Slytherin Past escrita por Gaia


Capítulo 10
Culpa




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Queria dizer que eu fiquei calma e sai sorrateiramente da cabana, sem fazer barulho, mas não. Essa seria outra pessoa. Eu, Liz Miller, entrei em pânico e me transformei imediatamente de volta sem querer, derrubando um candelabro e quase colocando fogo em tudo de novo.

— Lizzie! - Jesse exclamou, surpreso. Eu que deveria estar surpresa, francamente...

Pensei em me fazer de desentendida e fingir que não tinha visto nada, mas a verdade é que eu estava cansada de mentiras. Eu não aguentava mais desconfiar de Jesse e não poder fazer nada a respeito. Eu queria saber o que estava acontecendo e quais eram seus interesses. E se ele estivesse sabotando meus planos desde o começo?

Suspirei e o encarei com a minha melhor expressão de brava, o que deve ser extremamente ineficaz, mas não custa tentar.

— Não é o que você está pensando. - ele disse imediatamente, satisfazendo todos os clichês possíveis.

— É bom que não seja mesmo, porque estou pensando coisas muito feias. - respondi, amarga. Pensei em um jeito de pegar a minha varinha sem que ele percebesse, mas então notei que não ligava. Ele já tinha percebido que eu estava desconfiada e eu tinha literalmente o flagrado com a mão na massa.

— Eu acho que precisamos conversar sério. - Jesse me encarou e seu olhar estava mais profundo que nunca. Percebi que muitas coisas tinham mudado em seu caráter desde que éramos crianças, ele parecia uma pessoa que tinha passado por poucas e boas. Não que isso justificasse qualquer coisa, mas era estranho conhecer uma pessoa há tanto tempo e sentir que não sabe nada sobre ela.

Respirei fundo, já com a varinha em mãos, sem desviar os olhos do selo da caveira com uma cobra saindo de sua boca e acenei com a cabeça. Honestamente, Voldemort era o maior clichê da terra, ele poderia ter escolhido qualquer coisa para ser seu símbolo e ele literalmente escolheu a personificação do mal. Ótimo jeito de fazer com que as pessoas se juntem a você.

Mas a dramaticidade do meu tio não era o ponto. Jesse era. Voltei a prestar atenção, enquanto ele sentava em uma das poltronas. Resolvi ficar em pé, eu nunca fui uma bruxa rápida no gatilho, preferia estar preparada.

— Isso depende... Eu não quero conversar se você for um Comensal da Morte. - falei, apontando a varinha para ele.

Ele teve a audácia de revirar os olhos. Eu que deveria estar revirando os olhos! Aquela conduta me lembrou o... Nada, ninguém.

— Eu não sou um Comensal da Morte, Liz, isso não faz sentido nenhum! - exclamou e eu dei de ombros.

— Muitas coisas não fazem sentido. - era verdade. Quem estava falando era a sobrinha direta do Lord Voldemort, não podia apoiar a lógica, não é mesmo?

Jesse suspirou, ele também parecia cansado do abismo de mentiras e segredos que tinha se estabelecido entre nós.

— Preciso que você confie em mim. Eu não sou um Comensal da Morte, mas não posso falar o que eu estava fazendo...

Merlin, meu primo era muito cara de pau.

— Você está de brincadeira? Eu acabei de te ver com um-

Infelizmente, eu fui interrompida por uma bruxa invadindo nossa cabana. Pensei em falar que ela estava sendo rude, mas antes de qualquer coisa, ela berrou:

— Precisamos sair daqui, os Comensais nos encontraram!

Eu não acreditei no que tinha ouvido. Eu estava certa! Jesse era um traidor! Não podia acreditar! Eu tinha um mínimo de esperança de que tudo aquilo fosse um mal-entendido, mas lá estava a prova incontestável. Não podia mais negar, Jesse Bulffie estava contra mim, seu próprio sangue. Bem, péssima escolha de palavras, mas enfim. Lembrei das palavras que ele disse sobre o Veritaserum quando chegamos no acampamento, ele tinha sido extremamente vago, agora eu sabia que era de propósito. 

Na fração de segundo entre a bruxa entrar na nossa cabana e começarmos a pegar nossas coisas, eu pensei em tudo o que ele tinha feito até então. Como sua casa era suspeita e como ele tinha um elfo doméstico a sua disposição. O dragão de fogo e como ele sabia de feitiços que ainda nem tínhamos aprendido.

Sem saber o que fazer, pensei em estuporar Jesse e sair correndo, deixando ele ali para encontrar com seus amigos, mas ele tinha sido mais rápido. Claro que tinha.

Expelliarmus! – gritou e minha varinha voou para longe.

