que precisamos sair do país. Não me falaram nem o motivo, mas toda vez que tentei responder, eles gritaram comigo. Dessa vez não tem conversa, Lizzie.

 

Me senti pequena, como se alguém tivesse tirado todo o meu valor. Como eu iria para Hogwarts sem Jake? Depois de tanto tempo imaginando nossas aulas favoritas, nossos jogos de quadribol e nós virando monitores-chefes?

 

Cruzei os braços, mais para me segurar do que para fazer pose e cruzei as pernas, derrubando sem querer um dos Lembrol que sempre estavam no balcão.

 

O estraçalhar do vidro fez um barulho estridente e uma fumaça branca saiu de dentro do artefato, me hipnotizando por alguns segundos.

 

— Onde você vai estudar? - perguntei, depois de sair do transe.

 

— Em uma escola americana, não sei o nome direito, é Ilver-alguma-coisa.

 

Eu só não o provoquei mais, porque ele também parecia miserável com o seu destino.

 

— Eu vou arranjar uma coruja para podermos nos comunicar. Vamos nos falar sempre. - respondi, resolvendo ser fofa pelo menos daquela vez.

 

Jake me encarou e eu tentei dar um meio sorriso, mas não consegui. Ele ia dizer alguma coisa, mas a porta dos fundos foi escancarada e Japes apareceu, com sua cara emburrada de sempre.

 

— ELIZABETH BURKES!! O que você quebrou dessa vez?! - ele já tinha pegado a vassoura encostada no canto e jogado em minha direção. - Quantas vezes preciso falar pra não sentar no balcão?! Não sai daqui antes de limpar isso! Jake, cuida da loja, enquanto vou comprar ingredientes. Francamente… Os jovens de hoje em dia…

 

Ele continuou reclamando até sair da loja. Eu e Jake nos encaramos e caímos na gargalhada.

 

— De você talvez eu até sinta falta, mas vou amar estar longe das broncas do Ranzinza. - falei, entre as risadas e continuamos a falar mal de Japes."

Quando voltei a mim, estava com os olhos lacrimejando.  Era quase poético pensar que algum tinha eu tinha sido Elizabeth Burkes, a prima falsa distante de Rabastan Burkes, falso herdeiro da Borgin & Burkes. Mesmo com uma personalidade falsa e tendo que me esconder e me esforçar para recuperar as minhas memórias, a vida parecia mais fácil naquela época.

Mas não, Jake tinha ido embora, claro que tinha, essa é a minha vida. Eu tinha deixado de lembrar da parte mais importante sobre meu amigo. Que ele não estaria ali para me ajudar. Sentei no balcão e coloquei as mãos no rosto, querendo sumir, como quando descobri que ele não iria para Hogwarts comigo.

Mas talvez fosse porque eu sabia que a família Japes não estaria ali que meus pés me levaram lá. Precisava de um lugar para pensar em um plano efetivo de como investigaria Borgin & Burkes.

Fechei a porta da entrada e respirei fundo, não podia deixar memórias antigas me afetarem como antes. A questão atual era mais importante: como eu, uma procurada especial de Voldemort, iria entrar na loja mais querida dos bruxos das trevas? Francamente, Rabastan não podia ter fingido ser dono da Dedos de Mel ou algo assim?

Olhei em volta, nada em uma loja de truques iria me ajudar a fazer uma poção polissuco, mas poderia me ajudar de outras formas. Podia ver se tinha algo que me disfarçasse de uma forma mais grotesca ou que confundisse quem me visse. Desejei ter Jake comigo, ele saberia exatamente o que fazer, quais artefatos juntar, estava criando coisas novas... Esse tipo de coisa eu simplesmente sabia, sem precisar lembrar. Era estranho.

Finalmente, depois de algum tempo dando uma de faxineira e caçando os artefatos que não estavam quebrados ou velhos demais para serem usados, eu achei alguma coisa útil. Era uma marionete mágica, coisa que eu sempre achei a mais bizarra da loja.

Funciona como um boneco de ventriloquismo, mas o rosto do boneco vira o seu e o seu rosto vira o do boneco. Teoricamente é para ser engraçado, mas eu acho extremamente aterrorizante. Minhas curta vida de trouxa me fazia saber bem dos filmes de terror com bonecos que criavam vidas e saiam por aí matando todo mundo. A cultura bruxa não tinha isso, bom para eles. Saudável até.

