Vítimas Das Circunstâncias escrita por Leonardo Souza


Capítulo 19
Grand finale I / interlúdio




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23:38

Guilherme

Foi difícil conseguir um taxi, considerando o estado de pavor da cidade, o único que achei me cobrou uma fortuna, estava tão inquieto que puxei os pelos da barra até deixar uma pequena parte vazia, o motorista se recusou a descer até o endereço marcado, por ser um bairro perigoso, me deixou a uns seis quarteirões da escola, agradeci e sai andando o mais rápido possível, não conseguia correr.

“Mateus, onde você está?” Mandei a mensagem no meio do caminho e ele ainda não havia respondido.

Como a ultima mensagem falava que ele estava no terceiro andar, ia começar por lá, era estranho estar ali, principalmente com todas as luzes apagadas. Enquanto passava pelo segundo andar, escutei Alecsandra gritar por ajuda, o susto foi tão grande que derrubei meu celular no chão e ele acabou desligando, não conseguia enxergar direito. Não podia continuar sem ele, precisava ligar para ambulância quando encontrasse Mateus, depois de um tempo procurando, encontrei perto da porta de uma das salas, a porta estava aberta, acho que essa era nossa sala do segundo ano, não tinha certeza, enquanto olhava em volta percebi uma pequena luz vermelha no canto, me aproximei e a luz começou a piscar mais rápido, sabia o que era aquilo, corri o mais rápido que podia e quando cheguei no correr, uma onda de calor.

Guilherme

Hora da morte: 23:40

Resto mortais achados 18/02/2016, quarta-feira: 14:37 da tarde.

23:41

Giovane

A explosão pareceu ter feito a sala tremer, por instinto me joguei no chão quando escutei o barulho, não podia ficar ali, tinha que fugir ou pelo menos ver o que tinha explodido, assim que sai da sala a nuvem de poeira e fumaça era visível, os andares estavam no chão, corri até lá e encontrei todos caídos próximo aos escombros.

23:44

Marcelo

Um som agudo era tudo o que conseguia escutar, tentei me levantar, mas só consegui me sentar, meu braço estava sangrando, ou talvez era sangue de outra pessoa, olhei em volta procurando os outros, Kauan e Thainara estavam caídos perto de mim, alguém estava correndo na minha direção, só distingui quando se aproximou, era Giovane.

— Marcelo! O que aconteceu? — Ele perguntou.

— O prédio. — Foi tudo o que consegui falar.

— Temos que sair daqui.

— Os outros, temos que ajudar.

— Tudo bem, não se levante, só por precaução. — Ele correu até os outros, Alecsandra estava se levantando.

Mesmo estando ali, era como se estivesse vendo tudo a distância, talvez tivesse batido a cabeça forte demais, sentia que iria acordar a qualquer momento. Quando minha vida virou algo normal alguém tentar me explodir, duas vezes, senti uma mão no meu ombro.

— Temos que ir. — Era Lucas, ele tinha um corte no rosto, algo da explosão deve ter acertado ali.

— Onde?

— Giovane falou do segundo portão na parte de baixo da escola.

— Tudo bem. — Me levantei e só então percebi o sangue na minha camisa, era um corte grande.

— Marcelo! — Alecsandra falou aterrorizada.

— Eu vi algum tipo de kit médico na sala, vamos. — Giovane apontou para a sala em questão.

— Onde você estava até agora? — Lucas perguntou para Giovane.

— Ele me mandou esperar na sala, só sai depois que escutei a explosão.

A adrenalina estava deixando meu corpo, e o corte doía mais a cada passo, Lucas estava ajudando Alecsandra a andar, chegamos a escada de acesso a sala, era a que continha a grade.

— Ali dentro. — Giovane falou.

— O que é aquilo? — Lucas perguntou.

Ele estava falando do corpo caído próximo ao portão, era Mateus, Kauan correu até ele, o resto aconteceu muito rápido, fui empurrado por alguém para dentro do corredor, cai no chão se o corte não estivesse doendo tanto, talvez teria sentido a dor. Um disparo. O som de gritos e o som do portão se fechando, olhei para trás e tudo o que vi foi Giovane, uma arma na mão e uma expressão completamente diferente de qualquer uma que vi até hoje, loucura, desespero e animação.