Ele me encarava com uma expressão ilegível, mas quem sou eu para saber? Vai saber se eu consegui ler qualquer expressão dele certa?

— Jesse! - berrei, correndo em direção a minha única arma, mas ele já tinha a pegado no chão.

Então, ele correu para fora da barraca e eu peguei minha mochila e fui atrás dele. O cenário na floresta me lembrava terrivelmente de quando eu deixei os Comensais entrarem em Hogwarts para matar o diretor. Havia jatos de luz para todos os lados, bruxos duelando e sangrando.

Cada vez com mais raiva de Jesse por causar tudo aquilo, eu fiz questão de segui-lo como uma determinação que não tinha há muito tempo. Focada na sua cabeça, ignorei os meus arredores e corri atrás dele, que entrava mais floresta a dentro.

— Covarde! - gritei e me surpreendi com os meus olhos queimando, com lágrimas prontas para cair. - Está com medo de perder em um duelo?!

Estava começando a ofegar, quando pensei que deveria voltar e ajudar os outros. Talvez Jesse estivesse me levando a uma armadilha, talvez o plano desde o começo fosse me afastar e me pegar sozinha. Porque apesar do blefe, eu sabia que perderia em um duelo a qualquer momento. Mas ele teve muitas oportunidades para lutar comigo sozinha? Por que agora?

De qualquer forma, haviam pessoas atrás de mim que estavam sofrendo e provavelmente morrendo por causa do erro do meu primo. De alguma forma, era minha responsabilidade. Eu não podia simplesmente fugir, mesmo se fosse para pegar o feitor de tudo. 

Odiando meu recém-descoberto senso de moral, gritei:

— Você não pode fugir pra sempre! - e voltei para o acampamento. Eu estava com lágrimas nos olhos e me sentindo mais sozinha do que nunca. Como eu iria encontrar meus pais totalmente sozinha? Apesar de Jesse não saber da verdade, pelo menos ele iria me ajudar a resgatar CeCe e ela me ajudaria no resto. Mas pensando bem, talvez ele nunca quisesse resgatá-la para começo de conversa.

Enojada com os meus pensamentos, finalmente cheguei na linha de frente e tentei reconhecer alguém. O universo resolveu ser bom comigo e eu me deparei com uma varinha caída no chão. Não pensei duas vezes e a peguei. Antes de conseguir passar meus olhos por todos, eu já estava sendo atacada por um inimigo. Coloquei todos os meus ensinamentos em prática e consegui contra-atacar, mas só com a ajuda de outro bruxo que estuporou o Comensal antes que ele enfeitiçar me atacar de novo. Não consegui identificar se era um ex-aluno ou auror, mas eu não ligava.

A batalha demorou menos do que eu esperava, aparentemente vieram muito poucos Comensais e os bruxos da resistência que estavam em missões voltaram rapidamente, deixando os inimigos em grande desvantagem. Logo menos, tudo pareceu acalmar e os vi desaparatando.

— Precisamos sair daqui, eles vão trazer reforços! - ouvi Lee Jordan berrando de longe. - Segurem a pessoa ao lado e aparatem para o próximo lugar seguro, vocês sabem onde.

Quis gritar que eu não sabia e que por favor não esquecessem de mim, mas quando eu menos esperava, já estava rodopiando e tendo aquela péssima sensação de vertigem que só a aparatação trazia.

Se me perguntassem, eu diria que fomos parar exatamente onde acabamos de sair, mas eu não era uma pessoa do campo. A única coisa que me convenceu de que era uma floresta diferente foi que de repente era noite.

Enquanto estava no chão, encarei o meu parceiro desconhecido e o agradeci, ele murmurou um "as ordens" e correu para encontrar alguém com quem realmente se importava. Percebi que aquilo, o ataque, já tinha acontecido antes, porque eles tinham um sistema.

Os feridos iam para uma cabana separada enquanto os outros ficavam do lado de fora e faziam uma espécie de chamada para ver se estavam todos presentes. Depois, traçavam planos para voltar para a última localização, caso deixassem alguém para trás.

Jesse estava lá. Mas ele estava bem, estava com seus amigos Comensais. Se eu pareço amargurada, é porque estava.

— Elizabeth Miller. - Jordan falou finalmente. Eu era um dos últimos nomes, porque tinha sido uma das últimas a chegar.

— Aqui. - ergui a mão cabisbaixa e ele acenou com a cabeça. Vi uma figura vindo em minha direção e fiquei feliz ao reconhecer Peter.

— Jesse Bulffie. - ouvir o nome do meu primo foi como uma facada, essas pessoas tinham o acolhido, tinham confiado e compartilhado segredos da resistência para ele. Como ele pôde... - Jesse?