Peguei o boneco tentando deixar meus medos irracionais de lado e tentei lembrar de como fazer funcionar. Por sorte, era bem intuitivo. Só precisava ficar sempre em contato com uma das linhas de manipulação. Coloquei a marionete na minha mochila, e fiquei segurando a corda por cima do meu ombro. Então, joguei uma capa em cima de mim e me olhei no espelho.

Ah, as coisas que a gente faz para não ser reconhecida pelos capangas do meu tio do mal.

Eu finalmente me parecia com o tipo de pessoa que frequentava a Travessa do Tranco: esquisita e suspeita. Com o meu rosto de boneco e a minha capa escura, eu poderia passar por um Comensal da Morte facilmente. Como eu não tinha um plano melhor - como sempre - me enganei pensando que aquilo ia funcionar e sai da loja.

Quase desejei por sorte, mas aquilo seria perda de tempo. Eu nunca tive sorte na vida, não é mesmo?

Sai da Gambol tentando ser o mais sorrateira possível, o movimento do Beco Diagonal era muito mais escasso comparado ao da Travessa do Tranco. Quando finalmente cheguei lá, me vi imediatamente em casa, de uma forma confortadora que eu já quase tinha me esquecido que existia. Quase consegui sentir o cheiro de Rabastan invadindo o meu nariz e o frio característico das artes das trevas subindo pela minha espinha. Eu conhecia todas as ruas, todos os estabelecimentos, todos os tijolos da parede.

Alguns olhares se voltavam para mim, mas eu acho que os Comensais da Morte acharam minha cara tão esquisita que não queriam fazer muito contato visual. Eu já conseguia ler a placa da fachada e quase sentir o cheiro das esquisitices da loja quando fui interceptada por uma pessoa de capuz que me pegou por trás, para dentro de um beco escuro.

Eu conhecia aquele beco, era onde os mercenários faziam suas trocas esquisitas de coisas ilegais das trevas. Tentei manter a calma, se eu me mostrasse agitada, a pessoa saberia que eu não deveria estar ali. Me virei para encarar meu sequestrador, mas não consegui ver seu rosto no escuro do beco. Só consegui perceber seu manto de Comensal. A figura era praticamente da minha altura.

Pensei rápido, me passaria por quem? Podia falar que era uma Travers, prima da Suzanna. Ou podia falar que era o irmão falecido de CeCe, não sei até que ponto eles estavam atualizados dos status das famílias puras...

— Liz, você está maluca?! - a pessoa exclamou em um sussurro e eu reconheci a sua voz imediatamente. Quase soltei a corda da marionete sem querer com o pulo de alegria que dei.

— CeCe?! - gritei, me arrependendo logo depois, quando ela fez um "shhh" e me puxou mais para dentro do beco.

— Vou repetir a minha pergunta e quero que você responda sinceramente... Você está maluca?!

Mas eu não estava ouvindo, já tinha envolvido a minha amiga em um abraço. Seus cabelos loiros escaparam do capuz e eu quis chorar ao conseguir ver um pouco de seu rosto lindo. Como era bom ver que ela estava bem, apesar de tudo.

— Bom te ver também, Liz. - ela sussurrou, enquanto dava uns tapinhas nas minhas costas. - Bom saber que você continua sem noção.

— Você não sabe tudo o que eu passei... Merlin! O Jesse! Você tem que saber do.... - eu não sabia por onde começar. Contaria das cartas de Suzanna? Falaria que o namorado dela era um Comensal da Morte que estava nos traindo desde sempre? Ou que lembrei do que me ajudaria a encontrar meus pais? Da Resistência? Tantas coisas tinham acontecido em tanto pouco tempo. Era loucura pensar que CeCe não sabia do que eu tinha vivido e vice-versa.

— Não temos tempo. Eu preciso voltar para me encontrar com Thorfinn. Presta atenção, eu sei que esse era o nosso plano desde o começo, mas você não pode entrar na Borgin & Burkes. Os Comensais estão indo e vindo de lá o tempo todo. Estão usando de quartel general para as operações aqui na Travessa e no Beco Diagonal.