23:48

Kauan

Corri até Mateus, o cheiro de álcool era forte, ele estava deitado em uma poça de sangue, uma facada na barriga, ainda tinha pulso, escutei os gritos atrás de mim e então o disparo.

INTERLÚDIO

05/01/2016

Giovane

Minha amizade com Daniel foi algo natural, um dia quando meu carro quebrou na rua ele apareceu para me ajudar e então viramos amigos, marcamos de assistir um jogo de futebol, bebemos e nos divertimos, como sempre.

— O que pretende fazer esse ano? — Perguntei.

— Algo grande. — Ele respondeu em um tom sério.

— Grande, como assim? — Bebi mais um pouco de cerveja, estava ficando com sono.

— Você vai ver, ou melhor, não vai ver.

— Acho que bebeu demais, meu amigo.

— Na verdade você que bebeu demais, já está ficando com sono? — Ele pegou um canivete no bolso da calça.

— Que brincadeira é essa?

— Uma parte de algo maior.

— Você me drogou? — Tentei levantar do sofá, sem sucesso.

— Eu precisei. — A expressão dele era de alguém louco.

— Por quê?

— Você vai morrer, então não vejo motivo para não te contar. Eu tenho um plano que envolve um amigo em comum nosso, Marcelo, não sei se você vai lembrar, mas já estudaram juntos.

— Eu me lembro, ele transferiu de escola sem motivo.

— Então. — Ele se levantou. — Já tentei que ele me ajudasse, ele não quis então decidi acabar com a vida dele. Vou incrimina-lo por assassinato, vários.

—Eu posso te ajudar.

— Como?

— Sou bom com tecnologia, posso alterar registros telefônicos entre outras coisas.

— E o que me garante que não vai até a polícia se te deixar viver?

— No meio do ensino médio, fui para a praia com minha família, nós alugamos um barco, no meio da noite eu e uma amiga saímos escondidos e fomos navegar, não sabia o que estava fazendo e bebemos um pouco então perdi o controle e ela caiu no mar, meu pai pagou a polícia para acobertar tudo. Se você falar isso para alguém pode investigar.

— Ora, ora, veja quem acabou de ficar minimamente interessante.

— O que me diz?

— Preciso pensar, vou deixar você dormir, conversamos quando você acordar, ou não.

Acordei, depois de três horas, Daniel estava jogando videogame como se não tivesse tentado me matar a algumas horas, claro que iria denuncia-lo a polícia, mas precisava de provas que tirassem qualquer credibilidade dele, caso resolvesse falar do meu passado. Pelo canto de olho ele viu que estava levando. Pausou o jogo e levantou do sofá.

— Limpe a baba do rosto, vamos sair. — Ele caminhou em direção a porta.

Entramos no carro dele e ninguém falou uma palavra durante o trajeto, eu não sabia como começar um dialogo e nem queria, ele me levou até uma fazenda próxima a cidade, conhecida por ser um local onde usuários de drogas ficavam, ele parou na entrada da casa e desceu do carro. Não sabia se devia ir com ele ou esperar no carro.

— Está esperando um convite? — Daniel perguntou.

— É seguro entrar aí?

Ele riu e passou pela porta, me apressei para alcança-lo. No segundo andar havia um quarto cheio de fotos, reconheci alguns rostos por ter estudado com eles. Tudo aquilo ainda parecia loucura.

— Os que estão na direita são os que eu já matei, o resto você vai me ajudar.

Minha foto estava na pilha dos que não estavam mortos ainda, um arrepio desceu pela minha espinha, na mesa percebi uma enorme quantidade de folhas com horários e o que parecia ser endereços. Pensei em levar alguns para usar como prova.

— O que é isso? — Pergunte.

— São os horários e rotas de todos que pretendo matar. — A resposta foi fria.

— Já ouviu falar de computador?

— Ninguém consegue invadir papel. — Ele tinha razão.

No meio das folhas percebi um desenho, era uma capa e uma máscara sem expressão.

— Isso foi algo que tentei no passado. — Daniel começou a falar antes que fizesse qualquer pergunta. — Não funcionou.

— Mas acho que pode funcionar agora, se estiver disposto a tentar.

Denunciar uma espécie de assassino seria bem mais fácil.

Felipe

Passamos o resto do mês matando e escondendo o corpo dos outros ex colegas de classe, Daniel fazia a matança, parecia gostar, eu montava toda a parte tecnológica, o aparelho para distorcer a voz, que precisei invadir o telefone e computador de todos para conseguir os arquivos de áudio, os bloqueadores de sinal para celular e a criação do site na dark web.