As pessoas começaram a olhar para os lados, inquietas e alguns olhos voltaram-se para mim.

— Ele não está aqui. - consegui soltar. - Jesse teve que ir pra casa logo antes do ataque... Ele só estava aqui para me ajudar, agora que encontrei vocês, não tem porque ficar.

Eu não sei porque menti, mas de alguma forma parecia mais fácil do que admitir que parte do que tinha acontecido era minha culpa. Ninguém pareceu desconfiar das minhas palavras e logo começaram a se acomodar novamente.

Vi Alicia arrumando as barracas com outras bruxas, e Jordan estava em um círculo com o que pareciam ser aurores. Eles provavelmente estavam sintonizando outro Potterwatch. Encarei a barraca onde os feridos estavam e me senti no primeiro ano novamente, com medo de atravessar a parede da plataforma 9 3/4. Onde eu tinha me metido? Eu só queria encontrar meus pais, como isso tinha se tornado nesse caos? Acho que talvez eu só deva aceitar que essa é a minha vida e nada nunca vai dar certo.

Eu queria andar e ajudar os outros, mas meus pés pareciam estar pregados no chão.

— Você está bem? - Peter perguntou, se aproximando com cautela.

Me contentei em apenas acenar com a cabeça. Mas eu não estava bem. Jesse tinha me traído, eu não podia mais me comunicar com Su e eu não fazia a menor ideia de onde estava o único objeto mágico que me reuniria com os meus verdadeiros pais. Além de estar com a varinha de um estranho que não se acomodova bem em minhas mãos.

— Você não parece bem... - ele insistiu e eu deixei minhas lágrimas rolarem. Eu odiava chorar na frente das pessoas, mas Peter já tinha me visto na enfermaria cheia de queimaduras, então eu não liguei muito.

Como eu esperava, ele me envolveu em seus braços e me consolou. Por um pequeno instante, apenas me deixei sentir o calor do carinho e conforto. Mas o tempo é traiçoeiro e me alcançou bem rápido e quando eu estava começando a ficar confortável, todos os pensamentos voltaram e eu só chorava mais e mais.

Me sentiria mais patética se não tivessem outras pessoas chorando ao meu redor. Elas provavelmente tinham mais motivos que eu. A diferença é que era eu quem tinha causado a dor delas.

— Onde está Jesse, de verdade? - Peter perguntou depois de alguns minutos.

Eu me afastei e encarei seus olhos claros. Eu não queria mentir para Peter, mas depois de Jesse, ficara ainda mais difícil de confiar em alguém. Me contentei em apenas dizer:

— Ele teve que ir resolver alguns assuntos pessoais.

Meu ex de mentira me olhou desconfiado, mas desistiu e apenas acenou.

— Você está machucada? - neguei, enquanto ele me olhava de cima a baixo. - Elizabeth Miller, você ganhou um duelo de feitiços?

Se fosse em outra ocasião, eu riria do jeito que ele me chamou, como ria no ano passado, mas não consegui. Lembrei do que Su disse, de que queria que eu estivesse com ela para fazer comentários sarcásticos, mas era cada vez mais difícil.

— Ei, eu estava brincando. - ele disse rapidamente e eu percebi que meus olhos estavam lacrimejando novamente.

— Não estou chorando por isso. - fiz questão de dizer. Não queria magoar Peter além de tudo. - Escuta, eu preciso ir. Me desculpa.

Dessa vez, Peter ficou sério e segurou os meus ombros, me encarando profundamente, sem entender.

— Desculpa pelo que? E pode esquecer, Liz, você não vai a lugar nenhum, não antes de...

Eu queria ficar, queria viver aquela experiência de estar na resistência e fazer a coisa certa e talvez ter alguma coisa com Peter, mas eu não podia. Eu já tinha estragado tudo logo no começo, o que poderia acontecer se eu ficasse mais?

Tinha que ir encontrar o maldito artefato e não acharia ajudando a resistência. Não tinha lugar ali para mim. Eu não podia passar as tardes praticando patronos ou patrulhando por Dementadores. Não podia ficar imaginando as noites na fogueira conversando com Peter como quando fazíamos em perto do lago de Hogwarts.

Desde que Dumbledore me contou que eu era uma Riddle, meu destino estava fadado. Eu seria sozinha para sempre. Nunca poderia estar em paz até Voldemort estar morto e isso eu não podia fazer.

Olhei para Peter e para todos uma última vez, pensando em tudo o que eu não podia ter e desaparatei para a Travessa do Tranco. Eu finalmente iria para a Borgin & Burkes.


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Notas finais do capítulo

Oie amorecos, cap novo ♥

Gostaram?

Beijocas :*



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