Tentei ler o olhar de CeCe, mas ainda estava muito escuro para discernir o verde de seus olhos. Mas achei estranho ela falar isso. Beatrice era irreverente, ela não era cautelosa, essa era Suzanna e eu, eventualmente. Ok, raramente.

— Tudo bem, eu me viro. Eu preciso achar aquele artefato. - falei, tentando ser vaga. Eu queria muito que aquela fosse CeCe, mas algo em seu modo calculista de falar e seu zero interesse no que eu tinha o que contar sobre Jesse me pegou de surpresa.

— Eu sei, mas você precisa de um plano melhor do que usar o rosto de um boneco! - ela exclamou e eu franzi a testa, ofendida. Não era um plano de todo ruim. - Os Comensais estão capturando qualquer um que eles não reconhecem e torturando para saber da verdade. Às vezes usando a Veritaserum, aquela poção da verdade. para ver quem é sangue-puro ou não.

Ótimo, tudo o que eu queria era ser torturada e forçada a tomar a poção da verdade. Francamente, essa guerra era tão estúpida que eu não conseguia entender como chegamos a esse ponto. Alguém devia ter previsto isso, quer dizer, nunca leram a história dos trouxas? Nazismo, alguém?

— Então que eu seja capturada. Você pode fingir que me capturou, a gente entra na loja, eu procuro o artefato e se achar, desaparato. - sugeri.

— Isso não vai funcionar, eles fizeram um feitiço que impede todas as atividades de desaparatação na Travessa do Tranco.

Ah, então era por isso que eu não cheguei imediatamente na Travessa e sim no Beco Diagonal. Merlin, eu nem sabia que isso era possível. Isso que eu chamo de esforço.

— Então eu acho e... Saio correndo? - tentei, dando de ombros. - CeCe, eu dou um jeito, qual é. Sou eu, lembra? Eu não sei por que você está tão meticulosa.

Talvez porque não fosse ela, mas eu não queria pensar nisso.

— Não estou sendo meticulosa, só não estou ignorando a voz da razão. - ela me respondeu e eu suspirei. Mais ela falava, menos ela soava como a minha amiga. Beatrice nunca diria "voz da razão" sem ser ironicamente - Eu acho que eu sei o que fazer para te tirar de lá, mas você tem que seguir o jogo.

Tentei mais uma vez pegar o brilho de seus olhos e falhei. Se eu olhasse para os seus olhos, saberia. E se eu tivesse certeza que era ela, eu confiaria cegamente em sua proposta. Mas eu tinha aquela ponta de dúvida que colocaria tudo a perder.

Eu tinha me oferecido para ser capturada pelo inimigo por alguém que talvez fosse o inimigo. Grande ideia, Liz. Dez.

— Eu preciso voltar, você vem comigo ou não? - pseudo-CeCe perguntou, já indo em direção a rua principal.

Pensei em minhas opções e decidi que era melhor entrar acompanhada com uma desculpa do que desacompanhada. Mesmo se CeCe fosse falsa, ela me daria um álibi ótimo para eu estar entrando na Borgin. Eu saberia o que fazer quando precisasse, né?

Mais uma vez, me enganei o suficiente para ir com ela. Pseudo-CeCe me pegou pelo braço e me empurrou para frente, fingindo ter me capturado. Eu, como boa falsa prisioneira, fingia me rebater e xingava minha sequestradora.

O sentimento de nostalgia e calor no coração que senti assim que entrei na Borgin foi logo apagado ao ver o rosto de vários Comensais da Morte recaírem em mim.

— Thorfinn, achei mais uma suspeita pelas ruas. - pseudo- CeCe falou, me empurrando para frente. Respirei fundo e engoli um seco. Aquilo tinha sido uma péssima ideia, mas qual é a novidade?


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Notas finais do capítulo

Genteee, não me matem!! Haha oi tudo bom?
Desculpa a demora de anos! Eu comecei em um trabalho novo e estou estudando junto, então fica muito muito difícil de arranjar tempo para qualquer coisa, eu estou enlouquecendo.
Mas de qualquer forma, saibam que eu nunca vou abandonar a fic. Demorando anos, mas postando haha.
Queria dedicar esse capítulo ao Dugedrinho e a Hailee Black que deixaram reviews MUITO lindos no último capítulo, super me inspirando a continuar ♥ Obrigada!

Enfim, gostaram?

Beijão :*



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