Depois de evitar o máximo, decidimos fazer o primeiro movimento, era bem simples: mandaríamos uma mensagem para Marcelo, se ele fizesse o que fosse pedido nós iriamos incriminá-lo se não iriamos começar o terror com a máscara. Daniel tinha certeza de que ele iria ignorar por ser um idiota que apenas liga para ele, e uma parte minha também queria que ele ignorasse só para que todo meu trabalho não fosse desperdiçado e ele ignorou, Daniel mal conseguia conter a excitação.

Ficou decidido que eu mataria Felipe, Daniel precisava que eu provasse meu compromisso com os assassinatos, tomei todas as providências para não deixar nenhum rastro de DNA, no outro dia, Daniel iria para a cadeia. Entrei escondido pelos fundos, se a pista fosse desvendada, Marcelo iria até a padaria, baixei um aplicativo que me dava acesso ao celular de todos eles, então conseguia ver o que eles estavam fazendo a qualquer momento, Felipe estava olhando redes sociais, até que ligou para Marcelo, não podia escutar, daquela distância a ligação ficaria com eco, era agora ou nunca. Assim que ele desligou comecei a andar, quando ele me viu corri em direção a ele, não podia deixar ele sair da padaria, por sorte ele foi para uma espécie de dispensa, chutei a porta para impedir ele de se trancar lá dentro, o braço dele acabou ficando preso, ótimo, depois de uma tentativa de acertar um soco, foi como se toda a adrenalina no meu corpo fosse liberada, segurei o braço dele e fiz a única coisa que pensei, cortei a garganta. Então a coisa mais impressionante aconteceu, eu me senti bem, como se aquilo fosse certo, foi o mesmo que senti quando a garota da praia não veio a superfície da água, só que mais forte por que dessa vez eu fiz tudo, comecei a rir, de alegria, de prazer, uma mistura. Sai pelos fundos e me escondi próximo ao local, esperando Marcelo aparecer, ainda com um sorriso no rosto.

Estacionamento

Decidimos que seria melhor fingir o sequestro do Daniel junto com Vinicius também, caso alguém estivesse observando de longe, coloquei a máscara e o mapa no porta-malas do carro do Vinicius. Assim que sai da rua principal, encostei o carro para tirar Daniel do porta malas.

Rodoviária

Fiquei responsável por vigiar Marcelo, achei que ele fosse fugir quando percebi que estava indo para a rodoviária, mas percebi que ele estava ali para buscar alguém, não conhecia aquela pessoa, graças ao aplicativo consegui descobri o nome e número de telefone do rapaz, Lucas, mais uma vítima. Daniel ficaria animado.

Neto/Festa

Quando Daniel matou Neto sem me avisar e ignorando o plano, devia ter percebido que tudo estava desabando, deveríamos voltar juntos para a fazenda, quando ele não apareceu na hora marcada sabia que algo ruim tinha acontecido, liguei varias vezes e nada. Até que ele mandou uma mensagem falando que havia estragado tudo e que era para reagrupar na festa, cheguei na festa e esperei no carro, mais tempo se passou e nenhum sinal dele até que as pessoas começaram a gritar e se aglomerar para observar algo, quando cheguei perto para ver do que se tratava, Daniel estava morto. Saí de lá o mais rápido possível.

Uma semana

Tive que parar com os assassinatos, precisava repensar tudo, com a morte daquele idiota tudo tinha ido pelos ares, planejamos até o final, mas o plano precisava de duas pessoas para funcionar, onde iria encontrar alguém disposto a cometer assassinatos? Então me lembrei do site, todas aquelas pessoas, se pelo menos um deles fosse psicótico seria o suficiente.

Bia

A morte dela acabou virando algo bem maior, minha intenção nunca foi capotar o carro, apenas bater no acostamento, mas toda aquela explosão aconteceu e eu percebi a dimensão do dano que poderia causar.

Ferreira

O policial não deveria morrer daquele jeito, mas no dia acabei pegando a máscara do Daniel sem querer, por ser mais velha acabou arrebentando e caindo, e ele teve que morrer ali, a facada no Guilherme foi só para distração, precisava arrumar algumas coisas para a grand finale.


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Notas finais do capítulo

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